Brigitte Bardot, ícone do cinema francês, é internada em estado grave no sul da França
Atriz de 91 anos passou por cirurgia e segue sob observação médica em Toulon, segundo jornal local
Netflix adquire “Nouvelle Vague”, filme de Richard Linklater sobre bastidores de “Acossado”
Longa que celebra Godard teve estreia ovacionada em Cannes e será exibido no streaming após curta temporada nos cinemas
Marianne Faithfull, lenda do rock, morre aos 78 anos
Cantora britânica ficou conhecida por sucessos como "As Tears Go By" e "Broken English" e teve uma trajetória marcada por reinvenções na música e no cinema
Último filme de Jean-Luc Godard será exibido no Festival de Cannes
"Scénarios", obra póstuma do cineasta franco-suíço, será apresentada na edição deste ano do festival europeu
Festival Varilux traz o melhor do cinema francês atual e homenagem a Brigitte Bardot
O Festival Varilux de Cinema Francês começa nesta quinta (9/11) sua 14ª edição, que vai até 22 de novembro, trazendo o melhor do cinema contemporâneo francês e uma homenagem ao ícone Brigitte Bardot. São ao todo 19 produções com exibições em 52 cidades, incluindo o filme vencedor do Festival de Cannes deste ano. Normalmente realizado em junho, o festival teve sua agenda modificada justamente para incluir obras do Festival de Cannes. Além disso, a mudança afastou sua programação da concorrida temporada de blockbusters americanos nos cinemas. Filmes imperdíveis Entre os destaques, “Anatomia de uma Queda”, dirigido por Justine Triet, chega ao Brasil com a credencial de vencedor da Palma de Ouro em Cannes. O filme narra a investigação do falecimento misterioso de um homem nos Alpes, trazendo um enredo que envolve um cão, uma criança e uma mulher como testemunhas, sendo esta última a principal suspeita. Outra obra significativa é “Making Of”, de Cédric Kahn, que oferece um olhar metalinguístico sobre o processo cinematográfico. A narrativa acompanha a tensão e os desafios enfrentados por uma equipe de filmagem, destacando-se pelas atuações marcantes do elenco e pela abordagem realista dos bastidores da indústria do cinema. “Culpa e Desejo”, dirigido por Catherine Breillat, apresenta uma trama que explora as complexidades de uma relação proibida. Estrelado por Léa Drucker, o filme se destaca por abordar questões delicadas como violência sexual e os limites éticos das relações pessoais. Com uma proposta que foge do convencional, “O Desafio de Marguerite”, de Anna Novion, se concentra na relação entre dois jovens matemáticos, tocando em temas de ambição e insegurança, e oferecendo uma perspectiva contemporânea e inovadora ao romance. “As Bestas”, dirigido por Rodrigo Sorogoyen, é outro filme que merece atenção por sua abordagem crítica e sua presença marcante em Cannes e no Goya. A obra explora conflitos sociais e ambientais em uma aldeia galega, desdobrando-se em uma narrativa de suspense e tensão. Homenagem a Brigitte Bardot A programação também destaca a série biográfica “Bardot”, juntamente com as exibições dos dois clássicos estrelados por Brigitte Bardot – “E Deus Criou a Mulher” (1956), de Roger Vadim, que a catapultou ao estrelato, e “O Desprezo” (1963), de Jean-Luc Godard, que explora a nudez e o sex appeal da estrela em sua única passagem pela nouvelle vague. Para acompanhar a première da série, o festival trouxe a intérprete de Bardot, a atriz Julia de Nunez, ao Brasil. Além de ter sessões em cinemas, “Bardot” também será disponibilizada gratuitamente no site oficial do festival após o término do evento – ou seja, a partir de 22 de novembro – , permitindo ao público amplo acesso à produção pelo período de um mês. Para assistir, basta acessar o site Festival Varilux em Casa (https://www.looke.com.br/movies/festival-varilux-em-casa) no período indicado. Estrelas internacionais Outros artistas que prestigiam o evento incluem o ator e diretor Nicolas Giraud de “O Astronauta”, a diretora Anna Novion de “O Desafio de Marguerite, a diretora Baya Kasmi de “O Livro da Discórdia”, o diretor Bruno Chiche de “Maestro(s)”, o diretor Cédric Kahn e o ator Stefan Crépon de “Making Of” e o diretor Rémi Bezançon de “O Renascimento”. Mais informações sobre o festival, como horários e salas de exibição, podem ser conferidos no site oficial: https://variluxcinefrances.com/2023/
Morre Jacques Rozier, último cineasta da Nouvelle Vague
O cineasta Jacques Rozier, o último membro sobrevivente do movimento Nouvelle Vague, a “nova onda” do cinema francês dos anos 1960, faleceu na última sexta-feira (2/6) na França, sua cidade Natal, aos 96 anos. O cineasta já estava hospitalizado há um curto período e a notícia de sua morte foi confirmada por um conhecido próximo. Ele ganhou notoriedade pelos longas franceses “Maine Ocean” (1986), “Fifi Martingale” (2001) e “Adeus Philippine” (1962). Embora nunca tenha alcançado o mesmo sucesso de contemporâneos como Jean-Luc Godard (“Masculino-Feminino”), François Truffaut (“Contatos Imediatos do Terceiro Grau”), Agnès Varda (“Os Renegados”), Jacques Demy (“Pele de Asno”), Claude Chabrol (“Mulheres Diabólicas”) ou Eric Rohmer (“Conto de Verão”), seu trabalho teve um lugar importante no movimento francês, abrindo caminho para os cineastas contemporâneos. Após estudar na escola de cinema francesa IDHEC (Instituto de Altos Estudos Cinematográficos), Rozier iniciou sua carreira como assistente de TV, ao mesmo tempo em que produziu seus próprios curtas-metragens, incluindo “Rentrée des Classes” (1956) e “Blue Jeans” (1958). Com este último trabalho, ele participou do Festival de Curtas-Metragens da cidade de Tours, onde foi destacado pela crítica, ao lado de curtas de Varda e Demy. Filmes que marcaram época Seu primeiro longa-metragem, “Adeus Philippine” (1962), estreou na primeira edição da Semana Internacional da Crítica, no Festival de Cannes. Ambientado no verão de 1960, o filme gira em torno de um jovem assistente de TV prestes a partir para o serviço militar obrigatório na Argélia. Determinado a aproveitar seus últimos dias de liberdade, ele abandona o emprego e parte para a Córsega com duas amigas que conheceu recentemente em Paris. Com um elenco jovem e amador, capturado nas ruas de Paris e caracterizado por uma estética neorrealista italiana, o filme retratou de forma autêntica o espírito da juventude francesa da época. Esse aspecto conceitual foi algo que se estendeu no segundo filme de Rozier, intitulado “Du Côté d’Orouët” (1971), lançado quase dez anos depois. A trama acompanha três jovens em férias na Bretanha. Ao longo de sua carreira, Rozier dirigiu apenas cinco longas-metragens, mas também se manteve ocupado com curtas, videoclipes e séries de TV. Um de seus curtas notáveis é “Paparazzi” (1964), explorando a relação da atriz e ativista francesa Brigitte Bardot com os fotógrafos que tentavam captar imagens da mesma durante sua estadia na ilha italiana de Capri, nas filmagens do clássico “O Desprezo”. Inclusive, este foi um dos primeiros trabalhos a abordar o surgimento da cultura das celebridades e a perda de privacidade que acompanha o estrelato internacional. Entre seus outros trabalhos estão “The Castaways of Turtle Island” (1976), ambientado no trem que percorre o trajeto entre Paris e a cidade portuária de Saint-Nazaire. Anos mais tarde, o longa ganhou o Prêmio Jean Vigo de 1986. Seu último filme, “Fifi Martingale” (2001), foi estrelado por Jean Lefebvre (“Diabolique”) no papel de um diretor de teatro e escritor de sucesso que reescreve sua nova obra para escapar das garras de uma conspiração com consequências inesperadas. O fim da Nouvelle Vague A morte de Rozier marca o fim de uma era para o cinema francês, como previsto por seu amigo e defensor de longa data, Godard, que faleceu em setembro do ano passado. Citado pela mídia francesa, Godard escreveu em 2019: “Quando Agnès Varda faleceu, pensei: a verdadeira Nouvelle Vague, só restam dois de nós, eu… e Jacques Rozier, que começou um pouco antes de mim”. A Nouvelle Vague foi um momento importante para a estética do cinema francês, que teve início no final da década de 1950 na França. Mostrando uma nova maneira de pensar o audiovisual, o movimento questionava muitos elementos do cinema tradicional, tentando inovar no formato – filmando em ângulos não convencionais e com a câmera na mão – e no conteúdo das produções. Com o passar dos anos, essa atitude influenciou artistas do mundo todo.
Jean-Luc Godard será homenageado em Cannes com trailer de filme inédito
O Festival de Cannes prestará homenagem ao diretor francês Jean-Luc Godard, que faleceu aos 91 anos em setembro de 2022, com a exibição de três filmes do artista – incluindo na lista o trailer de um projeto inédito. Intitulado “Drôles de Guerres”, a produção de 20 minutos seria a prévia de um filme que Godard morreu sem realizar. Pela duração, virou um curta-metragem. “Jean-Luc Godard frequentemente transformava suas sinopses em filmes estéticos. ‘Drôles de Guerres’ segue essa tradição e permanecerá como sua ação final no cinema”, disse o festival. O festival de cinema de Cannes divulgou o texto que acompanha o curta-metragem, que indica qual era a intenção do diretor com o projeto. “Não confiar mais nos bilhões de ditados do alfabeto para devolver a liberdade às metamorfoses incessantes e às metáforas de uma verdadeira linguagem, voltando aos lugares de filmagens passadas e levando em consideração as histórias presentes”, diz o texto. O filme será exibido na presença do colaborador de longa data de Godard, o cineasta Fabrice Aragno, que trabalhou com o diretor em “Nossa Música” (2004), “Film Socialisme” (2010), “Os Três Desastres” (2013) e “Adeus à Linguagem” (2014). Godard recorreu ao suicídio assistido na Suíça, onde vivia desde os anos 1970, no dia 13 de setembro. Fontes próximas ao diretor falaram que “ele não estava doente, estava simplesmente exausto” e, por conta disso, decidiu dar fim à sua vida. O diretor deixou um legado imensurável para a história do cinema, tendo dirigido filmes importantíssimos que ajudaram a revolucionar o cinema francês, como “Acossado” (1960), “Viver a Vida” (1962) e “O Demônio das Onze Horas” (1965). A homenagem de Cannes também contará com a exibição de uma restauração em 4K de uma de suas obras mais icônicas, “O Desprezo”, em comemoração aos 60 anos do clássico estrelado por Brigitte Bardot em 1963, além do documentário “Godard par Godard”. As homenagens farão parte da seção de Cannes Clássicos, dedicada à preservação e apresentação de filmes clássicos, restaurados ou redescobertos, com o objetivo de destacar a importância da preservação da história do cinema. A categoria sempre exibe uma seleção de filmes notáveis, muitas vezes com cópias restauradas, além de documentários sobre o cinema e homenagens a diretores e personalidades importantes da indústria cinematográfica.
Sobrinho revela “último filme” de Jean-Luc Godard
O cineasta Paul Grivas (“Film Catastrophe”), sobrinho de Jean-Luc Godard (“Acossado”), divulgou na sua conta do Vímeo um vídeo que pode ter sido o último registro feito pelo ícone da nouvelle vague francesa. No vídeo, Godard aparece olhando para a câmera e fumando um charuto. O registro é intitulado “Oh! Revoir”, que pode ser traduzido como “ver de novo”, mas que também serve como um trocadilho fonético para “Au revoir” (adeus). Godard recorreu ao suicídio assistido na Suíça, onde vivia desde os anos 1970, no dia 13 de setembro. Fontes próximas ao diretor falaram que “ele não estava doente, estava simplesmente exausto” e, por conta disso, decidiu dar fim à sua vida. O diretor deixou um legado imensurável para a história do cinema, tendo dirigido verdadeiros clássicos que ajudaram a revolucionar o cinema francês, como “Acossado” (1960), “Viver a Vida” (1962) e “O Demônio das Onze Horas” (1965).
Godard recorreu a suicídio assistido na Suíça
O cineasta Jean-Luc Godard recorreu ao suicídio assistido na Suíça, onde nasceu e vivia desde os anos 1970, para dar fim à sua vida nesta terça (13/9). Mas “ele não estava doente, estava simplesmente exausto”. A informação foi revelada pelo jornal francês Libération, que citou fontes próximas ao diretor. Godard faleceu em sua casa em Rolle, às margens do lago Léman, na região de língua francesa da Suíça. “Essa foi a sua decisão, e era importante para ele que ela fosse conhecida”, afirmou a fonte do Libération. A Suíça é um dos poucos países que permite a prática do suicídio assistido. Ela consiste em causar morte por vontade própria, geralmente por meio da ingestão de medicamentos letais, com acompanhamento médico. Autor de dezenas de filmes ao longo de quase sete décadas de carreira, Godard era um diretores mais influentes do cinema francês e mundial. E mesmo avesso a entrevistas, chegou a revelar publicamente qual era a sua opção para encerrar a vida. “Não estou ansioso de prosseguir a qualquer preço. Se estiver doente demais, não tenho vontade alguma de ficar sendo arrastado em um carrinho de mão”, disse ele em uma entrevista em 2014. Recentemente, o ator Alain Delon, contemporâneo de Godard e que trabalhou com o cineasta no filme “Nouvelle Vague”, de 1990, afirmou que também pretendia usar o recurso do suicídio assistido. Alain sofreu um duplo AVC em 2019 e vem se recuperando aos poucos desde então. Embora seu estado de saúde seja considerado bom, recentemente, ele pediu para seu filho, Anthony, 57 anos, organizar todo o processo e acompanhá-lo em seus últimos momentos. O suicídio assistido é permitido na Suíça desde 1942 com uma grande exceção: que os motivos não sejam egoístas. No Brasil e na maioria dos demais países, o ato é considerado crime. Mas a repercussão da morte de Godard pode mudar isso na França. O presidente francês Emmanuel Macron anunciou nesta terça-feira, que fará uma consulta popular sobre o “fim da vida”, considerando uma possível legalização do suicídio assistido no país. Macron, que se declara “pessoalmente” favorável à medida, quer iniciar a discussão para ter uma lei pronta no fim de 2023. Mas ele reconheceu nesta terça que “este é tudo menos um assunto fácil e simples”.
Bairro paulista de Alphaville foi inspirado por filme de Godard
Jean-Luc Godard, que morreu nesta terça-feira (13/9), aos 91 anos, influenciou inúmeros diretores com suas obras revolucionárias, mas também empreendedores do mercado imobiliário de luxo no Brasil. O bairro nobre de Alphaville – quase uma cidade – em Santana do Paranaíba, no estado de São Paulo, foi batizado com o nome de um famoso filme do cineasta francês. Moradia de famosos como Luan Santana, Wanessa Camargo, Fábio Júnior, Rodrigo Faro, Deolane Bezerra, Celso Portiolli e muitos outros, Alphaville foi concebido em 1973 pelos engenheiros Renato Albuquerque e Yojiro Takaoka com inspiração no filme “Alphaville”, dirigido por Jean-Luc Godard em 1965. A sugestão do nome foi de José Almeida Pinto, sócio de um dos arquitetos que trabalharam no projeto urbanístico do local. Ironicamente, o filme de Godard é uma distopia sobre uma cidade futurista, chamada de Alphaville, que usa sua arquitetura modernista – ênfase em escadarias de concreto e prédios quadrados – e organização informatizada (pelo computador Alpha 60) para que seus habitantes não tenham sentimentos. Mas um detetive (vivido por Eddie Constantine) tenta forçar o cientista criador do computador a destruir a máquina, buscando ajuda da filha dele (Anna Karina). É fácil entender a inspiração. Embora a arquitetura não seja o que mais chama atenção no longa-metragem, o título também aludia a uma “cidade do futuro” – uma denominação que estava na moda por conta da ainda recente fundação de Brasília. Mesmo assim, também é possível interpretar a Alphaville paulista como um lugar de pessoas sem sentimentos, em que os habitantes viveriam alheios ao resto do mundo, fechados em condomínios luxuosos, sem a necessidade de se socializar ou se importar com os de fora. Em 2022, 50 anos depois de sua criação, Alphaville foi considerado o maior reduto de condomínios do Brasil, com uma região dividida entre 13 residenciais e subdistrito empresarial. E com um detalhe: o preço médio de uma casa na região é de R$ 5 milhões. Veja abaixo o trailer de “Alphaville”.
Filme de Godard foi última vítima da censura nos cinemas do Brasil
O Brasil já tinha encerrado a ditadura militar quando “Eu Vos Saúdo, Maria” se tornou o último filme censurado nos cinemas do país. Premiado no Festival de Berlim, o longa-metragem de Jean-Luc Godard, falecido nesta terça (13/9), teve sua exibição proibida pelo então presidente José Sarney. A censura foi resultado de pressão da Igreja católica, “para assegurar o direito de respeito à fé da maioria da população brasileira”. No filme, Godard contava a história de uma mulher chamada Maria, estudante que trabalhava num posto de gasolina e namorava um taxista chamado José. Mas um estranho chamado Tio Gabriel revela que ela ficará grávida, mesmo sendo virgem. Além da trama, as cenas de sexo de Maria também revoltaram católicos na época, que viram a intenção de Godard de subverter a história da Virgem Maria. Lançado em 1985 na França, o filme chegaria ao Brasil no ano seguinte. Mas Sarney proibiu seu lançamento, justificando a censura dizendo que ela tinha “base na Constituição”. Como a imposição de censura ocorreu antes da promulgação de Constituição de 1988, Sarney usou a legislação da ditadura para proibir o filme. O presidente afirmou ainda que levou em consideração as orientações do Papa João Paulo II e da CNBB, que já tinham condenado o filme por afrontar “temas fundamentais da fé cristã, deturpando e vilipendiando a figura sagrada da Virgem Maria”. Bispos e cardeais proeminentes, como dom Ivo Lorscheiter e dom Eugênio Salles, aplaudiram. Roberto Carlos fez questão de cumprimentar Sarney, dizendo que o filme não era “obra de arte ou expressão cultural”. Mas até o próprio ministro da Justiça, Fernando Lyra, e o diretor do ainda existente departamento de Censura, Coriolano de Loiola de Cabral Fagundes, foram contra a proibição. Na ocasião, a cineasta Tizuka Yamazaki disse ao jornal O Globo achar “um absurdo que a Censura, declarada extinta pelo ministro da Justiça, tenha se manifestado mais uma vez contra uma obra que não tem apelo popular” e seria, segundo ela, “assistida por meia dúzia de intelectuais”. De fato, quando finalmente foi liberado, dois anos depois, o filme atraiu cerca de 100 pessoas em sua estreia, em quatro cinemas do Rio. Veja abaixo o trailer de “Eu Vos Saúdo, Maria”.
Jean-Luc Godard, ícone da nouvelle vague, morre aos 91 anos
O cineasta Jean-Luc Godard, maior nome da nouvelle vague e lenda do cinema francês, morreu nessa terça (13/9) aos 91 anos por suicídio assistido. Dono de uma carreira longeva e repleta de experimentações, Godard dirigiu mais de 130 obras, incluindo longas-metragens, curtas, séries de TV e documentários. Seus títulos mais conhecidos são também aqueles que ajudaram a revolucionar o cinema francês, como “Acossado” (1960), “Viver a Vida” (1962) e “O Demônio das Onze Horas” (1965). Nascido em Paris em 1930, Godard era filho de pais protestantes que viviam entre a França e a Suíça. Após terminar o ensino médio, ele se matriculou na universidade Sorbonne, em Paris, mas logo abandonou as aulas para frequentar os cinemas e cineclubes – onde encontrou outros colegas cinéfilos, como François Truffaut e Jacques Rivette. Os três, junto com Claude Chabrol e Maurice Scherer (mais conhecido como Eric Rohmer) começaram a escrever críticas e, em 1952, Godard publicou os seus primeiros artigos na revista Cahiers du Cinéma, fundada no ano anterior. Godard acabou expulso da revista depois de roubar o dinheiro do caixa e fugir para a Suíça, onde com a verba dirigiu o curta-documentário “Operação Beton” (1955). O roubo, de todo modo, não foi um caso isolado. Godard era conhecido por ser cleptomaníaco. Ele voltou para Paris em 1956, depois de trabalhar na TV suíça e passar um tempo em um hospital psiquiátrico. Ele começou a trabalhar como publicitário, escrevendo materiais promocionais para o estúdio 20th Century Fox, e conseguiu até voltar a escrever para a Cahiers du Cinéma. Neste período, dirigiu três curtas: “Charlotte e Seu Namorado” (1958), “Todos os rapazes se chamam Patrick” (1959) e “Uma História d’Água” (1961), co-dirigido com Truffaut. Com esta experiência, ele decidiu dirigir seu primeiro longa-metragem, que se tornou responsável por catapultar a sua carreira e por chamar atenção para um novo estilo de filmar, que foi batizado como “nouvelle vague” – ou, a nova onda do cinema francês. “Acossado” (1960) contava a história de um ladrão de carros (Jean-Paul Belmondo, que havia trabalhado com Godard no curta “Charlotte e Seu Namorado”) que usa seu charme para seduzir Jean Seberg embora fosse procurado por ter matado um policial. O filme é uma homenagem ao cinema clássico hollywoodiano, ao mesmo tempo que traz personagens sexualmente liberados e propõe a desconstrução da narrativa convencional, colocando câmeras onde escolas de cinema diziam para nunca colocar e fazendo uma edição de cenas que os mestres considerariam errada. Só que essa era a ideia da nova onda. Godard também empregou um estilo de montagem muito mais ágil, fazendo diferentes experimentos com imagens e sons dessincronizados, e chamando a atenção para a artificialidade do cinema – o oposto do que o naturalismo da montagem clássica pretendia. A novidade jogou os manuais de cinema no lixo. Mas foi um sucesso. “Acossado” venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim e deu origem aos filmes totalmente autorais. Depois disso, Godard começou a fazer um filme atrás do outro, sempre empregando doses de experimentalismo visual. Seus melhores trabalhos na década de 1960 foram: “Uma Mulher É Uma Mulher” (1961), “Viver a Vida” (1962), “Alphaville” (1965) e “O Demônio das Onze Horas” (1965), clássicos existencialistas. Mas paralelamente também desenvolveu uma fase maoísta, mais evidente em “A Chinesa” (1967), que se acirrou após os protestos estudantis de maio de 1968 e o viu perder adeptos. Ironicamente, também foi a fase em que filmou o documentário “Sympathy for the Devil” (One + One, 1968) com os Rolling Stones. Muitos destes primeiros filmes foram estrelados pela atriz e modelo dinamarquesa Anna Karina, que se casou com o diretor em 1961. Os dois tiveram um relacionamento tumultuado, que acabou em 1965. Godard chegou a adaptar esse relacionamento para o cinema no filme “O Desprezo” (1963), em que escalou ninguém menos que Brigitte Bardot como a versão ficcional de Karina. Em 1967, Godard se casou com a atriz Anne Wiazemsky, que também começou a atuar nos seus filmes. Este casamento durou até 1979. Na década de 1970, ele se juntou a um grupo de ativistas e cineastas de esquerda para formar o “Grupo Dziga Vertov”, nomeado em homenagem ao famoso cineasta russo. O grupo comandou diversos filmes, como “Tudo Vai Bem” (1972) e “Letter to Jane: An Investigation About a Still” (1972), ambos estrelado por Jane Fonda. Em 1977, Godard voltou para a Suíça e passou a morar com a cineasta Anne-Marie Miéville. Foi o relacionamento mais duradouro da vida do diretor, que persistiu até o final da sua vida. Abrindo uma nova fase, ele dirigiu em 1980 “Salve-se Quem Puder (A Vida)”, uma obra que se propôs a examinar os relacionamentos sexuais acompanhando três protagonistas que interagem entre si. O filme foi exibido no Festival de Cannes e saudado como o grande retorno do cineasta. Foi também um enorme sucesso de bilheteria no país. “Salve-se Quem Puder (A Vida)” deu um novo fôlego para a carreira de Godard, que passou a realizar vários filmes consagrados, como “Paixão” (1982), “Detetive” (1985) e principalmente “Eu Vos Saúdo Maria” (1985), que teve grande repercussão pelo tema: uma estudante universitária, que fica grávida sem ter relações sexuais. Considerado uma blasfêmia, foi proibido em vários países, inclusive no Brasil. A polêmica voltou a sacudir a carreira do infant terrible, que a partir daí radicalizou de vez. Seu filme “Rei Lear” (1987), estrelado por nomes como Woody Allen, Leos Carax, Julie Delpy e Burgess Meredith, dividiu a crítica. O Washington Post afirmou que se tratava de um “total desrespeito de Godard a uma apresentação sustentada e coerente das suas ideias”, enquanto o Los Angeles Times afirmou que se tratava de “obra de um gênio certificado.” Na década de 1990, Godard comandou filmes como “Nouvelle Vague” (1990), estrelado por Alain Delon, “Infelizmente Para Mim” (1993), com Gerard Depardieu, e “Para Sempre Mozart” (1996). Porém, o grande destaque desse período foi a série documental “Histoire(s) du cinéma”, iniciada em 1989 e finalizada em 1999. Com um total de 266 minutos e exibida pela emissora francesa Canal Plus, a série consistiu de entrevistas, cenas de filmes clássicos e imagens de arquivo para narrar um século da História do Cinema. Numa entrevista ao jornal francês Libération, publicada anos após o lançamento, Godard descreveu o projeto como “um pouco como meu álbum de fotos de família – mas também o de muitos outros, de todas as gerações que acreditaram no amanhecer. Só o cinema poderia reunir o ‘eu’ e o ‘nós’”. Com a chegada do novo século, Godard voltou a inovar em obras como “Filme Socialismo” (2010), “3x3D” (2013) e “Adeus à Linguagem” (2014), filmes que, como o último título sugere, rompiam de vez com a linguagem tradicional cinematográfica – algo que Godard já vinha fazendo, pouco a pouco, desde o início da sua carreira. Radicais, mantiveram a divisão crítica entre os que consideraram as obras geniais e os que não viram mais cinema nas realizações do cineasta, apenas instalações de arte. Seus últimos créditos como diretor foram o documentário “Imagem e Palavra”, basicamente uma colagem de imagens de arquivo e gravações aleatórias, e o curta “Spot of the 22nd Ji.hlava IDFF”, ambos de 2018. Nos seus últimos anos, Godard se tornou completamente recluso. Ele se recusava a dar entrevistas, não aceitava prêmios e não viajava para os festivais. Quando lhe foi oferecida a Ordem Nacional do Mérito da França, ele recusou, dizendo: “Não gosto de receber ordens e não tenho méritos”. E quando foi premiado com um Oscar honorário em 2010, ele se recusou a viajar para Los Angeles para aceitá-lo pessoalmente. Anne-Marie Miéville disse na época que Godard “não irá para a América, ele está ficando velho demais para esse tipo de coisa. Você faria todo esse caminho apenas por um pedaço de metal?” Ao longo da carreira, Godard colecionou mais de 50 “pedaços de metal”, incluindo prêmios nos principais festivais de cinema do mundo, como o Urso de Ouro no Festival de Berlim (que ele venceu por “Eu Vos Saúdo Maria”), no Festival de Cannes (por “Imagem e Palavra” e “Adeus à Linguagem”), entre muitos outros. Ao saber da morte do cineasta, o ex-ministro da Cultura da França, Jack Lang, disse à rádio France Info que Godard era “único, absolutamente único… Ele não era apenas cinema, era filosofia, poesia”. O presidente francês Emmanuel Macron também prestou a sua homenagem, chamando-o de “iconoclasta”. “Inventou uma arte decididamente moderna, intensamente livre. Nós perdemos um tesouro nacional, um olhar de gênio”, definiu o governante. Ce fut comme une apparition dans le cinéma français. Puis il en devint un maître. Jean-Luc Godard, le plus iconoclaste des cinéastes de la Nouvelle Vague, avait inventé un art résolument moderne, intensément libre. Nous perdons un trésor national, un regard de génie. pic.twitter.com/bQneeqp8on — Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) September 13, 2022










