Academia Europeia de Cinema vai homenagear Margarethe von Trotta com prêmio de carreira
A atriz, roteirista e cineasta alemã Margarethe von Trotta (“Hannah Arendt – Ideias Que Chocaram o Mundo”) será homenageada na 35ª edição do European Film Awards, premiação da Academia Europeia de Cinema. Von Trotta vai receber o Prêmio pelas Realizações da Carreira por sua “contribuição única para o mundo do cinema” durante o evento anual da Academia, marcado para o dia 10 de dezembro em Reykjavik, capital da Islândia. Nascida em 21 de fevereiro de 1941, em Berlim, von Trotta começou sua carreira atuando no teatro e trabalhando na TV. Em 1970, ela começou a atuar para Rainer Werner Fassbinder, um dos maiores cineastas alemães de todos os tempos, em filmes como “Deuses da Peste” e “O Soldado Americano”. Sem abandonar a atuação, Margarethe von Trotta começou a se aventurar por outras áreas, trabalhando primeiro como roteirista no filme “Fogo de Palha” (1972), que ela também estrelou para Volker Schlöndorff, e posteriormente como co-diretora em “A Honra Perdida de Katharina Blum”, ao lado de Schlöndorff – com quem foi casada de 1971 a 1991. Sua estreia como cineasta-solo foi no filme “O Segundo Despertar de Christa Klages” (1978), sobre três pessoas que assaltam um banco para ajudar uma creche que está endividada. Desde então, ela se tornou uma das principais diretoras do cinema autoral europeu. Seus créditos incluem “Marianne & Juliane” (1981), vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, e “Rosa Luxemburgo” (1986), que rendeu a Barbara Sukowa o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. Outros trabalhos de destaque foram os dramas “Três Irmãs” (1988), “As Mulheres da Rosenstrasse” (2003) e “Hannah Arendt – Ideias Que Chocaram o Mundo” (2012), biografia da famosa acadêmica judeu-alemã. Seus trabalhos mais recentes foram um documentário sobre o cineasta Ingmar Bergman e o longa de ficção “Bachmann & Frisch”, que narra a relação entre os escritores Ingeborg Bachmann e Max Frisch. A homenagem da Academia Europeia não será a primeira a reconhecer os méritos da carreira de Margarethe von Trotta. Ela já foi agraciada com o Prêmio Dragão Honorário no Festival de Cinema de Göteborg, em 2013, e com o prêmio de honra do Festival Internacional de Cinema de Valladolid, em 2018, entre muitos outros.
Dieter Laser (1942 – 2020)
O ator alemão Dieter Laser, que ficou conhecido como o sinistro Dr. Heiter em “A Centopeia Humana”, teve sua morte confirmada nesta quinta-feira (9/4). De acordo com informação divulgada em seu perfil no Twitter, ele faleceu em 29 de fevereiro, aos 78 anos. A causa não foi revelada. Na franquia trash do holandês Tom Six, Dr. Heiter era o médico psicótico obcecado em costurar pessoas vivas, unindo cirurgicamente ânus e bocas de vítimas diferentes para criar a Centopeia Humana do título. Dieter encarnou o personagem no primeiro filme, de 2009, e voltou em novo papel no final da trilogia, lançado em 2015, que também foi o penúltimo título de sua filmografia. Apesar dessa fama tardia, Laser teve uma longa trajetória no cinema e na TV da Alemanha, onde começou a trabalhar ainda nos anos 1960. Após papéis em várias séries, sua transição para o cinema se deu em “John Glückstadt” (1975), de Ulf Miehe. E este primeiro trabalho cinematográfico lhe rendeu o prêmio de Melhor Ator do ano no Lola Awards (o Oscar alemão). A premiação o tornou requisitado para produções do (então chamado) Novo Cinema Alemão. Estrelou, entre outros, “A Honra Perdida de Katharina Blum” (1975), de Volker Schlöndorff e Margarethe von Trotta, e “Cela de Vidro” (1978), de Hans W. Geissendörfer, ambos consagrados no Deutscher Filmpreis, a cerimônia dos troféus Lola. Ele repetiu a parceria com Schlöndorff em “O Guardião da Floresta” (1996) e também atuou em “Encontro com Vênus” (1991), do húngaro István Szabó, premiados no Festival de Veneza, mas só ficou mais conhecido fora da Alemanha ao estrelar a série sci-fi “Lexx” (1996-2002), uma coprodução canadense, alemã e britânica, que gerou grande culto internacional – seus capítulos foram exibidos como filmes na HBO. Na série, ele viveu o vilão Mantrid, que era obcecado por auto-cirurgia, numa performance que antecipou o tipo de trabalho que faria no final da carreira. Dieter Laser nunca chamou atenção de Hollywood. Até mesmo o primeiro “A Centopeia Humana” foi uma realização holandesa. Mesmo assim, tornou-se um ator bem conhecido dos fãs de terror em todo mundo. Não apenas como o Dr. Heiter, mas também como o Barão do terror “November” (2017), do estoniano Rainer Sarnet, que venceu vários prêmios no circuito dos festivais – do festival americano de Tribeca ao português Fantasporto. De fato, enquanto “A Centopeia Humana” é repudiada pela crítica, como uma das franquias mais nojentas de todos os tempos, “November” é exaltado por sua qualidade artística, com 96% de aprovação no Rotten Tomatoes. Foi o último trabalho do ator.
O Mundo Fora do Lugar faz do jogo de aparências um mistério repleto de surpresas
“O Mundo Fora do Lugar” é o mais recente trabalho de Margarethe von Trotta. A diretora e roteirista alemã já nos deu filmes importantes sobre grandes mulheres da história, como “Rosa de Luxemburgo” (1985) e “Hannah Arendt” (2012). Foi casada e trabalhou como codiretora com Volker Schlöndorff, importante cineasta do novo cinema alemão. Trabalhou como atriz em muitos filmes, inclusive de Rainer Werner Fassbinder, a grande figura de renovação do cinema alemão nos anos 1970. Tem em Barbara Sukowa sua atriz favorita e foi ela quem encarnou tanto Rosa de Luxemburgo quanto Hannah Arendt. Em “O Mundo Fora do Lugar”, Barbara Sukowa é novamente protagonista, mas não encarna uma figura histórica. Aqui ela faz uma diva de ópera, Caterina Fabiana, que vive em Nova York. Sua descoberta na internet por Paul Kromberger (Mathias Habich, de “O Leitor”) causa comoção, por ser muito parecida com sua falecida esposa, Evelyn, o que acaba levando Sophie (Katja Riemann, de “Sangue e Chocolate”), filha de Paul, a uma viagem a partir da Alemanha, em busca de conhecer essa mulher. É bom parar a informação sobre a trama do filme por aqui, para não prejudicar ou antecipar coisas a quem for assistir, porque “O Mundo Fora do Lugar” segue uma narrativa linear, mas carregada de mistérios desde o primeiro momento. É preciso se concentrar para não deixar passar informações sobre os personagens, quem são e que relação têm entre si. E o que viveram no passado. A história vai se formando, pouco a pouco. O mistério vai sendo compreendido. Mas, ainda assim, são muitas as surpresas que aparecem, em cada etapa da narrativa. As coisas são bem mais complicadas do que podem parecer. É preciso permanecer atento. O que se vê é a construção de uma trama muito bem engendrada, que o filme vai revelando. Quem gosta de deslindar uma boa história vai certamente apreciar. Destaca-se, além de Barbara Sukowa, sempre muito boa, Katja Riemann que, com muita competência, estrela o filme, estando em cena quase todo o tempo. O restante do elenco também está muito bem, mesmo sem ter a importância dos dois papéis femininos principais. A cena da briga física entre dois irmãos já anciões, muito bem construída e divertida, é uma prova disso. O roteiro realmente coloca aquele mundo todo fora do lugar, mas a produção alemã tem tudo sob seu controle, funcionando muito bem. Como seria de se esperar, por sinal, de um filme de Margarethe von Trotta.


