Streaming: Comédia de Adam Sandler é melhor novidade entre os filmes da semana
A programação de filmes para ver em casa destaca uma comédia completamente diferente de Adam Sandler, em que ele vive o coadjuvante de sua filha numa trama teen. O mais engraçado dessa história é que a crítica internacional considerou o resultado melhor que as comédias habituais do humorista. Bastante variada, a lista de estreias digitais também traz o filme – inédito nos cinemas brasileiros – que rendeu indicação ao Oscar para a atriz Andrea Risenborough e o maior blockbuster de terror do ano, além de uma divertida animação da DreamWorks que merece mais atenção, após passar praticamente batida no circuito cinematográfico. E, claro, “The Flash” chegou na HBO Max. Confira mais detalhes e dicas no Top 10 abaixo. VOCÊ NÃO TÁ CONVIDADA PRO MEU BAT MITZVÁ! | NETFLIX O novo filme de Adam Sandler surpreende por ser uma comédia teen com ponto de vista feminino, algo completamente diferente de todos os lançamentos de sua carreira. Assumindo papel coadjuvante, ele interpreta o pai da verdadeira protagonista da história, uma adolescente judia de 15 anos que, em plena expectativa para seu bar mitzvah, flagra sua melhor amiga beijando seu crush. A crise se instala, levando ao fim da amizade e deixando a festa por um fio. O detalhe é que a intérprete principal é a filha de verdade do comediante, Sunny Sandler, e o elenco ainda inclui outra filha mais velha, Sadie, como irmã da protagonista do filme, sem esquecer de sua esposa real, Jackie Sandler, como mãe da melhor amiga traíra. Na trama, porém, Adam Sandler é casado com Idina Menzel (“Desencantada”). O elenco feminino ainda destaca Samantha Lorraine (“The Walking Dead: Um Novo Universo”) como a ladra de crush. As duas filhas de Sandler já aparecem nos filmes do comediante há vários anos, mas sempre em papéis pequenos. “Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!” marca suas primeiras atuações de destaque, especialmente da caçula. Roteirizado por Alison Peck (“Dançarina Imperfeita”), o filme é uma adaptação de um romance de 2005 de Fiona Rosenbloom e chama atenção pela boa combinação de humor juvenil e representação sincera das ansiedades adolescentes, com uma atuação cativante de Sunny Sandler no papel principal. A direção é de Sammi Cohen, que já tinha sido elogiada ao abordar o universo teen na comédia queer adolescente “Crush” (79% de aprovação no Rotten Tomatoes). Sem os vícios das produções anteriores de Sandler, a equipe criativa materializa uma das melhores comédias da carreira do astro. A SORTE GRANDE | VOD* O filme que rendeu uma inesperada indicação no Oscar deste ano para Andrea Riseborough (“Matilda: O Musical”) traz a atriz britânica como uma mulher alcoólatra em queda livre, que uma vez foi celebrada por ganhar na loteria em sua pequena cidade no Texas, mas acabou perdendo tudo para o vício. A trama segue Leslie enquanto ela lida com o desmoronamento de sua vida, enfrentando personagens variados que vão desde amigos exasperados a vizinhos zombeteiros. A primeira metade do filme enfatiza sua degradação e sofrimento, culminando em uma última parte poderosa que narra sua jornada de reconstrução com a ajuda de um gerente de motel (Marc Maron). A produção inclui também Owen Teague (“It – A Coisa”) como o filho adulto de Leslie, Allison Janney (“Mom”) e Stephen Root (“Barry”), e marca a estreia em longas do diretor Michael Morris, um veterano de séries de televisão. A produção independente enfrentou campanhas milionárias de grandes estúdios para emplacar a indicação de Riseborough no Oscar, que apesar de controvertida para alguns, entregou um desempenho consagrador. E foi justamente sua entrega que cativou eleitoras famosas da Academia, como Gwyneth Paltrow, Amy Adams, Jane Fonda, Cate Blanchett e Kate Winslet, a bancarem sua candidatura, numa campanha feita principalmente à base do boca-a-boca. Vale a pena conferir o talento da atriz para comprovar como ela não só merecia a indicação como poderia muito bem vencer o Oscar, que ficou Michelle Yeoh (por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”). RUBY MARINHO – MONSTRO ADOLESCENTE | VOD* A nova animação da DreamWorks concebida pelo cineasta Kirk DeMicco (criador de “Os Croods”) segue uma adolescente de 15 anos que descobre que é uma princesa. Mas tem um detalhe: sua família reina no fundo do mar. Ao entrar em contato com a água salgada, ela descobre que faz parte de uma família de Krakens – gigantescos monstros marinhos com tentáculos. Além de lidar com os típicos dilemas adolescentes, Ruby deve agora cumprir seus deveres reais e ajudar na luta contra as terríveis sereias – os verdadeiros monstros da história. Ainda que a narrativa pareça convencional – uma mistura de “Luca” com “Red: Crescer É uma Fera” – , o filme cativa com bom humor e visuais vibrantes. A crítica americana aprovou, com 71% de críticas positivas no Rotten Tomatoes. Mas boa parte do público perdeu sua exibição no cinema, devido a uma estratégia kamikaze de lançamento junto com “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”. SOBRENATURAL: A PORTA VERMELHA | VOD* Maior bilheteria do terror do ano, o quinto filme da franquia marca a estreia do ator Patrick Wilson (“Invocação do Mal”) como diretor. Com sua presença também no elenco, a trama traz o foco de volta à família original, os Lamberts, com Josh (Wilson), Renai (Rose Byrne, de “Vizinhos”) e seu filho já crescido Dalton (Ty Simpkins, visto recentemente em “A Baleia”) enfrentando problemas novos e mais assustadores, 13 anos após os acontecimentos do longa original. Vale lembrar que, enquanto os dois primeiros filmes traziam os Lamberts como personagens principais, o terceiro e quarto foram centrados na parapsicóloga Elise Rainier (Lin Shaye). Na trama, Josh está entrando na faculdade, quando começa a lembrar vagamente de ter sido assombrado na infância. Conforme as visões ficam mais nítidas, o terror também se torna mais próximo e faz com que a família decida acabar com todos os segredos para enfrentar tudo o que os assombra. O roteiro é assinado por Scott Teems (“Halloween Kills”), que se baseou numa história desenvolvida por um dos criadores da franquia, o roteirista Leigh Whannell. Whannell também produz o filme, junto com James Wan (diretor do original), Oren Peli (produtor da franquia) e Jason Blum (dono do estúdio Blumhouse). O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST | MUBI Drama vencedor do Festival de Sundance 2018, o filme traz Chloë Grace Moretz (“Carry, a Estranha”) como uma adolescente lésbica que é pega beijando a rainha do baile de formatura por sua tia ultraconservadora, e é enviada, contra sua vontade, para uma espécie de centro de recuperação para jovens gays. O livro de Emily M. Danforth, em que a trama se baseia, é ainda mais chocante porque a garota tem apenas 14 anos – enquanto Moretz estava com 21 nas filmagens. A história segue com as amizades que ela faz no “campo de concentração light” disfarçado de centro de reeducação, e sua atitude de desafio contra a repressão daquele lugar. Dirigido por Desiree Akhavan (“Appropriate Behavior”), o longa também inclui em seu elenco Sasha Lane (“Docinho da América”), Forrest Goodluck (“O Regresso”), Owen Campbell (“Como Você É”), Melanie Ehrlich (série “The OA”) e os adultos Jennifer Ehle (“Cinquenta Tons de Liberdade”) e John Gallagher Jr. (“Rua Cloverfield, 10”) como um ex-gay que virou pastor e dirige o lugar. “O Mau Exemplo de Cameron Post” é anterior a “Boy Erased”. Mas não é o primeiro filme-denúncia da “cura gay”. “But I’m A Cheerleader” (1999) foi pioneira em desacreditar os centros de conversão cristãos dos Estados Unidos, mas era uma comédia. O CLUBE DOS LEITORES ASSASSINOS | NETFLIX O slasher espanhol é uma adaptação do romance homônimo de Carlos Garcia Miranda sobre oito universitários que se reúnem semanalmente em um clube de leitura para compartilhar sua paixão por literatura de terror. Numa noite, resolvem se vingar de um professor que desdenha do gênero, fantasiando-se de palhaços assassinos para assustá-lo. Contudo, a brincadeira de mau gosto culmina em um acidente mortal. Mesmo prometendo nunca mais falar isso, eles começam a receber ameaças anônimas e, conforme a desconfiança cresce, passam a ser perseguidos por um palhaço realmente assassino, desencadeando uma luta pela sobrevivência no campus. Com referências de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” e “Pânico”, o filme marca a volta do diretor Carlos Alonso Ojea ao terror, dez anos após sua estreia com “Los Inocentes” (2013), e destaca em seu elenco Veki Velilla (“Garcia!”), Iván Pellicer (“Sagrada Família”), Álvaro Mel (“Paraíso”), Priscilla Delgado (“Uma Equipe Muito Especial”), María Cerezuela (“Intimidade”), Ane Rot (“Elite”), Carlos Alcaide (“O Internato: Las Cumbres”) e Hamza Zaidi (“Comando Squad: Reset”). AMIZADE DE FÉRIAS 2 | STAR+ A continuação da comédia de 2021 mostra nova viagem de férias de John Cena (“Velozes e Furiosos 10”), Lil Rel Howery (“Corra!”) e suas caras-metades. Desta vez, Marcus, o personagem refinado de Howery, consegue uma viagem com todas as despesas pagas para um resort caribenho e leva junta o amigo sem noção e sua esposa. Só que se trata de uma viagem de negócios, onde Marcus pretende encontrar com os proprietários do resort para licitar um contrato de construção de um hotel de sua propriedade em Chicago. Os planos começam a dar errado quando o sogro criminoso de Cena é libertado da prisão e aparece no resort sem avisar no pior momento possível, transformando a viagem de férias em total caos. Novamente dirigido por Clay Tarver (produtor-roteirista de “Silicon Valley”), filme ainda destaca Meredith Hagner (“Search Party”) e Yvonne Orji (“Insecure”) como as esposas e Steve Buscemi (“Miracle Workers”) como o sogro traficante. A SINDICALISTA | VOD* Isabelle Huppert (“Elle”) vive a personagem-título do filme, baseado na história real de Maureen Kearney, uma sindicalista que denunciou acordos secretos e abalou a indústria nuclear francesa. Quando ela é violentamente agredida em casa por conta sua atuação sindical, a investigação a transforma em suspeita de fabricar o próprio ataque, culminando em seu indiciamento e julgamento. A obra se alterna entre thriller de denúncia e drama judicial, expondo a misoginia da polícia e do poder judiciário, enquanto a performance de Huppert fornece profundidade psicológica à dramatização. A direção é de Jean-Paul Salomé, em sua segunda parceria seguida com Huppert, após filmá-la na comédia “A Dona do Barato” (2020). | CAMPEÕES | VOD* Quem lembra do clássico “Nós Somos os Campeões” (1992) sabe o que acontece nessa história. Woody Harrelson (“Triângulo da Tristeza”) vive um ex-treinador de basquete condenado a treinar uma equipe Paraolímpica como parte de um serviço comunitário. Ao longo do filme, Marcus aprende a valorizar seu time, composto por indivíduos intelectualmente deficientes, e se torna menos egoísta, enquanto também aproveita para desenvolver um relacionamento com Kaitlin Olson (“It’s Always Sunny in Philadelphia”), intérprete da irmã de um dos jogadores. A comédia é o primeiro filme solo de Bobby Farrelly (“Debi e Lóide”) sem a parceria com seu irmão Peter Farrelly (que ficou sério e venceu o Oscar por “Green Book”). THE FLASH | HBO MAX Um mês depois de chegar nas locadoras digitais, o grande fracasso recente da DC chega sem custos a mais para os assinantes da HBO Max. Nova incursão ao multiverso dos super-heróis, o filme custou em torno de US$ 300 milhões para a Warner Bros. Discovery, mas rendeu apenas US$ 268 milhões nas bilheterias mundiais. Além disso, foi considerado mediano pela crítica (64% de aprovação no Rotten Tomatoes), após ser propagandeada pelo estúdio e geeks entusiasmados como a melhor adaptação da DC Comics de todos os tempos. Não chegou nem perto do hype plantado, embora o roteiro de Christina Hodson (“Aves de Rapina”) adapte um dos arcos mais famosos dos quadrinhos da editora, o crossover “Ponto de Ignição” (Flashpoint). No filme, o velocista interpretado por Ezra Miller volta no tempo para impedir o assassinato de sua mãe e, ao fazer isso, acaba alterando a linha temporal do planeta inteiro. Entre os eventos inesperados, ele encontra uma versão mais jovem de si mesmo (também interpretada por Miller) e, ao mesmo tempo, se depara com um mundo...
Críticia: O Mau Exemplo de Cameron Post denuncia a chamada “cura gay”
Quando a religião se opõe ao conhecimento científico e tem poder para agir neste sentido, muito sofrimento humano vem à tona. Não apenas no que se passou na Idade Média, nem em relação a Galileu Galilei. Mas hoje, no século 21 e na absurda ideia da chamada “cura gay”, assunto do filme “O Mau Exemplo de Cameron Post”. Tratamento ou cura só podem se referir a uma doença que, no caso, não existe. O desejo homossexual é legítimo e não constitui nenhum tipo de problema ou enfermidade. Até alguns anos atrás, ainda havia dúvidas ou reticências. Hoje, não. A medicina, a psicologia, as ciências humanas em geral, já se manifestaram de forma muito clara quanto a isso. Cito a Organização Mundial de Saúde e as instituições médicas mundo afora. Os órgãos normativos de psicologia no Brasil, os Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Psicologia, condenam qualquer tipo de psicoterapia que tenha por objetivo transformar o desejo homossexual em heterossexual como charlatanismo e aplicam as devidas sanções aos profissionais que infringem a norma. No entanto, existem instituições religiosas que persistem nessa ideia, falando em pecado, ações do demônio e coisas desse tipo, altamente opressivas, ainda que apresentadas de forma delicada e com aparente boa intenção. Acontece que é um grande equívoco – é algo inadequado, inútil e cruel, que só reforça o preconceito social e o sentimento de autorrejeição nos sujeitos elegíveis para esse gênero de tratamento. O filme, dirigido por Desiree Akhavan, baseia-se no romance de inspiração autobiográfica de Emily M. Danforth, que trata daquelas jornadas de descobertas da sexualidade das meninas adolescentes, numa pequena cidade interior dos Estados Unidos, em torno dos 12, 13 anos de idade. A busca inocente de um beijo e de um toque em outra menina, sem muito clareza do que isso significa, acende um desejo ainda indefinido, mas capaz de carregar culpa frente ao modo como a sociedade age nesse assunto. Algo que ocorre para a jovem Cameron (Chloë Grace Moritz) em meio a uma grande tragédia familiar, a perda dos pais num acidente terrível na cidade. O fato é que a tentativa de “solucionar o problema” da homossexualidade de Cameron acaba por levá-la ao centro de recuperação para jovens “Promessa de Deus”, em 1993, onde se pratica a tal da cura gay. Na vulnerabilidade daquele momento de vida, e de um desejo que vai se moldando, a jovem vai viver uma experiência opressiva, agressiva, totalitária, com luvas de pelica, disciplina e muitas orações. Lá, ela acabará por encontrar parceiros com quem se identificar e poderá, finalmente, entender quem ela é e como deve se comportar no mundo. À margem da farsa daquele tratamento, é claro. O filme é importante por revelar as entranhas dessa história toda e focar nos sentimentos e desejos da garota. É uma produção indie, que venceu o Festival de Sundance, teve ótima acolhida crítica e prêmios em outros festivais. A distribuição brasileira é da Pandora Filmes, que acertou uma parceria com a rede Cinépolis, presente em cinemas de shopping de todo o Brasil, para lançar quinzenalmente filmes independentes, de boa qualidade artística. Isso é importante porque abre uma janela de exibição nacional para filmes que não costumam chegar ao grande público.
A Maldição da Chorona é maior estreia, mas programação de cinema inclui filmes premiados
A dúzia de lançamentos da semana é bastante sortida. Mas a distribuição privilegia o que há de menos vital na lista, como o terror “A Maldição da Chorona” e a sci-fi “Cópias – De Volta à Vida”. O primeiro é mais uma coleção de sustos banais do universo de “Invocação do Mal” – o padre Perez, vivido por Tony Amendola, já apareceu em “Annabelle” (2014). O segundo resultou na pior bilheteria de estreia da carreira de Keanu Reeves na América do Norte. Cheios de clichês, receberam cotações abismais no agregador de críticas Rotten Tomatoes, respectivamente 27% e 10% de (des)aprovação. Outro título americano, “O Gênio e o Louco”, tem mais ação em seus bastidores do que na tela. Ainda inédita nos Estados Unidos, esta biografia convencional sobre personagens pouco convencionais (leia a sinopse abaixo) ficou três anos no limbo, enquanto Mel Gibson, ator e produtor do filme, brigava com o estúdio Voltage na justiça, alegando violação de contrato e dever fiduciário, fraude promissória e muito mais, para assumir o controle de sua edição final. Ele perdeu. Não perca seu tempo também. Por conta disso tudo, o filme americano para se ver nesta quinta (18/4) é “O Mau Exemplo de Cameron Post”, ainda que com atraso de oito meses em relação aos Estados Unidos. Drama vencedor do Festival de Sundance 2018, traz Chloë Grace Moretz (“Carry, a Estranha”) como uma adolescente lésbica que é pega beijando a rainha do baile de formatura e enviada por sua tia ultra-conservadora para uma espécie de centro de recuperação para jovens gays. O livro de Emily M. Danforth, em que a trama se baseia, é ainda mais chocante porque a garota tem apenas 14 anos – enquanto Moretz já está com 22 na vida real. A história segue com as amizades que ela faz no “campo de concentração light” disfarçado de centro de reeducação, e sua atitude de desafio contra a repressão daquele lugar, dirigido por um pastor. “O Mau Exemplo de Cameron Post” é anterior a “Boy Erased”, que causou polêmica ao ter seu lançamento cancelado nos cinemas brasileiros no início do ano. Também sobre “cura gay” evangélica, este drama saiu direto em DVD na quarta-feira (17/4). Os demais destaques têm estreia bastante limitada e compõem uma espécie de mostra do Festival de Cannes do ano passado. “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, codirigido pelo português João Salaviza e a brasileira Renée Nader Messora, venceu o Prêmio Especial do Júri da mostra Um Certo Olhar, principal seção paralela do festival francês. Filmado no Brasil, o longa embaralha os limites entre ficção e registro documental. Com elenco amador, extraído de uma aldeia de índios Krahô, no estado de Tocantins, a obra recria na tela dramas reais da comunidade, como a história do adolescente que começa a ter visões e prefere fugir a virar pajé. Totalmente falado em idioma nativo, o filme é exibido com legendas. O argentino “O Anjo” passou na mesma mostra. Com produção do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, o filme de Luis Ortega (“Lulu”) conta a história real de um belo adolescente de 17 anos que se encanta com a adrenalina dos atos ilícitos e vira um dos piores criminosos da Argentina – e o prisioneiro que cumpre a maior sentença carcerária do país. Assim como o “Mau Exemplo”, lida com temas LGBTQ e estreou há oito meses em seu mercado original. Já “Amor até às Cinzas” competiu pela Palma de Ouro de Cannes. Novo drama do consagrado diretor chinês Jia Zhangke (“As Montanhas se Separam”, “Um Toque de Pecado”), acompanha uma história de amor violento e passional entre um gângster e a mulher capaz de ir para a cadeia por ele. Mais elogiado entre todos os lançamentos da semana, atingiu impressionantes 98% de aprovação no Rotten Tomatoes – 10% a mais que o “Mau Exemplo de Cameron Post”. A lista ainda inclui “Vidas Duplas”, que é uma comédia do prestigiado diretor francês Olivier Assayas (“Personal Shopper”), além de programação religiosa de Páscoa e dois documentários nacionais. Confira abaixo todos os títulos e sinopses dos filmes que entram em cartaz nos cinemas brasileiros. A Maldição da Chorona | EUA | Terror Na Los Angeles da década de 1970, uma assistente social criando seus dois filhos sozinha depois de ser deixada viúva começa a ver semelhanças entre um caso que está investigando e a entidade sobrenatural La Llorona. A lenda conta que, em vida, La Llorona afogou seus filhos e depois se jogou no rio, se debulhando em lágrimas. Agora ela chora eternamente, capturando outras crianças para substituir os filhos mortos. Cópias – De Volta à Vida | EUA | Sci-fi Depois de um grave acidente de trânsito que matou toda a sua família, um neurocientista (Keanu Reeves) sente que perdeu o sentido da vida. Utilizando seu meio de trabalho, ele se torna obcecado em trazê-los de volta, mesmo que isso signifique desafiar boa parte do governo e, principalmente, as leis da física. O Gênio e o Louco | EUA | Drama A história real de dois homens ambiciosos que tentam concluir um dos maiores projetos do mundo: a criação do Dicionário Oxford. Um deles é o Professor James Murray (Mel Gibson), que tomou a decisão de iniciar o compilado em 1857, e o outro é Doutor W.C. Minor (Sean Penn), que contribuiu com mais de 10.000 verbetes para o dicionário estando internado em um hospício para criminosos. Os dois têm suas vidas ligadas pela loucura, genialidade e obsessão. O Mau Exemplo de Cameron Post | EUA | Drama Flagrada pelo namorado transando com a melhor amiga em pleno baile de formatura, Cameron Post (Chloe Grace Moretz) é enviada pela tia para um centro religioso que afirma curar jovens atraídos pelo mesmo sexo, mas para se submeter ou não ao suposto tratamento, a adolescente precisa antes descobrir quem é de fato. Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos | Brasil | Drama Ihjãc é um jovem do povo Krahô, aldeia indígena localizada em Pedra Branca, no interior do Brasil. Depois de ser surpreendido pela visita do espírito de seu falecido pai, ele se sente na obrigação de organizar uma festa de fim de luto, comemoração tradicional da comunidade. Amor até às Cinzas | China | Drama Datong, China, 2001. Uma bela e jovem dançarina chamada Qiao (Zhao Tao) está apaixonada por Bin (Fan Liao), um mafioso local. Durante uma briga entre gangues rivais, ela dispara uma arma para proteger seu namorado. Mas isso lhe dá cinco anos de prisão. Após sua liberação, ela vai procurar Bin para tentar começar tudo de novo. Vidas Duplas | França | Comédia Um editor (Guillaume Canet) e um autor (Vincent Macaigne) enfrentam ao mesmo tempo a crise da meia idade, a revolução digital que abala o mercado editorial e imprevistas dificuldades em seus respectivos relacionamentos amorosos. O Anjo | Argentina, Espanha | Drama Carlos Robledo Puch está preso há 45 anos, o período mais longo de detenção já registrado na história da Argentina. Durante a adolescência, ele confessou ter cometido 11 assassinatos, executado mais de 40 roubos e uma série de sequestros. Alguns de seus atos criminosos configuravam-se como uma forma de impressionar Carlos, um amigo íntimo. Quando sua identidade foi revelada para o público, ele ganhou o apelido de “Anjo da Morte”, graças aos seus cachos e rosto angelical, tornando-se uma celebridade instantânea no país. Jesus de Nazaré – O Filho de Deus | Espanha | Religião Desde o celebrado momento do seu nascimento até a sua chegada em Jerusalém para ir ao encontro da crucificação, a história de Jesus de Nazaré foi um marco que perdura até hoje na forma como nos moldamos como sociedade. Pouco antes de cumprir seu destino na Terra, Jesus passa por um longo retiro de 40 dias pelo deserto da Judeia, atravessando diversos tipos de obstáculos, provações e tentações. O Filho do Homem | Brasil | Religião Maria (Júlia Cotta) recebe a visita do Anjo Gabriel, que traz a mensagem de sua gravidez do Espírito Santo. Mesmo relutante, José casa-se com ela e assume a criança para criar como sua. Em um humilde estábulo de Belém, nasce Jesus (Allan Ralph), que passa os próximos 33 anos pregando, até ser perseguido pelas autoridades do Império Romano que dominam a Judeia e ser condenado à cruz. Santos de Todos os Gols | Brasil | Documentário O gol é o ápice de qualquer partida de futebol que se preze: o momento de euforia máxima esperado por qualquer equipe. E o time do Santos é conhecido por ser o recordista brasileiro que mais balançou as redes até hoje. Neste ensaio, ídolos como Pelé, Robinho e Serginho Chulapa contam como as suas sensações misturaram-se à própria história do Clube nos seus momentos mais importantes dentro e fora de campo. Marcia Haydée – Uma Vida pela Dança | Brasil | Documentário Inserida no universo da dança desde os três anos, Márcia Haydée usou de seu talento para sair da realidade suburbana e migrar para a Europa, na intenção de perseguir o seu sonho. Após arriscar uma carreira internacional sem ter certeza do que estaria por vir, ela foi descoberta por um importante coreógrafo e passou a ser uma das bailarinas mais disputadas do mundo. Depois de sua aposentadoria, Márcia decidiu que não conseguiria viver sem se apresentar, e voltou para os palcos aos 62 anos.
O Mau Exemplo de Cameron Post vai denunciar “cura gay” no lugar de Boy Erased nos cinemas brasileiros
Depois do controverso cancelamento da estreia de “Boy Erased: Uma Verdade Anulada” pela Universal no Brasil, a Pandora Filmes aproveitou para tirar do limbo outro filme que critica as terapias de conversão sexual. Em sua página no Facebook, a distribuidora confirmou que “O Mau Exemplo de Cameron Post” (The Miseducation of Cameron Post) entrará em cartaz no dia 18 de abril. Ou seja, a estreia no Brasil vai acontecer “apenas” oito meses após o lançamento comercial nos Estados Unidos. Para se ter noção, o Bluray já pode ser comprado legalmente na Amazon desde dezembro. Drama vencedor do Festival de Sundance 2018, o filme traz Chloë Grace Moretz (“Carry, a Estranha”) como uma adolescente lésbica que é pega beijando a rainha do baile de formatura por sua tia ultra-conservadora, e é enviada, contra sua vontade, para uma espécie de centro de recuperação para jovens gays. O livro de Emily M. Danforth, em que a trama se baseia, é ainda mais chocante porque a garota tem apenas 14 anos – enquanto Moretz já está com 21 na vida real. A história segue com as amizades que ela faz no “campo de concentração light” disfarçado de centro de reeducação, e sua atitude de desafio contra a repressão daquele lugar. Dirigido por Desiree Akhavan (“Appropriate Behavior”), o longa também inclui em seu elenco Sasha Lane (“Docinho da América”), Forrest Goodluck (“O Regresso”), Owen Campbell (“Como Você É”), Melanie Ehrlich (série “The OA”) e os adultos Jennifer Ehle (“Cinquenta Tons de Liberdade”) e John Gallagher Jr. (“Rua Cloverfield, 10”) como um ex-gay que virou pastor e dirige o lugar. “O Mau Exemplo de Cameron Post” é anterior a “Boy Erased”. Mas não é a primeira denúncia da “cura gay” a chegar no cinema. Há 20 anos, “But I’m A Cheerleader” (1999) foi pioneira em denunciar os centros de conversão cristãos dos Estados Unidos, mas era uma comédia. Enquanto isso, o filme “Boy Erased”, que conta a história real de um jovem que se submete a um tratamento de “cura gay” para agradar aos pais religiosos, sairá diretamente em DVD no Brasil, em data ainda não revelada.


