Grande Prêmio do Cinema Brasileiro muda de nome e anuncia finalistas
Premiação vira Prêmio Grande Otelo, que já era o nome de seu troféu, e destaca "Mussum, o Filmis" e "O Sequestro do Voo 375" em suas indicações
Morre Guilherme Fiúza Zenha, diretor de “O Menino no Espelho”, aos 58 anos
O cineasta faleceu em Belo Horizonte após sofrer um infarto, deixando um legado significativo no cinema brasileiro
Festival de Gramado confrontará Kleber Mendonça Filho e Marcos Petrucelli
O Festival de Gramado começa na noite desta sexta-feira (26/8) com a exibição de “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho. E o timing não podia ser midiático para o evento, que ainda homenageará a atriz do filme, Sonia Braga, com um troféu por sua belíssima carreira. No centro de uma ação política de “classe”, na definição usada pela atriz Ingra Lyberato, Kleber Mendonça Filho vem acusando o governo de persegui-lo. Provas disso seriam a classificação etária de “Aquarius” para maiores 18 anos (“Se, em 2016, um pênis ereto, filmado à distância, é motivo para ser 18 anos, eu entrego os pontos”) e o convite para o crítico Marcos Petrucelli participar da comissão que definirá o candidato brasileiro a uma vaga na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2017. “Petrucelli nos caluniou ao dizer que fizemos o protesto em Cannes pagos pelo governo”, disse Filho à coluna Gente Boa, do jornal O Globo, durante a pré-estreia de “Aquarius” no Rio de Janeiro. Ele se refere a uma crítica à photo-op realizada durante o festival francês, quando a equipe de “Aquarius” levantou cartazes para denunciar que “O Brasil não é mais uma democracia” por ter sofrido um “golpe de estado”. Desde que seu nome apareceu na comissão, o crítico tem sido sistematicamente atacado por Kleber Mendonça Filho, pelo atrevimento de ter usado o Facebook para chamar a manifestação na terra do caviar de “palhaçada”. Quando “Aquarius” saiu de mãos vazias do festival francês, o jornalista completou: “Então foi assim: filme feito com dinheiro público vai a Cannes representar o Brasil e não leva prêmio algum. Ou seja, a mentira sobre o suposto golpe no País por meio de frases em papel A4 no tapete vermelho não adiantou muito além de expor o Brasil ao ridículo.” Kleber diz que esse trecho é calunioso, embora seu filme tenha, sim, sido produzido com dinheiro público, via leis de incentivo, e a própria viagem de sua equipe à França foi bancada por um programa da Ancine de financiamento para a divulgação de filmes brasileiros em festivais internacionais, que prevê o pagamento de passagens, hospedagem, transportes, alimentação e “despesas afins” para diretor, produtor e ator/atriz. Calúnias, claro, se resolvem em processos civis, junto ao judiciário. Aparentemente, Mendonça não levou adiante a acusação. Em vez disso, lançou mão da retórica para buscar humilhar o crítico, formando uma panelinha para forçar sua expulsão da comissão, num ato de bullying explícito e de ataque xiita à liberdade de expressão no país. Nos dias que precederam a chegada do filme a Gramado, dois cineastas retiraram seus longa-metragens da apreciação da comissão do Oscar, em solidariedade a Filho: “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, e “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Mascaro chegou a assinar um comunicado de tom ultrajado, citando a “gravidade da situação” e questionando, no seu dizer, a “imparcialidade questionável” do processo seletivo. “É lamentável que o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, endosse na comissão de seleção um membro que se comportou de forma irresponsável e pouco profissional ao fazer declarações, sem apresentação de provas, contra a equipe do filme ‘Aquarius’, após o seu protesto no tapete vermelho de Cannes”, resumiu, referindo-se ao aparentemente gravíssimo comentário já citado. E logo após Muylaert confirmar a intenção de fortalecer o filme de Filho (“Achamos que este é o ano de ‘Aquarius’. É o filme certo”) com sua desistência, dois integrantes da comissão também pediram para sair. Embora o diretor e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha tenha alegado “questões pessoais” e dito que não falaria com a imprensa, a atriz Ingra Lyberato fez um longo desabafo no Facebook, mencionando pressões extremas da “classe”. “Estamos sendo extremamente pressionado por todas as notícias a ponto de ter gente pedindo para sair. Qual é o objetivo? Forçar o Petrucelli a sair? Forçar todos a sair?”, ela escreveu. O próximo round está programado para esta noite em Gramado, onde o crítico Marcos Petrucelli deve encontrar Kleber Mendonça Filho. O jornalista paulista já publicou uma foto em seu Facebook informando que estava a caminho.
Atriz Ingra Lyberato abandona comissão do Oscar após citar pressão extrema
A atriz Ingra Lyberato jogou mais lenha na fogueira, abandonando oficialmente a comissão que vai definir o indicado brasileiro para tentar uma vaga no Oscar 2017, após falar em “pressão” extrema. O anúncio foi feito pela própria atriz em seu Facebook, na manhã desta sexta (26/8), horas depois dela comentar na rede social a polêmica envolvendo o filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho. Lyberato diz que tomou a decisão depois que alguns “filmes preciosos” foram retirados da disputa por seus diretores, referindo-se a “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, e “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Antes dela, o diretor e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha, convidado para a comissão do governo, também anunciou que não iria participar do comitê “por questões pessoais”. Ela aponta que, “como a comissão tem sua legitimidade questionada por grande parte de nossa classe, me retiro em respeito a minha própria tribo”. O questionamento se deve à inclusão na comissão do crítico Marcos Petrucelli, cuja escolha foi atacada por Kleber Mendonça Filho porque teria se atrevido a escrever no Facebook que a photo-op da equipe de “Aquarius” no Festival de Cannes – com cartazes dizendo que “O Brasil não é mais uma democracia” após sofrer “um golpe de estado” – era uma “palhaçada”. Quando “Aquarius” saiu de mãos vazias do festival francês, o jornalista completou: “Então foi assim: filme feito com dinheiro público vai a Cannes representar o Brasil e não leva prêmio algum. Ou seja, a mentira sobre o suposto golpe no País por meio de frases em papel A4 no tapete vermelho não adiantou muito além de expor o Brasil ao ridículo.” Esta é, em suma, a justificativa para o protesto da “classe”, na expressão usada pela própria Lyberato, temperada ainda pela classificação etária elevada de “Aquarius” – um suposto ato de censura. Mas como esta última questão não é critério de seleção para o Oscar, todos os protestos buscam enquadrar Petrucelli. Aparentemente, há uma mentalidade de sindicato, estilo stalinista, nos bastidores da cultura brasileira, que trabalha ferozmente contra qualquer crítica, achando-se acima do bem e do mal. A ponto de a atriz escrever, num desabafo: “Estamos sendo extremamente pressionado por todas as notícias a ponto de ter gente pedindo para sair. Qual é o objetivo? Forçar o Petrucelli a sair? Forçar todos a sair?” “Diante da minha classe insatisfeita e clamando por justiça”, porém, ela própria pediu para sair. Curiosamente, na saída Lyberato se disse “contra o golpe da cena política atual”, comprovando a pluralidade de opiniões que marcava a comissão. Mas a pressão a que ela alude deixa clara a falta de capacidade para a convivência democrática da dita “classe”, que, como típica panelinha, trabalha no tom da intolerância, fazendo bullying contra um crítico de cinema por exercer a condição básica de sua profissão: criticar. Chama atenção que, antes de se submeter à pressão, Lyberato chegou a demonstrar confiança na comissão selecionada pelo Ministério da Cultura. “O único motivo do aceite foi querer prestar um serviço guiada pelo amor ao nosso cinema. Mas diante de tal reação contra atitudes do Ministério, o que devemos fazer? Vamos cruzar os braços e não mandar filme para o Oscar esse ano, porque o país foi tomado? Não me parece coerente, porque continuamos nossas produções já que esse é nosso trabalho. Escolher um filme também é nosso trabalho. Vamos nos unir contra qualquer tipo de manipulação e a gritaria tenta impedir que isso aconteça. Acho válido, mas já estão todos mais do que atentos e prontos para cobrar competência. Para fazer justiça onde sei, o Bertini só me fez um pedido: imparcialidade total”, escreveu, referindo-se a Alfredo Bertini, da Secretaria do Audiovisual, órgão responsável pela seleção. O desenrolar dessa novela, ao menos, traz às claras a ação de uma panelinha, que parece reagir quando seu jogo de cartas marcadas corre risco de dar resultado diferente do combinado previamente. “Achamos que este é o ano de ‘Aquarius’. É o filme certo”, disse Anna Muylaert ao jornal Folha de S. Paulo, justificando a retirada de “Mãe Há Sá Uma”. E, não por acaso, Kleber Mendonça Filho afirmou em seguida que, mesmo com a debandada, manterá “Aquarius” na disputa, pois é de seu “interesse”. Tudo indica que uma panelinha pode, sim, ter dominado todo o período recente em que o cinema brasileiro não foi capaz de emplacar nenhum representante na categoria de Melhor Filme Estrangeiro. Basta lembrar que, em 2010, a comissão do Ministério da Cultura escolheu “Lula, o Filho do Brasil” por unanimidade. Isto em pleno mandato de Lula, e não houve um protesto sequer, numa demonstração do quanto a “classe” preza a ética e decisões apolíticas. “Eu gostaria que a figura do Lula influenciasse a Academia. Nesse sentido, seria ótima a influência política da escolha”, defendeu a cineasta Tata Amaral, na época. O tempo ajuda a contar toda a História, aproveitando a luz da fogueira das vaidades para iluminar o que antes era só obscuridade.
Kleber Mendonça Filho diz que manterá Aquarius na disputa por uma vaga ao Oscar
É oficial. O diretor Kleber Mendonça Filho disse que manterá a inscrição de “Aquarius” na disputa pela vaga brasileira no Oscar 2017. O cineasta pernambucano não vai aderir ao protesto que ele próprio incentivou, ao insinuar-se perseguido politicamente, e que culminou na desistência de dois de seus concorrentes, “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, e “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Mascaro e Muylaert anunciaram a retirada de seus filmes em solidariedade a Filho, que estaria sofrendo retaliações, após denunciar que “O Brasil não é mais uma democracia”, com placas contra um “golpe de estado” no país, durante o Festival de Cannes. Filho, porém, assumiu que não tem intenção de realizar o mesmo gesto. “Tenho interesse em ver o processo se completar dentro das regras democráticas”, ele afirmou ao jornal Folha de S. Paulo. Assim, se valerá da vantagem de não contar com dois de seus concorrentes mais destacados para tentar conquistar a vaga. E só não terá o caminho mais facilitado porque outros diretores optaram por não servir de tapete vermelho para seu “interesse”. Os três diretores e Roberto Berliner, que também mantém “Nise: No Coração da Loucura” na competição, protestam contra a inclusão do crítico Marcos Petrucelli na comissão que escolherá o candidato brasileiro ao Oscar. Para eles, é inadmissível que o jornalista tenha sido escolhido após emitir opinião contrária à manifestação de Filho e da equipe de “Aquarius” em Cannes, e assim decidiram denunciar a “imparcialidade questionável” da comissão, no dizer de Mascaro. É importante lembrar que os mesmos defensores da imparcialidade desta comissão do Ministério da Cultura, que perseguem e atacam um jornalista exclusivamente por conta de suas opiniões, não realizaram qualquer tipo de manifestação quando “Lula, o Filho do Brasil” foi vergonhosamente escolhido como representante do Brasil ao Oscar em 2010, em pleno governo Lula. Uma falta de ética como nunca se viu antes na história deste país. “Acho incrível o que [Mascaro e Muylaert] fizeram”, disse Filho à Folha de S. Paulo. “O governo interino não tem familiaridade com a área da cultura e com a forma como nós somos unidos.” Curiosamente, esta união parece ter limites, já que o incentivador não pretende pular no mesmo abismo, após ver a concorrência pular sozinha, de forma inocente e muito útil, por sinal. Por sua vez, o Ministério da Cultura emitiu um comunicado, reiterando sua “confiança na comissão de seleção do filme” e na “isenção do processo de escolha”. “A comissão é formada por nomes de reconhecida reputação e conhecimento técnico, que passaram, inclusive, pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Destaca-se que a seleção do filme representante será feita à margem de critérios de natureza política, sendo inócua a criação de ambiente de pressão ou constrangimento com vistas a favorecer ou prejudicar qualquer produção. Passada a etapa de seleção, o Ministério estará engajado na torcida para que nosso filme figure entre os cinco finalistas.”
Anna Muylaert retira Mãe Só Há Uma da disputa pela vaga brasileira no Oscar 2017
A diretora Anna Muylaert revelou que pretende seguir o gesto de Gabriel Mascaro e também retirar seu filme “Mãe Só Há Uma” da disputa pela indicação do Brasil à categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2017. Mascaro retirou “Boi Neon” para prestar solidariedade ao filme “Aquarius”, num protesto à parcialidade – ou “imparcialidade questionável”, como se expressou – com que o processo seletivo estaria sendo conduzido. A razão para as duas desistências seria a inclusão do crítico paulista Marcos Petrucelli na comissão do Ministério da Cultura que escolherá o representante brasileiro. Ele virou alvo por discordar da postura política e igualmente pública do diretor Kleber Mendonça Filho, de “Aquarius”. Com isso, já são dois cineastas que tomam para si a decisão que não foi tomada por Kleber Mendonça Filho, que se diz perseguido após a photo-op do Festival de Cannes para denunciar que “O Brasil não é mais uma Democracia”, devido a um “golpe de estado” – o processo de Impeachment de Dilma Rousseff. Em nome da defesa da liberdade de expressão da equipe de “Aquarius”, Muylaert, Mascaro e Filho lançam assim um inacreditável movimento contra a liberdade de expressão de um crítico, que discordou do uso político de verbas públicas no protesto realizado em Cannes. Como o próprio Filho assumiu, seu filme foi realizado com verbas incentivadas e sua viagem à França financiada pelo Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros em Festivais Internacionais e de Projetos de Obras Audiovisuais Brasileiras em Laboratórios e Workshops Internacionais, da Ancine. A propósito, estas são as frases do crítico, publicadas em seu Facebook, que geraram a polêmica. “Vergonha é o mínimo que se pode dizer sobre a equipe e o elenco de ‘Aquarius’”, ele opinou na data do protesto com os cartazes em Cannes. Cinco dias depois, quando saiu o anúncio dos vencedores, ele completou: “Então foi assim: filme feito com dinheiro público vai a Cannes representar o Brasil e não leva prêmio algum. Ou seja, a mentira sobre o suposto golpe no País por meio de frases em papel A4 no tapete vermelho não adiantou muito além de expor o Brasil ao ridículo.” Aparentemente, três dos nossos cineastas mais brilhantes acharam ruim que um dos eleitores do representante do Brasil no Oscar tenha feito o que se espera de sua profissão: um comentário crítico. Ou, de forma reducionista, manifestado-se publicamente a respeito de uma manifestação pública. Trata-se de um ataque mal-disfarçado à liberdade de expressão e opinião, a ponto de visar até o símbolo máximo da democracia: o direito ao voto. Não querem que um crítico vote, porque não gostarão de seu voto. É isso, simplesmente. “Achamos que este é o ano de ‘Aquarius’. É o filme certo”, disse Muylaert ao jornal Folha de S. Paulo, num prato cheio para quem gosta de teorias de conspiração e já delira com Kleber Mendonça Filho segurando placas de “Yankees Go Home” no tapete vermelho do Oscar 2017. Além da dupla de cineastas desistentes, o diretor e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha, um dos nove integrantes da comissão do governo, também anunciou que não irá mais participar do comitê “por questões pessoais”. Procurado, o diretor de “O Menino no Espelho” (2014) disse que não falaria com a imprensa. Mas é pouco provável que muitos outros se juntem a eles. Ouvidos pela Folha de S. Paulo, os diretores de alguns dos filmes concorrentes mantiveram a postura de disputar a vaga. E encontram o caminho menos apinhado, com a saída de “Boi Neon” e “Mãe É Só Uma” do páreo. “Por que tirar o filme? Acredito nele. Respeito a atitude [dos outros diretores], mas não pretendo retirar. A decisão é do comitê”, disse Afonso Poyart, de “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”. Ele é ecoado pelo diretor David Schurmann, para quem seu filme “Pequeno Segredo” “tem uma temática que pode interessar ao Oscar”. “Investimos muito tempo e paixão para fazer um filme tecnicamente impecável e emocionante”, resumiu. Já Roberto Berliner decidiu manter “Nise: No Coração da Loucura”, mas não sem emitir um comunicado de solidariedade a Filho, dizendo que compartilha “das mesmas posições políticas”, sem esquecer de atacar o crítico em questão por suas “declarações infelizes” – em defesa da “liberdade de expressão”, é claro – , e incluindo até a um anedótico “Fora Temer!” no texto. Fazendo a ressalva que Muylaert e Mascaro preferiram ignorar, Berliner lembrou do respeito que deve “à equipe do filme, aos milhares de espectadores, aos outros jurados e demais concorrentes”, salientando a “confiança no filme que fizemos e pela importância de levar essa história ao conhecimento do maior público possível”. Mas completa propondo escorraçar o crítico da comissão, numa celebração de totalitarismo – ou, pelo menos, falta de capacidade de convívio democrático. Afinal, como se chama mesmo quem busca enquadrar opositores, calar os dissidentes e buscar impedir o direito de votar? De todo modo, o “martírio” dos colegas está sendo tratado, até aqui, com mesquinharia por Filho, que tem se aproveitado das desistências para reforçar sua posição na eleição e aparecer ainda mais na mídia. Após a desistência de Mascaro e Muylaert, em solidariedade à perseguição que o cineasta estaria sofrendo – e isto inclui a classificação etária elevada de seu filme – , ele mantém “Aquarius” na disputa.




