Penelope Milford, indicada ao Oscar por “Amargo Regresso”, morre aos 77 anos
Com carreira versátil, atriz participou de clássicos do cinema dos anos 1970 e 1980 e de produções da Broadway
Olivia Hussey, estrela de “Romeu e Julieta”, morre aos 73 anos
Além do clássico de Zeffirelli, atriz argentina marcou o cinema com "Noite de Terror" e "Morte no Nilo"
Juíza rejeita processo por nudez com menores em “Romeu e Julieta” de 1968
O processo de abuso sexual e negligência relacionado ao filme “Romeu e Julieta” lançado há 55 anos, em 1968, será arquivado. A decisão foi estabelecida pela juíza Alison Mackenzie nesta quinta-feira (25/5). A justificativa foi de que o filme lançado pela Paramount é protegido pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão. Em dezembro do ano passado, os protagonistas do filme, Olivia Hussey e Leonard Whiting, que deram vida ao casal principal, moveram uma ação legal contra o estúdio. Eles alegaram que foram coagidos pelo diretor Franco Zeffirelli a realizar uma cena de nudez no longa. Na época das filmagens, Hussey tinha 16 anos, enquanto Whiting tinha 17 anos. Como resposta, a Paramount solicitou o arquivamento do processo com base na lei anti-SLAPP da Califórnia, que tem o objetivo de eliminar processos judiciais incoerentes que restringem a liberdade de expressão. Apontando a indenização de US$ 100 milhões dos atores contra a Paramount, a juíza afirmou que a acusação de Hussey e Whiting contém uma “grosseira descaracterização” do ocorrido. Ela também rejeitou o argumento dos atores de que a cena de nudez poderia ser considerada “pornografia infantil”. “Os requerentes não apresentaram nenhuma evidência que comprove que o filme em questão pode ser considerado suficientemente sugestivo do ponto de vista sexual, a ponto de ser concluído que é ilegal”, escreveu a juíza. “O argumento dos requerentes se limita à interpretação seletiva de estatutos federais e estaduais, sem oferecer qualquer evidência sobre a interpretação ou aplicação dessas disposições legais a trabalhos artísticos de mérito, como o aclamado filme em questão”. Sob justificativa da emenda, a juíza concedeu a moção da Paramount para rejeitar o processo, concluindo que os requerentes não cumpriram as disposições de uma lei da Califórnia que suspende temporariamente o prazo de prescrição para alegações de abuso sexual infantil. “A moção especial do réu para eliminar toda a reclamação dos autores… é CONCEDIDA, pois cada causa de ação reivindicada surge de atividade protegida e os autores falharam em mostrar uma probabilidade de sucesso nos méritos dessas reivindicações”, declarou. Solomon Gresen, advogado representante de Hussey e Whiting, afirmou em entrevista que está consultando advogados especializados em apelações e planeja abrir um processo separado em um tribunal federal. Os atores planejam basear o novo processo em um Blu-ray lançado pela distribuidora Criterion em fevereiro, que inclui uma restauração digital em 4K. “As crianças não podem consentir com o uso dessas imagens”, defendeu Gresen. “Eles estão lucrando com essas imagens sem consentimento”. No filme, a cena polêmica mostra os dois atores em um quarto, com uma tomada prolongada das nádegas de Whiting e um breve vislumbre dos seios de Hussey quando ela sai da cama. Ambos prestaram depoimentos ao tribunal em 11 de maio, descrevendo sua experiência durante as filmagens. Segundo Hussey, durante a cena, Whiting “voltou para a cama, se cobriu com as cobertas, deitou-se em cima de mim e agimos como se estivéssemos tendo relações sexuais”. Já Whiting deu um relato semelhante, afirmando que “deitou-se embaixo das cobertas com a autora Hussey, subiu em cima dela e agiram como se estivessem tendo relações sexuais”. Em resposta, os advogados da Paramount chamaram esses depoimentos de “testemunhos completamente falsos e perjuros”. Eles afirmaram que o filme “representa uma cena e uma sequência de eventos completamente diferentes”. Já tendo enfrentado acusações de assédio sexual e agressão sexual no passado, o diretor Franco Zeffirelli faleceu em 2019, ficando incapaz de responder às acusações de Hussey e Whiting. Por outro lado, seu filho, Pippo Zeffirelli, comentou sobre o caso em seu nome. “É constrangedor ouvir que hoje, 55 anos após as filmagens, dois atores idosos que devem sua notoriedade essencialmente a este filme acordam para declarar que sofreram um abuso que lhes causou anos de ansiedade e desconforto emocional”, disse ele em janeiro de 2023. Lançado em 1968, “Romeu e Julieta” recebeu diversas indicações em premiações renomadas, incluindo nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor no Oscar, onde o longa levou a estatueta por Melhor Fotografia e Melhor Figurino. Já no Globo de Ouro, a premiação reconheceu Hussey e Whiting como artistas revelação, com o longa vencendo na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Estrelas do clássico “Romeu e Julieta” processam estúdio por abuso infantil
A atriz Olivia Hussey e o ator Leonard Whiting, estrelas da versão cinematográfica mais famosa de “Romeu e Julieta”, lançada em 1968, estão processando o estúdio Paramount sob a acusação de abuso infantil, devido à filmagem e uso de imagens dos dois nus no longa, quando eles eram menores de idade. O processo foi aberto na última sexta-feira (30/12) no Tribunal de Santa Mônica, na Califórnia. Hussey e Whiting, que hoje tem mais de 70 anos de idade, acusam a Paramount de explorá-los sexualmente. Dirigido por Franco Zeffirelli, “Romeu e Julieta” foi um enorme sucesso no seu lançamento e recebeu quatro indicações ao Oscar. Mas o filme também foi alvo de polêmicas por causa de uma cena em que é possível ver a bunda de Whiting e os seios de Hussey. Eles tinha 16 e 15 anos na época, respectivamente. No processo, a dupla alega que Zeffirelli – que morreu em 2019 – havia garantido aos atores que não haveria nenhuma cena de nudez no filme, e que eles usariam algum tipo de proteção nessa cena em questão. Porém, nos últimos dias de filmagem, o diretor teria implorado aos dois que filmassem a cena nus, “ou o filme iria ser um fracasso”. Eles disseram, ainda, que o diretor lhes mostrou onde a câmera ficaria posicionada, e garantiu que nenhum tipo de nudez seria captada pelas imagens e mostrada no filme. Desta forma, o processo alega que o diretor foi desonesto e que, por conta disso, Whiting e Hussey foram filmados nus sem o consentimento deles. “O que eles ouviram e o que aconteceu foram duas coisas diferentes”, disse Tony Marinozzi, empresário dos atores. “Eles confiavam em Franco. Aos 16, como atores, eles assumiram que ele não violaria a confiança que eles tinham. Franco era amigo deles e, francamente, aos 16 anos, o que eles fariam? Não havia opções. Não havia #MeToo.” Hussey e Whiting alegam que sofreram angústia mental e sofrimento emocional nos 55 anos desde o lançamento do filme e que perderam oportunidades de emprego por conta disso. Apesar de suas atuações de destaque, os dois tiveram carreiras relativamente curtas depois de “Romeu e Julieta”. Eles estão buscando uma indenização “que se acredita ser superior a US$ 500 milhões”. “Imagens de menores nus são ilegais e não devem ser exibidas”, disse o advogado dos atores, Solomon Gresen. “Eles eram crianças muito jovens e ingênuas nos anos 1960, que não entendiam o que estava prestes a atingi-los. De repente, ficaram famosos em um nível que nunca esperaram e, além disso, foram violados de uma forma que não sabiam como lidar”. O processo foi protocolado agora porque uma lei da Califórnia suspendeu a prescrição para acusações mais antigas de abuso sexual infantil. Após esta iniciativa, os tribunais viram um aumento de acusações contra a associação dos Escoteiros da América e contra a Igreja Católica, entre outras organizações. A Paramount não se manifestou publicamente em relação ao processo. Em uma entrevista de 2018 para a Variety, Hussey defendeu a cena de nudez. “Ninguém da minha idade tinha feito isso antes”, disse ela, acrescentando que Zeffirelli filmou tudo com bom gosto. “Era necessário para o filme.” Em outra entrevista de 2018 à Fox News, ela disse que a cena era “tabu” na América, mas que a nudez já era comum nos filmes europeus da época. “Não foi grande coisa”, disse ela. “E Leonard não era nada tímido! No meio da filmagem, esqueci completamente que não estava de roupa.” Veja abaixo o trailer e um making of do filme original.
Ennio Morricone (1928 – 2020)
O grande compositor Ennio Morricone, criador de trilhas sonoras inesquecíveis, morreu nesta segunda-feira (6/7) em Roma aos 91 anos, por complicações de uma queda sofrida na semana passada. Ele teve uma carreira de quase 70 anos como instrumentista e 60 anos como compositor de obras para o cinema, TV e rádio. Suas músicas acompanharam mais de 500 filmes, venderam cerca de 70 milhões de discos e criaram a identidade sonora de gêneros inteiros, como o spaghetti western, também conhecido como “bangue-bangue à italiana”, o giallo ultraviolento, os filmes americanos de máfia e reverberaram por toda a indústria cinematográfica italiana. “O Maestro”, como era conhecido, nasceu em 10 de novembro de 1928 em uma área residencial de Roma. Seu pai, Mario, tocava trompete, e este foi o primeiro instrumento que o jovem aprendeu a tocar. Graças a essa convivência, ele começou a compor músicas aos 6 anos. Quando tinha cerca de 8 anos, Morricone conheceu seu grande parceiro, o cineasta Sergio Leone, no ensino fundamental. Os dois voltaram a se encontrar duas décadas mais tarde para fazer História. O jovem Morricone começou a carreira compondo músicas para dramas de rádio, ao mesmo tempo em que tocava numa orquestra especializada em trilhas para filmes. “A maioria era muito ruim e eu acreditava que poderia fazer melhor”, disse ele numa entrevista de 2001. Ele trabalhou com Mario Lanza, Paul Anka, Charles Aznavour, Chet Baker e outros como arranjador de estúdio na gravadora RCA e com o diretor Luciano Salce em várias peças. Quando Salce precisou de uma trilha para seu filme “O Fascista” (1961), lembrou do jovem e deu início à carreira de compositor de cinema de Morricone. Depois de alguns filmes, Morricone reencontrou Leone, iniciando a lendária colaboração. O primeiro trabalho da dupla, “Por um Punhado de Dólares” (1964), marcou época e estabeleceu um novo patamar no gênero apelidado de spaghetti western – além de ter lançado a carreira de Clint Eastwood como cowboy de cinema. Os dois assinaram com pseudônimos americanos, e muita gente realmente acreditou que se tratava de uma produção de Hollywood, tamanha a qualidade. Ao todo, Morricone e Leone trabalharam juntos em sete filmes, dos quais o maestro considerava “Era uma Vez no Oeste” (1968) a obra-prima da dupla. O segredo da combinação é que Leone pedia para Morricone compor as músicas antes dele filmar, usando-a como elemento narrativo, muitas vezes dispensando diálogos. Nesta fase, ele também inaugurou duradouras parcerias com Bernardo Bertolucci e Pier Paolo Pasolini. Do primeiro, compôs a trilha de “Antes da Revolução” (1964), mas só retomou as colaborações na década seguinte. Já com o segundo, foi fundo na cumplicidade do período mais controvertido do diretor, embalando clássicos que desafiaram a censura, como “Teorema” (1968), “Orgia” (1968), “Decameron” (1971), “Os Contos de Canterbury” (1972) e “As Mil e Uma Noites” (1974). Serviu até de consultor musical para o mais ultrajante de todos, “Salò, ou os 120 Dias de Sodoma” (1975), proibidíssimo e talvez relacionado ao assassinato nunca resolvido do diretor naquele ano. Fez também muitas comédias picantes e uma profusão de obras sobre crimes e gângsteres de especialistas como Alberto Martino e Giuliano Montaldo. A verdade é que, no começo da carreira, Morricone chegava a compor até 10 trilhas por ano, entre elas composições de clássicos como “De Punhos Cerrados” (1965), de Marco Bellochio, e “A Batalha de Argel” (1966), de Gillo Pontecorvo. E o sucesso dos westerns de Leone – como “Por uns Dólares a Mais” (1965) e “Três Homens em Conflito” (1966), igualmente estrelados por Clint Eastwood – , aumentou muito mais a procura por seus talentos. Sua música não só ressoava em dezenas de filmes, como os demais compositores tentavam soar como ele, especialmente os que musicavam westerns italianos. Morricone ainda deixou sua marca num novo gênero, ao assinar a trilha de “O Pássaro das Plumas de Cristal” (1970), de Dario Argento, considerado o primeiro giallo, uma forma de suspense estilizada e sanguinária, que geralmente envolvia um serial killer e mortes brutais. Confundindo-se com a tendência, fez trilhas para outros giallos famosos, como “O Gato de Nove Caudas” e “Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza”, ambos de Argento, além de “O Ventre Negro da Tarântula” e “Uma Lagartixa num Corpo de Mulher”, só para citar trabalhos feitos num período curto. As trilhas destes quatro filmes foram criadas em 1971, simultaneamente a uma dezena de outras, entre elas partituras de pelo menos três clássicos, “Decameron”, de Pier Paolo Pasolini, “Sacco e Vanzetti”, de Giuliano Montaldo, e “A Classe Operária Vai para o Paraíso”, de Elio Petri, sem esquecer uma nova colaboração com Leone, “Quando Explode a Vingança”. Para dar ideia, ele chegou a recusar o convite para trabalhar em “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, porque não daria conta. Requisitadíssimo, Morricone assinou as trilhas da franquia “Trinity”, que popularizou a comédia western italiana e virou fenômeno de bilheteria mundial, e começou a receber pedidos de produções francesas – teve uma forte parceria com o cineasta Henri Verneuil em thrillers de Jean-Paul Belmondo – e alemãs. Quando Clint Eastwood retornou aos EUA, convocou o maestro a fazer sua estreia em Hollywood, assinando a música de seu western “Os Abutres Têm Fome” (1970), dirigido por Don Siegel. Mas foi preciso um terror para que se estabelecesse de vez na indústria americana. Morricone tinha recém-composto a trilha do épico “1900” (1976), de Bernardo Bertolucci, quando foi convidado a trabalhar em “O Exorcista II: O Herege” (1977), contratado ironicamente devido a uma de suas obras menores, “O Anticristo” (1974). A continuação do clássico de terror decepcionou em vários sentidos, mas o compositor começou a engatar trabalhos americanos, como “Orca: A Baleia Assassina” (1977) e o filme que o colocou pela primeira vez na disputa do Oscar, “Cinzas do Paraíso” (1978). A obra-prima de Terrence Malick era um drama contemplativo, repleto de cenas da natureza, que valorizou ao máximo seu acompanhamento musical. E deu reconhecimento mundial ao trabalho do artista. Apesar da valorização, ele não diminuiu o ritmo. Apenas acentuou sua internacionalização. Musicou o sucesso francês “A Gaiola das Loucas” (1978), o polêmico “Tentação Proibida” (1978), de Alberto Lattuada, e voltou a trabalhar com Bertolucci em “La Luna” (1979) e “A Tragédia de um Homem Ridículo” (1981), ao mesmo tempo em que compôs suspenses/terrores baratos americanos em série. Dois terrores desse período tornaram-se cultuadíssimos, “O Enigma de Outro Mundo” (1982), em que trabalhou com o diretor – e colega compositor – John Carpenter, e “Cão Branco” (1982), uma porrada de Samuel Fuller com temática antirracista. Foi só após um reencontro com Sergio Leone, desta vez em Hollywood, que Morricone deixou os filmes baratos americanos por produções de grandes estúdios. Os dois velhos amigos colaboraram pela última vez em “Era uma Vez na América” (1984), antes da morte de Leone, que aconteceria em seguida. Ambos foram indicados ao Globo de Ouro e o compositor venceu o BAFTA (o Oscar britânico). A repercussão de “Era uma Vez na América” levou o maestro a trabalhar em “A Missão” (1986), de Roland Joffé, que como o anterior era estrelado por Robert De Niro. O filme, passado no Rio Grande do Sul, rendeu-lhe a segunda indicação ao Oscar. Em seguida veio seu filme americano mais conhecido, novamente com De Niro no elenco. “Os Intocáveis” (1987), de Brian De Palma, foi sua terceira indicação ao Oscar – e, de quebra, lhe deu um Grammy (o Oscar da indústria musical). O compositor recebeu sua quarta indicação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por outro filme de gângster, “Bugsy” (1991), de Barry Levinson. Mas nunca se mudou para os Estados Unidos, o que lhe permitiu continuar trabalhando no cinema europeu – em obras como “Busca Frenética” (1988), de Roman Polanski, o premiadíssimo “Cinema Paradiso” (1988), de Giuseppe Tornatore, “Ata-me” (1989), de Pedro Almodóvar, e “Hamlet” (1990), de Franco Zeffirelli. Eventualmente, voltou a bisar parcerias com De Palma, Joffé e até fez alguns blockbusters de Hollywood, como “Na Linha de Fogo” (1993), em que reencontrou Clint Eastwood, “Lobo” (1994), de Mike Nichols, e “Assédio Sexual” (1994), novamente de Levison. Mas sua última indicação ao Oscar foi uma produção italiana, outra colaboração com Tornatore: “Malena” (2000). Na verdade, Morricone musicou todos os filmes de Tornatore desde “Cinema Paradiso”. Foram 10 longas e alguns curtas, até 2016. Seu ritmo só diminuiu mesmo a partir de 2010, quando, em vez de 10 trabalhos anuais, passou a assinar 4 trilhas por ano. Apesar de convidado, ele nunca trilhou um filme dirigido por Eastwood, decisão da qual mais se arrependia, mas recebeu das mãos do velho amigo o seu primeiro Oscar. Foi um troféu honorário pelas realizações de sua carreira, em 2007. Morriconi ainda veio a receber outro prêmio da Academia, desta vez pelo trabalho num filme: a trilha de “Os Oito Odiáveis”, western dirigido por Quentin Tarantino em 2015. Esta criação sonora também lhe rendeu o Globo de Ouro e o BAFTA. E ele fez sem ver o longa, no estúdio particular de sua casa. Grande fã de sua obra, Tarantino já tinha usado algumas de suas composições como música incidental em “Kill Bill”, “Django Livre” e “Bastardos Inglórios”. E deu completa liberdade para Morricone, que, em troca, disse que trabalhar com o diretor em “Os Oito Odiáveis” tinha sido “perfeito… porque ele não me deu pistas, orientações”, permitindo que criasse sua arte sem interferência alguma. “A colaboração foi baseada em confiança”. O maestro ainda ganhou muitos outros prêmios, entre eles 10 troféus David di Donatello (o Oscar italiano) ao longo da carreira – o mais recente por “O Melhor Lance” (2013), de Tornatore. Foi uma carreira realmente longa, que seu velho parceiro Tornatore transformou em filme, “Ennio: The Maestro” (2020), um documentário sobre sua vida e obra, finalizado pouco antes de sua morte, que deve ser lançado ainda neste ano. Mas a última palavra sobre sua vida foi dele mesmo. Morricone escreveu seu próprio obituário, que seu advogado leu para a imprensa após o anúncio de sua morte. “Eu, Ennio Morricone, estou morto”, começa o texto, em que o maestro agradeceu a seus amigos e familiares, e dedicou “o mais doloroso adeus” a sua esposa Maria Travia, com quem se casou em 1956, dizendo “para ela renovo o amor extraordinário que nos unia e que lamento abandonar”. Relembre abaixo alguns dos maiores sucessos do grande mestre.
Ian Holm (1931 – 2020)
O ator britânico Ian Holm, conhecido por viver Bilbo em “O Senhor dos Anéis” e Ash em “Alien: O Oitavo Passageiro”, morreu nesta sexta (19/6) aos 88 anos. O agente do ator confirmou a notícia citando complicações do Mal de Parkinson como causa da morte. “Ele morreu pacificamente no hospital, com sua família e seu cuidador. Ian era charmoso, gentil e talentoso, e vamos sentir falta dele enormemente”, escreveu o agente, em comunicado. Um dos atores britânicos mais famosos de sua geração, Ian Holm nasceu em 12 de setembro de 1931, filho de médicos escoceses, na cidade inglesa de Goodmayes, e acumulou diversos prêmios em sua carreira. Ele também deu, literalmente, sangue pela arte. Em 1959, quando fazia parte da Royal Shakespeare Company, a mais prestigiosa trupe do teatro britânico, Holm teve o dedo cortado por Laurence Olivier durante uma luta de espadas na montagem de “Coriolanus”. Acabou com uma cicatriz, que para ele tinha conotação de dedicação e orgulho por seu trabalho. Sua trajetória rumo à fama incluiu várias aparições na televisão britânica no início dos anos 1960, até conquistar destaque como o rei Ricardo III na minissérie da BBC “The Wars of the Roses” (1965). Em seguida, conquistou o papel que lhe deu projeção internacional, ao vencer o Tony (o Oscar do teatro) em sua estreia na Broadway em 1967, como Lenny em “Volta ao Lar”, de Harold Pinter, atuando sob direção de Peter Hall. Holm também estrelou a versão de cinema da peça em 1973, novamente dirigida por Hall, que ainda foi o diretor que o lançou no cinema, apropriadamente numa adaptação de Shakespeare, “Sonho de uma Noite de Verão”, em 1968. Na obra shakespeariana, ele viveu o icônico elfo Puck, que foi o primeiro personagem fantástico de sua filmografia. A consagração no cinema e no teatro seguiram paralelas por quase toda a sua carreira. Ele trabalhou em clássicos como “O Homem de Kiev” (1968), de John Frankenheimer, “Oh! Que Bela Guerra!” (1969), de Richard Attenborough, “Nicholas e Alexandra” (1971), de Franklin J. Schaffner, “Mary Stuart, Rainha da Escócia” (1971), de Charles Jarrot, “As Garras do Leão” (1972), novamente de Attenborough… obras premiadíssimas. Seus personagens marcaram época. Viveu, por exemplo, o vilanesco Príncipe João no cultuadíssimo “Robin e Marian” (1976), sobre a morte de Robin Hood (vivido por Sean Connery), sem esquecer as minisséries que impressionaram gerações, estabelecendo-o no imaginário televisivo como Napoleão em “Os Amores de Napoleão” (1974), o escritor JM Barrie, criador de “Peter Pan”, em “Os Garotos Perdidos” (que lhe rendeu indicação ao BAFTA Awards) e o monstruoso nazista Heinrich Himmler na icônica “Holocausto” (1978). A consagração no cinema veio com a indicação ao Oscar e a vitória no BAFTA por “Carruagens de Fogo”, o filme esportivo mais célebre de todos os tempos, em que viveu um treinador olímpico. Sua versatilidade também lhe garantiu muitos admiradores geeks. Holm impactou a ficção científica por suas atuações como Ash, o androide traidor, que acabava decapitado em “Alien: O Oitavo Passageiro” (1979), de Ridley Scott, o burocrata Sr. Kurtzmann em outro clássico, o fantástico “Brazil, o Filme” (1985), de Terry Gilliam, o padre Cornelius em “O Quinto Elemento” (1997), melhor filme de Luc Besson, e o cientista que prevê o apocalipse de “O Dia Depois de Amanhã” (2004), de Roland Emmerich. Ele ainda trabalhou com Gilliam em “Os Bandidos do Tempo” (1981), numa das três vezes em que viveu Napoleão. Foi nesta época, inclusive, que começou sua conexão com “O Senhor dos Anéis”. Em 1981, quando a BBC produziu uma adaptação para o rádio da obra de J.R.R. Tolkien, ele foi o escolhido para dar voz a Frodo. Vinte anos depois, virou o tio de Frodo, Bilbo Bolseiro, na trilogia cinematográfica de Peter Jackson, lançada entre 2001 e 2003 — o final da saga, “O Retorno do Rei”, rendeu-lhe o SAG Awards (prêmio do Sindicato dos Atores dos EUA) como parte do Melhor Elenco do ano. Sua carreira foi repleta de aventuras fantásticas, incluindo “Juggernaut: Inferno em Alto-Mar” (1974), de Richard Lester, e “Greystoke: A Lenda de Tarzan” (1984), uma das mais fiéis adaptações da obra de Edgar Rice Burroughs, na qual interpretou o francês Phillippe D’Arnot, o melhor amigo de Tarzan. Mas também dramas sutis, como “Dançando com um Estranho” (1985), de Mike Newell, e “A Outra” (1988), de Woody Allen. Holm perpetuou-se nas telas em várias adaptações shakespeareanas, numa lista que conta ainda com “Henrique V” (1989), de Kenneth Branagh, e “Hamlet” (1990), de Franco Zeffirelli. E multiplicou-se em obras cults, como “Kafka” (1991), de Steven Sodebergh, “Mistérios e Paixões” (1991), de David Cronenberg, “As Loucuras do Rei George (1994), de Nicholas Hytner, “Por uma Vida Menos Ordinária” (1997), de Danny Boyle, “O Doce Amanhã” (1997), de Atom Egoyan, etc, etc. Ele até voltou a viver Napoleão uma terceira vez, em “As Novas Roupas do Imperador” (2001), de Alan Taylor, tornando-se o ator mais identificado com o papel. Entre os cerca de 130 desempenhos que legou ao público também destacam-se os primeiros filmes dirigidos pelos atores Stanley Tucci (“A Grande Noite”, em 1996) e Zach Braff (“Hora de Voltar”, em 2004), os dramas premiados “O Aviador” (2004), de Martin Scorsese, e “O Senhor das Armas” (2005), de Andrew Niccol, e a animação “Ratatouille” (2007), da Disney-Pixar. Seus últimos trabalhos foram resgates de seus papéis mais populares. Ele voltou a viver Ash no videogame “Alien: Isolation”, lançado em 2014, e a versão envelhecida de Bilbo na trilogia “O Hobbit”, encerrando sua filmografia em 2014, com “O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos”. Tudo isso, apesar de sofrer de ataques de pânico a cada vez que as luzes acendiam, o diretor dizia “ação” e as cortinas se abriam. Tudo isso, que também lhe rendeu a nomeação de Comandante do Império Britânico em 1989, a distinção de cavaleiro, conferida pela Rainha Elizabeth II em 1998, a admiração de seus pares e o encantamento de fãs, ao redor do mundo.
Valentina Cortese (1923 – 2019)
Valentina Cortese, atriz italiana indicada ao Oscar por sua interpretação em “A Noite Americana” (1973), clássico de François Truffaut, morreu nesta quarta (10/7) em Milão, aos 96 anos. Nascida em Milão em 1923, Cortese foi uma das principais “mocinhas” do cinema italiano dos anos 1940, lançada à fama com o papel de Lisabetta em “A Farsa Trágica” (1942), de Alessandro Blasetti. Ela fez nada menos que 26 filmes em sua primeira década de atividade, boa parte deles aventuras de capa e espada, conquistando aclamação para além das fronteiras nacionais ao interpretar tanto Fantine quanto Cosette na versão italiana de “Os Miseráveis”, lançada como dois filmes diferentes em 1948. A repercussão rendeu um contrato com a 20th Century Fox, que a lançou nos Estados Unidos no clássico noir “Mercado de Ladrões” (1949), de Jules Dassin. Fez vários filmes americanos, entre eles “Terrível Suspeita” (1951), de Robert Wise, e “A Condessa Descalça” (1954), de Joseph L. Mankiewicz. Mas a ironia é que Hollywood a tornou ainda mais popular na Europa, o que a levou de volta à Itália. Em seu retorno triunfal, a atriz passou a trabalhar com os grandes mestres do cinema italiano. Os convites não eram mais para papéis de donzelas em aventuras ligeiras, mas para participar de obras dos mais variados gêneros, do drama ao terror, a maioria cultuadíssima, como “As Amigas” (1955), de Michelangelo Antonioni, “Olhos Diabólicos” (1963), de Mario Bava, “Julieta dos Espíritos” (1965), de Federico Fellini, e “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), de Franco Zeffirelli, A atriz ainda participou de filmagens americanas na Itália, como “Barrabás” (1961), passado na Roma antiga, o drama “A Visita” (1964) e o filme de guerra “O Segredo de Santa Vitória” (1969). E trabalhou em produções inglesas, francesas, alemãs, espanholas, etc, como “Onde o Mundo Acaba” (1956), de Luis García Berlanga, “O Assassinato de Trotsky” (1972), de Joseph Losey, e “O Primeiro Amor” (1970), de Maximilian Schell. O papel de Severine, uma estrela de cinema envelhecida e alcoólatra, no clássico francês “A Noite Americana” (1973), de Truffaut, foi um dos pontos mais altos de sua carreira. Além da indicação ao Oscar, o trabalho lhe rendeu indicação ao Globo de Ouro e o prêmio de Melhor Atriz da BAFTA, a Academia britânica. Ela ainda contracenou com Paul Newman no filme norte-americano de desastre “O Dia em que o Mundo Acabou” (1980) e foi dirigida pelo inglês Terry Gilliam na comédia de época “As Aventuras do Barão Munchausen” (1988), entre dois trabalhos de Zeffirelli, a minissérie “Jesus de Nazaré” (1977) e seu último longa, “Sonho Proibido” (1993), antes de aposentar das telas, com a fama de ter sido uma das maiores divas da história da Cinecittà.
Franco Zeffirelli (1923 – 2019)
O cineasta Franco Zeffirelli, conhecido por filmes como “Romeu e Julieta” (1968) e “Amor sem Fim” (1981), morreu neste sábado (15/6) em sua casa em Roma, aos 96 anos, em decorrência “de uma longa doença que se agravou nos últimos meses”, informou a imprensa italiana. “Nunca quis que esse dia chegasse. Franco partiu nesta manhã. Um dos maiores homens do mundo da cultura. Nós partilhamos da dor de seus amados. Adeus, grande mestre, Florença nunca te esquecerá”, disse o prefeito de Florença, Dario Nardella. Em uma carreira que se estendeu por cerca de 70 anos, ele se tornou um dos diretores mais populares da Itália, tanto por seus filmes, quanto por peças de teatro e óperas. Nascido como filho ilegítimo de uma designer de moda e de um comerciante de tecidos, Zeffirelli ficou órfão de mãe aos seis anos e foi criado por uma tia. Na juventude, afirma que foi abusado por um padre. Mas também estudou arte e arquitetura em Florença e integrou um grupo de teatro. Iniciou a carreira cinematográfica depois da 2ª Guerra Mundial, trabalhando como diretor assistente de Luchino Visconti em clássicos como “A Terra Treme” (1948), “Belíssima” (1951) e “Sedução da Carne” (1954). A partir dos anos 1950 voltou-se para os palcos, como diretor de teatro e ópera, e fez sua estreia como cineasta, com a comédia “Weekend de Amor” (1958). Mas não demorou a juntar cinema e ópera, num documentário sobre a maior diva dos tempos modernos, Maria Callas, em 1964. As paixões divididas explicam porque seu cinema sempre foi um pouco teatral e muito operístico. Tentando conciliar filme e teatro, lançou-se em adaptações de William Shakespeare. Fez “A Megera Domada” (1967) com Richard Burton e Elizabeth Taylor, chamando atenção de Hollywood. Mas foi “Romeu e Julieta” (1968), no ano seguinte, que o colocou na Academia. A obra foi indicada a quatro Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção, e se diferenciou das versões anteriores por finalmente filmar dois adolescentes reais (Olivia Hussey e Leonard Whiting) nos papéis dos amantes trágicos. O longa venceu os Oscars de Melhor Fotografia e Melhor Figurino, além do David di Donatello (o “Oscar” italiano) de Melhor Diretor. O sucesso o influenciou a seguir filmando em inglês, mas seus trabalhos seguintes, “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), sobre as juventudes de São Francisco e Santa Clara, e a minissérie “Jesus de Nazaré” (1977), refletiram sua criação católica apostólica romana. Belíssimo, o longa de 1972 lhe rendeu seu segundo David di Donatello de Melhor Diretor, enquanto a obra televisiva trouxe como curiosidade a escalação da sua Julieta (Olivia Hussey) como a Virgem Maria. Depois de rodar o drama esportivo “O Campeão” (1979), com John Voight (o pai de Angelina Jolie), e o romance adolescente “Amor sem Fim” (1981), com Brooke Shields, Zefirelli voltou-se novamente às óperas. Mas desta vez em tela grande. Filmou “La Traviata” (1982), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte e Figurino, e “Otello” (1986), duas óperas de Verdi que foram protagonizadas por Plácido Domingo. Entretanto, para encarnar Otello, o cantor foi submetido à maquiagem especial para escurecer sua pele, num processo chamado de “black face”, que atualmente é considerado um ato de racismo. Já na época não caiu muito bem. Entre um e outro longa, Zefirelli ainda filmou duas óperas televisivas, “Cavalleria Rusticana” (1982) e “Pagliacci” (1982), novamente com Plácido Domingo. E venceu um Emmy pela segunda. Ele seguiu alternando seus temas favoritos com “O Jovem Toscanini” (1988), cinebiografia do grande maestro Toscanini, fez sua versão de “Hamlet” (1990), com Mel Gibson e Glenn Close, e realizou a tele-ópera “Don Carlo” (1992), com Luciano Pavarotti. Dirigiu ainda adaptações de romances clássicos como “Sonho Proibido” (1993), baseado na obra de Giovanni Verga, e “Jane Eyre – Encontro com o Amor”, inspirado no romance gótico de Charlotte Brontë, com William Hurt e as então jovens Charlotte Gainsbourg e Anna Paquin, antes de adaptar sua própria autobiografia, “Chá com Mussolini” (1999). Ainda voltou uma última vez ao passado em seu longa final, o documentário “Callas Forever” (2002), sobre a diva da ópera que tinha filmado pela primeira vez nos anos 1960. Nos últimos anos, Zefirelli se tornou mais conhecido por seu envolvimento com a política. Conservador a ponto de ter lançado uma campanha contra “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, quando o filme fez sua première no Festival de Veneza em 1988, ele era contra projetos de reconhecimento dos casais homossexuais e foi um dos poucos artistas italianos a apoiar Silvio Berlusconi quando o bilionário entrou para a política no início dos anos 1990. Acabou eleito senador no partido do magnata, de 1994 a 2001.




