Astro de Lovecraft Country vai estrelar filme lovecraftiano de Spike Lee
O ator Jonathan Majors está em negociações para estrelar o filme “Gordon Hemingway & The Realm of Cthulhu”. A produção marcaria seu retorno ao universo lovecraftiano, após estrelar a 1ª temporada da série “Lovecraft Country”, e também uma retomada de sua parceria com Spike Lee, que o dirigiu em “Destacamento Blood”. “Gordon Hemingway & The Realm of Cthulhu” é uma produção de Spike Lee para a Netflix. Mas ele não vai dirigir o filme, que será comandado por Stefon Bristol (da sci-fi “A Gente Se Vê Ontem”). Majors está em negociações para interpretar o personagem-título, Gordon Hemingway, um pistoleiro negro americano que se junta na África Oriental em 1928 à guerreira de elite Princesa Zenebe, da Etiópia, para resgatar o regente do país, raptado por um mal ancestral. Apesar do título citar Cthulhu, uma das criações demoníacas de H.P. Lovecraft, o filme é uma história original, escrita por Hank Woon (“A Maldição das Formigas Gigantes”) e roteirizada por Fredrica Bailey (também de “A Gente Se Vê Ontem”). O novo projeto é o mais recente em uma série de projetos de alto perfil para a estrela em ascensão, que ganhou uma indicação ao Gotham Award de ator revelação, bem como um Independent Spirit Award por sua atuação em 2019 em “The Last Black Man in San Francisco . ” Majors será visto em breve no faroeste da Netflix, “The Harder They Fall”, ao lado de Idris Elba, Regina King, Zazie Beetz e LaKeith Stanfield, e fará o papel do supervilão Kang, o Conquistador, em “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, da Marvel.
A Cor que Caiu do Espaço traz Nicolas Cage em modo insano
Com uma carreira bem acidentada, Richard Stanley volta à direção de longas-metragens depois de um longo período apenas trabalhando em curtas, segmentos de antologias e documentários. Hollywood não foi muito gentil com ele depois de demiti-lo no meio das filmagens de “A Ilha do Dr. Moreau” (1996), filme achincalhado mesmo com sua substituição por John Frankenheimer. Lembrando que Stanley era uma promessa para o cinema de horror nos anos 1990, com filmes como “Hardware – O Destruidor do Futuro” (1990) e “O Colecionador de Almas” (1992). Ainda assim, mesmo tendo tanta dificuldade de conseguir entrar novamente em um grande projeto, Stanley seguiu sendo cultuado por parte de fãs do gênero. A boa notícia é que seu novo filme, “A Cor que Caiu do Espaço” (2019), baseado em um conto de H.P. Lovecraft, é muito possivelmente seu melhor trabalho. Não está sendo e não será nada próximo de uma unanimidade, mas é muito bonito plasticamente e tem uma atmosfera de pesadelo crescente bastante envolvente. Chama a atenção também a participação de Nicolas Cage, ator incansável que só em 2019 estrelou seis produções. Este filme de Stanley é um dos que mais lhe permite extrapolar. Ou seja, ele não economiza nos gritos, nos tiques, naquilo que os fãs se acostumaram a ver. E não chega a atrapalhar nenhum pouco. Cai como uma luva para o filme. Cage interpreta um pai de família que mora em uma região rural bastante afastada. Esse detalhe é importante para que possamos nos dar conta do distanciamento da família quando o inferno chega. E o inferno chega em cores, em especial na cor-de-rosa bem viva. Quando a família está se preparando para dormir, algo parecido com um meteorito cai no jardim, deixando uma cratera imensa e muitas dúvidas sobre o que se trata. Aos poucos, cada membro da família passa a se comportar de maneira muito estranha. Apesar da presença de Cage, podemos dizer que a verdadeira protagonista do filme é Madeleine Arthur, uma jovem com poucos títulos marcantes no currículo, mas que aqui demonstra muito carisma. Ela faz o papel da filha de Cage. Na primeira cena do filme, ela está praticando um ritual de magia à beira de um rio quando é flagrada por um rapaz que está passando. Sua intenção é fazer um feitiço para curar definitivamente sua mãe do câncer. Sua mãe é uma mulher frágil e carinhosa vivida por Joely Richardson, e que possui outros dois filhos, um adolescente e um garotinho, cada um deles de importância pontual para a trama. Fazem parte da família também as alpacas que o patriarca cria com muito carinho. Mas quem espera dessa premissa algo parecido com uma boa construção de personagens ou diálogos ricos, pode esquecer. Não que os diálogos sejam fracos ou que o roteiro seja ruim. É que não parece haver nenhuma intenção por parte de Stanley de fazer um filme com essas bases. Seu maior interesse é na beleza, tanto das cores artificiais geradas por efeitos visuais quanto da fotografia da natureza. E também a beleza dos efeitos gore, que em alguns momentos remetem a “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter, e outros filmes de horror oitentistas. Em entrevista à revista britânica Sight & Sound, Stanley disse que teve que fazer algumas alterações na adaptação do conto, já que Lovecraft carrega de maneira quase explícita seu racismo e sua misoginia. Quanto aos aspectos niilistas do escritor, eles seguem presentes na adaptação, em especial quando a família vai se desintegrando mais e mais, tornando-se, literalmente, monstros sob o efeito da radiação alienígena. Stanley também se sente muito grato a Nicolas Cage, um grande fã de Lovecraft. O cineasta afirma que ele foi o homem que restaurou sua fé em Hollywood novamente. Depois do trauma de “A Ilha do Dr. Moreau”, poder filmar tudo com tranquilidade, em uma região rural de Portugal, e com todo o apoio dos atores e dos técnicos, e ter um resultado favorável não tem preço. As coisa foram tão bem que Stanley planeja duas novas adaptações de Lovecraft para breve. Disponível em Telecine e Vivo Play.
Criadores de Game of Thrones vão filmar graphic novel Lovecraft
A dupla David Benioff e DB Weiss, roteiristas-produtores responsáveis por “Game of Thrones”, estão desenvolvendo um filme baseado na graphic novel “Lovecraft” para a Warner. Publicada pela Vertigo, a antiga linha adulta de quadrinhos da DC Comics, “Lovecraft” foi escrito por Hans Rodionoff e desenhado por Enrique Breccia e Keith Giffen. A trama é uma biografia fantasiosa do escritor H.P. Lovecraft, criador de um influente universo sobrenatural durante a era dos pulps. Assim como nos quadrinhos, o filme será ambientado na década de 1920 e explorará o mito de Cthulhu, partindo da premissa de que a dimensão de monstros referenciada nas obras de Lovecraft é real. Benioff e Weiss devem produzir e dirigir o longa, que será escrito por outra dupla, Phil Hay e Matt Manfredi, parceiros habituais da diretora Karyn Kusama, que também está no projeto como diretora. Hay e Manfredi escreveram “Æon Flux” (2005), “O Convite” (2015) e “O Peso do Passado” (2018), três dos cinco filmes dirigidos por Kusama. A graphic novel é de 2004 e tem até edição nacional (da Norma Editorial). Benioff e Weiss vinham negociando o projeto há anos, mas só puderam definir um cronograma de produção após dar por encerrado “Game of Thrones”. Por ser antigo, ele é uma exceção no acordo de exclusividade fechado pela dupla com a Netflix, em agosto passado.
Curtis Hanson (1945 – 2016)
Morreu o diretor Curtis Hanson, um dos diretores mais interessantes do cinema americano dos últimos anos, embora só tenha sido reconhecido pela Academia com um Oscar, pelo roteiro do brilhante “Los Angeles: Cidade Proibida” (1997). Ele faleceu na noite de terça-feira (20/9) em sua casa, em Hollywood, aos 71 anos. Autoridades policiais informaram que paramédicos foram chamados até sua residência e ele já estava morto quando chegaram. Aparentemente, a causa da morte do diretor, que há anos sofria com Alzheimer, foi um ataque do coração. Hanson nasceu em Reno, Nevada, mas cresceu em Los Angeles. Apaixonado pela sétima arte desde muito jovem, abandonou o colegial para trabalhar como fotógrafo freelance e, posteriormente, editor de uma revista de cinema. A experiência lhe permitiu estrear como roteirista aos 25 anos, assinando a adaptação de um conto clássico de H.P. Lovecraft no terror barato “O Altar do Diabo” (1970), produzido pelo rei dos filmes B Roger Corman, que acabou cultuado por reunir a ex-surfista e boa moça Sandra Dee com o hippie Dean Stockwell. Corman estimulou Hanson a passar para trás das câmeras, e ele estreou como diretor dois anos depois com outro terror, desta vez uma obra original que ele próprio imaginou. “Sweet Kill” (1972) era a história de um desajustado que descobre ser, na verdade, um psicopata, ao matar acidentalmente uma jovem e gostar. O ex-ídolo juvenil Tab Hunter tinha o papel principal. Ele ainda rodou o trash assumido “Os Pequenos Dragões” (1979), sobre karatê kids que tentam salvar uma jovem sequestrada por uma mãe e seus dois filhos maníacos, antes de subir de degrau e trabalhar com um dos pioneiros do cinema indie americano, o cineasta Samuel Fuller. Hanson escreveu o clássico thriller “Cão Branco” (1982), dirigido por Fuller, sobre uma atriz que resgata um cachorro sem saber que ele foi treinado para ser violento e atacar negros. Comentadíssima, a obra lhe rendeu os primeiros elogios de sua carreira. A boa receptividade a “Cão Branco” abriu-lhe as portas dos grandes estúdios. A Disney lhe encomendou o roteiro de um filme na mesma linha, “Os Lobos Nunca Choram” (1983), em que um pesquisador, enviado pelo governo para verificar a ameaça dos lobos no norte do país, descobre que eles são benéficos para a região. E a MGM lhe entregou a direção de “Porky 3” (1983), que, apesar do título nacional, não tinha relação alguma com a famosa franquia canadense de comédias sexuais passadas nos anos 1950 – “Porky’s 3” (com o detalhe da grafia correta) foi lançado dois anos depois! Mas é fácil entender porque a distribuidora quis passar essa falsa impressão. A trama acontecia no começo dos anos 1960 em torno de quatro adolescentes americanos, entre eles um certo Tom Cruise, que viajam até Tijuana, no México, querendo cair na farra, num pacto para perder a virgindade. Hanson não escreveu “Porky 3”, mas histórias de apelo adolescente se tornaram frequentes em sua filmografia. Tanto que seu trabalho seguinte foi um telefilme teen, “The Children of Times Square” (1986), uma espécie de “Oliver Twist” contemporâneo, sobre jovens sem-teto nas ruas de Nova York. Ele completou sua transição para o cinema comercial especializando-se em suspenses, numa sequência de lançamentos do gênero que fez a crítica compará-lo a Alfred Hitchcock. “Uma Janela Suspeita” (1987), inclusive, devia sua premissa a “Janela Indiscreta” (1954), mostrando um crime testemunhado a distância, por um casal que não deveria estar junto naquele momento. A testemunha era interpretada por ninguém menos que a fabulosa atriz francesa Isabelle Huppert. “Sob a Sombra do Mal” (1990) também tinha premissa hitchockiana, evocando “Pacto Sinistro” (1951), mas ganhou notoriedade pelo timing, lançado logo após o vazamento de sex tapes de seu protagonista, o ator Rob Lowe. Ele aparecia no filme num raro papel de vilão, ironicamente chantageando o futuro astro de “The Blacklist”, James Spader, por conta de gravações sexuais. Foi o melhor papel da carreira de Lowe e o empurrão definitivo para Hanson se tornar conhecido. Seu filme seguinte estabeleceu sua fama como mestre do suspense, num crescendo assustador. “A Mão Que Balança o Berço” (1992) fez bastante sucesso ao explorar um tema que marcaria a década: a mulher simpática, que abusa da confiança de suas vítimas. Poucas psicopatas foram tão temidos quanto a babá vivida por Rebecca De Mornay, que em pouco tempo se viu acompanhada por Jennifer Jason Lee em “Mulher Solteira Procura…” (1992) e Glenn Close em “Atração Fatal” (1987), na lista das mulheres que transformaram intimidade em ameaça. O quarto thriller consecutivo, “O Rio Selvagem” (1994), trouxe Meryl Streep como uma mãe que leva sua família para navegar nas corredeiras de um rio, apenas para ver todos sequestrados por Kevin Bacon, armado. Mas foi o quinto suspense que o transformou definitivamente num cineasta classe A. Obra-prima, “Los Angeles: Cidade Proibida” (1997) inspirava-se na estética do cinema noir para contar uma história de corrupção policial e brutalidade, repleta de reviravoltas, tensão e estilo, passada entre a prostituição de luxo, disputas mafiosas e os bastidores de Hollywood nos anos 1950. O filme resgatou a carreira de Kim Basinger, sex symbol da década anterior, como uma garota de programa que passou por plástica para ficar parecida com uma estrela de cinema, e ajudou a popularizar seu par de protagonistas, recém-chegados do cinema australiano, Russell Crowe e Guy Pearce, como policiais que precisam superar seu ódio mútuo para não acabar como Kevin Spacey, que mesmo saindo cedo da trama, também já demonstrava o talento que outros cineastas viriam a explorar. Hanson venceu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado pelo filme, baseado no livro homônimo de James Ellroy, e Basinger o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Mas “Los Angeles: Cidade Proibida” foi indicado a mais sete prêmios da Academia, inclusive Direção e Melhor Filme do ano, e só não venceu tudo porque havia um “Titanic” em seu caminho. A boa fase seguiu com o drama “Garotos Incríveis” (2000), reconhecido pela ótima atuação de Michael Douglas e por render um Oscar ao cantor Bob Dylan, de Melhor Música Original. E rendeu outro espetáculo cinematográfico contra todas as apostas, quando Hanson decidiu dirigir Eminem no filme “8 Mile – Rua das Ilusões” (2002). Baseada na vida real do rapper, a produção conquistou elogios rasgados e um Oscar (de Melhor Canção) para Eminem, que teve sua carreira impulsionada. Seus filmes finais não foram tão brilhantes. Ele tropeçou ao tentar fazer sua primeira comédia romântica, ainda por cima de temática feminina, “Em Seu Lugar” (2005), que mesmo assim teve bons momentos com Cameron Diaz e Toni Colette. Mas a insistência em emplacar um romance fez de “Bem-Vindo ao Jogo” (2007), em que Eric Bana se dividia entre o poker e Drew Barrymore, o pior desempenho de sua carreira. O telefilme “Grande Demais Para Quebrar” (2011), sobre a depressão financeira de 2008, rebateu a maré baixa com nada menos que 11 indicações ao Emmy. Infelizmente, as ondas foram altas demais em “Tudo por um Sonho” (2012), sua volta ao cinema. Ele não conseguiu completar o filme, que tinha Gerard Butler como surfista, após sofrer um colapso no set. Michael Apted foi chamado às pressas para finalizar o longa e Hanson nunca mais voltou a filmar. O Alzheimer tomou conta e, embora o estúdio não comentasse qual doença tinha levado o diretor ao hospital, aquele foi o fim da sua carreira.



