Goya | “A Sociedade da Neve” entra para a História do “Oscar espanhol”
Filme de Juan Antonio Bayona sobre os sobreviventes dos Andes tornou-se o terceiro mais premiado do cinema da Espanha em todos os tempos
Mario Camus (1935–2021)
O diretor espanhol Mario Camus, premiado nos festivais de Cannes e Berlim, morreu neste sábado (18/9) em Santander, na Espanha, aos 86 anos. Com uma carreira de quase seis décadas, Camus era autor de diversos clássicos do cinema espanhol. Seu primeiro longa, “Los Farsantes”, foi lançado em 1963. Três anos depois já estava disputando a Palma de Ouro do Festival de Cannes com “Con El Viento Solano”. Ele também dirigiu sucessos comerciais, como “Essa Mulher” (1969), estrelado pela diva Sara Montiel, e até o western spaghetti “A Cólera de Trinity” (1970), com o astro italiano Terence Hill. O reconhecimento internacional veio apenas nos anos 1980, após Camus passar pela TV e se reinventar com “A Colmeia” (1982), em que explorou os contrastes sociais entre os artistas marginalizados pela ditadura e a burguesia que prosperou em meio às barbaridades do governo de Francisco Franco. Aclamado pela crítica, o filme venceu diversos prêmios importantes, inclusive o Leão de Ouro do Festival de Berlim. “A Colmeia” era adaptação de um romance de Camilo José Cela e sua consagração inspirou o diretor a se especializar em filmagens de obras importantes. Um ano após vencer Berlim, ele recebeu uma menção especial do júri do Festival de Cannes por outra adaptação, “Os Santos Inocentes” (1984), baseado no livro de Miguel Delibes. Além disso, o festival francês também premiou sua dupla de intérpretes, Paco Rabal e Alfredo Landa. Uma de suas adaptações mais populares foi “A Casa de Bernarda Alba” (1987), baseada na célebre peça de Federico García Lorca, premiada no Goya, o Oscar espanhol. A partir dos anos 1990, porém, decidiu mudar de estratégia e passou a filmar suas próprias histórias, o que acabou sendo ótimo para sua carreira. Ele recebeu quatro indicações ao Goya de Melhor Roteirista, obtendo uma vitória por “Sombras en una Batalla” (1993). O sucesso como roteirista deu impulso a uma atividade paralela, levando-o a escrever para outros cineastas. Um de seus últimos trabalhos foi o roteiro de “Roma, Um Nome de Mulher” (2004), dirigido pelo argentino Adolfo Aristarain, que lhe renderam os prêmios finais de sua carreira, como Melhor Roteirista nos festivais de Havana (Cuba) e Toulouse (França), além de sua derradeira indicação ao Goya. Camus encerrou a filmografia com “El Prado de las Estrellas”, que escreveu e dirigiu em 2007. Quatro anos depois, foi convidado de volta ao Goya para receber uma grande homenagem, com um prêmio especial pelas realizações de sua vida artística.
Goya 2021 premia Las Niñas em edição feminista do “Oscar espanhol”
A 35ª edição do prêmio Goya, o Oscar do cinema espanhol, premiou neste sábado (6/3) “Las Niñas” como o Melhor Filme do ano. Primeira obra da cineasta Pilar Palomero, o longa acompanha a passagem para a adolescência de um grupo de alunas de um colégio de freiras e venceu, ao todo, quatro Goyas, superando o favoritismo de “Adú”, filme sobre a imigração que rendeu o Goya de Melhor Direção para Salvador Calvo. “Las Niñas” fez história por ter sido o primeiro filme dirigido por uma mulher a vencer o prêmio espanhol. Ambientada no começo dos anos 1990, a trama apresenta as primeiras experiências deste grupo, ao qual se junta a recém-chegada Brisa, uma jovem descolada que ouve rock e se veste de forma diferente. Elas compartilham o primeiro cigarro, o uso de batom, as primeiras festas e os primeiros flertes, conversando sobre seus medos e anseios. O Goya de Melhor Atriz foi para Patricia López Arnaiz, protagonista de “Ane”, que vive uma jovem mãe divorciada, disposta a tudo para recuperar a filha, e o de Melhor Ator para Mario Casas, que faz sua transição de galã a ator dramático com o thriller “No Matarás”. Questões de gênero aparecem fortemente na premiação, com “Las Niñas” e “La Boda de Rosa”, de Iciar Bollaín, bem como no filme que mais ganhou prêmios, “Silenciadas”, de Pablo Agüero, uma versão feminista dos julgamentos de bruxas da Inquisição de 1609. As mulheres também quase empataram com os homens em número de prêmios, vencendo 12 categorias contra 13 masculinas, incluindo três prêmios compartilhados. Para completar, Daniela Cajías se tornou a primeira diretora de fotografia feminina a conquistar sua categoria no Goya, por “Las Niñas”. Entre os demais contemplados da noite, “El Olvido que Seremos”, sobre a violência política na Colômbia dos anos 1970 e 1980, tornou-se a primeira produção colombiana a ganhar o Goya de Melhor Filme Iberoamericano. Realizada por videoconferência por causa da pandemia de coronavírus, a cerimônia foi apresentada pelo ator Antonio Banderas (“Dor e Glória”) e contou com participação de trabalhadores da área da saúde, em homenagem a seus esforços para enfrentar a covid-19. À exceção de “Adu”, lançado (sem divulgação) pela Netflix, os demais filmes premiados são inéditos no Brasil. Veja abaixo uma prévia de todos os longas vencedores do Goya 2021. Las Ninas | Melhor Filme, Diretor Estreante, Roteiro Original e Fotografia Adu | Melhor Direção, Ator Revelação, Cenografia, Som No Mataras | Melhor Ator Ane | Melhor Atriz, Atriz Revelação, Roteiro Adaptado Sentimental | Melhor Ator Coadjuvante La Boda de Rosa | Melhor Atriz Coadjuvante, Canção Original Silenciadas | Melhor Direção Artística, Figurino, Trilha Sonora, Efeitos Visuais El Año del Descubrimiento | Melhor Documentário, Edição La Gallina Turuleca | Melhor Animação El Olvido que Seremos | Melhor Filme Iberoamericano (Colombia) Meu Pai | Melhor Filme Europeu (Reino Unido)
Produção da Netflix lidera indicações ao prêmio Goya
A Academia de Cinema de Espanha divulgou nesta segunda (18/1) os indicados ao prêmio Goya de 2021, considerado o Oscar do cinema espanhol. E o filme “Adú”, de Salvador Calvo, foi o título com o maior número de nomeações. “Adú” é um drama sobre imigração, que acompanha três histórias africanas interconectadas e concorre a 14 estatuetas, incluindo Melhor Filme, Direção, Roteiro Original e Ator Revelação (Adam Nourou). O filme foi lançado em junho passado na Netflix. A disputa de Melhor Filme também conta com “Ane”, de David Pérez Sañudo, “La Boda de Rosa”, de Icíar Bollaín, “Las Niñas”, de Pilar Palomero, e “Sentimental”, de Cesc Gay. Além de Calvo e Bollaín, a categoria de Melhor Diretor deste ano inclui ainda Juanma Bajo Ulloa, indicado pelo terror “Baby”, e a veterana cineasta Isabel Coixet por “Nieva em Benidorm”. O grande vencedor do Goya no ano passado foi “Dor e Glória”, de Pedro Almodóvar, que venceu sete troféus – incluindo Melhor Filme, Direção e Ator (Antonio Bandeiras). Já a categoria de Melhor Filme Ibero-Americano emplacou o chileno “El Agente Topo”, de Maite Alberdi, o colombiano “El Olvido que Seremos”, de Fernado Trueba, o guatemalteco “La Llorona”, de Jayro Bustamante e o mexicano “Ya no Estoy Aquí”, de Fernando Frias. O Brasil ficou de fora. Para completar a lista de longas de ficção, “Corpus Christi”, de Jan Komasa, “Falling”, de Viggo Mortensen, “O Oficial e o Espião”, de Roman Polanski, e “The Father”, de Florian Zeller, foram indicados a Melhor Filme Europeu. A presença do longa de Polanski aponta que a aprovação crítica a “O Oficial e o Espião” ainda é maior que a rejeição ao diretor. No ano passado, a produção francesa foi premiada no César (o Oscar francês), fazendo as mulheres presentes abandonarem o evento, que estava sendo televisionado ao vivo. O protesto se deve ao fato de Polanski ser um estuprador confesso e ter sofrido várias outras acusações de abuso sexual. A 35ª edição dos prêmios Goya acontecerá em 6 de março em Málaga, numa cerimônia em que estarão apenas presentes os nomeados.



