Teste do Sofá de Harvey Weinstein vira estátua dourada em Hollywood
Uma estátua dourada de Harvey Weinstein, sentado de robe num sofá, com os braços abertos e um Oscar estrategicamente colocado entre suas pernas, foi colocada de surpresa em Hollywood nesta quinta-feira (1/3), a poucos metros do Dolby Theatre, onde em três dias será realizada a cerimônia do Oscar 2018. Localizada no Hollywood Boulevard, a escultura é uma colaboração entre os artistas de rua Plastic Jesus, conhecido por suas instalações anuais de protesto no Oscar, e Joshua “Ginger” Monroe, o artista das infames estátuas nuas de Donald Trump. Intitulada “Casting Coach” (Teste do Sofá, no jargão nacional), a obra é mais um protesto contra a indústria cinematográfica, após o artista de direita Sabo encomendar cartazes similares aos de “Três Anúncios para um Crime”. As intensões das duas, porém, é oposta. Enquanto Sabo declarou atacar a hipocrisia dos artistas para calar os protestos nos agradecimentos do Oscar, Plastic Jesus quer incentivar os protestos para um limpeza completa. “Durante muitos anos, a exploração de muitas artistas esperançosas e nomes estabelecidos na indústria foi varrida para baixo do tapete vermelho, com suas queixas de assédio e abuso sexual sendo ignoradas ou pior”, disse Plastic Jesus à revista The Hollywood Reporter. “Espero que agora, à luz de recentes alegações contra muitas figuras importantes em Hollywood, a indústria seja passada a limpo”. De acordo com os artistas, a escultura de tamanho real de Weinstein levou dois meses para ser produzida. “Todo o sofá e a imagem inteira que a obra inspira é uma representação visual das práticas e métodos que são usados em Hollywood com essas pessoas poderosas”, disse Ginger. “Eles têm dinheiro e poder para dar empregos e usam isso para sua própria gratificação sexual”. O detalhe é que a obra é interativa. Há espaço no sofá para o transeunte se sentar. “Todo mundo quer um selfie, todo mundo quer fazer parte da experiência”, diz ele.
Último candidato ao Oscar 2018 enfrenta Maldição nas estreias de cinema
Abusando da metáfora, é possível dizer que existe uma maldição que impede bons filmes de ter melhor distribuição no Brasil, condenando-os a vagar pelo país sem serem vistos até sumir em salas escuras. O fato é que, em pleno fim de semana do Oscar 2018, o lançamento mais amplo no Brasil é um terror com maldição explícita no título. Um horror em mais de um sentido. A lista de estreias medíocres também ajuda a explicar porque Jennifer Lawrence decidiu dar uma pausa na carreira. Não falta nem sequer um desenho desanimado para crianças, que se divertiriam mais com um game no celular. Enquanto isso, um dos melhores filmes sobre a infância já feitos, indicado ao Oscar e que chega tardiamente junto da disputa ao prêmio, é enterrado-vivo no circuito limitado, entre documentários, filme francês-uruguaio e lançamentos nacionais. Leia sobre cada lançamento abaixo e clique nos títulos para ver os trailers de todas as estreias. “A Maldição da Casa Winchester” é o primeiro terror estrelado por Helen Mirren (“A Rainha”) e um dos piores filmes de sua carreira cinquentenária, com apenas 14% de aprovação no Rotten Tomatoes. Ela vive a herdeira do fabricante dos famosos rifles Winchester, populares no Velho Oeste, que acredita ser perseguida pelos fantasmas de todas as vítimas da arma e se tranca em uma mansão enorme e labiríntica para manter os espíritos distantes. O detalhe interessante é que a mansão tortuosa de Winchester existe de verdade, em San Jose, na Califórnia. Sua construção durou continuamente de 1884 a 1922, resultando na casa mais incomum do mundo, em forma de labirinto, com 160 quartos, 2 mil portas, 10 mil janelas, 9 cozinhas, 13 banheiros e 47 escadas, muitas das quais não levam a lugar algum. Entretanto, essa curiosidade chega ao cinema com vários clichês de casa mal-assombrada, fantasmas e possessão, que só assustam crianças que acreditam em gnomos. “Duda e os Gnomos” também se passa numa mansão mal-assombrada, em que gnomos (anões de jardim) enfrentam figurantes rejeitados de “Monstros S.A.” (2001). Sim, Gnomeu e Julieta viram Caça-Fantasmas e enfrentam os primos rejeitados de Mike Wazowski. As animações canadenses parecem apostar na reciclagem para emplacar no mercado internacional. Já tinha sido assim com o filme anterior de Peter Lepeniotis, “O Que Será de Nozes?” (2014), que tinha premissa similar a “Os Sem-Floresta” e designs de personagens já vistos em “Ratatouille” (2007) e diversos outros longas mais bem cotados. Derivativo, este filme nem sequer tem previsão de lançamento nos cinemas dos Estados Unidos. “Operação Red Sparrow” segue o padrão das premissas genéricas, reciclando a origem da heroína Viúva Negra que a Marvel esqueceu de filmar. Treinada desde jovem nas artes marciais e da sedução, a personagem de Jennifer Lawrence (“Mãe!”) faz parte de um programa considerado lenda na comunidade de inteligência. Mas ao receber a missão de conquistar um agente da CIA (papel de Joel Edgerton, de “Ao Cair da Noite”), ela é tentada a trair seu país. O jogo de sedução e cooptação segue um roteiro previsível, que apenas a interpretação de Lawrence torna atraente. A produção volta a reunir a atriz com o diretor Francis Lawrence, após trabalharem juntos em três filmes da franquia “Jogos Vorazes”, e também com o roteirista Eric Warren Singer, que assinou “Trapaça” (2013). Tem 61% de aprovação no site Rotten Tomatoes – mas somente 50% dos críticos de mídia impressa. Último lançamento de indicado ao Oscar 2018 antes da cerimônia, “Projeto Flórida” está na disputa da estatueta de Melhor Ator Coadjuvante com Williem DaFoe (“Meu Amigo Hindu”). Ele interpreta o gerente do hotel Magic Castle, que recebe turistas dos parques temáticos da Disney e precisa lidar com diversas crianças hiperativas durante as férias de verão, envolvidas em suas próprias aventuras, enquanto os adultos enfrentam seus problemas de gente grande. O filme teve première na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, ocasião em que encantou a crítica internacional, atingiu 96% de aprovação no site Rotten Tomatoes e venceu diversos prêmios. Mas foi menosprezado pela Academia com apenas uma indicação, possivelmente devido ao escândalo sexual que levou ao afastamento de seu produtor. A seleção estrangeira ainda inclui “O Filho Uruguaio”, drama francês sobre mãe que procura o filho pequeno, sequestrado pelo próprio pai. Após quatro anos do divórcio, sem que a polícia francesa o tenha localizado, a mãe resolve procurar o filho por conta própria, planejando um reencontro no Uruguai. A realidade, porém, não acontece como em seus sonhos. O que não é nada de novo. Quatro filmes brasileiros completam a programação. Dois são trabalhos de ficção. A opção mais popular é o terror “Motorrad”, inspirado no gênero slasher, mania dos anos 1970, a ponto de evocar a encenação de “Quadrilha de Sádicos” (1977). A produção se esmera na fotografia de motocross, até os protagonistas encontrarem uma segunda turma de motoqueiros, que não tira os capacetes negros enquanto saca seus facões ensanguentados para cometer assassinatos brutais. A história simplinha e carregada de clichês do gênero foi concebida por Danilo Beyruth, que atualmente desenha o “Motoqueiro Fantasma” nos quadrinhos da Marvel, e roteirizada por LG Bayão, que escreveu coisas tão distintas quanto “Irmã Dulce” (2014) e o besteirol “O Último Virgem” (2016). A direção é de Vicente Amorim (de “Corações Sujos” e também “Irmã Dulce”). Para completar, o elenco inclui alguns ex-integrantes da novela teen “Malhação”. Mas o verdadeiro massacre ficou fora da tela. Veio da crítica norte-americana, que eviscerou o filme após sua exibição no Festival de Toronto. Já os críticos brasileiros devem ter gosto diverso, pelo que se pode notar. “Todas as Razões para Esquecer” evoca outro tipo de filme americano. A trama compartilha angústias do cinema indie e chega a compartilhar o tema de “Homens, Mulheres e Filhos” (2014), sobre a contradição de um mundo extremamente conectado que gera pessoas extremamente solitárias. Diante de um arsenal de possibilidades tecnológicas para encontrar um novo amor, o protagonista vivido por Johnny Massaro não consegue esquecer a antiga namorada. Nem com terapia. Os dois documentários tem histórias mais originais. “Cartas para um Ladrão de Livros” conta a história do maior ladrão de livros raros do Brasil, ao mesmo tempo em que questiona valores culturais. O tema é desenvolvido de forma bastante instigante. Mas o grande destaque nacional da programação desta quinta (1/3) é disparado “Piripkura”. Vencedor do Festival do Rio e premiado no Festival de Roterdã, na Holanda, o filme de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge mergulha na floresta amazônica em busca dos últimos sobreviventes do povo indígena Piripkura, após anos de enfrentamento contra madeireiros. As câmeras dos cineastas fazem sua jornada ao lado de Jair Candor, um funcionário da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), e de dois índios nômades do povo Piripkura, conhecidos como o “povo borboleta”. Praticamente extintos, os Piripkura sobrevivem cercados por fazendas e madeireiros numa área ainda protegida no meio da floresta amazônica. Candor os conhece desde 1989, e realiza expedições periódicas, monitorando vestígios que comprovem a presença deles na floresta, a fim de manter a preservação da área. Mas eles tem a cabeça a prêmio, pois o genocídio virou o negócio mais lucrativo dos empresários rurais brasileiros. A produção é importante diante da atual política indígena do Brasil. “O agronegócio está mais forte do que nunca. O governo impôs cortes significativos à administração da FUNAI. Uma das consequências dessa atitude foi o aumento de invasores nas terras indígenas”, explicou Mariana Oliva em entrevista à revista americana Variety.
The Rider: Trailer enfatiza qualidades de drama indie premiadíssimo e “sabotado” no Oscar 2018
“The Rider”, o menos badalado dos filmes indicados ao Spirit Awards 2018 (o chamado “Oscar indie”), ganhou pôster e seu primeiro trailer. E a prévia ajuda a explicar porque o filme tem sido tão elogiado pela crítica e premiado em festivais internacionais, com cenas que carregam emoção. Ao mesmo tempo, levanta dúvidas sobre os motivos que o deixaram de fora do Oscar 2018. Segundo filme de Chloe Zhao, cineasta nascida na China, mas radicada em Nova York, o filme conta a história real de um jovem cowboy que, após sofrer um acidente de rodeio, é impedido de voltar a cavalgar e luta para encontrar sentido e propósito em sua vida. Assim como Clint Eastwood fez (posteriormente) em “15h17 – Trem para Paris”, o personagem é vivido por Brady Jandreau, que enfrentou esse dilema em sua vida. O filme é amplamente baseado nas experiências do jovem. O longa estreou no Festival de Cannes de 2017, onde venceu o Prêmio CICAE, dedicado ao melhor “filme de arte”. Desde então, vem acumulando prêmios no circuito dos festivais, vencendo troféus em Valladolid, Reykjavik, Hamburgo, Deauville, etc. A produção concorre a quatro Independent Spirit Awards, incluindo Melhor Filme e Direção. Mas nem seus 98% de aprovação no site Rotten Tomatoes parecem ter sensibilizado a distribuidora Sony Pictures Classics a investir numa campanha para o Oscar. O filme não disputa o prêmio porque não seguiu as regras de inscrição, com lançamento limitado até 31 de dezembro nos Estados Unidos. Em vez disso, será lançado em 13 de abril, 11 meses após ser visto em Cannes, o que parece sabotagem, já que a data, distante do período de premiações, também prejudica suas chances de ser lembrado para o Oscar 2019. Como isso se explica? Será que a Sony Pictures Classics só tinha verba para fazer campanha de um único filme no Oscar e optou por “Me Chame pelo seu Nome”? Para completar, “The Rider” não tem previsão de lançamento no Brasil.
Artista de rua se inspira em Três Anúncios para um Crime para atacar o Oscar 2018
O artista de rua que se identifica como Sabo lançou mais uma peça provocativa contra Hollywood. Ele se inspirou no filme “Três Anúncios para um Crime” para criar outdoors criticando os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, por acobertar pedófilos e assediadores sexuais. Seus três anúncios foram erguidos nesta quarta-feira (28/2) com as frases: “E o Oscar de maior pedófilo vai para…”; “Todos nós sabíamos e ainda ninguém foi preso”; “Diga os nomes no palco ou então calem a boca”. O trio de mensagens foi colocado em Hollywood e o artista afirma que este foi seu maior desafio profissional. Segundo o site The Hollywood Reporter, que o contatou de alguma forma – não foi revelado como – , Sabo afirmou que seu objetivo é criticar a hipocrisia das estrelas de cinema, que supostamente conhecem mais casos de assédio e nada falam, além de deixar claro para as celebridades que elas deveriam parar de fazer pregações políticas hipócritas durante os discursos das premiações. Embora a identidade de Sabo não seja conhecida, sua política é notória. Graças às “mensagens” de sua arte, ele foi apelidado de “Banksy de direita” pelo jornal The Guardian. Este é seu segundo ataque recente contra Hollywood após as denúncias de assédio contra Harvey Weinstein. Em dezembro, Sabo espalhou por Los Angeles diversos pôsteres com uma foto da atriz Meryl Streep ao lado do produtor Harvey Weinstein, acompanhada pela inscrição “Ela sabia” sobre seus olhos. A mensagem implícita era a de que Meryl tinha conhecimento sobre os casos de assédio sexual perpetrados pelo produtor, o que ela nega. Na época, ele declarou ao The Guardian: “Ela nos atacou, agora nós a atacamos”, referindo-se ao discurso duro da atriz contra Donald Trump, ao aceitar um prêmio pela carreira no Globo de Ouro do ano passado. É a mesma mensagem repetida agora com três anúncios, que podem ser vistos abaixo. Desta vez, porém, a ideia não é muito criativa, já que três manifestações “de esquerda” usaram a mesma tática anteriormente. Saiba mais aqui.
Ryan Seacrest fará cobertura do Oscar 2018 após denúncia de assédio
Como nos últimos anos, o apresentador Ryan Seacrest vai participar da cobertura do Oscar 2018 pelo canal pago E!, fazendo entrevistas no tapete vermelho. Mas este ano sua presença terá um impacto diferente. Ele foi acusado de assédio sexual. Seacrest, que ficou conhecido pelo programa de TV “American Idol”, foi acusado por sua ex-estilista Suzie Hardy de abuso sexual durante os seis anos que trabalharam juntos. O apresentador nega as acusações. Em artigo escrito para a revista The Hollywood Reporter, ele afirmou que apoia os movimentos de mulheres que buscam combater desigualdades, mas afirmou que foi falsamente acusado. Ele ainda acusou Suzie Hardy de tentar chantageá-lo exigindo “milhões de dólares” em troca de seu silêncio. A estilista negou, e afirmou que foi o apresentador quem lhe perguntou “o quanto eu queria para sumir”. A estilista disse ao jornal The New York Times que foi demitida em 2013, quando reportou ao estúdio onde trabalhava que vinha sendo assediada por Seacrest. “Me disseram ‘Vai procurar outro emprego'”, ela relatou. “Fiquei sem trabalhar por três anos.” Já um porta-voz do canal E!, disse ao jornal americano que Suzie não foi demitida, mas que foi dispensada porque Seacrest havia deixado o trabalho diário no programa que apresentava. O canal afirmou que a decisão de manter Seacrest da cobertura do Oscar foi baseada nos resultados de suas investigações sobre o caso, que não encontrou indícios de mau comportamento. “No decorrer de um processo de dois meses, nosso conselho externo entrevistou dezenas de pessoas em relação às alegações, incluindo várias reuniões separadas com o requerente e todas as testemunhas de primeira mão que ela forneceu. Qualquer reivindicação que questiona a legitimidade desta investigação é completamente sem fundamento”, disse o comunicado da empresa.
O Destino de uma Nação vence prêmio de maquiagem e revela vídeo da transformação de Gary Oldman
“O Destino de uma Nação” venceu no sábado (24/2) os principais prêmios do Sindicato dos Maquiadores e Cabeleiros de Hollywood, como a Melhor Maquiagem de Filme de Época e a Melhor Maquiagem de Personagem. E para comemorar a conquista, a Universal divulgou um vídeo de bastidores que mostra o complexo trabalho de transformação do ator Gary Oldman em Winston Churchill. Para conseguir uma metamorfose tão convincente, os produtores tiveram que tirar Kazuhiro Tsuji da aposentadoria. O homem que transformou Jim Carrey no Grinch tinha decidido largar Hollywood após conseguir deixar Joseph Gordon-Levitt parecido com Bruce Willis em “Looper”, em 2012. Ao voltar à ativa no filme do diretor Joe Wright, ele recebeu sua terceira indicação ao Oscar, compartilhada com David Malinowski (“Guerra Mundial Z”) e Lucy Sibbick (“Êxodo: Deuses e Reis”). Ao todo, “O Destino de uma Nação” concorre a seis prêmios no Oscar 2018, e o trabalho de maquiagem pode lhe ajudar a vencer dois – além da própria categoria técnica, o de Melhor Ator para Gary Oldman. Durante os 48 dias das filmagens, Oldman passou cerca de 200 horas na cadeira da sala dos maquiadores. Confira abaixo detalhes dessa transformação. Gary Oldman's transformation into Winston Churchill took 13 makeup tests, 48 consecutive shooting days, 200 hours in the makeup chair, and one incredible Oscar-nominated Hair & Makeup team. #DarkestHour pic.twitter.com/CIf6bgQYeH — Darkest Hour (@DarkestHour) February 23, 2018
Elegância de Trama Fantasma ilumina o cinema e faz o tempo parar
O cineasta Paul Thomas Anderson nunca optou pelo caminho cinematográfico mais simples – talvez “Boogie Nights”, de 1997, seja o mais próximo do popular que ele tenha chegado, e olha que é um filme sobre os bastidores da indústria pornô. “Trama Fantasma”, seu novo projeto indicado a seis Oscars, já traz em sua premissa um rigor artístico que o cineasta vem perseguindo arduamente desde “Magnólia” (1999), que alcançou seu ápice em “Sangue Negro” (2007), e rendeu ainda grandes momentos posteriores (e nada fáceis) com “O Mestre” (2012) e “Vicio Inerente” (2014). Nele, é possível vislumbrar uma linha visual, textual e sonora (na quarta colaboração consecutiva com Jonny “Radiohead” Greenwood, talvez a melhor) que Anderson persegue filme após filme, e que faz de “Trama Fantasma” uma (nova) obra atemporal que mais tem relação com a Arte (com A maiúsculo) do que com a programação tradicional de entretenimento semanal dos cinemas. Não há aceleração, correria, desperdício. Pelo contrário, o tempo parece quase parar em “Trama Fantasma”. O espectador observa como o cotidiano metódico de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, de “Sangue Negro”, em outro reencontro), um renomado estilista que trabalha ao lado da irmã Cyril (Lesley Manville) para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica nos anos 1950, altera-se com a chegada de Alma (Vicky Krieps), sua nova modelo-musa de inspiração. O destino dela é embalar e aguçar a criatividade de Reynolds até que ele se canse e a dispense (lembra “Mãe!”?). A não ser que ela lhe ofereça algo que nenhuma outra tenha oferecido. Silenciosamente cômico, elegantemente cínico e meticulosamente apaixonante, “Trama Fantasma” é a simples construção de um código de conduta entre duas pessoas, algo que acontece toda hora, todos os dias, ainda que não com o delicioso sarcasmo deste filme, que deve ser saboreado nos mínimos detalhes, como uma frestinha de sol que insiste em iluminar o olhar e sumir em meio a nuvens densas de um dia londrino frio, cinzento, nublado e chuvoso. Aproveite este pedacinho de luz até o último segundo.
Sem Amor transforma falta de afeto em cinema de alto nível
Quem viu “Leviatã”, o filme de Andrey Zvyagintsev de 2014, já percebeu que o estilo do diretor é duro, seco, realista. E que, por meio de uma narrativa forte e firme, ele diz muita coisa ao mundo de hoje. “Sem Amor”, o novo filme do cineasta russo, traz à tona a impactante questão da rejeição. Em tese, quem resolve ter filhos teria de assumir não só responsabilidades materiais sobre eles, mas responsabilidades afetivas que têm tanto peso quanto aquelas. Aqui, um garoto de 12 anos que nunca foi desejado, nem aceito, nem incorporado à família, mesmo que a contragosto, pelo pai ou pela mãe, chega a uma situação-limite, quando eles resolvem se separar. E com muitas brigas no caminho. Alyosha (Matvey Novikov), o garoto, é um dos motivos de briga, pois nem o pai e nem a mãe querem ficar com ele. Com tanta rejeição à vista, ainda lhe restaria um quarto confortável em casa e alguns equipamentos tecnológicos para sobreviver. Restaria, no condicional, já que, com a separação, a casa será vendida. O que sente e como se comporta uma criança numa situação assim? Só fugindo, seja lá para onde for, mesmo sem rumo ou condição de sobrevivência. E aí começa uma nova fase na vida de todos. Dele próprio, de cada um dos genitores e de seus novos parceiros amorosos. O que sentem eles, como lidam com a nova situação? Que clima, então, vai se estabelecendo na vida de cada um e de todos? É por aí que Andrey Zvyagintsev foca sua trama. Produz uma situação de suspense, em que a incerteza e a dúvida dominam a cena o tempo todo e prioriza o clima psicológico que tudo isso gera. Sua forma de narrar se dirige, mais do que tudo, aos efeitos que são produzidos por essa rejeição e fuga. É grave isso, pode ser demolidor. E permanecer pela vida afora. Inútil esperar por soluções salvadoras. A vida não é fácil e o ser humano é capaz de muita crueldade e egocentrismo. Até para tentar encobrir ou aplacar o ressentimento, a frustração e o desespero. Andrey Zvyagintsev consegue obter do elenco um desempenho preciso para o clima que quer criar. Há muita aridez afetiva nas atuações do casal Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak), assim como dos policiais que cuidarão do caso e até da ONG que investigará, de fato, o desaparecimento do garoto. Há exceções, mas, no geral, vive-se um deserto afetivo que os atores e atrizes acentuam em seus papéis, inclusive Novikov, o ator mirim, que mostra bem a impotência que vive. A fotografia contribui com suas cores frias e toda a ambientação anuncia uma tragédia: com aquele tempo terrível, frio, chuvoso, com neve, sobreviver é um desafio, virtualmente impossível para um garoto desprotegido. No conjunto, um trabalho cinematográfico de alto nível, que se destaca na disputa pelo Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Tem muita chance e muito mérito para isso. Venceu o Festival de Londres e o prêmio do Júri do Festival de Cannes.
Indicado ao Oscar 2018, O Insulto já chegou longe pelo que oferece
O filme libanês “O Insulto” é um dos cinco finalistas na disputa pelo Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. É a primeira produção do Líbano que chega a tanto. E é uma proeza estar entre títulos de peso. Não que ao tema com que lida falte apelo. Ao contrário, é assunto de todos os dias no noticiário internacional. Uma divergência absolutamente banal, uma calha que verte água por onde não podia, molhando as pessoas, opõe dois homens: o mecânico cristão-libanês Tony (Adel Karam) e o refugiado palestino Yasser (Kamel El Basha, premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza pelo papel). Um desentendimento, um insulto, e tudo vai parar nos tribunais. A partir daí, o conflito localizado não só se estabelece como vai progressivamente se ampliando, para acabar abarcando toda a questão judaico-palestina que envolve o Oriente Médio. Tema espinhoso, sem solução, tratado com uma certa ingenuidade política pelo diretor e roteirista Ziad Doueiri (que começou a carreira como assistente de Quentin Tarantino em filmes como “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”). Vamos descobrindo, ao longo das discussões que o filme mostra, que, afinal, os dois contendores em conflito sofreram ambos violências atrozes. São, portanto, vítimas. O que abre espaço para o discurso da conciliação, como se nessa história toda as coisas simplesmente se equiparassem. O que falta é o quê? Boa vontade, disposição política? Não é tão fácil assim. Há questões históricas complexas aí envolvidas, fanatismos de todos os tipos: políticos, religiosos, culturais, étnicos. Boas intenções não bastam. Aliás, o próprio filme apresenta esses impasses quando mostra as reações dos grupos envolvidos e representados nas ações dos tribunais, suas repercussões midiáticas e tudo o mais. As pessoas, individualmente, podem se pacificar, tornarem-se tolerantes, praticar a empatia. Ainda assim, o impasse coletivo continuará lá. O social e o político não são a soma das ações individuais. Assumem outra dimensão que tem de ser encarada e a verdade é que ninguém mais sabe encontrar o tal caminho da conciliação, nem mesmo sabe se, neste caso, ele ainda existe. “O Insulto” é bem produzido, mas é um filme absolutamente convencional. Já alcançou uma evidência e um sucesso de público pelo mundo surpreendentes pelo que oferece.
Música indicada ao Oscar 2018 vira hino não oficial de protestos nos Estados Unidos
“Stand Up For Something”, composta por Diane Warren e o rapper Common para o filme “Marshall”, e indicada ao Oscar 2018 na categoria de Melhor Canção Original, virou o hino não oficial de diversas manifestações dos últimos meses nos Estados Unidos, e atingiu unanimidade de escolha em eventos contra a violência armada que tomaram conta do país desde 14 de fevereiro, dia em que 17 estudantes foram assassinados numa escola de Ensino Médio da Flórida. A canção, que traz uma mensagem sobre a importância de se defender o que se acredita, tem sido ouvida em vários eventos uma de suas frases, “Você não pode simplesmente falar a conversa, você tem que caminhar a caminhada”, foi adotada como slogan por diversas organizações. Entre as coberturas, eventos e manifestações em que a música ressoou incluem-se CNN Heroes, NAACP Image Awards (premiação de artistas negros), a Gala da Declaração de Direitos da ACLU, a Marcha das Mulheres, e até no programa “Jimmy Kimmel Live”, quando foi dedicada para a defesa dos direitos dos imigrantes. A música será apresentada durante a cerimônia de premiação do Oscar 2018, com interpretação de Common e da cantora Andra Day, que a entoa no filme. Apesar de toda essa repercussão, o filme “Marshall” foi ignorado pelas distribuidoras brasileiras. Assim como outra produção estrelada por ator atro indicada ao Oscar (“Roman J. Israel, Esq.”), não tem previsão de lançamento no Brasil – coincidência? Além do intérprete principal, o diretor também é negro e a trama aborda um caso jurídico real da juventude do primeiro juiz negro da Suprema Corte dos Estados Unidos, quando atuava em defesa de negros acusados de crimes que não cometeram. Vale apontar que o ator principal, Chadwick Boseman, é o mesmo de “Pantera Negra”. Veja abaixo o clipe oficial de “Stand Up For Something”, bastante despojado, com cenas do filme, e a performance de Andra Day, Common e Diana Warren (nos teclados) durante a apresentação na noite de quinte (22/2) no programa de Jimmy Kimmel, o apresentador do Oscar 2018.
Guillermo Del Toro nega que A Forma da Água seja plágio
O diretor Guillermo Del Toro resolveu negar publicamente que o filme “A Forma da Água”, indicado a 13 prêmios no Oscar 2018, seja um plágio da peça teatral “Let Me Hear You Whisper”, de Paul Zindel, escrita em 1969. Ele decidiu se manifestar após as insinuações virarem processo judicial, aberto na quarta-feira (21/2) pelo filho do autor, David Zindel. “Eu nunca li ou vi a peça teatral”, disse o diretor ao site americano Deadline. “Eu nunca ouvi falar sobre essa peça antes de fazer ‘A Forma da Água’, e nenhum dos meus colaboradores mencionaram a peça”, completou. Porém, o processo acusa o produtor Daniel Kraus, que propôs o filme a Del Toro, de ser um grande admirador da obra Zindel, assim como o cineasta. As coincidências entre os enredos de peça e filme são múltiplas. A história de Zindel gira em torno de Helen, uma faxineira que se encanta por um golfinho mantido em cativeiro pelo governo. Para salvar a vida do animal, ela arma um plano para driblar a segurança máxima do local e retirá-lo de lá. Já no filme de Del Toro, Sally Hawkins vive Elisa, uma faxineira muda que se apaixona por uma criatura marinha, mantida em cativeiro em um laboratório secreto do governo. Ela também arma um plano para driblar a segurança máxima do local e retirá-lo de lá. Mas os resultados daí em diante são muito diferentes. De fato, se há similaridades na premissa, o restante, incluindo execução, desdobramentos e uma riqueza infinita de detalhes, são opostos. A Fox Searchlight também divulgou um comunicado apoiando Del Toro. “As acusações do senhor Zindel não têm fundamento, são totalmente sem mérito e vamos nos defender. Além disso, a queixa parece coincidir com o ciclo de votação do Oscar para pressionar o nosso estúdio a resolver o caso rapidamente. Em vez disso, nós vamos nos defender vigorosamente e, por extensão, este filme inovador e original”.
Acusação de plágio contra A Forma da Água vai parar na Justiça
O Oscar de Guillermo del Toro começa a fazer água. O filme “A Forma da Água”, campeão de indicações e um dos favoritos à premiação da Academia, está sendo formalmente processado por plágio da peça “Let Me Hear You Whisper”, escrita por Paul Zindel no final da década de 1960. A ação foi aberta na Justiça americana nesta quarta (21/2) pelo filho do autor, David Zindel. O caso, que sacudiu o diretor Guillermo del Toro, veio à tona em janeiro, após o filme receber 13 nomeações ao Oscar 2018, incluindo as de Melhor Filme, Diretor e, ironicamente, Roteiro Original. De acordo com a acusação, o produtor Daniel Kraus, que propôs o filme a Del Toro, seria um grande admirador da obra Zindel, dramaturgo respeitado nos Estados Unidos e vencedor do Prêmio Pulitzer, assim como o próprio cineasta, e teria apresentado a ideia de situar a história na mesma época em que a peça foi transmitida na TV americana, durante os anos 1960. “Esses e outros detalhes reveladores da escrita e produção do longa evidenciam fortemente que os réus infringiram conscientemente os direitos da peça de Zindel”. Em comunicado, a Fox Searchlight classificou a acusação de “sem fundamento” e “totalmente sem mérito”. “Vamos apresentar uma moção para a corte da Califórnia abandonar o caso”, afirma o estúdio. “Além disso, a queixa parece coincidir com o ciclo de votação do Oscar para pressionar o nosso estúdio a resolver o caso rapidamente. Em vez disso, nós vamos nos defender vigorosamente e, por extensão, este filme inovador e original”. As coincidências entre os enredos de peça e filme são múltiplas. A história de Zindel gira em torno de Helen, uma faxineira que se encanta por um golfinho mantido em cativeiro pelo governo. Para salvar a vida do animal, ela arma um plano para driblar a segurança máxima do local e retirá-lo de lá. Já no filme de Del Toro, Sally Hawkins vive Elisa, uma faxineira muda que se apaixona por uma criatura marinha, mantida em cativeiro em um laboratório secreto do governo. Ela também arma um plano para driblar a segurança máxima do local e retirá-lo de lá. Mas os resultados daí em diante revelam-se muito diferentes. De fato, se há similaridades na premissa, o restante, incluindo execução, desdobramentos e uma riqueza infinita de detalhes, são opostos. Mesmo assim, David Zindel acredita que se trata de um plágio total. “Estamos chocados que um estúdio desse tamanho possa fazer um filme obviamente baseado no trabalho do meu pai, achando que ninguém reconheceria, ou sem nos perguntar sobre os direitos”, ele argumentou, em email enviado ao jornal inglês The Guardian. Nas redes sociais, a produção de Del Toro já ganhou o apelido maldoso de “A Forma do Plágio”. E surgiu até quem quisesse aumentar o conto, como o cineasta francês Jean-Pierre Jeunet, que acusou o filme de Del Toro de plagiar uma cena de “Delicatessen” (1991). Neste caso, porém, não há a menor semelhança, a não ser pela inspiração de ambos na comédia muda de Charles Chaplin. A versão televisiva de “Let Me Hear You Whisper” foi disponibilizada no YouTube e pode ser conferida abaixo, em quatro partes que confirmam semelhanças e diferenças em relação a “A Forma da Água”.











