Rae Allen (1926–2022)
A atriz Rae Allen, conhecida pela série “A Família Soprano”, morreu na quarta-feira (6/4) aos 95 anos. Outros detalhes do falecimento não foram revelados. Ela começou a carreira na Broadway durante os anos 1950 e fez sua estreia nas telas reprisando um papel que interpretou no palco, como a repórter Gloria Thorpe no musical “O Parceiro de Satanás” (Damn Yankees) em 1958. A trajetória premiada nos palcos lhe rendeu duas indicações e uma conquista do Tony (o Oscar do teatro), por “And Miss Reardon Drinks a Little”, em 1971. O sucesso teatral, porém, deixou sua filmografia em segundo plano. Quando estava no auge na Broadway, ela participou dos filmes de comédia “Um Tigre de Alcova” (1967), de Arthur Hiller, “Como Livrar-me da Mamãe” (1970), de Carl Reiner, e “Procura Insaciável” (1971), de Milos Forman, antes de concentrar sua carreira audiovisual na televisão com aparições em várias séries, incluindo “Tudo em Família”, na qual atuou em dois capítulos de anos diferentes (1972 e 1973) como a mesma personagem. Voltando a fazer de filmes após duas décadas, ela se destacou como Ma Keller, a mãe das personagens de Lori Petty e Geena Davis na comédia esportiva “Uma Equipe Muito Especial” (1992), de Penny Marshall, além de ter aparecido na sci-fi “Stargate” (1994). Ela chegou a protagonizar sua própria série de aventuras, “The Fearing Mind”, no ano 2000, cancelada devido à baixa audiência, mas seu papel mais lembrado foi a tia Quintina Blundetto de “A Família Soprano”, que desempenhou em cinco episódios de 2004. Rae Allen se despediu do cinema em “Reine Sobre Mim” (2007), um drama de Mike Binder com Adam Sandler e Don Cheadle, e da TV em dois episódios da série de comédia “Vampire Mob”, em 2010.
Stanley Donen (1924 – 2019)
Morreu Stanley Donen, o último diretor da era de ouro de Hollywood, que assinou clássicos como “Cantando na Chuva” (1952), “Cinderela em Paris” (1957) e “Charada” (1963). Ele tinha 94 anos e nenhum detalhe adicional sobre sua morte, revelada na manhã deste sábado (23/2), foi fornecido pela família. Considerado um dos diretores mais influentes dos musicais americanos, ele foi responsável – junto com Vincent Minnelli e Busby Berkeley – por estabelecer a estética dos filmes da MGM, celebrados até hoje – e homenageados recentemente por “La La Land”. Mas, inacreditavelmente, nunca recebeu uma indicação ao Oscar e nunca venceu um troféu do Sindicato dos Diretores. Não por acaso, seu filho, que tuitou a notícia de sua morte, o descreveu como “um enorme talento muitas vezes menosprezado”. Stanley Donen nasceu em 13 de abril de 1924, na cidade de Columbia, Carolina do Sul. Apaixonado pela dança, ele começou a dançar aos 10 anos em peças de teatro locais. “Vi Fred Astaire em ‘Voando para o Rio’ quando eu tinha 9 anos e isso mudou minha vida”, ele contou para a revista Vanity Fair em 2013. “Pareceu maravilhoso e minha vida não era maravilhosa. A alegria de dançar um musical! E Fred era tão incrível, e Ginger [Rogers] – meu Deus, e Ginger!” Ele foi aprovado para a Universidade da Carolina do Sul, mas em vez de seguir os estudos resolveu mudar-se para Nova York em busca de vagas no teatro musical. Sua estreia como dançarino da Broadway aconteceu em 1940, quando entrou no elenco de apoio da montagem de “Pal Joey”, estrelada por Gene Kelly. Sua dedicação chamou atenção de Kelly, que acabou se tornando seu padrinho profissional. Ao ser contratado para coreografar a comédia musical “Best Foot Forward”, Kelly escolheu Donen para ajudá-lo como coreógrafo assistente. Na época, o futuro cineasta tinha apenas 17 anos. E conseguiu impressionar até o diretor do espetáculo, George Abbott. Em 1943, a MGM adquiriu os direitos da peça para transformá-la em filme – lançado como “A Rainha dos Corações” no Brasil. Os produtores resolveram trazer um integrante da montagem da Broadway para ajudar na transposição para o cinema, e assim começou a carreira hollywoodiana do jovem Donen, praticamente junto com sua maioridade. Nos cinco anos seguintes, o jovem trabalhou na coreografia de nada menos que 14 filmes, quatro na Columbia e o restante na MGM. Dois desses filmes foram estrelados por seu velho amigo Gene Kelly, “Modelos” (1944) e “Vida à Larga” (1947). A amizade da dupla se fortaleceu ainda mais no cinema e os dois se tornaram parceiros criativos. Juntos, coreografaram e escreveram a história do clássico musical “A Bela Ditadora” (1949), estrelado por Kelly, Frank Sinatra e Esther Williams. E a experiência foi tão positiva, que a dupla resolveu dar um novo passo, assumindo pela primeira vez a direção de um filme. Os dois estrearam juntos como diretores – co-diretores, portanto – no clássico instantâneo “Um Dia em Nova York” (1949), em que Kelly e Sinatra viveram marinheiros com um dia de folga para se divertir e se apaixonar na metrópole. Donen comandou sozinho seu trabalho seguinte, quando teve a oportunidade de dirigir o dançarino que o inspirara a seguir carreira. Ele filmou Fred Astaire num dos maiores sucessos do astro, “Núpcias Reais” (1951), criando uma das sequências mais famosas da história dos musicais – quando Astaire dança nas paredes e no teto, décadas antes de existirem efeitos especiais de computador. O diretor tinha só 27 anos e já fazia mágica cinematográfica. Mas foi seu reencontro com Gene Kelly que representou sua canonização no panteão dos deuses do cinema. Os dois retomaram a parceria em 1952, naquele que viria a ser considerado o maior musical de todos os tempos: “Cantando na Chuva”. O filme marcou época porque, ao contrário de muitos outros musicais, foi concebido especificamente para o cinema e não era uma adaptação da Broadway. Tinha danças elaboradíssimas, criadas pela dupla de diretores, e com longa duração, que incluíam movimentos acrobáticos. Também representou uma síntese da história de Hollywood, referenciando vários filmes para narrar a transição da era do cinema mudo para o “cantado”. Ao mesmo tempo, explorou de forma vanguardista uma ousadia de Donen, que foi pioneiro em tirar os musicais das encenações em palcos para levá-los às ruas. No caso de “Cantando na Chuva”, ruas cenográficas, mas esburacadas e cheias de poças d’água, que faziam parte da coreografia. No ano em que a Academia premiou o ultrapassado “O Maior Espetáculo da Terra” (1952), “Cantando na Chuva” foi esnobado pelo Oscar. Sua vingança foi se tornar inesquecível, presente em todas as listas importantes de Melhores Filmes da História, influenciando novas e novíssimas gerações, dos responsáveis por “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964) a “O Artista” (2011) e “La La Land” (2016). A dupla ainda voltou a se reunir em “Dançando nas Nuvens” (1955), mas o fato da ex-mulher de Donen (a atriz Jeanne Coyne) se envolver com Kelly acabou afastando os dois amigos. De todo modo, o diretor acabou se destacando mais na carreira solo a partir de “Sete Noivas para Sete Irmãos” (1954), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Em 1957, ele fez o fantástico “Cinderela em Paris”, reunindo-se novamente com Fred Astaire e iniciando sua parceria com a deslumbrante Audrey Hepburn. O filme teve grande impacto na moda, consagrando sua estrela como musa fashion – ela vive uma modelo existencialista, que prefere usar o pretinho básico. Mas também na dança e no cinema, graças ao passo seguinte da ousadia de Donen. Desta vez, ele organizou uma grande coreografia do casal ao ar livre – e à luz do dia – , à beira de um lago real. Os musicais nunca mais foram os mesmos. Donen ainda dividiu créditos de direção com seu antigo diretor da Broadway, George Abbott, em “Um Pijama para Dois” (1957), filme que avançou ainda mais as coreografias ao ar livre, ao transformar um piquenique numa grande dança. A dupla também assinou o bem-sucedido “O Parceiro de Satanás” (1958). Foram muitos outros musicais, até que o gênero começou a sair de moda, levando o diretor a levar sua ousadia para novas vertentes. Ao filmar “Indiscreta” (1958), chegou a desafiar os censores com uma cena em que mostrou Cary Grant na cama com Ingrid Bergman. Para burlar a proibição da época, ele editou a sequência de forma a mostrar os dois simultaneamente numa tela dividida – sua justificativa para demonstrar que eles não estavam juntos no cenário íntimo, embora aparecessem juntos na mesma cena. O cineasta ainda reinventou-se à frente de thrillers filmados em technicolor vibrante, que combinavam suspense e aventura delirante. Com filmes como “Charada” (1963), estrelado por Audrey Hepburn e Cary Grant, e “Arabesque” (1966), com Sophia Loren e Gregory Peck, Donen se tornou o mais hitchcockiano dos diretores americanos de sua época, aperfeiçoando a fórmula de “Ladrão de Casaca” (1955) e “Intriga Internacional” (1959) – clássicos de Alfred Hitchcock que, por sinal, foram estrelados por Cary Grant. Ele ainda dirigiu comédias de sucesso, como “Um Caminho para Dois” (1967), novamente com Audrey Hepburn, e “O Diabo É Meu Sócio” (1967), com Dudley Moore. Também foi responsável pela adorada adaptação do livro infantil “O Pequeno Príncipe” (1974). Mas fracassou com “Os Aventureiros do Lucky Lady” (1975) e ao se aventurar pela ficção científica em “Saturno 3” (1980), despedindo-se de Hollywood com a comédia “Feitiço do Rio” (1984), estrelada por Michael Caine. Dois anos depois, surpreendeu o mundo ao dirigir um clipe musical, no começo da era da MTV. Ele assinou o célebre vídeo de “Dancing in the Ceiling” (1986), em que o cantor Lionel Ritchie aparecia dançando no teto, de cabeça para a baixo – uma citação direta de seu clássico “Núpcias Reais”. Seus últimos trabalhos foram um episódio da série “A Gata e o Rato” (Moonlighting) em 1986 e o telefilme “Cartas de Amor” (1999). Em 1998, Donen finalmente foi homenageado pela Academia, que lhe concedeu um Oscar honorário pela carreira, “em apreciação a uma obra marcada pela graça, elegância, inteligência e inovação visual”. Ele recebeu sua estatueta das mãos de Martin Scorsese e, então, docemente cantarolou a letra da música “Cheek to Cheek”: “O céu, eu estou no céu, meu coração bate de modo que mal posso falar…” Ao longo da vida, o diretor teve seis relacionamentos amorosos importantes, casando-se cincoo vezes: com a dançarina, coreógrafa e atriz Jeanne Coyne (que o trocou por Kelly), a atriz Marion Marshall, a condessa inglesa Adelle Beatty, a atriz Yvette Mimieux e a vendedora Pamela Braden. Ele vivia, desde 1999, com a cineasta Elaine May.
Tab Hunter (1931 – 2018)
O ator americano Tab Hunter, galã do cinema dos anos 1950, morreu na noite de domingo (8/7), três dias antes de completar 87 anos, de causa não revelada. Nascido Arthur Andrew Kelm em 11 de julho de 1931, em Nova York, ele era um jovem atlético que, aos 15 anos, conseguiu se alistar na Guarda Costeira da Califórnia, mentindo sua idade. Assumindo o nome artístico de Tab Hunter, fez sua estréia no cinema aos 19 anos no clássico noir “O Fugitivo de Santa Marta” (1950), de Joseph Losey, e logo se tornou uma das estrelas mais populares de Hollywood, com uma aparência que rendia suspiros das meninas – seu apelido era literalmente “o cara dos suspiros”. Louro, de olhos azuis e físico invejável, Hunter era considerado um dos homens mais bonitos que já foram projetados numa tela grande. E os estúdios souberam explorar seus atributos ao estampá-lo descamisado em pôsteres de filmes como “Ilha do Deserto” (1952), “A Volta à Ilha do Tesouro” (1954) e “Montanhas em Fogo” (1956). Entretanto, sua beleza escondia um segredo, e o sucesso em Hollywood fez com que sua verdadeira inclinação sexual passasse décadas trancada num armário. Hunter manteve um relacionamento com o ator Anthony Perkins (de “Psicose”) e foi parceiro de mais de 30 anos do produtor Allan Glaser, mas só foi assumir-se como gay em 2005, ao publicar uma autobiografia, “Tab Hunter Confidential: The Making of a Movie Star”, que se tornou um sucesso de vendas nos EUA. O livro foi transformado num documentário pela Netflix em 2015 e servirá de base para um filme sobre seu romance com Perkins, atualmente em produção. Para entender o tamanho da sua popularidade durante o auge de sua carreira, basta saber que ele desbancou Elvis Presley das paradas de sucesso com sua primeira gravação como cantor. E ele nem era realmente um cantor. Como galã, estrelou dezenas de filmes, mas sua carreira só foi se tornar séria após “Qual Será Nosso Amanhã” (1955), um clássico do mestre Raoul Walsh, que acompanhava um grupo de jovens marines entre cenas românticas na vida civil e dramáticas durante a guerra no Pacífico. O pico veio três anos depois com o musical “O Parceiro de Satanás” (1958), adaptação do fenômeno da Broadway “Damn Yankees!”, em que viveu um jogador de beisebol que fazia um pacto com o diabo. O filme lhe permitiu dançar como secretamente sempre sonhou, e quem ouvir atentamente a produção poderá verificar seu êxtase ao final de uma coreografia, com uma exaltação não cortada ao coreógrafo (“That was wonderful, Fosse!”), o ainda jovem e já genial Bob Fosse. Ao longo de sua filmografia, ele também contracenou com alguns dos maiores machões de Hollywood, como Robert Mitchum (“Dominados pelo Terror”, de 1954), John Wayne (“Mares Violentos”, 1955), Clint Eastwood (“Lutando Só Pela Glória”, 1958) e Gary Cooper (“Heróis de Barro”, 1959), sem esquecer de Van Heflin, com quem apareceu em três dos filmes já listados. E formou par romântico com algumas das mulheres mais desejadas do cinema, como Natalie Wood (“Impulsos da Mocidade”, de 1956) e Sophia Loren (“Mulher Daquela Espécie”, 1959). A Warner chegou a tentar vender Wood e Hunter como um casal, fazendo com que participassem de vários encontros forjados para serem fotografados juntos. Este esforço foi por água abaixo e sua carreira foi colocada em risco depois que a revista Confidential publicou uma reportagem sobre sua prisão em uma festa frequentada por gays logo após sua chegada em Hollywood. A partir desse escândalo, o ator, que chegou a ter seu próprio programa de TV em 1960, “The Tab Hunter Show”, precisou se contentar com papéis menores ou estrelar filmes B. Ele ainda conseguia papéis pequenos em grandes filmes, como a comédia “O Ente Querido” (1965), de Tony Richardson, e o western “Roy Bean – O Homem da Lei!” (1972), estrelado por Paul Newman e dirigido pelo genial John Huston. Mas a maior parte de seus trabalhos passaram mesmo a ser produções independentes. Apesar disso, algumas viraram cult, casos de “Operação Bikini” (1963) e “Mar Raivoso” (1964), repletos de integrantes da Turma da Praia (filmes de surfe da década de 1960), e o terror “Monstros da Cidade Submarina” (1965), com Vincent Price. Já veterano, o astro ressurgiu com tudo nos anos 1980. Foi convidado a participar de “Grease 2: Os Tempos da Brilhantina Voltaram” (1982) e emplacou uma curiosa parceria com a transexual Divine em dois filmes marginais e cultuadíssimos: “Polyester” (1981), do diretor John Waters, e “A Louca Corrida do Ouro” (1985), de Paul Bartel. Seu último trabalho também apresentou um talento que sua época de galã escondia: roteirista. Ele coestrelou e escreveu o filme “Dark Horse” (1992), um melodrama de chorar muito, sobre a amizade entre uma garota rebelde e seu cavalo, que ganhou críticas bastante elogiosas. A esta altura, porém, ele decidiu se afastar dos holofotes para curtir sua relação com o produtor Allan Glaser, com quem trabalhou nas filmagens de “A Louca Corrida do Ouro”. Em uma entrevista do ano passado, Hunter fez uma balanço da carreira e comentou: “Se eu tivesse saído do armário durante minha carreira na década de 1950, eu não teria tido uma carreira. Nada mudou muito em Hollywood em 60 anos. Eu realmente não falei sobre minha sexualidade até escrever minha autobiografia, porque minha carreira cinematográfica já tinha acabado há muito tempo.”


