Barbara Rush, estrela da década de 1950, morre aos 97 anos
Atriz começou na ficção científica e se tornou famosa por estrelar melodramas de grandes diretores de Hollywood
Cicely Tyson (1924 – 2021)
A pioneira Cicely Tyson, primeira atriz negra a receber um Oscar honorário, morreu aos 96 anos de idade de causas não reveladas. Conhecida por papéis populares, como a cozinheira de “Tomates Verdes Fritos” (1991) e a mãe de Viola Davis na série “Como Defender um Assassino” (How to Get Away with Murder), ela também teve desempenhos aclamados em drama históricos, foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz em 1973, venceu dois Emmys e quebrou muitas barreiras raciais ao longo de suas sete décadas de carreira. Com uma trajetória repleta de sucessos no cinema, teatro e televisão, Cicely Louise Tyson fez suas primeiros trabalhos artísticos para revistas de moda. Ela começou como modelo, brilhando nas páginas da Ebony, antes de estrear nas telas em 1951, na série “Fronteiras da Fé” (Frontiers of Faith). Após várias participações em séries e figurações em filmes, conseguiu seu primeiro papel fixo em 1963, na produção dramática “East Side/West Side”, como secretária de George C. Scott (o “Patton”), o que acabou sendo um feito histórico não apenas para sua carreira. Foi a primeira vez que uma atriz negra teve destaque e papel contínuo em uma série da TV americana. Depois disso, participou de “Os Farsantes” (1967), com Elizabeth Taylor, e “Por que Tem de Ser Assim?” (1968), com Alan Arkin, antes de emocionar a Academia com “Lágrimas de Esperança” (Sounder, 1972). No drama do diretor Martin Ritt, Tyson viveu a matriarca de uma família empobrecida do Sul dos EUA, que além da miséria precisava enfrentar o racismo da era da Depressão e manter a família unida após seu marido ser preso por roubar comida. Ela perdeu o troféu de Melhor Atriz para Liza Minnelli, em “Cabaret”, mas seu desempenho neste e em outros filmes finalmente foi reconhecido pela Academia em 2019, quando foi homenageada com um Oscar pela carreira. Apesar disso, sua trajetória foi muito mais marcante na televisão. A indicação ao Oscar (e ao Globo de Ouro) foi seguida por seu desempenho mais impactante, no telefilme “The Autobiography of Miss Jane Pittman” (1974), sobre uma mulher que nasceu escrava e viveu para acompanhar as lutas pelos direitos civis dos anos 1960. A Academia da Televisão se apaixonou pelo filme e pela protagonista, dando à produção nada menos que nove prêmios Emmy, incluindo o de Melhor Atriz para Tyson. O reconhecimento lhe rendeu convite para participar da célebre minissérie “Raízes” (Roots, 1977), primeira obra televisiva dedicada à diáspora africana. Seu desempenho como Binta, a mãe do protagonista Kunta Kinte, voltou a encantar a crítica, rendendo nova indicação ao Emmy. O mesmo aconteceu em relação à seu trabalho na minissérie “King” (1978), em que viveu Coretta Scott King, esposa de Martin Luther King, e na minissérie “The Marva Collins Story” (1981), como uma professora que enfrentou o sistema. Paralelamente às minisséries de prestígio, ela também participou de produções comerciais de cinema, como “Aeroporto 79: O Concorde” (1979), a comédia “Rompendo Correntes” (1981), com Richard Pryor, e “Tomates Verdes Fritos” (1991), drama multigeracional que marcou época. Ela voltou à escravidão na minissérie “Tempos de Guerra” (1994), pela qual ganhou seu segundo e último Emmy, embora tenha conseguido mais nove indicações nos anos seguintes, incluindo por seu último papel em “How to Get Away with Murder”. Cicely Tyson também colocou um Tony (o Oscar do teatro) na estante, pela montagem de “The Trip to Bountiful”, em 2013. Entre seus filmes mais recentes, estão “Histórias Cruzadas” (2011), “A Sombra do Inimigo” (2012), “Evocando Espíritos 2” (2013), “A Melhor Escolha” (2017) e “O Limite da Traição” (2020). E, além da série criminal de Viola Davis, ela também integrava o elenco de “Cherish the Day”, atração criada no ano passado pela cineasta Ava DuVernay. Nenhum desses muitos papéis citados incluiu prostitutas, criminosas ou drogadas, porque ela os considerava degradantes para mulheres negras e queria retratar apenas bons exemplos. “Em sua longa e extraordinária carreira, Cicely Tyson não apenas se superou como atriz, ela moldou o curso da história”, disse o então presidente dos EUA Barack Obama durante a cerimônia de 2016 em que entrou à estrela a Medalha Presidencial da Liberdade. “Cicely tomou uma decisão consciente não apenas de ter uma voz, mas de falar abertamente. As convicções e a graça de Cicely nos ajudaram a ver a dignidade de cada lindo membro da família americana – e ela é simplesmente linda.”
Walter Bernstein (1919 – 2021)
O roteirista Walter Bernstein, que transformou sua amarga experiência na lista negra de Hollywood na comédia “Testa-de-Ferro por Acaso”, morreu na sexta-feira (22/1) aos 101 anos. Nascido no Brooklyn, em Nova York, Bernstein ingressou no Partido Comunista enquanto estudava na universidade de Dartmouth, e esse ímpeto estudantil acabou lhe custando perseguição política e desemprego, mesmo tendo servido, de forma patriótica, no Exército dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial. Depois de escrever um livro sobre suas aventuras na guerra, “Keep Your Head Down”, ele resolveu seguir para Hollywood, onde ajudou na adaptação do clássico noir “Amei um Assassino” (1948). Mas ao mesmo tempo o senador Joseph McCarthy e o Comitê de Atividades Não Americanas da Câmara estavam iniciando uma caça às bruxas para erradicar os comunistas do showbusiness, que atropelaria a carreira nascente do jovem roteirista. “Eu estava escrevendo uma série para a CBS, chamada ‘Danger’, escrevendo muito feliz para eles”, disse o roteirista numa entrevista ao site The Hollywood Reporter. “Até que, um dia, o produtor Charles Russell me disse: ‘Há um problema aqui, você tem que colocar outro nome no roteiro. Eu não sei [o que está acontecendo], eles me disseram lá em cima que não podem usar mais você.” O nome de Bernstein apareceu na lista negra, num boletim com nomes de supostos comunistas que trabalhavam em Hollywood, no verão de 1950. A única maneira de continuar sua carreira seria trair os colegas, testemunhar e apontar outros esquerdistas de Hollywood. Mas ele se recusou. Para sua sorte, o produtor de “Danger” e alguns de seus diretores, como o futuro cineasta Sidney Lumet, decidiram arriscar suas próprias carreiras para lhe oferecer uma saída. Eles permitiram que ele continuasse escrevendo secretamente com um pseudônimo. Um dos produtores da série – e outro futuro cineasta – Martin Ritt também foi mantido na atração desta forma. Charles Russell, inclusive, convidou Bernstein a escrever para outro programa, o jornalístico “You Are There”, apresentado pelo mais famoso telejornalista dos EUA, Walter Cronkite. E assim Bernstein sobreviveu ao desemprego nos anos 1950. Da mesma forma, ele desenvolveu roteiros de filmes sem receber créditos, incluindo o famosíssimo western “Sete Homens e um Destino” (1960). Até que Sidney Lumet resolveu acabar com aquele absurdo. O diretor convenceu o produtor italiano Carlo Ponti que Bernstein era o melhor roteirista para um filme que ele faria com Sofia Loren, “Mulher Daquela Espécie”. Sem se importar com política americana, Ponti autorizou a contratação e os créditos, acabando com o bloqueio da lista negra em 1959. Meses depois, Kirk Douglas fez o mesmo em “Spartacus”, revelando o nome do roteirista Dalton Trumbo, e uma página vergonhosa de cerceamento de direitos e perseguição às liberdades foi superada nos EUA. Livre para trabalhar, Bernstein fez parceria com o colega de lista negra Martin Ritt em “Paris Vive à Noite” (1961), uma ode ao jazz estrelada por Paul Newman, Joanne Woodward e Sidney Poitier. E entregou um de seus melhores roteiros para Sidney Lumet a seguir, “Limite de Segurança” (1964), clássico sobre o perigo nuclear da Guerra Fria, com Henry Fonda no papel de presidente dos EUA. Depois, escreveu o thriller de ação “O Trem” (1964), dirigido por John Frankenheimer, com quem também tinha trabalhado de forma incógnita na série “Danger”. E foi arriscar com Ritt um tema abertamente comunista em “Ver-te-ei no Inferno” (1970), estrelado por Sean Connery, sobre mineiros do século 19 em luta por melhores condições de trabalho. A parceria dos dois ex-integrantes da lista negra chegou ao auge em “Testa-de-Ferro por Acaso” (1976), no qual decidiram contar suas experiências durante o período da caça às bruxas. O filme ainda juntou ao grupo Zero Mostel, ator que sofreu a mesma perseguição política e sentiu o desemprego na pele – algumas das histórias que seu personagem vive, Mostel viveu na vida real. O plano original era apresentar o longa como uma grande tragédia, usando elementos da história de Philip Loeb, um ator na lista negra que cometeu suicídio após ser banido da indústria. Mas os executivos da Columbia Pictures acharam alguns trechos engraçados e decidiram que o filme funcionaria melhor como comédia. Para tanto, sondaram Woody Allen para o papel principal e ele surpreendentemente aceitou, tornando o filme um raro projeto que Allen estrelou sem escrever ou dirigir durante sua ascensão como autor – que lhe daria o Oscar um ano depois. “Testa-de-Ferro por Acaso” foi aclamado pela crítica e rendeu a Bernstein sua única indicação ao Oscar de Melhor Roteiro. O filme também foi indicado ao prêmio do Sindicato dos Roteiristas, assim como o trabalho seguinte do escritor, a comédia “A Disputa dos Sexos” (1977), estrelada por Burt Reynolds. Além disso, Woody Allen gostou tanto do texto de Bernstein que decidiu homenageá-lo, convidando-o a fazer uma participação especial em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa” (1977), grande vencedor do Oscar 1978. Bernstein ainda adaptou o drama de guerra “Os Yankees Estão Voltando” (1979) para o diretor John Schlesinger, antes de decidir dirigir seu próprio filme, a comédia infantil “A Garotinha que Caiu do Céu” (1980). Entretanto, sua carreira cinematográfica não passou dos anos 1980, encerrando-se com o suspense neo-noir “Pesadelo na Rua Carroll” (1987), novamente sobre a lista negra, e a comédia besteirol “Uma Alucinante Viagem” (1988), com Dan Aykroyd e Walter Matthau. Mas ele não se aposentou. Passou a dar aulas de roteiro em três universidades distintas e continuou trabalhando para a TV até ultrapassar os 90 anos de idade. O roteirista voltou a dirigir (o telefilme “Homens e Mulheres 2 – Um Jogo de Sedução”, de 1991), foi indicado ao Emmy (pelo roteiro de “Miss Evers’ Boys”, de 1997) e até criou uma série (“Hidden”, em 2011 no Reino Unido). Sua despedida das telas, porém, foi diante das câmeras. Ele atuou pela segunda vez na vida em “Indignação” (2016), de James Schamus, com 97 anos.
O Espião que Veio do Frio vai virar minissérie
Depois do sucesso de “The Night Manager”, que venceu três Globos de Ouro, os canais AMC e BBC vão retomar a parceria para adaptar mais uma obra do autor John le Carré numa minissérie de qualidade. Desta vez, trata-se do clássico “O Espião que Veio do Frio” (The Spy Who Came in from the Cold), que já rendeu um famoso filme de espionagem no auge da Guerra Fria. O filme dirigido por Martin Ritt em 1965 tinha um elenco formado por Richard Burton, Oskar Werner e Claire Bloom. Werner venceu o Globo de Ouro de Melhor Coajuvante e Burton foi indicado ao Oscar de Melhor Ator. Passado em 1962, o enredo gira em torno da batalha entre um espião britânico e um agente da contrainteligência da Alemanha Oriental. Fingindo ser um traidor em busca de asilo político, o britânico continua à serviço do serviço secreto de seu país, mas aos poucos vai perdendo a noção da realidade, precisando reencontrar sua humanidade. “É um conto profundo sobre intriga em um dos momentos mais incertos da história”, definiu Joel Stillerman, presidente de programação da AMC, em comunicado. A adaptação será realizada por Simon Beaufoy, roteirista dos filmes “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008), “Jogos Vorazes: Em Chamas” (2013) e “Evereste” (2015). O elenco ainda não foi definido, mas há rumores de que Aidan Gillen (série “Game of Thrones”) estaria cotado para o papel vivido por Burton há 52 anos. Também não há previsão ainda para a estréia da minissérie.
Clássico de espionagem, O Espião que Veio do Frio vai virar minissérie
A clássica história de espionagem “O Espião que Veio do Frio”, livro de 1963 de John Le Carré (“O Espião que Sabia Demais”), será adaptado para a TV pelo roteirista Simon Beaufoy, vencedor do Oscar por “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008). A trama acompanha um espião inglês que recebe a missão de buscar asilo em Berlim Oriental, supostamente traindo seu país para semear desinformação entre os soviéticos, mas pouco a pouco começa a mergulhar na paranoia, sentindo-se abandonado. O livro virou um filme formidável em 1965, no auge da Guerra Fria, com direção de Martin Ritt e Richard Burton no papel principal. Carré está em alta entre os produtores televisivos, depois que a minissérie “The Night Manager”, que adapta seu livro “O Gerente da Noite”, recebeu 12 indicações ao Emmy 2016. A produtora por trás da adaptação de “O Espião que Veio do Frio” é a mesma de “The Night Manager”, The Ink Factory, mas desta vez sua parceira de produção não é a rede britânica BBC, mas o estúdio Paramount TV.




