Produção confirma que imagens de atentado a Bolsonaro são de filme
Após o vazamento de imagens do filme “A Fúria”, que mostra um personagem semelhante ao presidente Jair Bolsonaro caído e ensanguentado ao lado de uma moto, a produção emitiu um comunicado, em que afirma que a cena foi divulgada sem autorização e fora de contexto. O longa-metragem, do cineasta Ruy Guerra, será lançado em 2023. “Circula na internet uma imagem captada sem autorização de uma filmagem à qual atribui-se suposto e infundado discurso de ódio. Ruy Guerra filmou um longa-metragem de ficção que será lançado no final de 2023, portanto não há qualquer relação com o processo eleitoral e, muito menos, forjar fake news simulando um fato real”, diz a nota da produção. “O fato ilegal neste caso é a divulgação de uma cena retirada do contexto da história que será contada. Esclarecidos estes fatos, o diretor Ruy Guerra avisa que só fala de seu filme quando estiver pronto, como ele sempre faz.” Durante o sábado (16/7), vários apoiadores de Bolsonaro publicaram as imagens, afirmando que se tratava de um incentivo à violência contra o presidente. Alguns pregaram censura – “Cenas como estas são repugnantes e não podem ser toleradas!”, comandou a ministra Damares Alves, fazendo propaganda das cenas. Mario Frias aproveitou para atacar a Globo com fake news ao dizer que era “lamentável, mas não inesperado, que o grupo Globo esteja por trás disso”. E o Ministro da Justiça, Anderson Torres, que anteriormente tentou restaurar a censura no Brasil, informou ter determinado que a Polícia Federal investigasse a produção. “Circulam nas redes fotos e vídeos de um suposto atentado contra a vida do presidente Bolsonaro. Produção artística??? Estamos estudando o caso para avaliar medidas cabíveis e apurar eventuais responsabilidades. As imagens são chocantes e merecem ser apuradas com cuidado”, afirmou Torres, durante o sábado. “A Fúria” faz parte da trilogia composta por “Os Fuzis” (1964) e “A Queda” (1977), e acompanha o personagem dos dois filmes anteriores, Mario, originalmente vivido pelo falecido Nelson Xavier. Preso durante a ditadura militar, ele “sai da cadeia já velho, para ajustar contas com sua história, de acordo com a sinopse. O elenco conta com Lima Duarte, que apareceu em “A Queda”, e Paulo César Pereio, integrante de “Os Fuzis”, entre outros. Clássicos do Cinema Novo, “Os Fuzis” (1964) e “A Queda” (1977) foram ambos premiados com o Urso de Prata no Festival de Berlim. Além destes filmes, Ruy Guerra também dirigiu “Os Cafajestes” (1962), famoso por inaugurar o nu frontal no Brasil, sem esquecer adaptações de obras de Chico Buarque (“Ópera do Malandro” e “Estorvo”), Gabriel Garcia Marquez (“Erêndira”) e Antonio Callado (“Kuarup”), entre muitas outras produções. Sua longa carreira continua a ser premiada até hoje. O lançamento mais recente do cineasta de 90 anos, “Aos Pedaços”, recebeu três prêmios, inclusive o de Melhor Direção no Festival de Gramado de 2020. Encenação ou estímulo para um atentado contra a vida do Chefe de Estado brasileiro? O MP precisa investigar isso a fundo! Cenas como estas são repugnantes e não podem ser toleradas! pic.twitter.com/tt4lBljtxo — Damares Alves (@DamaresAlves) July 16, 2022
Ministro da Justiça manda PF investigar filme com cena de morte de Bolsonaro
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, determinou que a Polícia Federal investigue um filme em que um personagem semelhante a Jair Bolsonaro participa de uma motociata e sofre um atentado. Fotos e vídeos de um ator trajado como Bolsonaro, caído ensanguentado sobre uma moto, dominaram as redes bolsonaristas durante o sábado (16/7), acompanhadas por protestos. “As imagens são chocantes e merecem ser apuradas com cuidado”, disse o ministro. Segundo os apoiadores de Bolsonaro, trata-se de discurso de ódio da esquerda e de incentivo à violência contra o presidente. “Essa ideologia esquerdista mata e quer matar ainda mais! Tentaram matar Bolsonaro uma vez e não conseguiram, agora, até ensinam como fazer”, publicou o senador Flávio Bolsonaro, filho de Jair. A acusação de que a esquerda promove discurso de ódio ocorre poucos dias após o bolsonarista Jorge Guaranho assassinar o petista Marcelo de Arruda em Foz do Iguaçu, invadindo armado sua festa de aniversário temática, decorada com pôsteres de Lula. As cenas de ficção de um suposto ataque ao presidente também foram repudiadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão e pelo ex-juiz Sergio Moro. “Repudio veemente qualquer ato que possa estimular a violência a quem quer que seja. Está circulando nas redes um ‘filme’ que demonstra o suposto assassinato do nosso presidente. Isso não é arte! Isso é um ato imoral à nação e ao governo federal”, publicou Mourão nas redes sociais. “Inadmissível tratar de forma jocosa ou figurativa a morte de uma pessoa, ainda mais de um presidente da República. Esse tipo de comportamento acirra os ânimos e não contribui em nada para o debate político”, disse Moro. Há dois meses, bolsonaristas se diziam os maiores defensores da liberdade de expressão do Brasil. O próprio Bolsonaro afirmou que “a liberdade de expressão é pilar essencial da sociedade em todas as suas manifestações”, ao indultar o deputado Daniel Silveira, condenado à prisão por promover ataques verbais contra o STF. Bolsonaro considerou “injustiça” condenar alguém apenas por ameaças, como esta sobre o ministro Edson Fachin do STF: “Uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar”. Ou essa: “Quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa Corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime”. Isto é um discurso de ódio. Filmes são obras de ficção. Indignado com as cenas do longa, o bolsonarista Mário Frias chegou a culpar a rede Globo. Mas a emissora negou ser responsável pela produção. Em nota, a Globo afirmou não ter “nenhuma série, novela ou programa com esse conteúdo”. Apesar disso, a própria Globo identificou a origem das imagens. “Segundo foi informada, a gravação seria de um filme do cineasta Ruy Guerra chamado ‘A Fúria'”, diz o comunicado da empresa. A nota ainda esclarece que o Canal Brasil, do grupo Globo, tem uma participação de 3,61% nos direitos patrimoniais desse filme, “mas jamais foi informado dessas cenas e, como é praxe em casos de cineastas consagrados, não supervisiona a produção”. “Embora tenha participação acionária no Canal Brasil, a Globo não interfere na gestão e nos conteúdos do canal”, acrescentou o texto. Questionado pela Folha, Guerra confirmou que está filmando “A Fúria”, mas disse não saber se as cenas compartilhadas nas redes pertencem a sua obra. Mesmo após a descrição das cenas pela reportagem, recusou-se a falar sobre o assunto. “Não sei dizer porque não vi, não vi o material”, disse. Ele afirmou que não falaria sobre o filme até o seu lançamento e não revelou quando isso ocorrerá. Nascido em Moçambique, Ruy Guerra faz parte importante da história do cinema brasileiro, tendo se destacado com clássicos como “Os Cafajestes” (1962), famoso por inaugurar o nu frontal no Brasil, e os marcos do Cinema Novo “Os Fuzis” (1964) e “A Queda” (1977), ambos premiados com o Urso de Prata no Festival de Berlim. A carreira longa continua prestigiada. O lançamento mais recente do cineasta de 90 anos, “Aos Pedaços”, recebeu três prêmios, inclusive o de Melhor Direção no Festival de Gramado de 2020. “A Fúria” faz parte da trilogia composta por “Os Fuzis” e “A Queda”, e acompanha o personagem dos dois filmes anteriores, Mario, originalmente vivido pelo falecido Nelson Xavier. Preso durante a ditadura militar, ele “sai da cadeia já velho, para ajustar contas com sua história e com os dois homens que, a seu ver, traíram a ele e ao país: Salatiel, seu sogro, e hoje rico empreiteiro, e Ulisses, seu antigo companheiro de militância, hoje um poderoso político” – de acordo com a sinopse. O elenco conta com Lima Duarte, que apareceu em “A Queda”, e Paulo César Pereio, integrante de “Os Fuzis”, entre outros. Um vídeo foi feito encenando a morte do Presidente @jairbolsonaro em um “acidente de moto”. Há rumores de que o vídeo foi feito no Projac. Isso eu não posso afirmar, mas pelo tamanho do estúdio, é alguém que tem uma produtora muito grande! pic.twitter.com/9RGMSbJtRo — MarioFrias (@mfriasoficial) July 16, 2022
Maior estreia da semana, novo Piratas do Caribe tem distribuição de blockbuster no Brasil
Maior estreia de cinema da semana, “Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar” chega em mais de 1,3 mil salas acompanhado de controvérsias de bastidores e críticas negativas – apenas 31% de aprovação no Rotten Tomatoes. Com o resgate de personagens da primeira trilogia, a produção acaba servindo de fecho para a franquia, já que seu próprio trailer a anuncia como capítulo final. Este é o maior atrativo para quem acompanha o Capitão Sparrow desde os primeiros filmes, mas é bom avisar que também há inúmeras reprises de situações já vistas. Além disso, o excesso de efeitos e atuações cartunescas funcionam como um desenho animado com atores, tendência dos últimos lançamentos da Disney. O grande circuito também recebe “Real – O Plano por Trás da História”, que radicais chamam de golpista – sua inclusão no Cine-PE teria motivado a desistência de cineastas de participarem do festival, em protesto contra a “direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe”. Seus problemas, porém, estão nas doses de fantasia e cartunismo com que descreve fatos e situações, contaminando seu potencial de docudrama com imaginação desvairada. Nem Itamar Franco foi um personagem de “Zorra Total”, nem Gustavo Franco foi o James Bond da economia nacional. Mas há um saldo positivo, na forma como o enredo explica, sem didatismo e com clareza, os debates por trás do plano Real, que tirou o Brasil do abismo – fatos importantes num país de memória seletiva. Infelizmente, faz isso com muitas frases de efeito e histeria, numa dramaturgia de telenovela, em que até os vilões são genéricos. A estreia nacional que merece maior destaque é outra: “Comeback”. Mas foi lançada em circuito limitado. Último filme de Nelson Xavier, falecido há duas semanas, traz o ator como um matador aposentado, que resolve voltar à ativa. Xavier foi premiado no Festival do Rio pela interpretação, e é uma pena que a distribuição não permita um alcance maior para a performance derradeira deste gigante do cinema brasileiro. A programação inclui outro filme brasileiro: “Muito Romântico”, coprodução alemã, dirigida e estrelada por Gustavo Jahn e Melissa Dullius em Berlim. Mas, neste caso, a distribuição limitada se justifica pelas atuações artificiais e abordagem experimental ao extremo. Com perfil de festival de cinema, onde pode agradar cinéfilos, a obra segue o manual de como entediar o espectador comum. O drama indie “Punhos de Sangue” tem a terceira maior distribuição da semana. E vale a pena. Trata-se da história real e obscura que originou um fenômeno pop. A cinebiografia resgata a façanha de Chuck Wepner, boxeador amador de Nova Jersey que aguentou 15 assaltos em uma luta de pesos-pesados contra Muhammad Ali em 1975, derrubando o campeão uma vez antes de ser derrotado. O feito foi tão impressionante que inspirou Sylvester Stallone a escrever “Rocky” (1976). Mas a vida de Chuck Wepner não teve direito a revanche vitoriosa, como em “Rocky II”. Sua façanha acabou esquecida, conforme Rocky Balboa se tornou mais e mais popular. Apesar do tom melancólico, o filme também inclui momentos doces e engraçados, além de uma performance campeã de Liev Schreiber (série “Ray Donovan”). Com maior alcance entre os lançamentos limitados, “Faces de uma Mulher” tem como atrativo a combinação de duas das melhores atrizes da nova geração francesa, Adèle Haenel (“Amor à Primeira Briga”) e Adèle Exarchopoulos (“Azul É a Cor Mais Quente”). A trama acompanha quatro mulheres em idades distintas, da infância à vida adulta, que flertam com o desastre permanente, até o título fazer sentido, mostrando que, por trás de nomes e intérpretes diferentes, há sempre a mesma mulher. Roteiro e direção são de Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas – Justiça e Honra”), que transforma a trama complexa num filme fluído e acessível. O segundo filme francês da semana é o documentário “Reset – O Novo Balé da Ópera de Paris”, que capta com imagens belíssimas a criação do primeiro espetáculo de Benjamin Millepied como diretor artístico do Balé da Ópera de Paris. Millepied foi o criador da coreografia de “Cisne Negro” (2010), trabalho que lhe rendeu não apenas reconhecimento mundial, mas o casamento com a atriz Natalie Portman. Entretanto, foi considerado uma escolha pouco ortodoxa para seguir os passos dos gigantes da Ópera de Paris, como Serge Lifar e Rudolf Nureyev. Além de imagens deslumbrantes, o filme registra os dramas de bastidores, a luta contra o tempo e até um greve, entre os desafios que ele precisa superar. Mais restrita das estreias da semana, chega apenas no Rio. O circuito limitado ainda destaca filmes asiáticos das seleções do Festival de Cannes e Berlim do ano passado. O chinês “A Vida após a Vida” é um drama contemplativo e espiritual, que gira em torno de um menino possuído pelo espírito de sua falecida mãe, orientado a replantar uma árvore. Bem mais interessante, “Dégradé” combina comédia de salão de beleza com o clima da guerra permanente da Faixa de Gaza. O desequilíbrio é inevitável, mas não há como negar o apelo da premissa, em que se revelam vaidades de muçulmanas forçadas a usar véu, em meio ao cotidiano violento da Palestina. Clique nos títulos destacados para ver os trailers de todas as estreias da semana.
Diretor do último filme de Nelson Xavier lamenta morte do ator
A morte de Nelson Xavier nesta quarta-feira (10/5), em decorrência de um câncer, rendeu muitas homenagens de amigos e fãs do artista. Érico Rassi, diretor de “Comeback”, último filme do ator, compartilhou seu pesar com detalhes sobre a rotina de filmagens ao lado de Xavier. “O Nelson dignificava a profissão de ator. Avesso a qualquer tipo de oba-oba, extremamente comprometido com o trabalho e sempre contribuindo artisticamente com sua visão de mundo e mais especificamente do Brasil na hora de compor seus personagens”, disse Érico. “No caso do ‘Comeback’ sua contribuição foi tão grande e tão precisa que o enxergo mais do que um ator, um co-autor do filme. Espero que de algum modo o lançamento do filme, tão próximo de sua morte, ajude a perpetuar e iluminar todo o restante de sua obra.” O filme estreia em duas semanas, no dia 25, e traz Nelson no papel de Amador, um matador de aluguel que decide abandonar a aposentadoria. O papel lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio no ano passado.
Nelson Xavier (1941 – 2017)
Grande ator brasileiro, Nelson Xavier morreu na madrugada desta quarta-feira (10/5) aos 75 anos, em Uberlândia, Minas Gerais. Ele vinha fazendo tratamento de um câncer em uma clínica na cidade e faleceu após o agravamento de uma doença pulmonar. Na ocasião do falecimento, estava acompanhado por amigos e familiares. Nelson Agostini Xavier nasceu em São Paulo, em 30 de agosto de 1941. Em mais de cinco décadas de carreira, marcou época na TV e no cinema, especialmente nos papéis de Lampião e Chico Xavier – que lhe renderam experiências quase transcendentais, conforme costumava dizer. Mas a carreira começou no teatro, ainda nos anos 1950. Ele participou do Teatro de Arena, um dos mais importantes grupos de artes cênicas de seu tempo, atuando em peças históricas, como “Eles Não Usam Black-Tie” (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, “Chapetuba Futebol Clube” (1959), de Oduvaldo Vianna Filho, “Gente como a Gente” (1959), de Roberto Freire, e “Julgamento em Novo Sol” (1962), de Augusto Boal. Com o golpe militar de 1964, a ditadura passou a censurar o tipo de teatro político que ele desenvolvia. Isto o levou a buscar outras vias de expressão. Ao começar a fazer TV, chegou a acreditar que sua timidez não lhe permitiria sucesso. “Eu tive muita dificuldade em começar a fazer televisão. As máquinas eram enormes, eu tinha pavor, até tremia”, ele contou ao site Memória Globo. Sua primeira participação na Globo foi como o personagem Zorba, na novela “Sangue e Areia” (1967), de Janete Clair. Ao mesmo tempo, desenvolveu uma carreira prolífica no cinema. Fez mais de 20 filmes até o fim da ditadura, no começo dos anos 1980, entre eles os clássicos “Os Fuzis” (1964), de Ruy Guerra, “A Falecida” (1965), de Leon Hirszman, “O ABC do Amor” (1967), de Eduardo Coutinho, Rodolfo Kuhn e Helvio Soto, “É Simonal” (1970) e “A Culpa” (1972), de Domingos de Oliveira, “Vai Trabalhar Vagabundo” (1973), de Hugo Carvana, o blockbuster “Dona Flor e seus Dois Maridos” (1976), de Bruno Barreto, “A Queda” (1978), que co-escreveu e co-dirigiu com Ruy Guerra, vencendo um Urso de Prata no Festival de Berlim, e a versão cinematográfica de “Eles Não Usam Black-Tie” (1981). Nessa época, também foi jornalista. Com o diretor Eduardo Coutinho, trabalhou como revisor na revista Visão, onde passou a colaborar também como crítico de cinema e teatro. Seis anos após estrear na TV, conseguiu seu primeiro grande papel, em “João da Silva” (1973). Mas foi apenas em 1982 que sua carreira televisiva decolou, ao estrelar a primeira minissérie da Globo, “Lampião e Maria Bonita”, dirigida por Paulo Afonso Grisolli e baseada nos últimos seis meses de vida do mais lendário criminoso da história do Brasil, Virgulino Ferreira da Silva, e seu grande amor trágico. A adaptação reimaginava Lampião e Maria Bonita como Bonnie e Clyde tropicais. O desempenho brilhante o consagrou como o melhor intérprete do líder do cangaço já visto em qualquer tela, a figura definitiva de um personagem icônico, a ponto de levar o personagem ao cinema, estrelando logo em seguida a comédia “O Cangaceiro Trapalhão” (1983) com os Trapalhões. Nelson também participou das minisséries “Tenda dos Milagres” (1985) e “O Pagador de Promessas” (1988), textos famosos que já tinham sido levados ao cinema. E fez diversas novelas, entre elas “Sol de Verão” (1982), “Voltei pra Você” (1983), “Riacho Doce” (1990), “Pedra sobre Pedra” (1992), “Renascer” (1993), “Irmãos Coragem” (1995), “Anjo Mau” (1997), “Senhora do Destino” (2004) e “Babilônia” (2015). Seu prestígio o levou a trabalhar em produções de Hollywood, integrando os elencos de “Luar Sobre Parador” (1988), de Paul Mazursky, comédia sobre uma republiqueta de bananas, estrelada por Sonia Braga, Richard Dreyfuss e Raul Julia, e “Brincando nos Campos do Senhor” (1991), de Hector Babenco, drama passado na Amazônia, com Tom Berenger, John Lithgow, Daryl Hannah e Kathy Bates. Apesar da visibilidade conseguida na TV, as novelas invariavelmente o escalavam para viver coadjuvantes, ainda que marcantes. Por isso, nunca negligenciou o cinema, construindo uma filmografia eclética, que não parou de acrescentar filmes importantes, como “Lamarca” (1994), “O Testamento do Senhor Napumoceno” (1997), “Narradores de Javé” (2003) e “Sonhos Roubados” (2009). Na tela grande, alternou seus coadjuvantes com papéis de protagonista, que lhe renderam muitos prêmios e reconhecimento da crítica. Quando muitos já considerariam a aposentadoria, Nelson atingiu novos picos de popularidade ao estrelar “Chico Xavier” (2010), cinebiografia do médium mineiro dirigida por Daniel Filho. Fenômeno de bilheteria, o longa acabou se tornando o mais importante de sua carreira. “Finalmente fiz o meu maior papel. Fui invadido por uma onda de amor tão forte, tão intensa, que levava às lágrimas”, afirmou à imprensa na época do lançamento do filme. “Nenhum dos personagens que fiz mudou minha vida. O Chico fez uma revolução”. Assim como acontecera com Lampião, três décadas antes, o ator se tornou tão identificado com o papel que o retomou em outro filme, “As Mães de Chico Xavier” (2011). O reconhecimento da comunidade espírita lhe rendeu ainda participação em “O Filme dos Espíritos” (2011), enquanto a Globo tratou de escalá-lo como um guru na novela “Joia Rara” (2013). Muito ativo no fim da vida, Nelson voltou a trabalhar com um diretor estrangeiro em “Trash: A Esperança Vem do Lixo” (2014), filmado no Rio pelo inglês Stephen Daldry, e estrelou “A Despedida” (2014), de Marcelo Galvão, como amante de Juliana Paes. O desempenho dramático deste filme lhe rendeu o troféu de Melhor Ator no Festival de Gramado, além de prêmios internacionais. Ele ainda fez “A Floresta Que Se Move” (2015), o papel-título de “Rondon, o Desbravador” (2016) e “Comeback”, que estreia dia 25 nos cinemas brasileiros. Em seu último papel, viveu um matador que não consegue se aposentar. O nome do personagem é Amador. Mas Nelson foi um profissional como poucos. Tanto que foi premiado pelo desempenho derradeiro: Melhor Ator no Festival do Rio do ano passado. Melhor Ator até o último trabalho. O ator deixa a mulher, a também atriz Via Negromonte, e quatro filhos. Em seu Facebook, a filha Tereza fez a melhor definição da passagem do pai. “Ele virou um planeta. Estrela ele já era. Fez tudo o que quis, do jeito que quis e da sua melhor maneira possível, sempre”.
Nelson Xavier é assassino aposentado planejando Comeback em trailer dramático
A O2 Filmes divulgou o pôster e o trailer de “Comeback”, história de um assassino profissional aposentado, que coleciona recortes de jornal de antigas chacinas e planeja um retorno. O personagem é interpretado por Nelson Xavier (“Chico Xavier”), que venceu o prêmio de Melhor Ator no Festival do Rio 2016 pelo papel. Primeiro longa de ficção do documentarista Erico Rassi (“A Bicicleta e O Escuro”), o filme ainda não tem previsão de estreia.
Fala Comigo vence o Festival do Rio e lança um novo diretor
O drama “Fala Comigo”, de Felipe Sholl, foi o vencedor da mostra competitiva do 18º Festival do Rio. Além de Melhor Filme, o longa também rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Karine Teles. Primeiro longa dirigido por Sholl, “Fala Comigo” conta a história de Diogo (Tom Karabachian), um adolescente de 17 anos que desenvolve o fetiche de se masturbar enquanto telefona para as pacientes da mãe terapeuta (Denise Fraga). Uma dessas pacientes é Angela, de 43 anos, com quem Diogo passa a se relacionar. Foi o papel que deu a Karine Teles o troféu Redentor. Apesar de ser um trabalho de diretor estreante, Sholl não é exatamente um novato. Ele já exibiu curta no Festival de Berlim e tem uma filmografia interessante como roteirista. Seu roteiro de “Hoje” (2011) venceu o troféu Candango no Festival de Brasília. Ele também escreveu o filme que, para a Pipoca Moderna, foi o melhor lançamento brasileiro do ano passado, “Casa Grande” (2015), além de “Histórias que Só Existem Quando Lembradas” (2011) e “Trinta” (2014). Já o público preferiu “Era o Hotel Cambridge”, de Eliane Caffé, que o júri só premiou por sua Montagem. Ironicamente, público e crítica concordaram, já que o longa de Eliane Caffé também venceu o prêmio da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema). O filme mostra a situação incomum de integrantes do movimento dos sem-tetos e refugiados que se espremem em um prédio abandonado no centro de São Paulo. Ao todo, 13 longas receberam troféus em pelo menos uma categoria da disputa. O mais premiado foi “Mulher do Pai”, com três troféus: Melhor Direção para a gaúcha Cristiane Oliveira, Atriz Coadjuvante para Verónica Perrota e Fotografia (dividindo este com “Superorquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos”). É importante destacar o processo de renovação incentivado pela premiação, já que Cristiane Oliveira também é estreante, vindo de uma carreira como diretora assistente desde “Diário de Um Novo Mundo” (2005). Maior destaque entre os prêmios de atuação, o filme “Sob Pressão” deu a Julio Andrade o Redentor de Melhor Ator (troféu dividido com Nelson Xavier, por “Comeback”) e a Stepan Nercessian o troféu de Melhor Coadjuvante. Curiosamente, Julio Andrade também foi premiado como Melhor Ator por “Redemoinho”, que ainda levou o Grande Prêmio do Júri (reconhecimento ao 2º lugar na premiação) Entre os documentários, o vencedor foi “A Luta do Século”, de Sérgio Machado, que registrou a rivalidade de mais de 20 anos entre os boxeadores Luciano Todo Duro e Reginaldo Holyfield, ídolos do esporte no Nordeste na década de 1990. Fizeram seis combates, com três vitórias para cada lado. Durante as filmagens, os dois ex-atletas, já com mais de 50 anos de idade, resolveram se enfrentar. O júri do Festival do Rio 2016 foi presidido por Charles Tesson, crítico e diretor da Semana da Crítica do Festival de Cannes, e teve participação da diretora Maria Augusta Ramos, do ator Rodrigo Santoro e da diretora Sandra Kogut. Mostra Competitiva MELHOR FILME “Fala Comigo” PRÊMIO DO PÚBLICO “Era o Hotel Cambridge” GRANDE PRÊMIO DO JÚRI “Redemoinho” MELHOR DIREÇÃO Cristiane Oliveira (“Mulher do Pai”) MELHOR ATOR Nelson Xavier (“Comeback”) e Julio Andrade (“Sob Pressão” e “Redemoinho”) MELHOR ATRIZ Karine Telles (“Fala Comigo”) MELHOR ATOR COADJUVANTE Stepan Nercessian (“Sob Pressão”) MELHOR ATRIZ COADJUVANTE Verónica Perrotta (“Mulher do Pai”) MELHOR ROTEIRO “Vermelho Russo” MELHOR FOTOGRAFIA “Mulher do Pai” e Superorquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos MELHOR MONTAGEM “Era o Hotel Cambridge” MELHOR DOCUMENTÁRIO “A Luta do Século” PRÊMIO DO PÚBLICO DE DOCUMENTÁRIO “Divinas Divas” MELHOR DIREÇÃO DE DOCUMENTÁRIO Sérgio Oliveira (“Superorquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos”) MELHOR CURTA-METRAGEM “O Estacionamento” PRÊMIO DO PÚBLICO DE CURTA-METRAGEM “Demônia – Melodrama em 3 Atos” MENÇÃO HONROSA – CURTA-METRAGEM “Demônia – Melodrama em 3 Atos” PRÊMIO FIPRESCI “Viejo Calavera” e “Era o Hotel Cambridge” Mostra Novos Rumos MELHOR FILME “Então Morri” PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI “Deixa na Régua” MELHOR CURTA-METRAGEM “Não Me Prometa Nada”
Star Trek – Sem Fronteiras é maior estreia da semana
“Star Trek – Sem fronteiras” finalmente pousa no Brasil. Lançado em julho nos EUA, o filme só agora chega a 686 salas do circuito, incluindo 492 telas 3D e todas as 12 Imax. Terceiro filme do novo elenco da franquia, é também o primeiro desde o reboot sem a direção de J.J. Abrams, que foi atraído pela força de “Star Wars”. Em seu lugar, Justin Lin (franquia “Velozes & Furiosos”) injetou mais ação na franquia e, com auxílio de um roteiro bem equilibrado de Simon Pegg (o intérprete de Scotty), também mais humor, além de introduzir uma nova personagem, a alienígena Jaylah, vivida por Sofia Boutella (“Kingsman: Serviço Secreto”), que rouba as cenas. A aventura espacial conquistou a crítica americana, com 83% de aprovação. Mas não saiu do vermelho nas bilheterias, com “apenas” US$ 151 milhões nos EUA. Orçada em US$ 185 milhões, a produção precisa ter bom desempenho internacional para ganhar nova continuação. Mesmo assim, tem um lançamento nacional bem menor que os mais recentes blockbusters que desembarcaram por aqui, inclusive o fracassado “Ben-Hur”. O outro filme americano que chega aos shoppings nesta quinta (1/9) é o terror “O Sono da Morte”. O gênero sempre rende bom público, mas raramente bons filmes. Este não é exceção. O destaque da produção é a presença do ator mirim Jacob Tremblay, revelado em “O Quarto de Jack” (2015), como um órfão que, sem saber, transforma seus sonhos e pesadelos em realidade. Com 30% no Rotten Tomatoes, é um terror para maiores de 14 anos que não assusta ninguém. Em 145 salas. A programação ampla também inclui uma comédia brasileira. Na verdade, são três os lançamentos nacionais da semana, incluindo os títulos de distribuição limitada. Todos são obras de ficção, mas totalmente diferentes uns dos outros. Com melhor distribuição, o besteirol “Um Namorado para Minha Mulher” chega a 414 telas com uma trama típica de comédia brasileira. Ou seja, algo que ninguém jamais faria na vida real. Cansado da mulher chata, o personagem de Caco Ciocler (“Disparos”) decide contratar um homem para conquistá-la e assim conseguir a separação. Mas se arrepende. O problema é que o sedutor exótico (Domingos Montagner, de “Gonzaga: De Pai para Filho”) se apaixona pela mulher do “corno”. A ideia só não é totalmente ridícula por conta da atriz Ingrid Guimarães (“De Pernas pro Ar”), que para encarnar o clichê da mulher chata assume um mau-humor espirituoso, inteligente e divertidíssimo, que vê defeito em tudo e não suporta lugares comuns. Em outras palavras, ela parece crítica de cinema. A direção é de Julia Rezende (“Meu Passado Me Condena” duas vezes – o filme e a continuação). “Aquarius”, por sua vez, encalha em 85 salas. Sempre foi difícil imaginar a pequena Vitrine Filmes distribuir um blockbuster, mas o diretor Kleber Mendonça Filho, cujo filme anterior, “O Som ao Redor” (2012), abriu em 24 telas, não poderá reclamar de perseguição política, pois a classificação etária caiu para 16 anos. De todo modo, seu marketing de viés político, criado por uma postura intransigente de enfrentamento contra o governo, desde a denúncia em Cannes de que “o Brasil não é mais uma democracia” graças a um “golpe de estado”, até a patrulha ideológica contra um crítico da comissão que vai selecionar o candidato brasileiro ao Oscar, tem um lado positivo, ao mostrar inconformismo em apenas realizar o filme. Ao contrário de muitos colegas de profissão, que parecem se contentar em contabilizar os cheques das leis de incentivo para filmar, sem se posicionar diante da invisibilidade das estreias dramáticas nacionais, Filho quer que seu trabalho seja visto. E nisto tem razão. O bom cinema brasileiro merce ser visto. E “Aquarius” é um bom filme, sim, especialmente pela oportunidade que dá ao público de ver Sonia Braga novamente como protagonista, aos 66 anos de idade. É o resgate de uma carreira que estava restrita, nos últimos anos, a pequenas aparições em séries americanas ruins. Seu desempenho evoca a performance consagradora de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” (1998). São papeis completamente diferentes, mas que conduzem e humanizam suas narrativas. Entretanto, pela politização que o cineasta quis dar ao lançamento, é preciso observar mais atentamente a ironia da trama, que mostra Clara, a personagem de Braga, enfrentando as investidas de uma construtora que quer demolir o antigo edifício onde mora, muito bem localizado em Recife, para construir um novo empreendimento. Embora seja fácil puxar a analogia do “golpe” sofrido por Dilma Rousseff num embate contra as forças econômicas, é mais sutil perceber que, na vida real, empresas como a que representa o “mal” no filme foram responsáveis por financiar o projeto populista, alimentado por propinas, corrupção política e construções superfaturadas, que destroçou o patrimônio do país e de todas as Claras do Brasil, nos últimos 13 anos. O fato é que o cinema militante não reflete sutilezas, tanto que só um drama brasileiro recente foi capaz de evitar as armadilhas do maniqueísmo e do proselitismo para retratar um quadro mais complexo da situação política, econômica e social do país: “Casa Grande” (2014), de Fellipe Barbosa. Quanto mais o tempo passa, melhor e mais representativo aquele filme se torna do Brasil contemporâneo. Ocupando 15 telas, a terceira estreia nacional é “Rondon, O Desbravador”, de Marcelo Santiago (por coincidência, codiretor do mitológico “Lula, o Filho do Brasil”) e do estreante Rodrigo Piovezan. Pode-se até considerá-lo o oposto político de “Aquarius”, por apresentar um ufanismo como não se via desde o auge da ditadura militar. Cinebiografia do Marechal Rondon, que desbravou as florestas brasileiras para levar o telégrafo (a internet do final do século 19) ao sertão, o longa evita todas as polêmicas possíveis para apresentá-lo como herói, responsável pela integração pacífica dos índios na civilização brasileira. Claro que sua defesa da ocupação do país “do Oiapoque ao Chuí” levou à desapropriação de terras indígenas, iniciou o desmatamento em massa, realocou tribos e as infectou com doenças, mas nada disso é relatado pela trama, que parte de um encontro fictício do velho militar (Nelson Xavier, de “Chico Xavier”) com um jornalista para recordar seus grandes feitos. O pôster, com bandeira tremulando e continências militares, ilustra perfeitamente o estilo de Educação Moral e Cívica da produção. A programação se completa com dois lançamentos europeus limitados, que exploram o humor em tons diversos. “Loucas de Alegria”, do italiano Paolo Virzì (“A Primeira Coisa Bela”), leva a 14 salas a história de amizade entre duas mulheres, que fogem de um hospital psiquiátrico em busca de um pouco de felicidade. Divertido, terno e belo nas doses certas. A menor distribuição da semana cabe a “A Comunidade”, do dinamarquês Thomas Vinterberg (“A Caça”), com exibição em seis telas. É outro ótimo filme, que ironiza o espírito comunal dos anos 1970. A trama parte de um casal típico da década mais liberal de todas, que resolve convidar estranhos a compartilhar de sua casa espaçosa. Quando seu casamento entre em crise, eles têm que lidar com amantes e votações coletivas para determinar como viver no próprio lar. Trine Dyrholm (“Amor É Tudo o que Você Precisa”), intérprete da esposa, foi premiada como Melhor Atriz no Festival de Berlim deste ano.
Estreia de Invocação do Mal 2 é um dos maiores lançamentos de terror no país
“Invocação do Mal 2” é o principal lançamento desta quinta (9/5), chegando aos cinemas com divulgação e distribuição poucas vezes vistas para um filme de terror no país, em 782 salas. O primeiro filme foi um mais bem-sucedidos do gênero, tendo rendido até um spin-off, “Annabelle” – e “Annabelle 2” também está em desenvolvimento. Como no primeiro longa, a trama é baseada numa história real, extraída dos arquivos de Lorraine e Ed Warren, o casal de investigadores paranormais vividos por Vera Farmiga e Patrick Wilson. Desta vez, eles investigam a famosa assombração de Enfield, que aflige uma família em Londres, especialmente a filha aterrorizada por um poltergeist. Mas o principal destaque da produção está nos bastidores: o diretor James Wan, que se tornou um mestre moderno do terror ao lançar três franquias bem-sucedidas – as outras são “Jogos Mortais” e “Sobrenatural” – , antes de mostrar ainda mais potencial no cinema de ação, comandando o blockbuster “Velozes e Furiosos 7”. O resultado é um dos filmes mais assustadores dos últimos anos, com diabólicos 66% de aprovação da crítica americana, segundo o site Rotten Tomatoes. “Truque de Mestre: O Segundo Ato” é outra continuação com lançamento amplo, em 653 salas. A trama se passa um ano após o quarteto original de mágicos enganar o FBI e ganhar adulação do público, mas em seu retorno os protagonistas são forçados a realizar um assalto ainda mais audacioso. A gangue de mágicos volta a incluir Jesse Eisenberg, Woody Harrelson e Dave Franco, mas houve uma troca no elenco, com Lizzy Caplan (“A Entrevista”) assumindo a vaga de Isla Fisher, que estava grávida durante a produção. Além dos citados, o longa também traz de volta Mark Ruffalo, Morgan Freeman e Michael Caine, e a estreia de Daniel Radcliffe (“Harry Potter”) como vilão. É um ótimo elenco, desperdiçado num filme inferior ao original, que já não era unanimidade para começar. Conquistou apenas 33% de críticas favoráveis, na apuração do Rotten Tomatoes. “Casamento de Verdade” é o maior dos pequenos, chegando em 23 salas. Mas apenas um detalhe o distingue de uma típica dramédia americana de casamento: o fato de serem duas noivas. O resto, como a família conservadora, a mensagem sobre tolerância e o final feliz estão todos em seus lugares convencionais, inclusive a atriz principal, a outrora promissora Katherine Heigl, que passou os últimos anos tentando se casar – de “Vestida Para Casar” (2008) a “O Casamento do Ano” (2013). Fracasso de bilheteria e crítica nos EUA (14% no Rotten Tomatoes), chega em 23 salas. Produzido em 2010, o drama brasileiro “Os Sonhos de um Sonhador: A História de Frank Aguiar”, estreia do diretor Caco Milano, levou seis anos para ganhar distribuição. Para se ter ideia, Chico Anysio, falecido em 2012, faz parte de seu elenco. Feito sob o impacto do sucesso de cinebiografias de cantores populares, chega aos cinemas em outra fase, durante o sufoco criativo do besteirol televisivo, e ainda é prejudicado por um título longo, que sugere se tratar de um documentário. Mas fora Chico, que rouba todas as cenas, e uma fotografia de postal do Piauí, não chega nem perto de despertar a empatia de “2 Filhos de Francisco” (2005). De forma significativa, um dos artistas de forró mais populares do país tem seu filme lançado em apenas oito salas. Outro drama nacional, “A Despedida” não teve seu circuito divulgado, mas está em cartaz nos cinemas de arte mais conhecidos, como Reserva Cultural, em São Paulo, e Grupo Estação, no Rio. Vencedor do Festin, de Lisboa, e bastante premiado em Gramado, o novo filme de Marcelo Galvão (“Colegas”) traça um retrato sensível sobre a decadência física da velhice e a inevitabilidade da morte com uma interpretação primorosa de Nelson Xavier (que, por coincidência, pode ser visto também na cinebiografia de Frank Aguiar). Ele vive um almirante aposentado que, ao sentir a proximidade do fim, resolve colocar suas contas em dia, seja a dívida do bar, seja um reencontro com uma amante muito mais jovem (Juliana Paes, a nova “Gabriela”). Um dos melhores lançamentos brasileiros do ano. Há ainda um terceiro filme nacional, “Vampiro 40°”, derivado da série “Vampiro Carioca”, do Canal Brasil. Com vampiros traficantes, “mafiosa” japonesa e muitas vamps, além do cantor Fausto Fawcett, o filme de Marcelo Santiago (“Lula, o Filho do Brasil”) é trash no último. Sem circuito divulgado. Por fim, o francês “A Odisseia de Alice” oferece uma fascinante história de amor pós-feminista, centrada na única marinheira de um navio de carga, que deixa seu noivo no porto sem saber que seu novo capitão é um ex-namorado. Sensual e cerebral, o drama destaca a interpretação da grega Lucie Borleteau (que estreou em Hollywood com “Antes da Meia-Noite”), cuja personagem habita o universo do trabalho masculino sem perder sua feminilidade. A atriz venceu diversos prêmios pelo papel, inclusive no Festival de Locarno. Com 80% de aprovação no Rotten Tomatoes, a estreia na direção de Lucie Borleteau (roteirista de “Minha Terra, África”) é também o melhor lançamento da semana. Logicamente, ganha a recompensa da pior distribuição, disponível em apenas uma sala em São Paulo.







