Pat Carroll, voz original de Úrsula em “A Pequena Sereia”, morre aos 95 anos
A comediante Pat Carroll, que marcou época na TV americana e foi a voz original de Úrsula em “A Pequena Sereia”, morreu no sábado (30/7) de pneumonia em sua casa em Cape Cod, Massachusetts (EUA), aos 95 anos. Patricia Ann Carroll nasceu em 5 de maio de 1927, em Shreveport, Louisiana. Quando tinha 5 anos, ela e sua família se mudaram para Los Angeles. Aos 20, serviu como técnica de atuação para o exército dos EUA, escrevendo, produzindo e dirigindo produções de soldados. Mas só começou a atuar profissionalmente em 1947, quando participou de uma montagem regional de “A Goose for a Gander” ao lado da estrela Gloria Swanson. Ela também foi pioneira do stand-up, aprimorando suas habilidades cômicas se apresentando em boates e resorts. Depois de estrear no circuito off-Broadway em 1950, começou a trabalhar nos primeiros teleteatros da recém-lançada TV americana. Por seu primeiro papel na Broadway, na revista musical “Catch a Star!” (1955), escrita por Danny e Neil Simon, obteve uma indicação ao Tony. A personalidade alegre, a sagacidade maluca e o timing impecável fizeram dela uma atriz requisitada para participações especiais em vários programas humorísticos, o que foi aproveitado por astros como Sid Caesar, Red Buttons, Jimmy Durante, Mickey Rooney, Steve Allen, Danny Thomas, Charley Weaver e até Mary Tyler Moore – que a convidaram a tornar suas atrações mais engraçadas. Suas travessuras no programa “Caesar’s Hour”, de Sid Caesar, lhe renderam um Emmy de Melhor Atriz Coadjuvante em 1957. Por quase quatro décadas, Pat Carroll pôde ser vista semanalmente sem parar na TV dos EUA, indo de um programa a outro. Entre seus papéis mais notáveis estão Bunny Halper, a esposa do dono de boate Charley Halper (Sid Melton) em três temporadas do “The Danny Thomas Show” (entre 1961 e 1964), uma paciente irritadiça que dividiu um quarto de hospital com Mary Richards (Mary Tyler Moore) na série “Mary Tyler Moore” (em 1971), a mãe da personagem de Cindy Williams em “Laverne & Shirley” (em 1976), a empresária Hope Stinson, que compartilhou a propriedade de um jornal com o personagem de Ted Knight em “Longe dos Olhos, Perto do Coração” (Too Close for Comfort, 1986-1987), além de aparecer ao lado de Suzanne Somers nas duas temporadas de “She’s the Sheriff” (1987-1989). Quando não estava numa série, ela ainda podia ser vista em game shows. Carroll participou de praticamente todos os jogos de programas de variedades exibidos entre os anos 1960 e os 1980. No cinema, seu primeiro destaque foi “Tem um Homem na Cama da Mamãe” (1968), como a irmã casamenteira de Doris Day. Mas os produtores de Hollywood logo se mostraram mais interessados em sua voz, de entonação espirituosa e risada gutural, escalando-a em várias animações. Ela entrou pela primeira vez numa cabine de dublagem em 1966, para a série animada “Super 6”. Mas foi depois dos anos 1980 que sua carreira de locução disparou, graças à participação em “A Pequena Sereia” (1989). A vilã Úrsula foi sua personagem mais memorável. E também seu papel favorito. “Era uma ambição minha fazer, ao longo da vida, um filme da Disney”, ela confessou no livro “Makin’ Toons: Inside the Most Popular Animated TV Shows and Movies”, de Allan Neuwirth. O entusiasmo de Carroll transformou a criatura de muitos braços (ou pernas) numa das vilãs mais famosas da Disney. Depois do filme, inclusive, ela continuou dublando a personagem em vários videogames e uma série de 1993, além de fazer a voz de Morgana no lançamento direto para vídeo de “A Pequena Sereia 2: Retorno ao Mar” (2000). Além de animações, ela também trabalhou como atriz em filmes conceituados como “Escritores da Liberdade” (2007) e “Missão Madrinha de Casamento” (2011). E em 2000 chegou a ser indicada ao Spirit Awards (o Oscar independente) por seu papel no drama “Coletora de Canções”, sobre uma musicóloga que registra a herança do folk britânico na música dos EUA. O filme acabou vencendo o troféu de Melhor Elenco no Festival de Sundance. Seus últimos trabalhos foram dublagens de séries da Disney: como uma personagem do desenho “As Enroladas Aventuras da Rapunzel” (2017-2020) e num episódio de “O Mundo Maravilhoso de Mickey Mouse” de 2020, no qual se despediu da atuação dando voz pela última vez à Úrsula.
Quatro atores de “Mary Tyler Moore” morreram em 2021
A morte de Betty White na sexta-feira (31/1) elevou para quatro o número de atores da série clássica “Mary Tyler Moore” que morreram em 2021. Seu falecimento foi precedido pelas mortes de Cloris Leachman em janeiro, Gavin MacLeod em maio e Ed Asner em agosto. Além deles, o diretor Jay Sandrich, que comandou 119 dos 168 episódios da série, faleceu em setembro passado. Um dos criadores e principal showrunner da série, James L. Brooks (hoje produtor de “Os Simpsons”), falou à revista Variety que a perda de tantos colaboradores tornou 2021 um ano especialmente difícil. “Penso em cada um deles individualmente”, disse Brooks, que relembrou o impacto de Betty White em “Mary Tyler Moore” quando ela se juntou ao elenco no início da 4ª temporada em 1973. A atriz deveria ter uma participação especial única, mas foi tão boa no papel da lasciva intrigante Sue Ann Nevins, que sua personagem caiu nas graças do público e se tornou fixa na série. “Ela era o sonho de qualquer escritor”, disse Brooks. “Ela foi simplesmente uma dádiva de Deus”, completou. Uma das séries mais importantes de todos os tempos, “Mary Tyler Moore” foi pioneira do feminismo na TV, ao mostrar pela primeira vez o cotidiano de uma mulher independente. Na trama, Mary Richards (interpretada pela atriz Mary Tyler Moore) era uma jornalista recém-chegada na cidade de Minneapolis, que conseguia um emprego numa estação de TV local. Na verdade, era tão incomum ver mulheres trabalhando em redações de telejornais, que Mary foi a primeira profissional feminina do programa fictício da série, e precisou enfrentar muito machismo para ser levada a sério. Sua personagem inclusive cobrava igualdade salarial aos colegas de trabalho do sexo masculino. Mas “Mary Tyler Moore” também mostrava a vida da personagem nas horas de folga, revelando a amizade com a senhoria idiossincrática, a vizinha fashionista e outras mulheres em diferentes estágios de vida, apresentando temas até então inéditos na TV, como – escândalo! – o uso de anticoncepcionais. O programa virou ícone feminista, mas também representou como poucos o zeitgeist da década de 1970. O mais impressionante é que o pioneirismo não espantou o público. Ao contrário, “Mary Tyler Moore” ficou no ar entre 1970 e 1977, rendendo grande audiência e muitos prêmios. O sucesso foi tanto que se desdobrou numa coleção de spin-offs, dedicados à amiga fashionista Rhoda (Valerie Harper), à senhoria Phyllis (Cloris Leachman) e ao editor Lou Grant (Edward Asner). Ted Knight, intérprete de Ted Baxter, o apresentador machista do telejornal, foi o primeiro dos membros do elenco principal a falecer, aos 62 anos em 1986. A própria Mary Tyler Moore morreu em 2017, seguida por Valerie Harper e Georgia Engel em 2019. Betty White era a integrante mais velha do elenco central e foi a última a falecer. Com a morte da atriz, restaram vivos apenas convidados que tiveram papéis recorrentes na atração, como John Amos (“Um Príncipe em Nova York”) e Joyce Bulifant (“Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu”), que apareceram respectivamente em 14 e 11 capítulos e foram os que mais repetiram participações ao longo da produção. Veja abaixo as aberturas e encerramentos da 1ª e da última temporada da série clássica.
Betty White (1922–2021)
A atriz americana Betty White, que completaria 100 anos em janeiro, morreu nesta sexta-feira (31/1) em sua casa em Los Angeles. Ela passou o período da pandemia com extrema cautela, permanecendo em sua casa lendo, assistindo TV e fazendo palavras cruzadas. A causa da morte ainda não foi informada. Considerada a atriz de carreira mais longa dos EUA, Betty Marion White Ludden estrelou dezenas de filmes, séries e programas de TV desde os anos 1940, e creditava seu sucesso contínuo a esta exposição prolongada. “Acho que o motivo da longevidade da minha carreira é que várias gerações me conheceram ao longo dos anos, então me tornei meio que parte da família”, disse ela a Larry King, na CNN, em 2010. Seu começo na indústria do entretenimento foi como locutora de rádio em 1939. A experiência a levou a virar apresentadora televisiva em 1945, antes de seu notável bom-humor a transformar em protagonista de séries de comédia, como “A Vida com Elizabeth” (1952-1955) e “Date with the Angels” (1957-1958). Mas sua popularidade perene se deve à geração dos anos 1970, época em que passou a integrar o elenco da primeira série feminista, “Mary Tyler Moore” (1970–1977). Betty entrou na 4ª temporada como Sue Ann Nivens, apresentadora de um programa de dicas culinárias e domésticas, que parecia um doce nas telas, mas longe das câmeras revelava-se uma safada. Pelo desempenho, ela venceu dois Emmys consecutivos como Melhor Atriz Coadjuvante em Comédia. O sucesso foi tanto que a atriz ganhou sua própria série de comédia, “The Betty White Show”, que só durou uma temporada, exibida entre 1977 e 1978. O detalhe é que ela estava apenas começando. A maior realização de sua carreira só estreou em 1985, quando Betty atingiu 63 anos de idade e marcou época como a simplória Rose Nylund, ao lado das colegas veteranas Bea Arthur, Rue McClanahan e Estelle Getty em “Super Gatas” (The Golden Girls). A sitcom sobre quatro mulheres divorciadas que decidem morar juntas em Miami, em plena Terceira Idade, virou um fenômeno televisivo que durou sete anos, de 1985 a 1992. Betty foi indicada ao Emmy de Melhor Atriz de Comédia durante todas as temporadas, vencendo o troféu em 1986. Ela também conquistou mais dois prêmios da Academia de Televisão ao longo da carreira, como Melhor Atriz Convidada na série de comédia “The John Larroquette Show” em 1996 e no humorístico “Saturday Night Live” em 2010. E ainda foi indicada por participações nas séries “Suddenly Susan” (em 1997), “Yes, Dear” (em 2003), “The Practice” (em 2004) e “My Name Is Earl” (em 2009). Seu último grande destaque nas comédias televisivas foi a sitcom “Calor em Cleaveland” (Hot in Cleaveland), série que durante seis temporadas (de 2010 a 2015) acompanhou um grupo de solteironas em busca de sexo após os 40 (ou bem mais) anos. Mais velha do elenco, ela voltou a ser indicada ao Emmy por seu desempenho em 2011. Depois disso, ainda comandou o humorístico “Só Rindo com Betty White” (Betty White’s Off Their Rockers), que lhe rendeu outras três nomeações ao Emmy – as últimas da carreira – durante sua exibição de 2012 a 2014. Em meio a tantas séries, também fez um punhado de comédias de cinema, como “Santo Homem” (1998), com Eddie Murphy, “A História de Nós Dois” (2002), com Bruce Willis, “A Casa Caiu” (2003), com Steve Martin, “Você de Novo” (2010) com Kristen Bell, e principalmente “A Proposta” (2009), blockbuster com Sandra Bullock e Ryan Reynolds, que deu início a uma piada recorrente do ator sobre sua fixação romântica na veterana. Isto acabou se transferindo para o papel de Deadpool, com várias homenagens do anti-herói vivido por Reynolds à sua musa Betty White. Antes da pandemia, Betty ainda dublou Bitey White, personagem de “Toy Story 4” (2019) criada em sua homenagem, repetindo a participação na série “Garfinho Pergunta” da Disney+. Além disso, sempre encontrou tempo para se dedicar à causa da defesa dos animais. O agente e amigo da atriz Jeff Witjas deu uma declaração na tarde desta sexta-feira, testemunhando sua energia incansável. “Mesmo que Betty estivesse prestes a ter 100 anos, eu pensava que ela viveria para sempre”, comentou.
Ed Asner (1929-2021)
Ed Asner, um dos astros mais queridos da TV americana, que interpretou o editor jornalístico Lou Grant na lendária sitcom “Mary Tyler Moore” e em seu próprio programa derivado, morreu neste domingo (29/8) aos 91 anos. Ele também era adorado pelas novas gerações como a voz original do velhinho ranzinza da animação da Pixar “Up – Altas Aventuras”. Raras vezes um papel coube tão bem a um ator quanto a interpretação de Asner para Lou Grant. Pode-se dizer que ele ensaiou desde a adolescência, porque foi editor do jornalzinho de sua escola e uma foto real de seu passado escolar ilustrava o escritório do personagem em “Mary Tyler Moore”. Antes de conquistar cinco prêmios pelo papel, ele passou por inúmeros episódios de séries dos anos 1960, como “Os Intocáveis”, “Cidade Nua”, “Rota 66”, “5ª Dimensão”, “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Dr. Kildare”, “Os Invasores”, “Missão: Impossível”, “Mod Squad”, etc. E também apareceu no cinema, fazendo sua estreia ao lado de ninguém menos que Elvis Presley, em “Talhado para Campeão” (1962), parceria que se repetiu anos depois em “Ele e as Três Noviças” (1969), no qual também conheceu Mary Tyler Moore. Asner foi convidado a participar da série de Moore em 1970, dando vida a seu chefe. Revolucionária, a sitcom acompanhava uma mulher solteira que tentava carreira profissional numa área em que poucas mulheres se aventuravam na época, a redação de um telejornal. Primeiro papel fixo do ator, Lou Grant também virou seu trabalho mais reconhecido. Asner venceu três de seus sete Emmys como o chefe de Mary Tyler Moore. E depois acrescentou mais dois troféus como protagonista da série derivada, batizada com o nome do personagem. O detalhe é que a série “Lou Grant” era completamente diferente de “Mary Tyler Moore”. Enquanto a atração original era uma comédia, o spin-off surpreendeu o público por seu realismo dramático, o que fez Asner ser o único ator a vencer o Emmy pelo mesmo papel em categorias de Comédia e Drama. O personagem Lou Grant apareceu em sete temporadas de “Mary Tyler Moore”, apoiando a jovem redatora de 1970 até o final da produção em 1977. E logo em seguida ganhou sua série própria, inspirada pelo jornalismo sério de “Todos os Homens do Presidente” (1976). O personagem era o mesmo, mas todo o resto era diferente. A nova produção trocava a locação televisiva por uma redação de jornal e o registro de claque de humor por temas polêmicos dos noticiários contemporâneos. Uma mudança radical e arriscada, que incrivelmente deu certo. A atração ficou no ar por mais cinco anos, até 1982, e conquistou dois Emmys de Melhor Drama, após “Mary Tyler Moore” ter vencido três vezes como Melhor Comédia. A série poderia até ter durado mais. Asner contou repetidas vezes que a CBS cancelou “Lou Grant” devido à abordagem de alguns temas sensíveis, especialmente sua oposição ao apoio militar dos EUA à ditadura de El Salvador. Teria havido pressão do governo para tirar as críticas do ar. Os outros dois Emmys de sua carreira vieram de participações em minisséries dos anos 1970: os fenômenos de audiência “Pobre Homem Rico”, de 1976, e “Raízes”, de 1977. Na última, ele foi o capitão do navio negreiro que trouxe Kunta Kinte para os EUA. O ator continuou aparecendo em séries, como convidado especial, ao longo da vida. Mas deixou de se comprometer com trabalhos longos para se dedicar à luta sindical. Asner foi presidente do SAG, o Sindicato dos Atores dos EUA, por dois mandatos, de 1981 a 1985. Embora seja mais reconhecido por seu trabalho televisivo, ele também participou de vários filmes notáveis, inclusive alguns clássicos, como “El Dorado” (1967), “Peter Gunn em Ação” (1967), “Noite Sem Fim” (1970), “Dois Trapaceiros da Pesada” (1971), “41ª DP: Inferno no Bronx” (1981), “Daniel” (1983) e “JFK: A Pergunta que Não Quer Calar” (1991). Dono de uma voz grave marcante, Asner ainda desenvolveu uma frutífera carreira como dublador, que deslanchou nos anos 1990 com papéis em “Batman: A Série Animada”, “Gárgulas”, “Capitão Planeta”, “Freakazoid!”, “Superman: A Série Animada” e “Homem-Aranha”, onde interpretou ninguém menos que o editor J. Jonah Jameson. Seu papel vocal mais conhecido, porém, é Carl Fredricksen em “Up: Altas Aventuras” (2009), filme vencedor do Oscar de Melhor Animação. O viúvo que amarra mil balões em sua casa para realizar o sonho de conhecer a América do Sul derreteu o coração do público em todo o mundo e tinha sido recém-retomado pelo ator na série animada “A Vida do Dug”, centrada no cachorro do velhinho, que estreia na plataforma Disney+ na próxima quarta-feira (1/9). Entre seus últimos trabalhos ainda constam participações nas séries “Grace and Frankie”, “Briarpatch” e “Cobra Kai”, além de dublagens em “Central Park” e “American Dad”.
John Gabriel (1931-2021)
O ator John Gabriel, mais conhecido por estrelar novelas diurnas dos EUA, faleceu no domingo (13/6) aos 90 anos, mas nenhuma causa de morte foi informada. Ele estrelou mais de 750 episódios da novela “Ryan’s Hope” entre 1975 e 1989, recebendo um indicação ao Emmy em 1980 pelo papel do Dr. Seneca Beaulac. Antes disso, já tinha integrado “General Hospital” nos anos 1960. E depois ainda apareceu em “The Bold and the Beautiful” na década de 1990 e “Days of our Life” nos anos 2000. Apesar do tempo consumido nas produções diárias, Gabriel ainda desempenhou papéis em filmes e séries durante as décadas em que trabalhou como ator. Seu primeiro trabalho no cinema foi no musical “No Sul do Pacífico” em 1958 e seus créditos cinematográficos incluem o célebre western “El Dorado” (1966), de Howard Hawks, para o qual também compôs a música-título em parceria com o compositor Nelson Riddle. Gabriel também era cantor, tendo se apresentado ao vivo em vários programas de variedades da TV americana, como “The Ed Sullivan Show”, “The Merv Griffin Show” e “The Mike Douglas Show”. Como ator, participou de inúmeras séries clássicas, como “Os Intocáveis”, “77 Sunset Strip”, “A Garota da U.N.C.L.E.”, “Big Valley”, “A Noviça Voadora”, “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, “A Garota com Algo Mais” e “Mary Tyler Moore”, onde chegou a ter um papel recorrente como apresentador esportivo do canal em que protagonista trabalhava. Ele também chegou a interpretar o Professor no piloto da célebre série de comédia “A Ilha dos Birutas”, mas acabou substituído por Russell Johnson quando a série entrou no ar em 1964. O piloto só foi exibido muitos anos depois, mais exatamente em 1992, como curiosidade. Em 1995, Gabriel passou para os bastidores televisivos e produziu um talk show do ator Charles Grodin para a CNBC. Seu último trabalho incluiu uma novidade em sua longa carreira, sua transformação em dublador de desenho animado. Nesta função, fez dois episódios de “O Que Há de Novo, Scooby-Doo?”, em 2004 e 2005. Ele era casado desde 1968 com outra intérprete de novelas, Sandy Gabriel, estrela de “All My Children”, e teve duas filhas que seguiram a carreira na TV, Melissa Gabriel (apresentadora de “Oddville, MTV”) e Andrea Gabriel (atriz com papéis recorrentes nas séries “Lost” e “Gossip Girl”).
Gavin MacLeod (1931–2021)
O ator Gavin MacLeod, que estrelou as séries clássicas “Mary Tyler Moore” e “O Barco do Amor”, morreu na manhã deste sábado (29/5) aos 90 anos. A causa da morte não foi informada, mas sua saúde vinha deteriorando nos últimos meses. Nascido Allan George See, ele adotou o nome artístico ao estrear no cinema em 1958, como um policial no drama criminal “Quero Viver!”. No ano seguinte, teve pequenos papéis nos clássicos “Estranha Obsessão” e “Os Bravos Morrem de Pé”, e acabou se destacando como coadjuvante na comédia de guerra “Anáguas a Bordo”, de Blake Edwards. “Anáguas a Bordo” foi uma prévia do tipo de papel que ele faria alguns anos depois na série “Marinha de McHale”, na qual viveu o marinheiro “Happy” Haines. Exibida de 1962 a 1966, a série sobre a tripulação de um torpedeiro americano durante a 2ª Guerra Mundial fez tanto sucesso que originou dois filmes, “Marujos do Barulho” (1964) e “Os Marujos… na Força Aérea” (1966), ambos com MacLeod em seu elenco. Ele continuou na Marinha na aventura clássica “O Canhoneiro do Yang-Tsé” (1966), estrelada por Steve McQueen, e voltou a trabalhar com Blake Edwards na comédia mais engraçada do diretor, “Um Convidado Bem Trapalhão” (1968), com Peter Sellers. Depois de estrelar outra famosa comédia de guerra, “Os Guerreiros Pilantras” (1970), ao lado de Clint Eastwood, entrou no elenco fixo de “Mary Tyler Moore” como Murray Slaughter, redator do telejornal em que a protagonista trabalhava, atuando em cada um dos 168 episódios das sete temporadas da atração. “Mary Tyler Moore” marcou época, influenciou costumes, especialmente os direitos femininos, rendeu três séries derivadas e até um telefilme de reencontro no ano 2000. Mas poucos integrantes do elenco tiveram a sorte de trocar o sucesso daquela série por outro programa de grande audiência. MacLeod foi um deles. O ator emendou “Moore” com “O Barco do Amor”, ficando fora do ar apenas dois meses entre as duas séries, em 1977. O novo trabalho foi ainda mais duradouro. Em “O Barco do Amor”, ele interpretou o capitão Stubing, responsável por comandar o navio de cruzeiros românticos por nada menos que 249 episódios em 10 anos. E mesmo após o fim da viagem televisiva, em 1987, ainda voltou para um telefilme de reencontro, “O Barco do Amor: O Dia dos Namorados”, em 1990, e num episódio do reboot “Love Boat: The Next Wave”, em 1998. Apesar de não ter emplacado outros papéis fixos, o ator continuou no ar por vários anos, aparecendo em episódios de “Oz”, “The King of Queens”, “JAG: Ases Invencíveis”, “O Toque de um Anjo”, “That ’70s Show” e “Zack & Cody: Gêmeos à Bordo”. Além disso, o sucesso de “O Barco do Amor” lhe garantiu outro emprego duradouro, como porta-voz da empresa de cruzeiros marítimos Princess Cruises. Nos últimos anos, MacLeod e sua esposa Patti Kendig se tornaram evangélicos, o que resultou numa reconciliação – e segundo casamento – após o divórcio, além de levar o casal a estrelar juntos a sci-fi cristã “A Jornada: Uma Viagem pelo Tempo”, em 2002. Sua despedida do cinema foi com outro filme evangélico, “As Histórias de Jonathan Sperry”, em 2008. Cinco anos depois, ele publicou seu livro de memórias, “This Is Your Captain Speaking: My Fantastic Voyage Through Hollywood, Faith & Life”. Ed Asner, que interpretou o chefe de MacLeod em “Mary Tyler Moore” – e que os mais jovens conhecem como a voz do velhinho ranzinza de “Up – Altas Aventuras” – prestou homenagem ao amigo no Twitter, escrevendo: “Meu coração está partido. Gavin era meu irmão, meu parceiro no crime (e na comida) e meu conspirador cômico. Te vejo daqui a pouco, Gavin. Diga à turma que os verei em breve. Betty! Agora somos só você e eu”, completou, citando Betty White (“Super Gatas”). Os dois são os últimos astros remanescentes da série dos anos 1970.
Allan Burns (1935 – 2021)
O produtor e roteirista Allan Burns, conhecido por criar diversas séries clássicas, como “Os Monstros” e “Mary Tyler Moore”, morreu no sábado (30/1) em sua casa, de causas não reveladas, aos 85 anos. Com longa carreira televisiva, Burns assinou seus primeiros roteiros na cultuada série animada “As Aventuras de Rocky e Bullwinkle”, entre 1961 e 1963. Ele também escreveu episódios de “George, o Rei da Floresta” e “Dudley Certinho”, e criou o personagem Cap’n Crunch para as campanhas publicitárias da aveia Quaker, antes de migrar para séries live-action. Burns formou uma parceria criativa com o também roteirista Chris Hayward para criar suas primeiras séries, “Os Monstros” (1964) e “Mamãe Calhambeque” (1965). Paralelamente, os dois também escreveram episódios de “Agente 86” e venceram o Emmy de Melhor Roteiro de Comédia por “He & She”. Até que, em 1969, Burns trocou de parceiro, juntando-se a James L. Brooks para escrever e produzir a série “Room 222”. No ano seguinte, os dois criaram juntos uma das séries mais influentes e bem-sucedidas da década de 1970, “Mary Tyler Moore”. A atração lançada em 1970 quebrou barreiras ao acompanhar pela primeira vez na TV uma mulher independente, que se tornava a primeira redatora feminina de um telenoticiário e dividia seu cotidiano com o ambiente de trabalho. A proposta foi amplamente aprovada pelo público e pela crítica. Já na estreia, Burns e Brooks venceram o Emmy de Melhor Roteiro de Comédia. “Mary Tyler Moore” também venceu três Emmys de Melhor Série de Comédia ao longo de seus sete anos de produção, além de ter rendido nada menos que três atrações séries derivadas, “Rhoda”, “Phillys” e “Lou Grant”, que estenderam a franquia até 1982. O sucesso televisivo fez Hollywood levar Burns para o cinema. E o primeiro filme que ele escreveu, “Um Pequeno Romance” (1979), recebeu indicação ao Oscar de Melhor Roteiro. Ele também roteirizou “A Juventude de Butch Cassidy” (1979) e “Alguém Para Amar” (1984), e estreou como diretor com “Somente Entre Amigas” (1986), protagonizado por sua antiga estrela Mary Tyler Moore. A carreira televisiva continuou efervescente, embora menos impactante. Mas Burns costumava se orgulhar de alguns projetos menores, como a criação de “The Duck Factory”, uma sitcom centrada num animador iniciante, que lançou a carreira do comediante Jim Carrey em 1984, “Eisenhower & Lutz”, série jurídica com Scott Bakula em 1988, “FM”, passada numa rádio pública em 1989, e “Cutters”, centrada numa barbearia em 1993.
Cloris Leachman (1926 – 2021)
A veterana atriz Cloris Leachman, que venceu oito Emmys e um Oscar ao longo de uma carreira de sete décadas, morreu na terça-feira (26/1) de causas naturais em sua casa em Encinitas, na Califórnia, aos 94 anos. Nascida em 30 de abril de 1926, em Des Moines, Leachman começou sua carreira no showbiz ao participar do concurso de beleza Miss America de 1946, o que lhe deu projeção e a levou a aparecer em algumas das primeiras séries da televisão americana, como “The Ford Theater”, “Studio One”, “Suspense”, “Danger” e “Actor’s Studio”. Paralelamente, ela passou a chamar atenção na Broadway, onde começou no pós-guerra. Depois de alguns pequenos papéis, foi escalada como substituta da atriz principal de “South Pacific” e precisou ter que se apresentar no palco durante um imprevisto da intérprete original. Acabou roubando a cena, virando a estrela principal e protagonizando nada menos que oito outros shows da Broadway depois disso, só nos anos 1950. Este sucesso explica porque ela demorou um pouco para emplacar nas telas. Um de seus primeiros papéis recorrentes foi na série da cachorrinha “Lassie” (1957-1958), mas sua presença geralmente se restringia a um episódio por série, incluindo inúmeros trabalhos em séries clássicas dos anos 1960, como “Além da Imaginação” (The Twilight Zone), “Gunsmoke”, “Couro Cru” (Rawhide), “Os Intocáveis” (The Untouchables), “Rota 66” (Route 66), “Alfred Hitchcock Apresenta” (Alfred Hitchcock Presents), “77 Sunset Strip”, “Os Defensores”, “Têmpera de Aço”, “Lancer”, “Mannix”, “Perry Mason” e “Dr. Kildare”, onde voltou a aparecer em vários capítulos. Ao mesmo tempo, Leachman começou a investir na carreira cinematográfica. Seu primeiro papel no cinema foi uma pequena participação no clássico noir “A Morte num Beijo” (1955), de Robert Aldritch, seguido pelo drama de guerra “Deus é Meu Juiz” (1956), com Paul Newman. Seu sucesso na Broadway a manteve distante das telas grandes por mais de uma década, mas permitiu um reencontro com Newman em seu retorno, no clássico blockbuster “Butch Cassidy” (1968). No início dos anos 1970, Leachman finalmente se concentrou nos filmes. E foi reconhecida pela Academia por um de seus papéis mais marcantes, como Ruth Popper, a solitária esposa de meia-idade de um treinador de futebol americano, gay e enrustido, no cultuado drama em preto e branco “A Última Sessão de Cinema” (1971), de Peter Bogdanovich. Seu desempenho poderoso lhe rendeu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Em seguida, co-estrelou “Dillinger” (1973), de John Milius, voltou a trabalhar com Bogdanovich em “Daisy Miller” (1974) e quase matou o público de rir numa das comédias mais engraçadas de todos os tempos, “O Jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks, como Frau Blücher, cujo nome dito em voz alta fazia até cavalos relincharem com apreensão. Brooks, por sinal, voltou a escalá-la como uma enfermeira suspeita em sua segunda melhor comédia, “Alta Ansiedade” (1977). Nesta época, ela também assumiu seu papel mais famoso da TV, como Phyllis Lindstrom, a vizinha metida da série “Mary Tyler Moore” (1970–1977). Ela foi indicada ao primeiro Emmy da carreira pelo papel em 1972. E finalmente venceu como Melhor Coadjuvante em 1974 e 1975. Após o segundo Emmy, sua personagem ganhou atração própria, “Phyllis”, que durou duas temporada (até 1977), além de aparecer em crossovers com a série original e outra derivada, “Rhoda” – e lhe rendeu um Globo de Ouro de Melhor Atriz. Mesmo com a agenda lotada, Leachman ainda conseguiu viver a Rainha Hipólita na série da “Mulher-Maravilha”, em 1975. Ela continuou a acumular créditos no cinema e na TV ao longo dos anos 1970 e 1980 antes de voltar a ter um papel fixo, o que aconteceu na série “Vivendo e Aprendendo” (The Facts of Life). A atriz assumiu o protagonismo das duas últimas temporadas da atração (que durou nove anos) como substituta da estrela original, Charlotte Rae, interpretando Beverly Ann Sickle, a irmã tagarela da personagem de Rae, entre 1986 e 1988. Mais recentemente, ela ganhou dois Emmys e quatro outras indicações por seu papel na sitcom “Malcolm” (Malcolm in the Middle), como a mãe malvada de Jane Kaczmarek (de 2001 a 2006), além de ter rebido nova indicação ao Emmy por interpretar Maw Maw, a bisavó da personagem-título da sitcom “Raising Hope”, entre 2010 e 2014 na mesma rede. Leachman também foi a mãe agitada de Ellen DeGeneres na sitcom “The Ellen Show”, que foi ao ar em 2001-02, e uma paciente de terapia de Helen Hunt no revival de “Louco por Você” (Mad About You), exibido em 2019, quando já estava com 93 anos. A atriz ainda desenvolveu uma carreira robusta como dubladora, a partir da participação da versão “Disney” do anime clássico “O Castelo no Céu” (1986), de Hayao Miyazaki. Ela voltou a trabalhar em outra dublagem de Miyazaki em 2008, em “Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar”, fez parte do elenco do cultuado “O Gigante de Ferro” (1999) e teve um papel de voz breve, mas memorável no filme “Beavis e Butt-Head Detonam a América”, de 1996, como uma mulher idosa que encontra os meninos na estrada várias vezes, chamando-os de “Travis e Bob”. Entre seus últimos trabalhos, estão dublagens de personagens recorrentes das séries animadas da Disney “Phineas e Ferb” e “Elena de Avalor”. E ela ainda pode ser ouvida atualmente nos cinemas dos EUA em seu último papel, como Gran, a velha sogra do protagonista Grug (Nicolas Cage) em “Os Croods 2: Uma Nova Era”, após ser responsável pelas melhores piadas do primeiro filme, de 2013. Atrasado devido à pandemia, “Os Croods 2” só vai estrear no Brasil em março.
Carl Reiner (1947 – 2020)
Lenda do humor americano, Carl Reiner, um dos pioneiros da comédia televisiva dos EUA e responsável por lançar Steve Martin no cinema, morreu na noite de segunda-feira (29/6) em sua casa, em Los Angeles, de causas naturais, aos 98 anos. Com uma carreira de sete décadas, Reiner acompanhou a evolução do humor americano, do teatro de variedades, passando pelos discos de humor até a criação do formato sitcom e a participação em blockbusters modernos. Após escrever piadas para apresentações de Sid Caesar em Nova York e nos programas televisivos “Caesar’s Hour”, que lhe rendeu dois Emmys, e “Your Show of Shows” dos anos 1950, ele criou “The Dick Van Dyke Show”, a primeira sitcom de verdade. E a origem do formato teve início praticamente casual. Reiner vinha sendo convidado a participar de programas de humor e escrever piadas, mas não gostava de nenhum roteiro que recebia. Sua mulher disse que, se ele achava que faria melhor, que então fizesse. E ele fez. Ele escreveu a premissa e os primeiros 13 episódios baseando-se em sua própria vida. E inaugurou um costume novo, ao estabelecer um lugar de trabalho como set de humor, relacionando as piadas à rotina do protagonista no emprego e também em sua casa, com sua mulher e filhos. Era uma situação fixa, que acabou inspirando cópias e originando um novo gênero de humor televisivo – sitcom, abreviatura de “comédia de situação”. Até então então, as comédias se passavam apenas na casa das famílias e, eventualmente, nos lugares em que passavam férias, como em “I Love Lucy”. Pela primeira vez, o humor passou a se relacionar com o cotidiano de trabalho, uma iniciativa que até hoje inspira clássicos, como “The Office”, por exemplo. O roteirista tentou emplacar a série com ele mesmo no papel principal, mas o piloto foi rejeitado. Apesar disso, o produtor Sheldon Leonard garantiu que não tinha desistido. “Vamos conseguir um ator melhor para interpretar você”. Foi desse modo que o escritor de comédias de TV Rob Petrie ganhou interpretação do galã Dick Van Dyke. Isto, porém, fomentou outro problema, quando o ator se tornou maior que o programa, graças a participações em filmes famosos – como “Mary Poppins” (1964) e “O Calhambeque Mágico” (1968) – , razão pela qual “The Dick Van Dyke Show” não durou mais que cinco temporadas, exibidas entre 1961 e 1965. Além do ator que batizava a atração, o elenco ainda destacava, como intérprete de sua esposa, ninguém menos que a estreante Mary Tyler Moore, cujo nome logo em seguida também viraria série. E Reiner, claro, conseguiu incluir em seu contrato a participação como um personagem recorrente. A audiência do programa só estourou na 2ª temporada e de forma surpreendente, numa época em que todos os canais priorizavam séries de western. A atração consagrou Reiner com quatro Emmys e lhe abriu as portas de Hollywood. Consagrado na TV, ele foi estrear no cinema como roteirista de dois longas para o diretor Norman Jewison: “Tempero do Amor” (1963), um dos maiores sucessos da carreira da atriz Doris Day, e “Artistas do Amor” (1965), com Dick Van Dyke. Em seguida, ele resolveu se lançar como diretor. Mas apesar das críticas positivas, “Glória e Lágrimas de um Cômico” (1969), estrelado por Van Dyke, não repercutiu nas bilheterias. O mesmo aconteceu com “Como Livrar-me da Mamãe” (1970), com George Segal. Assim, Reiner voltou à TV, de forma simbólica com uma sitcom chamada “The New Dick Van Dyke Show”, exibida entre 1971 e 1974. Ele tentou emplacar outras séries, como “Lotsa Luck!”, estrelada por Dom DeLuise, que durou só uma temporada, porém a maioria de seus projetos dos anos 1970 não passou do piloto. Por outro lado, a dificuldade na TV o fez tentar novamente o cinema e o levou a seu primeiro êxito comercial como cineasta, “Alguém Lá em Cima Gosta de Mim” (1977), comédia em que o cantor John Denver era visitado por Deus (na verdade, o veterano George Burns). Em 1979, ele firmou nova parceria bem-sucedida com outro comediante iniciante, o ator Steve Martin, a quem dirigiu em quatro filmes: “O Panaca” (1979), “Cliente Morto Não Paga” (1982), “O Médico Erótico” (1983) e “Um Espírito Baixou em Mim” (1984). Reiner ainda escreveu dois destes longas, ajudando a lançar a carreira de Martin, até então pouco conhecido, como astro de Hollywood. A parceria foi tão bem-sucedida que Reiner teve dificuldades de manter a carreira de cineasta após se separar de Martin. Sua filmografia como diretor encerrou-se na década seguinte, após trabalhar, entre outros, com John Candy em “Aluga-se para o Verão” (1985), Mark Harmon em “Curso de Verão” (1987), Kirstie Alley em “Tem um Morto ao Meu Lado” (1990) e Bette Midler em “Guerra dos Sexos” (1997), o último filme que dirigiu. Enquanto escrevia e dirigia, ele desenvolveu o hábito de aparecer em suas obras. E isso acabou lhe rendendo uma carreira mais duradoura que suas atividades principais – mais de 100 episódios de séries e longa-metragens. As participações começaram como figuração, como em “Deu a Louca no Mundo” (1963) e “A História do Mundo – Parte I” (1981), em que dublou a voz de Deus. Mas o fim de sua carreira de cineasta aumentou sua presença nas telas, a ponto de transformá-lo num dos assaltantes da trilogia de Danny Ocean, o personagem de George Clooney em “Onze Homens e um Segredo” (2001), “Doze Homens e Outro Segredo” (2004) e “Treze Homens e um Novo Segredo” (2007). Também apareceu em várias séries, como “Louco por Você” (Mad About You), “House”, “Ally McBeal”, “Crossing Jordan”, “Dois Homens e Meio” (Two and a Half Men), “Parks & Recreation”, “Angie Tribeca” e principalmente “No Calor de Cleveland (Hot in Cleveland), em que viveu o namorado de Betty White. E ainda se especializou em dublagens, após o sucesso da animação “The 2000 Year Old Man” (1975) que criou com outro gênio do humor, Mel Brooks. Seu último papel, por sinal, foi o rinoceronte chamado Carl, que ele dublou no recente “Toy Story 4” e num episódio da série animada “Forky Asks a Question”, da plataforma Disney+ (Disney Plus), produzido no ano passado. Em 1995, Reiner recebeu um prêmio pela carreira do Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA). Em 2009, o mesmo sindicato voltou a homenageá-lo com o Valentine Davies Award, reconhecendo sua influência e legado para todos os escritores, bem como para a indústria do entretenimento e a comunidade artística em geral. Além de sua atividade nas telas, Reiner escreveu vários livros de memórias e romances. Ele se casou apenas uma vez, com Estelle Reiner, falecida em 2008, e teve três filhos, Sylvia Anne, Lucas e Rob Reiner. Este seguiu sua carreira, virando um reconhecido diretor de cinema – autor de clássicos como “Conta Comigo”, “A Princesa Prometida”, “Harry e Sally: Feitos um para o Outro” e “Louca Obsessão”.
Gene Reynolds (1923 – 2020)
Gene Reynolds, ex-astro mirim da MGM que virou co-criador das séries “M*A*S*H” e “Lou Grant”, morreu na segunda-feira (3/2) num hospital em Burbank, na Califórnia, aos 96 anos. Ele começou a carreira como ator infantil, aos 10 de idade, quando sua família se mudou de Cleveland para Los Angeles, aparecendo como figurante na comédia clássica “Era uma Vez Dois Valentes” (Babes in Toyland, 1934), da dupla o Gordo e o Magro. Fez várias figurações durante a década de 1930, inclusive no fenômeno infantil “Heidi” (1937), antes de conseguir o papel coadjuvante de Jimmy MacMahon em dois filmes de Andy Hardy, estrelados por Mickey Rooney. Reynolds seguiu como ator até os anos 1950, participando do ciclo noir e de vários filmes famosos, mas nunca conseguiu muita evidência. Tudo mudou quando decidiu explorar outro talento. Ele começou a trabalhar como diretor de casting, escalando atores de novas séries da rede NBC, e, em 1957, emplacou sua primeira criação televisiva, o western “Tales of Wells Fargo”, que durou seis temporadas até 1962. Tomou gosto pela direção após comandar vários episódios de “Wells Fargo”, passando os anos 1960 atrás das câmeras de diversas séries famosas, como “Os Monstros”, “Guerra, Sombra e Água Fresca”, “Meus 3 Filhos”, “Nós e o Fantasma” e “Room 222”, pela qual ganhou seu primeiro Emmy. Eventualmente, voltou a escrever. Sua segunda criação foi simplesmente “M*A*S*H”, uma adaptação do filme homônimo de Robert Altman, lançada em 1972 na televisão. Ele dirigiu o piloto e assinou a produção, mas os créditos da história ficaram com Larry Gelbart. A série de comédia sobre médicos americanos na Guerra da Coreia lhe rendeu três mais prêmios Emmy e durou 11 anos sem nunca perder audiência. Ao contrário, seu final em 1982 foi o episódio mais assistido de uma série de TV em todos os tempos, visto por 106 milhões de americanos. Nenhuma série chega perto desses números e apenas o Super Bowl (final do campeonato de futebol americano) de 2010 superou esse total. Diante do evidente sucesso de “M*A*S*H”, Reynolds e Gelbart tentaram repetir a dose com “Roll Out” (1973), outra comédia de guerra, mas o raio não caiu duas vezes no mesmo lugar. Foi cancelada na 1ª temporada, assim como “Karen” (1975), outra série da dupla. Mas Reynolds acabou encontrando novo sucesso com “Lou Grant”, um spin-off de “Mary Tyler Moore”, que ele desenvolveu com os criadores da série original, James L. Brooks e Allan Burns. Lançada em 1977, acompanhava o cotidiano da redação de um jornal comandado pelo personagem-título (o ex-patrão de Mary Tyler Moore), vivido por Ed Asner. A aposta em fazer uma produção de tom dramático, destoando completamente do aspecto de sitcom da série original e seus outros spin-offs (“Rhoda” e “Phyllis”), deu certo. “Lou Grant” se tornou um grande sucesso, durou cinco temporadas e rendeu mais dois Emmys para Reynolds. Como diretor, roteirista e produtor, Reynolds foi indicado a um total de 24 Emmys e também ganhou três prêmios do Sindicato dos Diretores dos EUA (DGA, na sigla em inglês), entidade da qual foi presidente nos anos 1990, quando se afastou das câmeras. Seu último trabalho foi a produção de um documentário sobre “M*A*S*H” lançado em 2002, que marcou o reencontro do elenco original após 30 anos da estreia da série. Em uma entrevista de 2009, a estrela de “M*A*S*H”, Alan Alda, apontou que Reynolds foi quem “envolveu Larry Gelbart e juntou o elenco… ele não era apenas maravilhoso com a câmera, mas também com atores. Você não consegue sempre essa combinação. Ele fazia com que os atores mostrassem o que era humano e genuíno e não apenas performances engraçadas. Ele sabia o que era engraçado, mas também o que era humano”. Na foto abaixo, ele aparece em “trajes civis” no set clássico de “M*A*S*H”, dirigindo Alda e Larry Linville.
Valerie Harper (1939 – 2019)
Valerie Harper, uma das atrizes mais queridas da TV americana, que estrelou a série clássica “Mary Tyler Moore” e o derivado “Rhoda”, morreu após uma longa batalha contra o câncer, aos 80 anos de idade. Assim como sua personagem clássica, que ajudou a divulgar o feminismo na telinha, ela também foi um símbolo do empoderamento na vida real, tendo processado produtores e uma rede de TV por reagirem com demissão a um pedido de aumento, além de ter lutado, ao lado de feministas históricas como Gloria Steinem e Bella Abzug, pela aprovação da Emenda dos Direitos Iguais nos Estados Unidos. Ela nasceu em 22 de agosto de 1939, em Suffren, Nova York, mas morou boa parte da infância e da adolescência em Nova Jersey. Estudou balé na juventude e aos 16 anos conseguiu um emprego como dançarina do Corps de Ballet, que se apresentava quatro ou cinco vezes por dia entre as exibições de filmes no Radio City Music Hall. A experiência como dançarina a levou à Broadway em 1956, no elenco da comédia musical “Li’l Abner”, baseada nos quadrinhos do personagem do título (Ferdinando, no Brasil), e ela logo se tornou uma das dançarinas favoritas do diretor-produtor-coreógrafo Michael Kidd, que a escalou em várias montagens consecutivas. Sua colega de quarto, a atriz Arlene Golonka, sugeriu que Harper tentasse atuar, convencendo-a a fazer um teste para participar do teatro de revista “Second City”, que acabara de se mudar de Chicago para Nova York. Ela se juntou ao elenco, que incluía o ator Dick Schaal, e os dois se casaram alguns meses depois em 1964 (eles se divorciaram em 1978). “Ele era meu mentor”, Harper disse à revista People em 1975, sobre seu marido. “Ele me ajudava a me preparar, lendo roteiros comigo por anos e absolutamente construiu a personagem de Rhoda comigo”. O casal se mudou para Los Angeles em 1968 e começou a trabalhar na TV. Ele assinava roteiros para “Love, American Style”, enquanto ela deslanchava em participações em diversas séries, incluindo “Columbo”, e seguia carreira no teatro. A diretora de elenco e vice-presidente da CBS Ethel Winant a “descobriu” durante uma peça em Los Angeles e a convidou a fazer um teste para uma nova série, que chegaria à televisão em 1970. Era “Mary Tyler Moore” e Harper foi escalada para viver a vizinha e melhor amiga da protagonista, Rhoda Morgenstern, recém-chegada a Minneapolis, onde a trama se passava. A interação entre Moore e Harper marcou época. Enquanto Mary Richards (Mary Tyler Moore era o nome da intérprete e não da personagem) era uma presbiteriana conservadora, Rhoda era uma judia moderna, que se vestia de forma extravagante. As duas eram completamente opostas, mas as diferenças iniciais logo cederam lugar para as semelhanças. As duas eram mulheres solteiras independentes e lutavam por reconhecimento numa época em que o feminismo engatinhava. Em 2000, a revista Time chamou a interação de Mary e Rhoda de “uma das amizades mais famosas da TV”. Mas após três vitórias seguidas no Emmy como Melhor Atriz Coadjuvante, Harper se tornou popular o suficiente para ter sua própria série, e em 1974 a CBS lançou “Rhoda”, com produção assinada por ninguém menos que Mary Tyler Moore – num testemunho da parceria entre as atrizes, que jamais se viram como rivais. Na atração derivada, Rhoda retornava a Nova York para reencontrar a família, e finalmente descobria o amor, ao conhecer um executivo divorciado (David Groh). O spin-off foi um sucesso instantâneo, tornando-se a primeira série a assumir o 1ª lugar da audiência em seu ano inaugural de produção. Além disso, o episódio do casamento de Rhoda quase bateu um recorde histórico, com 52 milhões de telespectadores, a segunda maior audiência da TV até então, perdendo apenas para outro evento televisivo, o nascimento de Little Ricky em “I Love Lucy”, exibido em janeiro de 1953. Vale lembrar que esse episódio especial foi um crossover com “Mary Tyler Moore”, em que os personagens da série original apareceram como convidados na cerimônia íntima, realizada no apartamento dos pais de Rhoda. E rendeu tantos comentários que até um famoso locutor esportivo reclamou, durante uma transmissão de futebol americano, não ter sido convidado para aparecer na festa. Harper culminou esse período de sucesso com o Emmy de Melhor Atriz em Série de Comédia por seu trabalho em “Rhoda”. Mas, apesar desse fenômeno de popularidade, os produtores decidiram que a série precisava de outra direção na 3ª temporada, já que a personagem tinha se tornado feliz e acomodada. Assim, os roteiristas passaram a incluir problemas no relacionamento, que levou a um divórcio na 4ª temporada. O público não gostou e a audiência desabou, fazendo a série ser cancelada antes do final de sua 5ª temporada, em dezembro de 1978, deixando quatro episódios inéditos. “Meu maior arrependimento foi não termos tido a oportunidade de mostrar um episódio final de ‘Rhoda'”, Harper desabafou em sua autobiografia. “A série de ‘Mary Tyler Moore’ terminou com um final perfeito, agridoce e divertido, em que me senti emocionada por poder aparecer. Eu queria que ‘Rhoda’ tivesse a mesma oportunidade”. A atriz voltou a protagonizar uma série em 1986 com “Valerie”, interpretando uma mãe suburbana de Chicago, que precisava trabalhar e criar três filhos (o mais velho tinha 17 anos de idade e era ninguém menos que o ator Jason Bateman, futuro astro de “Arrested Development”), enquanto o marido, um piloto (Josh Taylor), estava frequentemente ausente. Um episódio da 2ª temporada de “Valerie” também entrou para a História da TV, ao usar pela primeira vez a palavra “preservativo”, relacionada a sexo seguro, no horário nobre norte-americano. A NBC chegou a emitir um aviso de aconselhamento aos pais, na abertura do capítulo. O sucesso de “Valerie” fez Harper buscar aumento salarial e participação nos lucros da produção, que afinal tinha seu nome. Os produtores negaram e ela se recusou a gravar novos episódios. O impasse causou sua demissão da própria série. Os roteiristas simplesmente mataram sua personagem num acidente de carro e a atração seguiu com Sandy Duncan no papel principal, como uma tia que assumia a criação dos filhos de Valerie. Harper processou a rede NBC e os produtores por quebra de contrato e difamação, após entrevistas em que foi chamada de “atriz difícil”. E venceu. Recebeu US$ 1,4 milhão por perdas e danos, além de uma parcela dos lucros do programa, como queria em sua negociação inicial. Os anos dedicados à televisão não lhe permitiram fazer muitos filmes. As exceções foram participações em “O Último Casal Casado” (1980) e “Feitiço do Rio” (1984). Mas ela protagonizou muitos telefilmes, incluindo “Quero Apenas meus Direitos” (1980), produção pioneira sobre o assédio sexual no local de trabalho, e “A Caixa de Surpresas” (1980), dirigido pelo astro Paul Newman. Após “Valerie”, ela teve um papel de destaque na sitcom “A Família Hogan” (1986–1991) e apareceu de forma recorrente em “The Office” (durante 1995). Também cruzou as telas em episódios de “O Toque de um Anjo”, “Sex and the City”, “That ’70s Show”, “Desperate Housewives”, “Drop Dead Diva”, “Duas Garotas em Apuros” (2 Broke Girls) e “Calor em Cleveland” (Hot in Cleveland). Em 2000, voltou a reviver sua personagem mais famosa num telefilme da rede ABC, “Mary e Rhoda”, em que contracenou com sua velha amiga Mary Tyler Moore. E foi um sucesso de audiência como nos velhos tempos. Enquanto lutava com doenças, a atriz ainda foi indicada ao Tony (o Oscar teatral) por interpretar a atrevida estrela dos anos 1940 Tallulah Bankhead na comédia “Looped”. Seus últimos trabalhos foram um curta-metragem de 2017, “My Mom and the Girl”, em que interpretou uma mãe com doença de Alzheimer, e diversas dublagens nas séries “Os Simpsons” e “American Dad!” Em 2009, os médicos removeram um tumor de seu pulmão direito e, em janeiro de 2013, ela foi diagnosticada com um tumor cerebral incurável, ocasião em que recebeu a informação que só teria mais três meses de vida. Sem se entregar, ela sobreviveu por mais seis anos. Nesse tempo “extra”, permitiu à NBC News gravá-la para um documentário e aceitou um convite para aparecer no programa de danças “Dancing With the Stars”. “Os médicos querem que eu me exercite!”, disse, sobre a participação. Discutindo sua doença na TV, ela afirmou: “Quero que todos nós tenhamos menos medo da morte, saibam que é uma passagem. Mas não vá ao seu funeral antes do dia do funeral. Enquanto estiver vivendo, viva.”
Georgia Engel (1948 – 2019)
Georgia Engel, a atriz com voz de bebê que interpretou a namorada e eventual esposa do apresentador de TV Ted Baxter na série clássica “Mary Tyler Moore”, morreu na sexta-feira (12/4) aos 70 anos em Princeton, Nova Jersey. Engel ficou conhecida e foi indicada a dois Emmys de Melhor Atriz Coadjuvante por seu trabalho em “Mary Tyler Moore”. Ela se juntou à série em 1972, durante a 3ª temporada, como Georgette Franklin, logo após fazer sua estreia no cinema na comédia “Procura Insaciável” (1971), de Milos Forman. “Seria apenas um episódio”, ela recordou ao The Toronto Star em 2007, “e eu deveria ter algumas falas em uma cena de festa, mas eles continuavam me dando mais e mais coisas para fazer”. Assim, sua personagem se tornou recorrente e depois integrante fixo da produção, que marcou época como a primeira série assumidamente feminista da TV americana. Após o fim de “Mary Tyler Moore” em 1977, a atriz ainda apareceu como Georgette no spin-off “Rhoda” e seguiu carreira na televisão, participando de muitas outras séries: no elenco fixo de “The Betty White Show” (1977-1978) e “Goodtime Girls” (1980) e como integrante recorrente de “Coach” (entre 1991 e 1997) e “Everybody Loves Raymond”. Ela entrou em “Everybody Loves Raymond” em 2003, durante a 7ª temporada do sitcom de Ray Romano, no papel de Pat MacDougall, a sogra do personagem de Brad Garrett. Também era para ser uma aparição simples, que acabou virando recorrente e lhe rendeu mais três indicações ao Emmy, desta vez como Melhor Atriz Convidada. Depois disso, continuou a aparecer em sitcoms populares da TV americana, recorrendo em vários episódios de “The Office”, “Two and a Half Men” e “Hot in Cleveland”. Também dublou três longas animados da franquia “O Bicho Vai Pegar” (de 2006 a 2010) e integrou o elenco da comédia “Gente Grande 2” (2013), como a mãe de Kevin James. Até encerrar a carreira com uma participação na série “One Day at a Time”, da Netflix, no ano passado.









