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    Governo cobra R$ 2,2 milhões de Kleber Mendonça Filho

    3 de maio de 2019 /

    A Secretaria do Audiovisual publicou no Diário Oficial desta sexta-feira (3/5) a notificação para que Kleber Mendonça Filho devolva R$ 2,2 milhões aos cofres públicos, referentes a irregularidades na captação do filme “O Som ao Redor” (2012). O prazo é de 30 dias. A publicação acontece após a Secretaria Especial da Cultura negar o último dos três recursos apresentado pelo cineasta. A cobrança se deve ao fato de “O Som ao Redor” ter excedido o limite de R$ 1,3 milhão de um edital destinado a produções de baixo orçamento. O filme acabou captando, no total, R$ 1,7 milhão, com R$ 410 mil provenientes de um edital do Governo de Pernambuco. Mendonça Filho argumentou que o segundo valor é estadual e não federal, mas o edital original não fazia essa distinção. O valor que precisa ser devolvido saltou para R$ 2,2 milhões por causa de juros e atualização monetária. Mas este ainda não é o final da questão. Os advogados do diretor pretendem recorrer ao Tribunal de Contas da União. O mesmo TCU que paralisou o investimento da Ancine em novos filmes e séries, justamente por problemas na prestação de contas. Caso também perca nesta esfera e não pague o valor solicitado, a produtora do cineasta, Cinemascópio, ficará proibida de participar de novos editais e programas de incentivos ligados ao Ministério da Cidadania, que absorveu as atividades do finado Ministério da Cultura (MinC). A cobrança começou a ser feita em março de 2018 ainda pelo MinC. A continuidade do processo agora coincide com a política de “desestatização” cultural do governo Bolsonaro e um cenário de terra devastada para a produção cinematográfica nacional. Também coincide com seleção do novo filme de Kleber Mendonça Filho, “Bacurau”, para disputar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2019, que vai acontecer de 14 a 25 de maio na França.

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    Selecionado para Cannes, Kleber Mendonça Filho é processado pelo governo

    18 de abril de 2019 /

    No dia em que seu segundo filme consecutivo foi selecionado para o Festival de Cannes, o diretor Kleber Mendonça Filho recebeu um desincentivo para sua carreira da Secretaria Especial da Cultura. O cineasta vai disputar a Palma de Ouro com “Bacurau”, seu terceiro longa, após participar do festival com o segundo, “Aquarius” (2016). Entretanto, ainda está sendo cobrado pelo governo pelas prestações de contas do primeiro, “O Som ao Redor”, de 2012. A Secretaria negou o último dos três recursos do cineasta referentes a irregularidades na captação de incentivos do longa lançado há seis anos. A produtora do diretor, Cinemascópio, terá 30 dias após a notificação para devolver R$ 2,2 milhões aos cofres públicos. Mendonça Filho ainda pode recorrer ao Tribunal de Contas da União (TCU). Caso também perca nesta esfera e não pague o valor solicitado, a produtora vai ficar impossibilitada de participar de editais e programas de incentivos ligados ao Ministério da Cidadania, que absorveu as funções do finado Ministério da Cultura no governo Bolsonaro. A primeira notificação desse caso foi entregue à Cinemascópio em março de 2018 ainda pelo Ministério da Cultura (MinC). A ação afirma que “O Som ao Redor” excedeu o limite de R$ 1,3 milhão de um edital destinado a produções de baixo orçamento. “O Som ao Redor” acabou captando, no total, R$ 1,7 milhão, com R$ 410 mil provenientes de um edital do Governo de Pernambuco. O valor que precisa ser devolvido saltou para R$ 2,2 milhões por causa de juros e atualização monetária. Na ocasião da notificação, Mendonça Filho defendeu-se afirmando que “o projeto não ultrapassou o valor de R$ 1,3 milhão de recursos federais” — R$ 1 milhão vindos do ministério e R$ 300 mil da Petrobras. Segundo ele, os R$ 410 mil que foram captados além do teto estabelecido no edital do MinC vieram de outro edital, do governo de Pernambuco. O cineasta também afirma que esse acúmulo de fontes foi aprovado pela Ancine. O edital do MinC, no entanto, não faz distinção entre verbas federais e de outras fontes, determinando que o custo total não poderia ultrapassar R$ 1,3 milhão. Não há manifestação da Ancine sobre o caso. Considerado pela crítica um dos melhores longas brasileiros desta década, “O Som ao Redor” venceu o Festival do Rio, a Mostra de São Paulo, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, levou vários prêmios também em Gramado e no exterior – nos festivais de Roterdã, Toronto, Oslo, Lleida, Lima, CPH Pix, CinePort, Cinemanila, etc. Ironicamente, ao ter seu novo filme selecionado para o mais prestigioso dos festivais internacionais, Kleber Mendonça Filho teria direito a verba da Ancine de apoio à viagem e divulgação da obra. Mas o TCU paralisou os investimentos da agência. A política do governo Bolsonaro tem sido de desmonte cultural, com cortes de patrocínios de estatais e projeto de revisão da Lei Rouanet, numa visão de que o Estado tem incentivado o “marxismo cultural”. O Festival de Cannes acontece de 14 a 25 de maio.

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    Para não pagar multa, Kleber Mendonça Filho se diz perseguido pelo MinC e recebe resposta

    30 de maio de 2018 /

    O cineasta Kleber Mendonça Filho voltou a se dizer perseguido pelo Ministério da Cultura. Em uma carta aberta publicada nas redes sociais, ele afirmou estar sofrendo “uma punição inédita no Cinema Brasileiro” com a exigência da devolução de R$ 2,2 milhões referentes a recursos captados para a realização do longa “O Som ao Redor” (2009), após descumprir regras do edital. Considerado pela crítica um dos melhores longas brasileiros desta década, “O Som ao Redor” foi feito com verba pública após vencer um edital do MinC que determinava que só seriam aceitos “projetos com orçamento de, no máximo, R$ 1,3 milhão”. Entretanto, a produtora do filme enviou para a Ancine (Agência Nacional do Cinema) um orçamento de R$ 1.494.991 — 15% superior ao limite máximo e, após vencer o edital, ainda redimensionou seus custos para R$ 1.949.690. A discrepância entre o custo do filme e o limite permitido pelo edital foi detectada pela área técnica da Ancine e informada à Secretaria do Audiovisual, do MinC, em 2010. Mas a irregularidade foi ignorada e “O Som ao Redor” obteve permissão para captar R$ 1.709.978. O filme acabou selecionado para representar o Brasil na disputa de uma indicação ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. O caso, no entanto, foi denunciado à ouvidoria do MinC e ao Ministério Público Federal, o que levou a uma investigação que confirmou que a obra havia recebido recursos “em desacordo com os limites previstos no edital”. Kleber Mendonça Filho afirma ter dado um jeitinho na época para enquadrar seu filme nas regras, com recursos complementares captados no âmbito estadual, via o Funcultura de Pernambuco. E que isso teria sido aprovado – o que explicaria a irregularidade ter sido ignorada durante o período em que Juca Ferreira foi ministro da Cultura do governo Lula. Após perder os prazos para recorrer à cobrança, o diretor foi às redes sociais reclamar. “No Brasil dos últimos tempos, a nossa capacidade de expressar indignação como cidadãos vem sendo diminuída, creio que por dormência. E é bem aqui onde assumo resignado uma posição habitual demais no nosso país, a de um cidadão que precisa defender-se de acusações injustas”, escreveu, numa carta aberta dirigida ao Ministro da Cultura Sérgio Sá Leitão. O diretor afirma que seu consultor jurídico chegou a procurar a Coordenação de Editais da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura para esclarecer se a captação extra seria considerada irregular. “A SAV afirmou, via e-mail oficial, que a captação de recursos não-federais (no nosso caso, o Funcultura pernambucano) NÃO VIOLARIA os limitadores dispostos no edital de Baixo Orçamento em questão. Essa resposta está documentada (‘Sim, o edital só veta recursos federais acima de R$ 300 mil.’). Nós nunca faríamos alteração de orçamento sem o acompanhamento das agências responsáveis, elas próprias regidas por regras internas duras”, diz, na carta aberta. Dirigindo-se ao Ministro da Cultura, o cineasta questiona: “Pergunto ao senhor se houve comunicação entre o MinC e a Ancine para tentar esclarecer essa questão institucional que não deveria ser transformada numa punição inadequada para os produtores de um filme exemplar”. E acrescenta, apontando suposta “conspiração”: “Por que a denúncia feita por um funcionário da Ancine encontrou sentido dentro do MinC, mas não na própria Ancine, onde o processo interno não foi adiante?” Logo após a publicação de seu manifesto de muitas páginas, que pode ser lido abaixo na íntegra, a situação escalou a ponto de virar um movimento em defesa da “liberdade de expressão” e “uma questão própria da luta da Cultura no Brasil”, conforme assinala um abaixo-assinado encabeçado pelo ator Wagner Moura. O texto disponibilizado no começo da semana passou a receber diversas assinaturas ilustres para defender o diretor da cobrança e denunciar “com perplexidade e democrática preocupação a conduta do Ministério da Cultura”. O manifesto teve resposta do Ministério da Cultura, que voltou a destacar que a denúncia não partiu do MinC e que o enquadramento se deu por uma questão técnica, prevista em contrato assinado por representante legal da produtora do filme. Além disso, apesar da carta aberta e do abaixo-assinado reclamarem de falta de diálogo, o MinC afirmou ter recebido o advogado de Mendonça Filho a quem informou como deveria ser o procedimento legal para recorrer à cobrança. O MinC ainda informou ter dado mais 10 dias para o diretor ou seu representante encaminhar o recurso e diz rejeitar “veementemente a insinuação irresponsável e sem base nos fatos de que haveria ‘perseguição política’ e ‘atentado à liberdade de expressão’ no caso”. “A instituição está apenas cumprido a sua obrigação legal e ética, de modo técnico e isento”, diz o texto, que lamenta que a empresa do diretor, a Cinemascópio, não tenha exercido o direito de recorrer da decisão, e “em vez do caminho legal, institucional e administrativo”, tenha optado “por pessoalizar a questão e tratá-la em redes sociais, com insinuações”. Leia abaixo todos os comunicados do caso. 1. A carta aberta publicada por Kleber Mendonça Filho: “Recife, 29 de Maio de 2018. Caro Ministro de Estado da Cultura, Sr. Sergio Sá Leitão Dirijo-me ao senhor, através da presente Carta Aberta, por acreditar que essa troca tem um sentido democrático. Esse texto também está sendo compartilhado com o público, entidades de classe, a imprensa e profissionais da cultura no Brasil e no exterior. Como cidadão brasileiro, artista e trabalhador da Cultura, ainda vejo o nosso país como uma Democracia e entendo que o Ministério da Cultura tem como missão divulgar, zelar e fomentar nossa produção cultural, além de dialogar com os trabalhadores da Cultura. De forma institucional, o senhor deve nos representar, mesmo que talvez tenhamos ideias distintas sobre temas que nos são caros, como o Cinema, a Cultura e o país. Foi como cidadão e cineasta que recebi perplexo uma comunicação do seu Ministério, e isso ocorreu por email no dia 29 de março último, durante as 14 semanas de trabalho no meu filme novo, ‘Bacurau’, co-dirigido por Juliano Dornelles. ‘Bacurau’ é uma co-produção franco-brasileira. Estávamos no Sertão do Seridó, no Rio Grande do Norte, quando a comunicação do MinC nos informou que todo o dinheiro do Edital de Baixo Orçamento utilizado na realização de ‘O Som ao Redor’, meu primeiro longa metragem, realizado em 2010, teria de ser devolvido. Desde o fim das filmagens de ‘Bacurau’, há duas semanas, e isso inclui uma pesada desprodução, que tentamos agendar uma visita com o senhor para discutir essa questão. Tentamos de várias formas, contato pessoal e marcação de uma agenda oficial, sem sucesso. Para além disso, sempre nos colocamos à disposição de dialogar. A carta por nós recebida do MinC sugere uma punição inédita no Cinema Brasileiro e que nos pareceria mais adequada a produtores que não teriam sequer apresentado um produto finalizado, e isso após algum tempo de diálogo. A carta veio, inclusive, do mesmo Ministério da Cultura que indicou ‘O Som ao Redor’ para representar o Brasil no Oscar, em 2013. É de suma importância que esse meu escrito não perca de vista a natureza dessa situação. No Brasil dos últimos tempos, a nossa capacidade de expressar indignação como cidadãos vem sendo diminuída, creio que por dormência. E é bem aqui onde assumo resignado uma posição habitual demais no nosso país, a de um cidadão que precisa defender-se de acusações injustas. O valor exigido para devolução (com boleto já emitido) na carta do Ministério da Cultura é R$ 2.162.052,68 – Dois Milhões Cento e Sessenta e Dois Mil e Cinquenta e Dois Reais Com Sessenta e Oito Centavos – já corrigidos. ‘O Som ao Redor’ custou R$ 1,700,000,00 – Um milhão e setecentos mil reais – no seu processo de produção, nos anos de 2010 e 2011. Em câmbio corrigido do dia de hoje, ‘O Som ao Redor’ custou 465 mil (quatrocentos e sessenta e cinco mil) dólares. O MinC deveria premiar produtores que fazem tanto e que vão tão longe com orçamento de cinema tão reconhecidamente enxuto. Os recursos complementares foram captados no âmbito estadual, através do Edital de Audiovisual do Funcultura de 2009 no valor de R$ 410.000,00, sendo que esse valor foi devidamente declarado e autorizado pela ANCINE, após comunicação entre as duas instituições (Ancine e Secretaria do Audiovisual). São informações públicas e declaradas, já há oito anos: MinC/Edital: Um milhão de reais. — Petrobras: 300 mil reais. (Obs: o prêmio do edital da Petrobras era de 571 mil 805 reais, mas saiba que 271 mil 805 reais foram devolvidos para respeitar o limite definido claramente no edital para verbas federais – de um milhão e 300 mil reais). — Funcultura Pernambuco: 410 mil reais, verba estadual (não federal). ‘O Som ao Redor’ é fruto do Concurso de Apoio à Produção de Longas Metragens de Baixo Orçamento 2009. Destaco aqui o trecho do Edital: “11. DAS VEDAÇÕES 11.1 É expressamente vedada: (…) C) O acúmulo do apoio previsto neste Edital com recursos captados através das leis 8.313/91 e 8.685/93, bem como com recursos provenientes de outros programas e/ou apoios concedidos por entes públicos federais, acima do limite de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais)”. Isso parecia entrar em conflito com o item 2.1d acerca da definição de obra cinematográfica de baixo orçamento: “2.1. Para fins deste Edital, entende-se que: (…) d) OBRA CINEMATOGRÁFICA DE LONGA METRAGEM DE BAIXO ORÇAMENTO é aquela obra audiovisual cuja matriz original de captação é uma película com emulsão fotossensível ou matriz de captação digital, cuja destinação e exibição seja prioritariamente e inicialmente o mercado de salas de exibição, cuja duração seja superior a setenta minutos e cujo custo de produção e cópias não ultrapasse o valor de até R$ 1.300.000,00 (um milhão trezentos mil reais);” Nosso consultor jurídico à época levou à Coordenação de Editais da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura a dúvida sobre recursos não-federais. A SAV afirmou, via email oficial, que a captação de recursos não-federais (no nosso caso, o Funcultura pernambucano) NÃO VIOLARIA os limitadores dispostos no edital de Baixo Orçamento em questão. Essa resposta está documentada (“Sim, o edital só veta recursos federais acima de R$ 300 mil.”). Nós nunca faríamos alteração de orçamento sem o acompanhamento das agências responsáveis, elas próprias regidas por regras internas duras. Pergunto ao senhor se houve comunicação entre o MinC e a Ancine para tentar esclarecer essa questão institucional que não deveria ser transformada numa punição inadequada para os produtores de um filme exemplar. Por que a denúncia feita por um funcionário da Ancine encontrou sentido dentro do MinC, mas não na própria Ancine, onde o processo interno não foi adiante? Pergunto-lhe ainda o porquê de o MinC não ter nos respondido ao nosso pedido de compartilhar o processo relativo ao filme entre o Minc e a Ancine, fruto de um email oficial por nós enviado em 28 de agosto de 2017? O MinC também não observou a vedação acima, nem tampouco registra nossa prova de boa fé documentada de termos nos comunicado com a SAV para esclarecer essa questão. Também não observa a maneira correta com a qual tratamos o patrocínio da Petrobras, respeitando o limite claro de um milhão e trezentos mil reais às verbas federais. A interpretação também nos parece equivocada quando analisada a praxe do processo de captação no setor; a interpretação é absurda ainda por representar verdadeiro enriquecimento injustificado da União (a devolução de todo o valor do edital e com valores corrigidos) em virtude da entrega do filme (reconhecida pela própria AGU em parecer). Na época, outros filmes dos primeiros editais de Longas Metragens de Baixo Orçamento esclareceram da mesma forma ética a vedação destacada acima, complementando seus orçamentos com recursos estaduais ou municipais. São informações públicas disponíveis também há anos. Vale observar que o edital de Longas de Baixo Orçamento de 2011 viu o seu texto passar por alteração, finalmente vetando de fato qualquer tipo de recurso extra, municipal e/ou estadual. Caro senhor ministro, preciso ainda registrar que a carta recebida do vosso MinC veio como uma surpresa, especialmente por não termos tido a chance de dialogar com o Ministério. Como artista, o mínimo que espero de um Ministério como...

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    Aquarius resgata Sonia Braga e renova a apreciação do cinema nacional

    2 de setembro de 2016 /

    Talvez um dos maiores elogios a se dizer de “Aquarius” é que se trata de um filme que parece ter sido feito por um cineasta muito experiente, de cerca de pelo menos 30 anos de carreira, tal o domínio da linguagem cinematográfica que Kleber Mendonça Filho demonstra neste seu segundo longa-metragem de ficção, depois da repercussão internacional de “O Som ao Redor”. Logo de cara, percebemos que os dois trabalhos, apesar de terem muita coisa em comum, como o flerte com a atmosfera dos filmes de horror, ou as questões sociais, que novamente entram em pauta de maneira forte e pungente, o novo filme, no entanto, é uma obra que respira melhor, com um tempo mais lento, que pode incomodar a alguns espectadores mais apressados, mas que é necessário para que estudemos com atenção a personagem Clara, vivida de maneira brilhante por Sonia Braga. Ter, aliás, Sonia Braga é um grande trunfo de “Aquarius”. O cineasta, a princípio, pensava em dar o papel a uma atriz pouco conhecida, mas depois viu que estaria estragando a oportunidade de usar uma atriz profissional, que carregasse com segurança um filme centrado todo nela. Nesse sentido, o resgate de Sonia Braga foi bom tanto para o cineasta quanto para ela própria, que estava um pouco fora dos holofotes e que acabou ganhando o que talvez seja o melhor papel de sua carreira. O tema do filme é a resistência. Daí a identificação forte com o cenário político atual, sendo possível fazer alguns paralelismos com os ataques e ameaças que uma mulher segura de si recebe de todos os lados. No caso, Clara mora no único apartamento do prédio que não foi vendido. Só sai de lá morta, afirma. E tem início uma série de tentativas do inimigo de tentar derrubá-la, ela que já venceu um câncer. Uma coisa que chama a atenção desde o começo é a valorização – mais uma vez – da mixagem de som. Agora, com a utilização de várias canções. O trabalho de DJ de Kleber Mendonça Filho é também admirável, e poder ouvir tantas canções boas no cinema é um privilégio. Talvez até acusem o diretor de usar demais as canções como uma forma de talvez esconder alguma fragilidade na direção, mas como o apartamento de Clara é repleto de vinis e a música é tão importante para a personagem, nada mais natural que ela compareça de forma bastante forte na trilha sonora. Só no terceiro ato que essas canções se tornam mais raras, quando a tensão se intensifica. O ponto de vista é, mais uma vez, da classe média, de gente que tem o prazer de poder tomar um bom vinho com a família e com os amigos, mas há, assim como em “O Som ao Redor”, um sentimento de culpa em relação à exploração dos mais pobres, ainda que de maneira mais sutil. O que mais interessa para Mendonça Filho é tratar de temas humanos de peito aberto, também aproveitando para desabafar diante dos canalhas que só pensam no dinheiro acima de tudo. Como o cineasta atira para vários lados, cada cena tem o seu valor, sua importância, como as que tratam, de forma mais explícita, da sexualidade da protagonista. Aliás, o sexo se tornou um dos tabus do filme, que inicialmente ganhou classificação 18 anos (depois, convertida em 16 anos), por causa, principalmente, de uma breve cena de sexo coletivo. O sexo, no entanto, já aparece logo em uma das primeiras cenas, em rápidas e inesperadas imagens em flashback de uma tia sexagenária de Clara, no dia de seu aniversário. Haveria ainda muito a se falar do filme, sobre suas várias qualidades, como a fotografia em tons quentes que valoriza a luz de Recife, mais especificamente a Praia de Boa Viagem, mas também o apartamento de Clara, das conversas da protagonista com seus filhos, familiares e amigos, da troca de palavras tensa com seus inimigos, e por isso mesmo é uma obra que convida o espectador a renovar sua apreciação do cinema nacional.

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    Aquarius: Veja a primeira cena e o pôster francês do novo filme de Kleber Mendonça Filho

    15 de maio de 2016 /

    O filme brasileiro “Aquarius” teve sua primeira cena e pôster divulgados. Voltado para o mercado francês, o cartaz destaca a inclusão do filme no Festival de Cannes, enquanto o vídeo revela um flerte da protagonista da trama, Clara, vivida por Sonia Braga (“Lope”), e o salva-vidas Roberval, personagem de Irandhir Santos (“A História da Eternidade”), na praia de Boa Viagem, no Recife. Dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), o filme conta a história de uma jornalista e escritora que vive de frente para o mar no Aquarius, último prédio de estilo antigo da praia de Boa Viagem, no Recife. Viúva com três filhos adultos, ela enfrenta as investidas de uma construtora que quer demolir o edifício e dar lugar a um novo empreendimento. O longa foi gravado na capital pernambucana entre agosto e setembro do ano passado, e marca um reencontro de Sonia Braga com o cinema nacional. A atriz não estrelava um filme brasileiro desde “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, em 2001, embora tenha sido dirigida por Andrucha Waddington no espanhol “Lope” (2010). Além disso, também celebra o retorno do Brasil à competição da Palma de Ouro, depois de um hiato de oito anos. Mas antes mesmo de sua inclusão no festival, a revista francesa Cahiers du Cinema já listava o filme entre os mais esperados de 2016. A première mundial vai acontecer na terça (17/5) na programação de Cannes. Depois, “Aquarius” vai participar do Festival de Sydney, na Austrália. Ainda não há previsão para o lançamento no Brasil.

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    Festival de Cannes tem edição mais competitiva dos últimos anos

    11 de maio de 2016 /

    A edição 2016 do Festival de Cannes, que começa nesta quarta (11/5) com a exibição de “Café Society”, novo filme de Woody Allen, será a mais competitiva dos últimos anos. A organização do evento fez uma seleção de cineastas prestigiadíssimos, verdadeiros mestres do cinema, para a disputa da Palma de Ouro, aumentando a responsabilidade do juri presidido por George Miller (foto acima), o diretor de “Mad Max: Estrada da Fúria” (2015). Para dar uma ideia inicial do que representam os 20 cineastas selecionados, o menos experiente é o brasileiro Kleber Mendonça Filho, que mesmo assim conquistou prêmios internacionais com sua obra de estreia, “O Som ao Redor” (2014). A grande maioria dos selecionados já foi reconhecida por troféus no próprio Festival de Cannes. Quatro deles, por sinal, levaram a Palma de Ouro. Os maiores campeões são os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, duas vezes vencedores com “Rosetta” (1999) e “A Crianca” (2005). Eles retornam com o drama “La Fille Inconnue” (ou, no título internacional, “The Unknown Girl”), estrelado por Adèle Haenel, a jovem estrela francesa de “Lírios d’Água” (2007) e “Amor à Primeira Briga” (2014). Dois outros cineastas que já conquistaram a Palma de Ouro também estão de volta à competição. Vencedor pelo impactante “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias” (2007), o romeno Cristian Mungiu apresenta “Bacalaureat”, enquanto o britânico Ken Loach, laureado por “Ventos da Liberdade” (2006), exibe “I, Daniel Blake”. A lista prestigiosa também tem diversas Palmas de Prata. O dinamarquês Nicolas Winding Refn, premiado no festival pela direção de “Drive” (2011), traz seu terror artístico “Neon Demon”, passado no mundo da moda e estrelado por Elle Fanning (“Malévola”), Bella Heathcote (“Orgulho e Preconceito e Zumbis”), Abbey Lee (“Mad Max: Estrada da Fúria”), Jena Malone (franquia “Jogos Vorazes”), Keanu Reeves (“De Volta ao Jogo”) e Christina Hendricks (série “Mad Men”). O espanhol Pedro Almodóvar, que recebeu de Cannes o troféu de Melhor Roteiro por “Volver” (2006), comparece com “Julieta”, drama sobre perda e abandono que acompanha uma mulher (interpretada em diferentes fases por Emma Suarez e Adriana Ugarte) ao longo de três décadas. O canadense Xavier Dolan, que venceu o Prêmio do Juri por “Mommy” (2014), revela “Juste la Fin du Monde” (título internacional: “It’s Only the End of the World”), seu primeiro longa estrelado por astros franceses. E que astros! O elenco inclui Léa Seydoux (“007 Contra Spectre”), Marion Cotillard (“Macbeth”), Vincent Cassel (“Em Transe”) e Gaspard Ulliel (“Saint Laurent”). O festival, claro, continua a destacar o cinema francês, e este ano selecionou quatro obras da “casa”. Olivier Assayas vai disputar a Palma de Ouro pela quinta vez com “Personal Shopper”, por coincidência outra história sobrenatural passada no mundo da moda (como “Neon Demon”), que volta a reunir o diretor com a atriz Kristen Stewart após o premiado “Acima das Nuvens” (2014). Nicole Garcia (“Um Belo Domingo”), por sua vez, concorre pela terceira vez com “Mal de Pierres” (“From the Land of the Moon”), que junta Marion Cotillard com Louis Garrel (“Dois Amigos”) num romance de época que atravessa gerações. Bruno Dumont, que já levou duas vezes o Grande Prêmio do Júri (por “A Humanidade”, em 1999, e “Flandres”, em 2006), compete com “Ma Loute” (“Slack Bay”), uma combinação de mistério gótico e romance gay juvenil passado no litoral francês em 1910, no qual Juliette Binoche (“Acima das Nuvens”) interpreta a matriarca de uma antiga família decadente. E Alain Guiraudie, vencedor da Mostra um Certo Olhar com “Um Estranho no Lago” (2013), traz “Rester Vertical” (“Staying Vertical”), cuja história está sendo mantida em sigilo. Além da já citada obra de Nicole Garcia, a competição terá mais dois filmes dirigidos por mulheres: o road movie “American Honey”, da inglesa Andrea Arnold, que venceu o Prêmio do Juri com “Aquário” (2009), e “Toni Erdmann”, um drama sobre relacionamento familiar da alemã Maren Ade, anteriormente premiada no Festival de Berlim por “Todos os Outros” (2009). O cinema americano, como sempre, também se destaca na seleção, comparecendo com três representantes. Sean Penn, que já foi premiado em Cannes como ator por “Loucos de Amor” (1997), dirige “The Last Face”, drama humanitário passado na África e estrelado por sua ex-mulher Charlize Theron (“Mad Max: Estrada da Fúria”). Jim Jarmusch, vencedor do Prêmio do Júri por “Flores Partidas” (2005), lança “Paterson”, em que Adam Driver (“Star Wars: O Despertar da Força”) é um motorista de ônibus poeta. E Jeff Nichols, que disputou a Palma de Ouro com “Amor Bandido” (2012), retorna com “Loving”, no qual Joel Edgerton (“Aliança do Crime”) e Ruth Negga (série “Agents of SHIELD”) vivem um casal inter-racial nos anos 1950. Outro cineasta bastante conhecido em Hollywood, o holandês Paul Verhoeven, que disputou a Palma de Ouro por “Instinto Selvagem” (1992), traz seu primeiro filme falado em francês, “Elle”, estrelado pela atriz Isabelle Huppert (“Amor”). Refletindo sua filmografia, o longa deve se tornar um dos mais comentados do festival pelo tema polêmico. Na trama, a personagem de Huppert é estuprada e fica fascinada pelo homem que a atacou, passando a persegui-lo. A seleção também inclui três cineastas asiáticos. O iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Oscar por “A Separação” (2011) e premiado em Cannes por “O Passado” (2013), volta a lidar com seus temas favoritos, relacionamentos e separações, em “The Salesman”. O filipino Brillante Mendoza, também já premiado em Cannes pela direção de “Kinatay” (2009), traz o drama “Ma’ Rosa”, sobre uma família que possui uma loja de conveniência numa região pobre de Manilla. Por fim, o sul-coreano Park Chan-wook, que ganhou o Grande Prêmio do Juri por “Oldboy” (2003), conta, em “The Handmaiden”, um romance lésbico ambientado na Inglaterra vitoriana. É esta turma premiadíssima que o brasileiro Kleber Mendonça Filho irá enfrentar, com a exibição de “Aquarius” na mostra competitiva. Rodado em Recife, o filme também marca a volta de Sonia Braga ao cinema nacional, no papel de uma viúva rica em guerra contra uma construtora que quer desaloja-la do apartamento onde vive. O Brasil levou a Palma de Ouro apenas uma vez na história, com “O Pagador de Promessas”, em 1962. E o cinema nacional estava meio esquecido no festival. “Aquarius” interrompe um hiato de oito anos desde que uma produção brasileira competiu pela Palma de Ouro pela última vez – com “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas, em 2008. Por sinal, o país também está representado na disputa da Palma de Ouro de curta-metragem, com “A Moça que Dançou com o Diabo”, do diretor João Paulo Miranda Maria, incluído na competição oficial. Além da disputa da Palma de Ouro, o festival terá diversas mostras paralelas, que incluem a exibição do documentário “Cinema Novo”, de Eryk Rocha (“Campo de Jogo”), programado na mostra Cannes Classics, dedicada a filmes clássicos e à preservação da memória e do patrimônio cinematográfico mundial. O filme vai concorrer ao prêmio L’Oeil d’Or (Olho de Ouro), entregue ao melhor documentário do festival, em disputa que se estende a todas as mostras. O júri deste ano conta com a participação do crítico brasileiro Amir Labaki, diretor do Festival É Tudo Verdade. A programação do festival ainda exibirá, fora de competição, a já citada nova comédia de Woody Allen, “Café Society”, a volta de Steven Spielberg (“Ponte dos Espiões”) ao cinema infantil, com “O Bom Gigante Amigo”, adaptado de uma história de Road Dahl (autor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”), o thriller financeiro “Jogo do Dinheiro”, de Jodie Foster (“Um Novo Despertar”), a comédia “Dois Caras Legais”, de Shane Black (“Homem de Ferro 3”), e o thriller “Herança de Sangue”, do francês Jean-François Richet (“Inimigo Público nº 1”), que marca a volta de Mel Gibson (“Os Mercenários 3”) como protagonista de filmes de ação. Sem mencionar dezenas de outras premières mundiais em seções prestigiadas como Um Certo Olhar, Quinzena dos Diretores, Semana da Crítica e Cine-Fundação.

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    Novo filme do diretor de O Som ao Redor vai disputar a Palma de Ouro em Cannes

    14 de abril de 2016 /

    O filme “Aquarius”, segundo longa-metragem do diretor Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), foi selecionado para a competição principal do Festival de Cannes. A organização do festival anunciou a seleção dos candidatos à Palma de Ouro na manhã desta quinta (14/4). Rodado em Recife, a trama é estrelada por Sonia Braga, no papel de uma viúva rica em guerra contra uma construtora que quer desaloja-la do apartamento onde vive. A seleção de “Aquarius” se segue à enorme repercussão alcançada pela estreia em longa-metragem do cineasta, “O Som ao Redor”, que correu o mundo, teve bom desempenho nas bilheterias nacionais, conquistou diversos prêmios e terminou por ser o candidato brasileiro ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O Brasil levou a Palma de Ouro apenas uma vez na história, com “O Pagador de Promessas”, em 1962. E o cinema nacional estava meio esquecido no festival. “Aquarius” interrompe um hiato de oito anos desde que um filme brasileiro competiu pela Palma de Ouro pela última vez – o anterior havia sido “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas em 2008. “Aquarius” vai concorrer, como não poderia deixar de ser, com diversos “pesos pesados” do cinema mundial, como novos longas de Jim Jarmusch, Paul Verhoeven, Jeff Nichols, Ken Loach, Xavier Dolan, Olivier Assayas, Pedro Almodóvar, Bruno Dumont e os irmão Dardenne, entre outros. O festival de Cannes começa em 11 de maio com a première mundial de “Café Society”, novo filme de Woody Allen”, e vai até o dia 22. Entre as estreias mundiais fora de competição, os destaques são para os novos trabalhos de Steven Spielberg, “O Bom Gigante Amigo”, e de Jodie Foster, “Jogo do Dinheiro”. O Brasil ainda marca presença em Cannes com o curta-metragem “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria.

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