Lina Wertmüller (1928-2021)
A cineasta italiana Lina Wertmüller, primeira mulher indicada ao Oscar de Melhor Direção, morreu na manhã desta quinta-feira (9/12) em Roma, aos 93 anos. “A Itália lamenta a partida de Lina Wertmüller, uma diretora que com sua classe e estilo incomparáveis deixou uma marca permanente em nossa cinematografia e em todo o mundo”, manifestou-se o ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini. Agitadora desde a juventude, ela conseguiu a façanha de ser expulsa de 15 escolas católicas diferentes, antes de encontrar um meio de expressão nas artes, decidindo ainda jovem trabalhar no cinema e no teatro. Ela deu seus primeiros passos para virar cineasta com 25 anos de idade, ao conseguir o cargo de assistente de direção no musical “…e Napoli Canta!” (1953). Destacando-se na função, ela chegou a trabalhar como assistente do mestre Federico Fellini no clássico “8 1/2” (1963). No mesmo ano, escreveu e dirigiu seu primeiro longa, o drama “The Basilisks”, concebido na tradição do neorrealismo italiano. Fez depois mais duas comédias, incluindo “Não Brinque com o Mosquito” com a cantora Rita Pavone, que inaugurou sua longa e bem-sucedida parceria com o ator Giancarlo Giannini, e até um western spaghetti (“A Pistoleira de Virginia”) antes de se tornar reconhecida por suas obras iconoclastas na década de 1970. O filme da virada foi “Mimi, o Metalúrgico” (1972), que rendeu o David di Donatello (o Oscar italiano) a Giancarlo Giannini pelo papel-título, um operário comunista em fuga da máfia e em meio a um caso extraconjugal. A partir daí, Wertmüller se especializou em obras satíricas, que combinavam política, humor e sexo. Seu filme seguinte, “Amor e Anarquia” (1973), acompanhava uma conspiração de bordel contra o fascismo e rendeu outro prêmio para Giannini, desta vez no Festival de Cannes. Em 1974, ela lançou um de seus trabalhos mais populares: “Por um Destino Insólito”, em que uma socialite naufraga numa ilha com um marinheiro comunista (obviamente Giannini) e, em pouco tempo, a luta de classe se transforma em guerra de sexos. A comédia fez tanto sucesso que inspirou um remake dirigido por Guy Richie e estrelado por sua então esposa Madonna em 2002. Sua obra-prima, porém, foi “Pasqualino Sete Belezas”. O filme de 1975 acompanhava um homem comum (sim, Giannini) que opta sempre pelo caminho mais fácil, tomando decisões que o levam a situações cada vez piores em plena 2ª Guerra Mundial, até se ver submetido às vontades de uma mulher obesa no comando de um campo de concentração nazista. O filme sobre desgraças em série lhe rendeu consagração mundial e foi indicado a nada menos que quatro Oscars: Melhor Filme Estrangeiro, Ator (Giancarlo Giannini), Roteiro Original e Direção para Wertmüller. Foi a primeira vez que uma mulher disputou o Oscar de Direção, feito que só voltou a acontecer duas décadas mais tarde, quando a neozelandesa Jane Campion foi indicada por “O Piano” em 1993. Após a indicação, Wertmüller assinou um contrato com a Warner Bros para fazer quatro filmes em inglês, resultando em sua estreia na língua de Hollywood, “Dois Perdidos numa Noite de Chuva” – que apesar da mudança de idioma, continuou a trazer Giannini como ator principal, agora ao lado de Candice Bergen. Só que o filme foi um fracasso tão grande que fez a Warner romper o contrato. Ela se vingou de Hollywood juntando dois dos atores mais famosos da Itália em seu lançamento seguinte, “Amor e Ciúme” (1978), estrelado por Sophia Loren e Marcello Mastroianni. Giannini continuou a bordo como coadjuvante, mas o “rebaixamento” resultou no fim da longa parceria. Um detalhe curioso é que o título original de “Amor e Ciúme” entrou no Guinness como o mais longo da História do Cinema – em italiano, o filme foi chamado de “Un fatto di sangue nel comune di Siculiana fra due uomini per causa di una vedova. Si sospettano moventi politici. Amore-Morte-Shimmy. Lugano belle. Tarantelle. Tarallucci e vino”. Os lançamentos continuaram com “Camorra” (1985), premiado no Festival de Berlim, e “Em Noite de Lua Cheia” (1989), exibido no Festival de Veneza, que ainda mobilizaram a crítica nos anos 1980, mas “Sábado, Domingo e Segunda” (1990), com Sophia Loren, “Ninfeta Italiana” (1996), com Stefania Sandrelli, e “Ferdinando e Carolina” (1999) já não causaram o mesmo impacto. Seu último longa de ficção foi “A Casa dos Gerânios” em 2004, embora tenha continuado a realizar telefilmes e documentários, antes de se voltar exclusivamente ao teatro na última década, onde desenvolveu trabalhos até sua morte. Em 2019, ela recebeu um Oscar honorário por suas realizações, bem como uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.
Academia celebra inclusão e diversidade na entrega dos Oscars honorários de 2019
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos entregou os Oscars honorários deste ano, numa cerimônia realizada no domingo (27/10) em Los Angeles. Chamado de Governors Awards (‘governors’ são os diretores da organização, não governadores de estados), o evento celebrou as carreiras dos cineastas David Lynch e Lina Wertmüller e do ator Wes Studi, além de homenagear a atriz Geena Davis com o Prêmio Humanitário Jean Hersholt. Os temas da diversidade e inclusão, tanto sexual quanto racial, marcaram os discursos. Davis, uma das protagonistas de “Thelma e Louise” (1991), afirmou que o “road movie” clássico e feminista a incentivou a lutar pelo equilíbrio de gênero no cinema. “‘Me fez perceber de uma maneira muito poderosa as poucas oportunidades que damos às mulheres de sair de um filme sentindo-se empolgadas e empoderadas por personagens femininas”, disse a atriz sobre o filme de 1991. Desde então, ela tem se engajado na luta por mais espaço às mulheres no cinema e, em 2004, fundou um instituto que compila dados sobre preconceitos de gênero. Ao receber o prêmio da Academia por este trabalho, ela pediu aos cineastas que revisem os projetos atuais e “risquem muitos nomes de personagens do elenco e os transformem em mulheres”. Responsável por entregar o troféu, a diretora e atriz Olivia Wilde afirmou que Geena Davis “estava 20 anos à frente do movimento #TimesUp”. Aos 91 anos, a cineasta italiana Lina Wertmuller foi celebrada em Hollywood após mais de quatro décadas de sua façanha histórica, como a primeira mulher indicada ao Oscar de Direção (por “Pasqualino Sete Belezas”). A questão racial, por sua vez, veio à tona com o reconhecimento da carreira de Wes Studi. O astro de “Dança com Lobos” (1990) e “O Último dos Moicanos” (1992) se tornou o primeiro ator nativo americano a receber um Oscar. “Eu gostaria apenas de dizer: já estava na hora”, declarou Studi, muito aplaudido. “Tem sido uma viagem selvagem e maravilhosa”, completou. O prêmio de Studi aconteceu quase meio século depois de Marlon Brando rejeitar o Oscar de Melhor Ator por “O Poderoso Chefão” em protesto pelo tratamento dado aos nativos americanos pela indústria do cinema. Em 1973, ele enviou uma atriz indígena para discursar em seu nome. “Poucas oportunidades no cinema, nos dois lados da câmera, foram concedidas a artistas nativos ou indígenas. Estamos em uma sala cheia de pessoas que podem mudar isso”, disse Christian Bale, que entregou o prêmio, após ter protagonizado com Studi o filme “Hostis”, de 2017. A lista de homenageados se completou com o cineasta David Lynch, indicado três vezes ao prêmio de Melhor Diretor, mas que nunca venceu a estatueta. Considerado um dos principais cineastas americanos de sua geração, Lynch é o diretor de filmes cultuadíssimos como “O Homem Elefante” (1980), “Veludo Azul” (1986), “Coração Selvagem” (1990) e “Cidade dos Sonhos” (1999), além de criador da série “Twin Peaks”. Ele foi apresentado por Laura Dern e Kyle MacLachlan, que atuaram em vários de seus filmes, e descreveram Lynch como um “homem renascentista moderno”. Os Oscars honorários são entregues todos os anos para homenagear as carreiras de grandes figuras do cinema. A cerimônia passou a acontecer em um evento separado da premiação da Academia em 2009 para render homenagens mais longas que as permitidas pelo tempo apertado da exibição televisiva. Os homenageados também são apresentados durante a transmissão do Oscar, cuja próxima edição vai acontecer em 9 de fevereiro.
Academia vai homenagear carreiras de David Lynch, Lina Wertmüller, Wes Studi e Geena Davis
Os cineastas David Lynch e Lina Wertmüller e o ator Wes Studi serão homenageados com Oscars honorários pelas realizações de suas carreiras. Além deles, a atriz Geena Davis receberá o Prêmio Humanitário Jean Hersholt, anunciou nesta segunda-feira (3/6) a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. “O Prêmio dos Governadores, que a Academia concede anualmente, reconhece indivíduos que se entregam a uma vida de realizações artísticas e ainda forneceram espetaculares contribuições à nossa indústria e além”, disse o presidente da Academia, John Bailey, no comunicado que anunciou os homenageados do ano. Considerado um dos diretores mais criativos do cinema americano, David Lynch deu à luz uma filmografia marcada pelo surrealismo e onirismo, em filmes como “O Homem Elefante” (1980), “Veludo Azul” (1986), “Coração Selvagem” (1990), “Estrada Perdida” (1997), “Cidade dos Sonhos” (2001) e a série “Twin Peaks”. Indicado quatro vezes ao Oscar, Lynch nunca venceu o troféu. A italiana Lina Wertmüller foi a primeira mulher indicada ao Oscar de Melhor Direção com o longa “Pasqualino Sete Belezas” (1975). Sua carreira inclui ainda títulos como “Mimi, o Metalúrgico” (1972), “Amor e Anarquia” (1973) e “Por um Destino Insólito” (1974), que ganhou remake americano (“Destino Insólito”) estrelado por Madonna em 2002. Já o americano Wes Studi é um dos mais conhecidos atores nativo-americanos, graças a uma longa carreira marcada por westerns revisionistas, como “Dança com Lobos” (1990), “O Último dos Moicanos” (1992) e o recente “Hostis” (2017), mas também produções de outros gêneros, como a sci-fi “Avatar” (2009). Por fim, a atriz Geena Davis, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “O Turista Acidental” (1988) e indicada na categoria de Melhor Atriz por “Thelma & Louise” (1991), será reconhecida por seus trabalhos fora das telas, em favor da igualdade entre homens e mulheres por meio do Geena Davis Institute on Gender in Media e sua parceria com a Organização das Nações Unidas. O Prêmio Humanitário Jean Hersholt não era entregue desde 2015, quando a Academia reconheceu a atriz Debbie Reynolds (do clássico “Cantando na Chuva”). Os Oscars honorários, também chamado de Prêmio dos Governadores, são entregues em um evento mais discreto, sem transmissão ao vivo e com menos convidados do que a cerimônia do Oscar, mas os homenageados também são posteriormente reverenciados no evento tradicional da Academia. A 11ª edição do Prêmio dos Governadores acontecerá em 27 de outubro, enquanto o 92º Oscar está marcado para 23 de fevereiro, ambos em Los Angeles.

