Homem-Formiga e a Vespa é a maior estreia em semana de bons filmes nos cinemas
A nova produção de super-heróis da Marvel, “Homem-Formiga e a Vespa”, é a maior estreia desta quinta (5/7), em que poucos filmes chegam aos cinemas – mas, diferente de semanas passadas, desta vez todos têm qualidades. Melhor que o primeiro “Homem-Formiga” estrelado por Paul Rudd, graças à inclusão da Vespa (Evangeline Lilly), uma heroína “badass”, como sua parceira, a continuação é bastante leve e ligeira. Um passatempo para rir, que oferece um refresco para os fãs de quadrinhos após o trágico “Vingadores: Guerra Infinita”. Aliás, quem viu aquele filme terá bastante o que pensar após a cena pós-créditos da nova produção, que também estreia neste fim de semana nos Estados Unidos e tem 86% de aprovação no site Rotten Tomatoes. O segundo maior lançamento da semana é outra adaptação divertida de quadrinhos. A comédia nacional “Mulheres Alteradas” leva às telas as tiras homônimas da cartunista argentina Maitena Burundarena, que retrata questões femininas com humor ácido. E foi escrita por outra fera das tiras de quadrinhos, o brasileiro Caco Galhardo (autor de “Os Pescoçudos”), em sua estreia como roteirista de longa-metragens. O filme também marca a estreia no cinema do diretor Luis Pinheiro, que dirigiu, entre outras, a série “Lili, a Ex”, inspirada em tiras de Galhardo. Ou seja, gente que conhece o gênero. O longa conta as lutas de quatro mulheres adultas no mundo moderno, às voltas com angústias de relacionamento, casamento, filhos, trabalho, idade e vida social. Enfim, crises existenciais reais. E com um elenco realmente ótimo, liderado pelo quarteto fantástico Deborah Secco (“Bruna Surfistinha”), Alessandra Negrini (“O Gorila”), Monica Iozzi (“A Comédia Divina”) e Maria Casadevall (novela “Os Dias Eram Assim”). Um dia, as amigas em crise com seus cotidianos resolvem trocar de papel e o resultado faz rir sem perder de vista o realismo – ao contrário das fábulas moralistas de trocas sobrenaturais de corpos, que volta e meia aparecem nas comédias brasileiras. O circuito alternativo traz ainda três filmes franceses e um chileno. Na lista francesa, chama atenção a inclusão de um terror, “A Noite Devorou o Mundo”, filme de apocalipse de zumbis que se distingue no gênero pela abordagem intimista – é praticamente todo passado num pequeno prédio. Comparado a “Eu Sou a Lenda”, tem 67% de aprovação no RT. Filme mais inventivo e artístico da programação, “Nos Vemos no Paraíso” combina surrealismo e aventura trágica à la Victor Hugo numa história passada em meio à 1ª Guerra Mundial. Adaptada do livro de Pierre Lemaitre, dirigida e estrelada por Albert Dupontel (“Uma Juíza Sem Juízo”), surpreende o tempo inteiro pela imaginação com que conta a história de dois homens sem nada em comum, que se conhecem nas trincheiras e se veem ligados após um salvar o outro, embora o que sobreviveu preferisse a morte, após perder parte do rosto numa explosão. Para lidar com o horror de ver a si mesmo, ele cria máscaras, enquanto os dois resolvem tirar proveito da desgraça, com um golpe para enriquecer com os cadáveres da guerra. O humor é negríssimo e a encenação evoca as melhores obras de Jean-Pierre Jeunet (especialmente “Eterno Amor”). Venceu cinco Césars (o Oscar francês), inclusive Direção e Roteiro, e tem 89% de críticas positivas no RT. “Custódia” também traz cenas de impacto, ao lidar com a separação de um casal que luta pelo direito de ficar com os filhos. O homem é demonizado e os filhos acreditam. Mas o longa tenta demonstrar todos os lados da questão, que é das mais complexas do cotidiano humano. A contundência da realização rendeu ao ator Xavier Legrand, em sua estreia atrás das câmeras, o prêmio de Melhor Direção no Festival de Veneza do ano passado, além de elogios rasgados da crítica. 94% no RT – a maior nota da semana. O chileno “Cachorros” completa a lista de ficções flertando com o romance e o drama político. A trama acompanha uma mulher (Antonia Zegers) que se vê atraída por seu professor equitação. Mas o ex-militar tem passado sombrio. Quando recebe advertências para se afastar, ela descobre que sua própria família esteve envolvida com os desaparecimentos de militantes de esquerda durante a ditadura de Pinochet. Premiado no circuito dos festivais – San Sebastian, Munique, Cairo, etc – , o trabalho da diretora Marcela Said tem 67% no RT. Dois documentários nacionais, de estilo TVE, preenchem as salas que faltaram. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas. Homem-Formiga e a Vespa | EUA | Super-Heróis Após ter ajudado o Capitão América na batalha contra o Homem de Ferro na Alemanha, Scott Lang (Paul Rudd) é condenado a dois anos de prisão domiciliar, por ter quebrado o Tratado de Sokovia. Diante desta situação, ele foi obrigado a se aposentar temporariamente do posto de super-herói. Restando apenas três dias para o término deste prazo, ele tem um estranho sonho com Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer), que desapareceu 30 anos atrás ao entrar no mundo quântico em um ato de heroísmo. Ao procurar o dr. Hank Pym (Michael Douglas) e sua filha Hope (Evangeline Lilly) em busca de explicações, Scott é rapidamente cooptado pela dupla para que possa ajudá-los em sua nova missão: construir um túnel quântico, com o objetivo de resgatar Janet de seu limbo. Mulheres Alteradas | Brasil | Comédia O cotidiano de quatro mulheres, cada uma enfrentando problemas bem particulares: Keka (Deborah Secco) enfrenta uma crise no casamento com Dudu (Sérgio Guizé), Marinati (Alessandra Negrini) é uma workaholic que repentinamente se apaixona por Christian (Daniel Boaventura), Leandra (Maria Casadevall) sente-se bastante insegura pelo fato de ainda não ter constituído família e Sônia (Monica Iozzi) está cansada da rotina doméstica e sonha com a época em que era solteira. A Noite Devorou o Mundo | França | Terror Após um noite de festa com muita bebida, Sam (Anders Danielsen Lie) acorda completamente sozinho em seu apartamento. Ainda confuso ele descobre um terrível acontecimento: a cidade de Paris está tomada por zumbis famintos. Rapidamente ele começa a proteger o prédio em que vive e elabora estratégias para conseguir manter-se vivo em meio a catástrofe. No entanto, ele ainda não tem certeza se é o único sobrevivente neste cenário hostil. Nos Vemos no Paraíso | França | Drama Em novembro de 1918, alguns dias antes do Armistício de Compiègne, Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart) salva a vida de Albert Maillard (Albert Dupontel). Os soldados franceses não têm nada em comum, a não ser a guerra e o ódio pelo vil Tenente Preadelle (Laurent Lafitte), e são obrigados a se unir para sobreviver – uma firme parceria marcada por farsas e lealdade. Custódia | França | Drama O casal Miriam (Léa Drucker) e Antoine Besson (Denis Ménochet) acaba de se divorciar. E para garantir a proteção de seu filho do pai, que ela acusa de ser violento, Miriam pede a custódia exclusiva. O juiz, no entanto, acaba concedendo custódia compartilhada aos dois. Tomado quase como um refém entre seus pais, Julien (Thomas Gioria) fará tudo para evitar o pior. Cachorros | Chile | Drama Mariana (Antonia Zegers) faz parte de uma importante família chilena, mas, apesar dos privilégios, encontra-se inteiramente infeliz em sua própria casa. Sentindo-se desprezada pelo pai e pelo marido, ela encontra refúgio nos braços do seu professor de equitação Juan (Alfredo Castro), acusado de diversos crimes durante a ditadura. A partir deste caso amoroso, Mariana contempla o passado de sua família vir à tona. O Desmonte do Monte | Brasil | Documentário A Colina Sagrada, que depois recebeu o nome de Morro do Castelo, foi o local escolhido pelos portugueses para a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Sua estrutura representa uma importante referência histórica e arquitetônica do passado da cidade carioca e, segundo uma lenda urbana, as entranhas do morro guardam um tesouro nunca encontrado. Apesar de toda relevância, o Morro do Castelo foi destruído por reformas urbanísticas que visavam promover uma especulação imobiliária na região, acabando com um dos maiores pilares da história guanabara. Estrada de Sonhos | Brasil | Documentário O documentário traz à tona a história ferroviária do Brasil. Pensando além dos trilhos e das locomotivas, discorre sobre momentos, lembranças e registros de pessoas que vivenciaram e ainda vivem esse símbolo da modernidade e progresso no passado, revisitando não apenas a primeira ferrovia do Brasil, a Barão de Mauá, como outras abandonadas.
Os Incríveis 2 é a maior estreia de cinema da semana
“Os Incríveis 2” é a maior estreia da semana nos cinemas e chega ao Brasil após bater o recorde de bilheteria do gênero nos Estados Unidos. A história da família que combate o crime e lida com afazeres domésticos também conquistou a crítica norte-americana, com 94% de aprovação na média do site Rotten Tomatoes. A programação comercial oferece boa opção para adultos em “Sicario: Dia do Soldado”, que também é uma continuação de produção consagrada. A trama acompanha dois dos personagens de “Sicario: Terra de Ninguém” (2015), o matador (Benicio Del Toro) que faz serviços sujos para o governo americano e o militar (Josh Brolin) que comanda as operações secretas. E desta vez eles vão acabar em lados opostos. Curiosamente, será a segunda vez que os dois atores se enfrentam neste ano, após “Vingadores: Guerra Infinita”. O filme também estreia neste fim de semana nos Estados Unidos e tem 73% no Rotten Tomatoes. Já quem quiser rir, pode encontrar dificuldades, especialmente com as temáticas “femininas” em cartaz. A aparente mensagem de autoaceitação corporal de “Sexy por Acidente” embute uma gordofobia histérica, que é bem pouco engraçada – 32% no RT. Assim como a ideia de que mulheres que perdem o marido precisam voltar a morar com os pais, tema de “50 São os Novos 30” – 40% no RT. As mulheres francesas não conhecem bons advogados de divórcio? A graça se esconde no circuito alternativo, em “Oh! Lucy”, que também parte de clichês – o encantamento da japonesa submissa pelo americano descolado – , mas esbanja simpatia, numa história romântica que nunca vira água com açúcar. O tom de produção indie leva a trama a lugares improváveis, agridoces e às vezes sombrios, mas sem perder seu charme. Premiada nos festivais de Sundance e Pequim, tem 100% no RT. A programação ainda apresenta seis filmes brasileiros, metade deles documentários. O principal destaque dramático é “Berenice Procura”, baseado em romance policial de um especialista nacional, Luiz Alfredo Garcia-Roza (autor adaptado em “Achados e Perdidos”), que traz Claudia Abreu como taxista tentando desvendar um crime em Copacabana – e boas interpretações, em especial da trans Valentina Sampaio. Já o melhor documentário, “Auto de Resistência”, aborda a violência policial do Rio. Vencedor do Festival É Tudo Verdade deste ano, registra vários casos de abusos, como a chacina de Costa Barros, em 2015, quando cinco jovens foram confundidos com ladrões de carga e receberam 111 tiros da polícia, e o episódio em que um morador do Morro da Providência gravou um grupo de policiais colocando uma arma na mão de um suspeito assassinado. Além disso, também acompanha os familiares das vítimas dos tais autos de resistência, e não perde tempo com análises, fazendo “cinema direto” e urgente sobre seu tema – inclusive com imagens de Marielle Franco, vereadora carioca recém-assassinada. Impactante. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas – até os menos cotados. Os Incríveis 2 | EUA | Animação Quando Helena Pêra é chamada para voltar a lutar contra o crime como a super-heroína Mulher-Elástica, cabe ao seu marido, Roberto, a tarefa de cuidar das crianças, especialmente o bebê Zezé. O que ele não esperava era que o caçula da família também tivesse superpoderes, que surgem sem qualquer controle. Sicario: Dia do Soldado | EUA | Ação O oficial da CIA Matt Graver (Josh Brolin) volta a contactar seu sicário de confiança, Alejandro Gillick (Benicio Del Toro), desta vez para sequestrar a filha caçula (Isabella Moner) de um barão das drogas mexicano. Os famosos cartéis agora são considerados células terroristas e o objetivo da missão, orientada secretamente pelo alto escalão do governo, é fazer eclodir uma guerra entre os grupos rivais. Sexy por Acidente | EUA | Comédia Renee (Amy Schumer) convive diariamente com insegurança e baixa autoestima por conta de suas formas físicas. Depois de cair e bater a cabeça numa aula de spinning, ela volta a si acreditando ter o corpo que sempre sonhou e assim começa uma nova vida cheia de confiança e sem medo de seguir seus desejos. Berenice Procura | Brasil | Suspense A taxista Berenice (Claudia Abreu) está acostumada a passar horas e horas pelo trânsito caótico da cidade do Rio de Janeiro e de seu bairro natal, Copacabana. Consumida pela profissão, o pouco tempo que tem de sobra, ela se divide entre a criação do filho Thiago (Caio Manhente), um adolescente descobrindo sua sexualidade, e sua conturbada relação com o marido Domingos (Eduardo Moscovis), um repórter policial. Até que o assassinato de Isabelle (Valentina Sampaio ), uma travesti, na praia de Copacabana, desperta um lado seu investigativo, mudando sua vida. Além do Homem | Brasil | Drama Alberto Luppo é um escritor brasileiro que mora em Paris há anos e desde então renega suas raízes tropicais. Quando um famoso antropólogo francês desaparece na cidade de Milho Verde, Minas Gerais, ele volta para sua terra natal e inicia uma investigação para descobrir o paradeiro do velho amigo. No entanto, durante a viagem, ele se encanta pela cultura brasileira, assim como suas terras e sua gente, algo até então impossível para ele. O Nó do Diabo | Brasil | Terror Há dois séculos atrás, no período da escravidão, uma fazenda canavieira era palco de horrores. Anos depois, o passado cruel permanece marcado nas paredes do local, mesmo que ninguém perceba. Eventos estranhos começam a se desenvolver e a morte torna-se evidente. Cinco contos de horror ilustram a narrativa. 50 São os Novos 30 | França | Comédia Aos 50 anos, Marie-Francine (Valérie Lemercier) está muito velha para o seu emprego e para o marido, que a troca por uma mulher mais nova. Ela volta a morar na casa dos pais, que a tratam de forma infantilizada, e começa a trabalhar em uma pequena loja de cigarros eletrônicos, onde finalmente conhecerá Miguel (Patrick Timsit). Sem admitir, ele está na mesma situação que ela. Com a paixão emergente, eles precisam abrigar o novo amor sem que nenhum dos dois tenha uma casa própria. Oh Lucy! | Japão, EUA | Comédia Setsuko Kawashima (Shinobu Terajima) é uma mulher solitária que trabalha em um monótomo escritório em Tóquio. Quando vê que precisa sair da rotina, ela decide estudar inglês, e a partir daí, sua vida nunca mais é a mesma. Durante as aulas Setsuko descobre sua outra identidade, o alter ego “Lucy”. Enquanto experimenta desejos e situações antes impensáveis, ela precisa lidar com o desaparecimento do seu instrutor John (Josh Hartnett). Auto de Resistência | Brasil | Documentário Um acompanhamento preciso dos casos de homicídios cometidos pela Polícia Militar do Rio de Janeiro classificados como “autos de resistência”, isto é, legítima defesa. Durante a tramitação dessas ocorrências na justiça, fica evidente o padrão de imprudência da corporação em relação à elas: investigações esdrúxulas e perícias defeituosas, nas quais 98% dos inquéritos são arquivados. O Desmonte do Monte | Brasil | Documentário A Colina Sagrada, que depois recebeu o nome de Morro do Castelo, foi o local escolhido pelos portugueses para a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Sua estrutura representa uma importante referência histórica e arquitetônica do passado da cidade carioca e, segundo uma lenda urbana, as entranhas do morro guardam um tesouro nunca encontrado. Apesar de toda relevância, o Morro do Castelo foi destruído por reformas urbanísticas que visavam promover uma especulação imobiliária na região, acabando com um dos maiores pilares da história guanabara. Bravas Donnas – Memória Italiana | Brasil | Documentário A história da imigração italiana para o Brasil no século 19 contada através das bravas donnas, mulheres fortes que venceram tempos difíceis. Essas mulheres e os homens que as reconhecem como figuras determinadas e importantes contam suas histórias e analisam seu papel no processo histórico de formação da família brasileira.
Com destaque para Hereditário, filmes da semana dão o que falar
Com “Jurassic World: Reino Ameaçado” repetindo sua “estreia” nesta quinta (21/6) nas mesmas 1,5 mil salas da semana passada, os lançamentos inéditos ficaram com um circuito bem mais restrito. São seis filmes e praticamente todos dão o que falar. O mais divisivo é o terror “Hereditário”, que rachou público e crítica da mesma forma que “Mãe!” no ano passado. O longa tem 90% de aprovação dos críticos relacionados pelo Rotten Tomatoes, mas apenas 56% na votação do público. A pesquisa do CinemaScore, que avalia opiniões de espectadores após as sessões, resultou numa nota D+, muito baixa, especialmente quando se leva em conta que o público costuma gostar de quase tudo. Para contrastar ainda mais, foi o filme mais elogiado do Festival de Sundance 2018, e na época atingiu impressionantes 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, num impacto comparado ao de outro longa que eletrificou o festival no passado: “A Bruxa” (2013). A reação extrema se deve à presença de cenas muito perturbadoras e gritos extremamente incômodos de Toni Collette (“xXx: Reativado”), além de um final daqueles que rendem múltiplas interpretações e discussões, a ponto de gerar uma profusão de artigos que tentam explicá-lo. Escrito e dirigido pelo estreante em longa-metragens Ari Aster, o filme aborda a história de uma família que, após perder sua matriarca, começa a descobrir segredos inquietantes sobre sua origem. E quanto mais eles descobrem, mais tentam fugir do destino sinistro que podem ter herdado. “O Amante Duplo”, novo trabalho do diretor francês François Ozon (“Uma Nova Amiga”), evoca os suspenses eróticos do final do século passado, com muita nudez e cenas de tensão. A trama reflete a manipulação sofrida pela jovem e bela Marine Vacth (de “Jovem e Bela”) como uma mulher frágil que se apaixona por seu psicanalista, vivido por Jérémie Renier (“Potiche”). Mas ela não demora a perceber que o seu amante está escondendo parte de sua identidade. Comparado às melhores obras de Brian de Palma e David Cronenberg, o filme teve sua avant-premiére mundial no Festival de Cannes do ano passado e ficou com 71% de aprovação no Rotten Tomatoes. Ainda melhor, o drama britânico “Disobedience” narra uma história de amor proibido entre Rachel Weisz (“A Luz Entre Oceanos”) e Rachel McAdams (“Doutor Estranho”), com direção do premiado chileno Sebastián Lélio (do filme vencedor do Oscar “Uma Mulher Fantástica”). Na história, adaptada do romance homônimo da escritora Naomi Alderman, Weisz vive a ovelha negra da família, que volta a encontrar seus parentes judeus ortodoxos depois de muitos anos, no enterro do pai, o rabino da comunidade, chocando sensibilidades ao decidir reviver o que a levou a sair de casa: seu amor reprimido pela melhor amiga (McAdams), que agora é casada com seu primo profundamente religioso (Alessandro Nivola, de “Ginger & Rosa”). Além de dirigir, Lélio trabalhou no roteiro com a inglesa Rebecca Lenkiewicz (do premiado drama polonês “Ida”), e o resultado tem 84% no Rotten Tomatoes. Outro longa que a crítica amou, mas não agrada tanto ao público, “Rei” tem 100% no Rotten Tomatoes. Dirigido pelo também chileno Niles Atallah (“Lucia”), parte de uma trama típica de épico histórico, sobre um aventureiro francês que se declarou rei da Patagônia. Mas sua abordagem é extremamente experimental, valorizando o baixo orçamento com imagens delirantes, de dar orgulho em outro mestre chileno, o surrealista psicodélico Alejandro Jodorowsky. O resultado é a opção mais cinéfila da semana. Dois dramas brasileiros também se destacam na programação. O cineasta Heitor Dhalia (“Serra Pelada”) dirige “Tungstênio”, adaptação da graphic novel de Marcello Quintanilha, premiada no festival francês de quadrinhos de Angoulême (o Cannes dos quadrinhos), que tem roteiro de uma dupla de peso, Marçal Aquino (“Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios”) e Fernando Bonassi (“Carandiru”). A trama é centrada nos conflitos de quatro personagens tipicamente brasileiros que se cruzam. São eles um policial movido por instintos, sua mulher, que está decidida a se separar, um traficante, cujo principal interesse é apenas sobreviver, e um ex-sargento do exército saudoso da vida no quartel. Para completar, o que acaba movendo os protagonistas é um crime ambiental. E Caio Sóh (“Por Trás do Céu”) assina “Canastra Suja”, um retrato de família mergulhada na violência e sordidez, estrelado por Marco Ricca (“Chatô, o Rei do Brasil”) e Adriana Esteves (“Real Beleza”). Confira abaixo mais detalhes de todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers. Hereditário | EUA | Terror Após a morte da reclusa avó, a família Graham começa a desvendar algumas coisas. Mesmo após a partida da matriarca, ela permanece como se fosse um sombra sobre a família, especialmente sobre a solitária neta adolescente, Charlie, por quem ela sempre manteve uma fascinação não usual. Com um crescente terror tomando conta da casa, a família explora lugares mais escuros para escapar do infeliz destino que herdaram. O Amante Duplo | França | Suspense Chloé (Marina Vacht) é uma mulher reprimida sexualmente que, constantemente, sente dores na altura do estômago. Acreditando que seu problema seja psicológico, ela busca a ajuda de Paul (Jérémie Renier), um psicólogo. Só que, com o andar as sessões de terapia, eles acabam se apaixonando. Diante da situação, Paul encerra a terapia e indica uma colega para tratá-la. Chloé, no entanto, decide ir a outro profissional, o irmão gêmeo de Paul, que ela nunca tinha ouvido falar até então. Desobediência | Reino Unido, EUA | Drama A fotógrafa Ronit (Rachel Weisz) retorna para a cidade natal pela primeira vez em muitos anos em virtude da morte do pai, um respeitado rabino. Seu afastamento foi bastante abrupto e o reaparecimento é visto com desconfiança na comunidade, mas ela acaba acolhida por um amigo de infância (Alessandro Nivola), para sua surpresa atualmente casado sua paixão de juventude, Esti (Rachel McAdams). Tungstênio | Brasil | Drama Quando pessoas começam a utilizar explosivos para pescar na orla de Salvador, na Bahia, um sargento do exército aposentado, um policial e sua esposa e um traficante vão se unir e farão de tudo para acabar com esse crime ambiental. Canastra Suja | Brasil | Drama Batista (Marco Ricca) e Maria (Adriana Esteves) formam um casal que, aparentemente, é muito feliz em seu casamento. No entanto, a verdade é que as aparências enganam e muito. Batista, um alcoólatra inveterado, e Maria, que tem um caso com o namorado de sua filha mais velha, Emília (Bianca Bin), representam uma família que está à beira das ruínas. Rei | Chile | Drama Antoine de Tounens (Rodrigo Lisboa) foi um aventureiro francês corajoso, que decidiu viajar pelo continente sul-americano em 1860 e fundar sua própria monarquia. Com o aval dos índios do sul do Chile, criou o Reino da Araucania e da Patagônia, declarando-se rei do local. Mas o governo chileno decide tomar as devidas providências para impedir o reinado deste estrangeiro em suas terras. Baseado numa história real.
Jurassic World é maior lançamento nos cinemas, embora só “estreie” na semana que vem
A estreia de “Jurassic World: Reino Ameaçado” está marcada apenas para a próxima quinta (21/6). Mas a Universal não quis esperar. Chamando de “pré-estreia”, disponibilizou quase 1500 cópias do longa nos cinemas já nesta semana. Isto é mais que qualquer outro lançamento programado para esta quinta (14/6). A nomenclatura chama de outra coisa, mas disponibilizar um filme em metade do parque exibidor nacional em horário normal e cobrar ingresso é diferente de fazer uma sessão especial em horário único, a popular pré-estreia. Impossível ignorar que milhões de espectadores levarão o filme ao topo das bilheterias deste fim de semana, refletindo o fato inegável de que se trata do maior lançamento da programação, oficial ou não. A continuação de “Jurassic World” chegou ao mercado internacional na semana passada e já faturou US$ 150 milhões. Mas a crítica não se empolgou tanto, com 65% de aprovação no Rotten Tomatoes. O filme tem muitos efeitos, recorde de dinossauros, mas não envolve como os anteriores. Isto se deve ao roteiro, escrito pelo diretor do filme passado, Colin Trevorrow. Se a trama de “Jurassic World” foi considerado uma cópia de “Jurassic Park”, a história de sua continuação é “Jurassic Park 2” em vários detalhes. E não há nada que o diretor espanhol J.A. Bayona (“O Impossível”) possa fazer para esconder a falta de originalidade. A verdade é que, enquanto o público continuar pagando, o estúdio continuará reciclando seus dinossauros, sem perceber que isso também leva a franquia cada vez mais próxima da extinção. Os demais lançamentos comerciais da semana – as estreias oficiais – não são realmente competição para o blockbuster. Fica o alerta: a comédia sexual da terceira idade “Do Jeito que Elas Querem” tem 54% no Rotten Tomatoes e o romance de doença de “Sol da Meia-Noite” conseguiu apenas 18%. Por sua vez, os estrangeiros do circuito limitado passaram sem deixar marcas pelo circuito dos festivais. Se for arriscar algum, o russo “Dovlatov” oferece um retrato histórico da estagnação cultural gerada pelo stalinismo. Os destaques da programação ficam por conta das estreias brasileiras. São cinco, ao todo. Com maior distribuição, “Talvez uma História de Amor” surpreende por apresentar uma trama de comédia romântica sem cair nos clichês típicos do gênero. O primeiro longa dirigido por Rodrigo Bernardo (da minissérie “(Des)Encontros”) é uma adaptação do romance homônimo do francês Martin Page, escrito em 2008, exemplar da escola da dramaturgia do absurdo. Na história, Mateus Solano (“Confia em Mim”) leva um fora em sua secretária eletrônica. O problema é que ele não faz ideia de quem é a voz. O medo de sofrer de amnésia dispara uma obsessão, fazendo com que ele busque pistas sobre a identidade daquela que amigos lhe dizem ter sido a mulher da sua vida. E o fato de todos se lembrarem do casal o leva à perplexidade, fazendo-o tomar uma decisão surreal: reconquistar a mulher que ele não lembra. “Amores de Chumbo”, por sua vez, aborda sexo na terceira idade com mais propriedade que “Do Jeito que Elas Querem”. Primeiro longa de ficção de Tuca Siqueira, parte de um aprofundamento de situações vislumbradas pela cineasta no documentário “A Mesa Vermelha” (2012) sobre ex-presos políticos. No drama, um triângulo amoroso interrompido pela ditadura é retomado décadas depois, numa abordagem bastante sensível. Há ainda uma antologia de terror e uma comédia adolescente. O melhor de todos os lançamentos desta quinta, porém, é o documentário “Baronesa”, vencedor do Festival de Mar del Plata e da Mostra de Tiradentes. Longa de estreia da diretora Juliana Antunes, registra o cotidiano da favela sob o ponto de vista das mulheres. A narrativa é tão rica que parece ficção, com direito a piadas, balas perdidas e drama humano. E os temas das conversas projetadas nas telas rendem mais conversas fora delas, sem fim. Além de relevante, é muito bem feito, demonstrando que documentário não precisa parecer sempre programa de TV Educativa. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas – inclusive os menos cotados. Jurassic World: Reino Ameaçado | EUA | Aventura Três anos após o fechamento do Jurassic Park, um vulcão prestes a entrar em erupção põe em risco a vida na ilha Nublar. No local não há mais qualquer presença humana, com os dinossauros vivendo livremente. Diante da situação, é preciso tomar uma decisão: deve-se retornar à ilha para salvar os animais ou abandoná-los para uma nova extinção? Decidida a resgatá-los, Claire (Bryce Dallas Howard) convoca Owen (Chris Pratt) a retornar à ilha com ela. Do Jeito que Elas Querem | EUA | Comédia Nos arredores da Califórnia, quatro amigas de longa data estão na casa dos 60 anos e decidem ler no clube do livro mensal o romance “Cinquenta Tons de Cinza”. Esse não é o tipo de livro que elas leem normalmente, o que faz com que a vida dessas mulheres bem-sucedidas e inteligentes mude completamente. Sol da Meia-Noite | EUA |Romance Katie (Bella Thorne) é uma jovem de 17 anos que vive protegida dentro de sua casa desde a sua infância. Confinada no local durante os dias, ela possui uma rara doença que faz com que a menor quantidade de luz solar seja mortal. Sua situação muda quando seu destino se cruza com o de Charlie (Patrick Schwarzenegger) e eles iniciam um romance de verão. Talvez uma História de Amor | Brasil | Comédia Quando chega em casa, depois de mais um dia corriqueiro no trabalho, Virgílio (Mateus Solano) liga a secretária eletrônica e ouve um recado perturbador. É uma mensagem de Clara (Thaila Ayala), comunicando o término do relacionamento dos dois. Virgílio, contudo, não faz a menor ideia de quem é Clara. Perturbado devido ao seu jeito metódico e controlador, ele não se lembra de ter se relacionado com ninguém, mas todos ao seu redor pareciam saber do relacionamento dos dois, perguntando como ele estava se sentindo com o término. Agora, ele precisa encontrar essa mulher misteriosa. Amores de Chumbo | Brasil | Drama Um misterioso triângulo amoroso do passado ressurge anos depois. Miguel (Aderbal Freire Filho) e Lúcia (Augusta Ferraz) estão prestes a comemorar seu aniversário de 40 anos de casamento, mas a chegada de Maria Eugênia (Juliana Carneiro da Cunha) acaba atrapalhando os planos do casal, já que, junto com seu retorno, voltam também as memórias dos amores vividos entre Miguel e Maria. Além dos horrores dos anos de chumbo, período da ditadura militar no Brasil. Baronesa | Documentário | Brasil Andreia e Leidiane são grandes amigas que moram em casas vizinhas na Vila Mariquinhas, na Zona Norte de Belo Horizonte. Elas trocam confidências, guardam sofrimentos e compartilham laços, mas quando uma guerra entre traficantes deixa o clima tenso, Andreia passa a cogitar ir embora da região. Em 97 Era Assim | Brasil | Comédia Quatro garotos de 15 anos só pensam em uma coisa: perder a virgindade. Sem dinheiro para contratarem uma prostituta, os meninos fazem tudo para conseguirem economizar uma grana, enquanto encaram os compromissos do colégio e as tensões da adolescência. Mas, nessa jornada, o que eles realmente vão descobrir é o valor da verdadeira amizade. O Nó do Diabo | Brasil | Terror Há dois séculos atrás, no período da escravidão, uma fazenda canavieira era palco de horrores. Anos depois, o passado cruel permanece marcado nas paredes do local, mesmo que ninguém perceba. Eventos estranhos começam a se desenvolver e a morte torna-se evidente. Cinco contos de horror ilustram a narrativa. O Caminho dos Sonhos | Drama | Alemanha Grécia, 1984. Theres e Kenneth, dois jovens que cantam nas ruas gregas para financiar suas férias, se conhecem e acabam se apaixonando perdidamente. Entretanto, acabam se separando porque precisam voltar para seus respectivos lares. Agora, 30 anos depois, eles se reconectam e algo adormecido desperta em seus corações. Dovlatov | Drama | Rússia, Polônia, Sérvia Mais um aniversário da Revolução Russa está sendo comemorado em 1971, mas o país não apresenta progresso político, econômico ou cultural. Os manuscritos do judeu Sergei Dovlatov (Milan Maric) são rejeitados regularmente pela mídia oficial por ter uma visão indesejada na União Soviética. Outros censurados passam por problemas similares, como seu amigo escritor Joseph Brodsky (Artur Beschastny), que foi exilado à força pelo governo. Mazinger Z: Infinity | Animação | Japão Depois de um período de dez anos, o piloto Koji Kabuto e seu robô Mazinger Z precisam enfrentar novamente Dr. Hell. Durante uma série de escavações no Monte Fuji, a montanha mais alta do Japão, foi encontrado o Infinity, um artefato que abriga a humanoide Lisa. Dr. Hell deseja roubar o Infinity para despertar Goragon, uma poderosa arma que permite a criação de novos mundos. Koji assume o controle de Mazinger mais uma vez para impedir que o cientista consiga pôr o plano em ação. Safári | Documentário | Áustria Em meio a grande selva da África, turistas caçadores alemães e austríacos estão de férias no local. Em meio aos antílopes, zebras e gnus que pastam pela selva, eles ficam na espreita, esperando suas presas. Eles atiram, pulam de emoção e posam para uma foto com o animal abatido. Um filme sobre a natureza humana.
Oito Mulheres e mais 13 filmes chegam aos cinemas nesta semana
A semana traz 14 estreias, mas apenas cinco dignas de projeção em tela grande. Destas, somente uma chega com distribuição ampla nos cinemas. Trata-se de “Oito Mulheres e um Segredo”, versão feminina de “Onze Homens e um Segredo”, que tem como maior atrativo o elenco que reúne Sandra Bullock (“Gravidade”), Cate Blanchett (“Thor: Ragnarok”), Anne Hathaway (“Colossal”), Helena Bonham Carter (“Alice Através do Espelho”), Sarah Paulson (série “American Crime Story”), Mindy Kaling (série “The Mindy Project”), Awkwafina (“Vizinhos 2”) e a cantora Rihanna (“Battleship”). Na trama, Debbie Ocean (Bullock) sai da prisão planejando o golpe do século no baile anual do Met Gala, recheado de estrelas de Hollywood e um colar extremamente precioso, que desfila no pescoço de Hathaway. É a deixa para reunir um supertime de ladras, com direção de Gary Ross (“Jogos Vorazes”). O lançamento acontece em sincronia com os Estados Unidos, onde foi aprovado por 76% da crítica, na média do site Rotten Tomatoes. O melhor filme da semana, porém, é um terror. E brasileiro, quem diria. Na verdade, “As Boas Maneiras” é um dos filmes mais premiados da atual safra nacional. O segundo longa realizado em parceria pelos diretores Juliana Rojas e Marco Dutra (de “Trabalhar Cansa”) foi o grande vencedor do Festival do Rio 2017, onde arrematou os troféus de Melhor Filme, Atriz Coadjuvante (Marjorie Estiano) e Fotografia (o português Rui Poças, de “Uma Mulher Fantástica”). Além disso, também venceu o Festival do Uruguai, o Prêmio Especial do Júri no Festival de Locarno, na Suiça, o Prêmio do Público no L’Etrange Festival, na França, e o Prêmio da Crítica no Festival de Sitges, na Espanha, entre muitas outras consagrações internacionais. Na trama, uma enfermeira da periferia de São Paulo (Isabél Zuaa, de “Joaquim”) é contratada por uma mulher rica, grávida e misteriosa (Marjorie Estiano, de “Sob Pressão”) para ajudar na casa e, após o nascimento do bebê, ser babá de seu filho. As duas desenvolvem uma forte relação de amizade, mas a gravidez se revela um horror, especialmente nas noites de lua cheia, a ponto de transformar a mulher conforme chega a hora do parto. É tenso, dramático e pronto para virar cult. O detalhe final: graças à projeção internacional, tem 100% de aprovação no Rotten Tomatoes. Para quem prefere filmes que pingam sangue, a programação reserva uma boa surpresa francesa. Com título auto-explicativo, “Vingança” traz a italiana Matilda Anna Ingrid Lutz (“O Chamado 3”) como a jovem amante de um milionário bonitão casado, que acaba estuprada pelos amigos dele durante um fim de semana de “diversão” e é abandonada para morrer no deserto. Só que ela se prova mais forte que o ódio e, no melhor estilo grindhouse, começa a caçá-los, esguichando sangue por todo o lado. Escrita e dirigida pela estreante Coralie Fargeat, “Vingança” evoca o clássico slasher “A Vingança de Jennifer” (1978), que chegou a ser proibido em alguns países. Apesar da história batida, a estilização visual agradou a crítica, o que lhe rendeu 92% de aprovação no Rotten Tomatoes após ganhar fãs nos festivais de Toronto e Sundance. Se a opção for pela comédia, “A Morte de Stalin” segue a linha do humor debochado de Armando Iannucci, criador da série “Veep”. Mas, curiosamente, é baseado numa graphic novel francesa de mesmo nome. A trama gira em torno dos dias caóticos que se seguiram à morte do líder soviético Joseph Stalin em 1953, quando o comunismo perdeu sua maior – e pior – referência. Por incrível que pareça, foi proibido na Rússia atual, supostamente democrática. O elenco reúne um time talentoso e eclético, liderado por Jeffrey Tambor (série “Transparent”), Steve Buscemi (série “Boardwalk Empire”), Rupert Friend (série “Homeland”), Michael Palin (“Ferocidade Máxima”), Jason Isaacs (franquia “Harry Potter”), Paddy Considine (“Macbeth: Ambição e Guerra”), Simon Russell Beale (“A Lenda de Tarzan”) e as atrizes Andrea Riseborough e Olga Kurylenko (ambas de “Oblivion”). Foi indicado aos BAFTA Awards (o Oscar britânico) e tem 96% de aprovação no Rotten Tomatoes. Por fim, o circuito realmente alternativo esconde “Comboio de Sal e Açúcar”, o primeiro representante de Moçambique a tentar uma vaga no Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Para aumentar ainda mais a curiosidade, é dirigido por um brasileiro. Licínio Azevedo mora em Moçambique desde 1975 e é um dos fundadores da empresa moçambicana de produção de cinema Ébano Multimédia, principal produtora do filme – e de vários outros longas-metragens e documentários premiados em todo o mundo. “Comboio de Sal e Açúcar” é seu quinto longa de ficção. Entre os anteriores, estão “Desobediência” (2003), premiado no Festival de Biarritz, e “Virgem Margarida” (2012), premiado em Amiens. Descrito como um “western africano”, o filme venceu o troféu Tanit de Ouro e mostra a perigosa viagem de um grupo, a bordo de um trem que tenta trocar sal por açúcar, atravessando zonas rebeldes de Moçambique em 1989, durante a guerra civil que varreu o país africano. Repleto de cenas de ação, sua narrativa envolvente destaca a divisão entre militares e civis no trem (comboio) que batiza a produção. A programação traz mais dois filmes de terror americanos muito ruins, diversos thrillers que parecem feitos para streaming, uma continuação russa de “Anna Karenina” e a leva semanal de documentários brasileiros que lembram programas de TV educativa. Para quem preferir ver o lado B da programação – como a sequência de “Os Estranhos” (2008), que tem 38% de aprovação – , os trailers e as sinopses de todas as estreias desta quinta (7/6) podem ser conferidas abaixo. Oito Mulheres e Um Segredo | EUA | Comédia de Ação Recém-saída da prisão, Debbie Ocean (Sandra Bullock) logo procura sua ex-parceira Lou (Cate Blanchett) para realizar um elaborado assalto: roubar um colar de diamantes no valor de US$ 150 milhões, que a Cartier mantém sempre em um cofre. O plano é convencer a empresa a emprestá-lo para que a estrela Daphne Kluger (Anne Hathaway) use a joia no badalado Met Gala, um dos eventos mais chiques e vistosos de Nova York. Para tanto, Debbie e Lou reúnem uma equipe composta apenas por mulheres: Nine Ball (Rihanna), Amita (Mindy Kaling), Constance (Awkwafina), Rose (Helena Bonham Carter) e Tammy (Sarah Paulson). As Boas Maneiras | Brasil | Terror Ana (Marjorie Estiano) contrata Clara (Isabél Zuaa), uma solitária enfermeira moradora da periferia de São Paulo, para ser babá de seu filho ainda não nascido. Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos e sinistros hábitos noturnos que afetam diretamente Clara. Vingança | França | Thriller Três homens casados e ricos fazem anualmente uma espécie de caçada no deserto. Desta vez, um dos empresários decide trazer sua amante (Matilda Lutz). Quando ela é abandonada para morrer devido a uma série de acontecimentos, eles terão que lidar com as consequências de uma mulher que busca vingança. A Morte de Stalin | Reino Unido | Comédia União Soviética, 1953. Após a morte de Josef Stalin (Adrian McLoughlin), o alto escalão do comitê do Partido Comunista se vê em momentos caóticos para decidir quem será o sucessor do líder soviético. Comboio de Sal e Açúcar | Portugal, Moçambique, Brasil | Aventura Moçambique, 1988. Em meio à guerra civil, militares escoltam um trem de carga lotado de mercadorias e pessoas que buscam uma vida melhor. Muitos viajam para trocar além das fronteiras sal por açúcar, escasso localmente, e o grande desafio da jornada cheia de atritos é superar ataques surpresas e sabotagens de grupo paramilitar liderado por homem que, segundo as lendas, se transforma em macaco. Os Estranhos – Caçada Noturna | EUA | Terror Seguindo os acontecimentos do primeiro filme, uma nova família receberá a terrível visita de três psicopatas – que têm como único objetivo transformar suas vidas em um inferno na Terra. Um Dia para Viver | EUA | Thriller Um assassino (Ethan Hawke) ganha uma segunda chance quando seu empregador o traz de volta à vida temporariamente, logo após ter sido morto no trabalho. Ele tem 24 horas para realizar sua missão e se redimir. No Olho do Furacão | EUA | Thriller Um grupo de criminosos planeja roubar US$ 600 milhões do tesouro americano durante a passagem de um furacão. No entanto, seus planos são interrompidos quando o fenômeno meteorológico atinge o nível 5, considerado o mais grave de todos, e eles precisam do código de segurança que apenas uma funcionária do banco tem conhecimento. Selfie para o Inferno | Canadá | Terror Julia é uma vlogueira canadense totalmente conectada e habituada a compartilhar sua rotina com os seguidores, famosa especialmente pelas selfies que faz com frequência. Sua vida, no entanto, toma um rumo obscuro quando, ao visitar sua prima Hanna nos Estados Unidos, cai gravemente doente e coisas muito sinistras passam a acontecer envolvendo seu smartphone. Anna Karenina: A História de Vronsky | Rússia | Drama Durante a guerra russo-japonesa, em 1904, Sergey Karenin (Kirill Grebenshchikov), o chefe de um hospital descobre que um dos oficiais feridos é o conde Vronsky (Max Matveev), a pessoa que arruinou sua mãe, Anna Karenina (Elizaveta Boyarskaya). Agora, ele procura informações sobre o amante da mãe e o quê a levou a desistir da vida. Los Territorios | Argentina, Brasil | Documentário Depois do ataque ao jornal Charlie Hebdo em Paris, Ivan, o filho fútil de um importante jornalista argentino, embarca em uma jornada, perseguindo diferentes eventos e conflitos geopolíticos ao redor do mundo. No entanto, encontrar os acontecimentos na linha de frente é uma tarefa árdua. E ainda mais difícil do que se tornar um correspondente de guerra é marcar as fronteiras entre sua vida e o egocentrismo que guia Ivan, seu pai e os conflitos globais da atualidade. Bonifácio – O Fundador do Brasil | Brasil | Documentário José Bonifácio de Andrada e Silva foi um cientista, filósofo, estrategista e herói de guerra brasileiro que teve um papel decisivo no processo de emancipação do Estado brasileiro em relação a Portugal, sendo conhecido pelo título de Patriarca da Independência. Através de entrevistas com historiadores, a trajetória de sua vida, assim como suas aventuras, são reveladas em um formato inovador, que vai muito além dos livros de história. O Muro | Brasil | Documentário Nas manifestações em 2015 no Brasil contra e a favor da então presidente Dilma Rousseff, o diretor Lula Buarque e a roteirista Isabel de Luca procuram destacar a voz das pessoas e suas opiniões sobre a política nacional. Para eles, o diálogo é tudo, já que na falta dele são construídos muros. Caminho do Mar | Brasil | Documentário O Rio Paraíba do Sul é um dos mais importantes do Brasil, no entanto, ele não recebe a atenção, nem o reconhecimento que merece. Através de relatos de moradores ribeirinhos, pescadores e estudiosos, a história do rio, conhecido pelas suas águas cor de barro, é contada desde a nascente até a foz. Atualmente, ele é responsável por fornecer alimento e energia para o sudeste brasileiro, além disso, também foi fundamental durante o ciclo da cana, do café e do período de industrialização do país.
Brega chique de Paraíso Perdido é a melhor opção das estreias de cinema
Os cinemas recebem três lançamentos amplos nesta quinta (31/5), mas a melhor estreia acontece em circuito intermediário. Esqueça o resto. “Paraíso Perdido” é brega de doer até emocionar. Embora influenciado por Pedro Almodóvar, tem tudo a ver com a cultura nacional e ainda possui qualidade artística e premissa original – justamente o contrário do outro filme nacional em circuito amplo. A obra é uma homenagem à música brega romântica, centrada numa boite que abriga uma família de cantores comandada por ninguém menos que Erasmo Carlos, de volta ao cinema mais de 40 anos após os filmes da Jovem Guarda e 34 anos desde seu último trabalho como ator. Tem muita música – clássicos – , mas também um bom enredo, que se presta até ao suspense, ao incluir um policial (Lee Taylor) como guarda-costas da cantora drag da família (vivida por Jaloo). Roteiro e direção são de Monique Gardenberg (“Ó Paí, Ó”). A maior distribuição, porém, pertence a “Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim”, continuação da animação de 2011 com músicas de Elton John. Estreia em 500 salas após sua trama, que mistura anões de jardim com Sherlock Holmes, passar batida nos Estados Unidos. Não empolgou nem o público nem a crítica americana – orçado em 59m (milhões), fez US$ 42,6m e teve 29% de aprovação no Rotten Tomatoes. “Eu Só Posso Imaginar”, por outro lado, foi um fenômeno pelo interiorzão americano, ao contar um melodrama de pai, filho e espírito santo, que inspirou um dos maiores sucessos da música gospel caipira dos Estados Unidos. A estreia coincide com a Marcha para Jesus, uma espécie de “Parada do Orgulho Evangélico”, em São Paulo. Caso típico de piada que perde a graça quando ouvida pela terceira vez, “Não Se Aceitam Devoluções” é o terceiro maior lançamento da semana. Remake brasileiro da comédia mexicana “Não Aceitamos Devoluções” (2013), de Eugenio Derbez, chega aos cinemas após até o remake francês, “Uma Família de Dois” (2016), e talvez por isso seja facilmente identificado como o mais fraco dos três, repetindo piadas que tem a ver com a cultura mexicana, sem rever sequer o humor mais preconceituoso – se bem que esperar comédia brasileira sem piada preconceituosa é acreditar em duendes. Sua maior curiosidade é mostrar o novo perfil de papéis de Leandro Hassum (“Até que a Sorte nos Separe”). Depois da cirurgia bariátrica, o ex-gordinho atrapalhado agora brinca de galã, “até que um dia” uma ex deixa a filha que ele não sabia que tinha em sua casa. A partir disso, precisa virar pai e ralar para sustentar a menina – como dublê de filmes de ação em Hollywood! No circuito limitado, o destaque é para o drama tunisiano “A Amante”, que venceu dois prêmios no Festival de Berlim – Melhor Ator para o jovem Majd Mastoura e Melhor Filme de Estreia para o diretor Mohamed Ben Attia. O longa, que tem 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes, mostra que não são apenas as mulheres que sofrem pressão da família e da cultura dos países de inclinação islâmica. Pressionado a se casar com quem não ama e corresponder expectativas, o jovem Heidi conhece e se apaixona por uma desconhecida, e precisa decidir o que fará de sua vida na véspera do casamento arranjado por sua mãe. Como curiosidade, a programação também inclui um “filme de super-herói” húngaro, “Lua de Júpiter”, que utiliza o drama dos refugiados na Europa com ponto de partida para a origem de um herói super-poderoso. Durante uma perseguição na fronteira, um imigrante ilegal é baleado e detido num campo de refugiados, mas descobre ter adquirido a capacidade de levitar. A bela fotografia ajuda a iludir, por breves minutos, que se trata de uma trama ousada e original, mas o desenvolvimento joga todas as ideias e metáforas no lugar-comum. 49% no Rotten Tomatoes. A programação se completa com mais um filme brasileiro, o suspense “A Superfície da Sombra” – que manifesta ambição, frases de efeito e realização truncada de um “David Lynch dos pampas” – , e documentários sobre autismo, banqueiros malvados e curandeiro bonzinho. Confira abaixo todos os lançamentos, com sinopses oficiais e trailers, inclusive os menos cotados. Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim | EUA | Animação Gnomeu e Julieta chegam em Londres, na Inglaterra, onde são encarregados como responsáveis pela manutenção de um novo jardim. A tarefa cria alguns atritos entre o casal, o que faz com que Gnomeu tente impressioná-la com uma flor que remete ao início do romance deles. O plano dá errado e, ao retornar para casa, Gnomeu e Julieta descobrem que todos os seus amigos gnomos desapareceram. Logo eles encontram Sherlock Gnomes, que está investigando o sumiço deles ao lado de seu fiel companheiro Watson. Eu Só Posso Imaginar | EUA | Drama Bart Millard (J. Michael Finley) é o vocalista da banda cristã MercyMe e tem um relacionamento conturbado com seu pai, que sempre o tratou de maneira dura e nunca entendeu seu amor pela música. Conseguindo forças através de Deus, Bart resolve então eternizar sua relação em uma canção, “I Can Only Imagine”. Não Se Aceitam Devoluções | Brasil | Comédia Juca Valente (Leandro Hassum) é dono de um quiosque no litoral de São Paulo e só quer saber de diversão. Eterno namorador, ele detesta grandes responsabilidades e não pensa em ter nada sério com ninguém. Mas sua vida toma um rumo totalmente diferente quando uma ex-namorada americana larga um bebê com ele e desaparece. Juca então parte para os Estados Unidos na intenção de devolver a criança, sem imaginar que começaria a gostar da ideia de ser pai. Paraíso Perdido | Brasil | Drama musical Paraíso Perdido é um clube noturno gerenciado por José (Erasmo Carlos) e movimentado por apresentações musicais de seus herdeiros. O policial Odair (Lee Taylor) se aproxima da família ao ser contratado para fazer a segurança do jovem talento Ímã (Jaloo), neto de José e alvo frequente de homofóbicos, e aos poucos o laço entre o agente e o clã de artistas românticos vai se revelando mais e mais forte – com nós surpreendentes. A Superfície da Sombra | Brasil, Uruguai | Suspense O solitário Tony (Leonardo Machado) viaja até o extremo sul do país para o funeral de uma antiga amiga. Ele acaba se atrasando e perde a cerimônia, mas conhece Blanca (Giovana Echeverria), garota misteriosa que se oferece para guiá-lo pela cidade. Eles acabam começando uma relação amorosa enquanto estranhos acontecimentos passam a fazer parte da rotina de Tony no lugarejo. Lua de Júpiter | Hungria, Alemanha | Sci-Fi Aryan, um jovem migrante, é baleado ao tentar cruzar ilegalmente a fronteira da Hungria. Depois do choque provocado pelo acidente, descobre que adquiriu o poder de levitar e agora, preso em um campo refugiados, precisa contar com a ajuda do Dr. Stern, que tem interesses muito específicos em sua habilidade sobrenatural. A Amante | Tunísia, Bélgica, França | Drama Hedi (Majd Mastoura) é um homem introvertido, que não espera muito da vida. Ele permite que todos tomem decisões por ele, como sua autoritária mãe, que planeja seu casamento; seu chefe, que o faz trabalhar em datas comemorativas; e seu irmão, que sempre diz como ele deve se comportar. Em uma viagem profissional, Hedi conhece Rim (Rym Ben Messaoud), com quem inicia passional relação amorosa. Agora, durante o tempo em que os preparativos de seu matrimônio acontecem, Hedi é forçado a finalmente tomar uma decisão. Em um Mundo Interior | Brasil | Documentário O documentário registra a vida de famílias de classes sociais e regiões distintas cujos filhos manifestam transtornos sensoriais ou cognitivos, buscando compreender a percepção do mundo pelo ponto de vista de jovens com Transtornos do Espectro do Autismo. Dedo na Ferida | Brasil | Documentário Abordando o sistema financeiro e suas contradições, o ducumentário faz um questionamento a respeito de um dos principais discursos das autoridades financeiras: de que não podemos gastar mais do que arrecadamos. Através de diversas entrevistas, é composto um panorama de como o capital pode influenciar a política, os governos e a vida cotidiana de qualquer pessoa. João de Deus – O Silêncio é uma Prece | Brasil | Documentário A história do famoso médium João de Deus desde sua infância paupérrima no interior de Goiás até o presente momento, em que ele incorpora médicos e sugere ter adquirido poderes curativos. O documentário também relata a descoberta do dom paranormal e narra o bullying que o médium sofreu daqueles que duvidavam de sua sensibilidade.
Han Solo é a maior estreia dos cinemas nesta semana
O novo filme da franquia “Star Wars”, centrado na juventude de Han Solo, chega em mais de mil salas de cinema nesta quinta (25/5). A trama conta tudo o que os fãs já sabem sobre a origem do personagem, mas nunca tinham visto, e acrescenta algumas reviravoltas, além de ter um grande diferencial em relação aos demais títulos da franquia: é o primeiro que se passa na época do Império sem a presença de rebeldes em missão para destruir a Estrela da Morte. Com clima de aventura espacial, o filme também é mais leve que a recente trilogia – apesar de seus bastidores, que pesaram com a demissão e substituição dos diretores durante as filmagens. Um passatempo que agrada, mas sem empolgar muito. Com 71% de aprovação no Rotten Tomatoes, é o terceiro pior “Star Wars” já feito, acima apenas dos dois péssimos primeiros “Episódios” da trilogia dos anos 1990 – a nota cai ainda mais, para 63% apenas com a cotação da imprensa, isto é sem o aval dos blogueiros nerds. Como os cinemas de shopping center ainda estão passando “Deadpool 2” e “Vingadores: Guerra Infinita”, os demais lançamentos disputam espaço no circuito alternativo. Nada menos que 10 filmes – quatro deles brasileiros. Melhor das opções, a comédia “Tully” volta a reunir a equipe de “Jovens Adultos” (2011): a atriz Charlize Theron, a roteirista Diablo Cody e o diretor Jason Reitman. A trama mostra a atriz esgotada pela rotina de ser mãe de duas crianças pequenas e um bebê recém-nascido. Mas ela não é a personagem-título. Tully, na verdade, é uma “Mary Poppins” moderna, uma babá cheia de sorrisos e juventude, vivida por Mackenzie Davis (série “Halt and Catch Fire”). Ao lidar com as dificuldades da maternidade nos dias atuais com humor e honestidade, o filme conquistou a simpatia da crítica, obtendo 87% de críticas positivas. Detalhe: a nota é a mesma entre nerds e imprensa. Na prática, isto significa que todos concordam que “Tully” é melhor que o “Han Solo”. Vale a pena conferir também o lançamento europeu “Réquiem para Sra. J”, longa de estreia do sérvio Bojan Vuletic, em que a protagonista, mergulhada na depressão após um ano da morte do marido, planeja seu suicídio para não ter mais que lidar com as filhas, mas não sem antes planejar seu enterro. A premissa dramática esconde, na verdade, boa dose de humor negro. Como curiosidade, a programação internacional inclui ainda o terceiro lançamento do sul-coreano Hong Sang-soo no país em sete meses. O cineasta roda um filme atrás do outro, assim aproveitou que estava em Cannes para exibir uma dessas obras e filmou rapidamente “A Câmera de Claire” com a atriz francesa Isabelle Huppert – que ele já tinha dirigido em “A Visitante Francesa”, em 2012. Mas quem chama mais atenção é a bela Kim Min-hee, que estrelou os outros dois filmes mais recentes de Sang-soo e neste reprisa as situações dos anteriores – vagueia na praia como em “Na Praia à Noite Sozinha” e tem problemas no emprego como em “O Dia Depois”. Na seleção brasileira, o melhor é o documentário “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro”, uma viagem nostálgica pela imprensa antes da internet. “Antes que eu Me Esqueça”, supostamente uma comédia, revela-se um senhor melodrama. Já o besteirol “Alguém Como Eu” e o esotérico “Rio Mumbai”, que viajam literal e figurativamente, apelam a elementos fantásticos para fazer graça e drama. E conseguem ser realmente um espanto. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses oficiais e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas – inclusive os menos cotados. Han Solo: Uma História Star Wars | EUA | Sci-Fi As aventuras do emblemático mercenário Han Solo (Alden Ehrenreich) e seu fiel escudeiro Chewbacca (Joonas Suotamo) antes dos eventos retratados em “Guerra nas Estrelas”, inclusive encontrando com Lando Calrissian (Donald Glover). Tully | EUA | Comédia Marlo (Charlize Theron), mãe de três filhos, sendo um deles um recém-nascido, vive uma vida muito atarefada, e, certo dia, ganha de presente de seu irmão uma babá para cuidar das crianças durante a noite. Antes um pouco hesitante, Marlo acaba se surpreendendo com Tully (Mackenzie Davis). Uma Escala em Paris | EUA, França | Drama Gina (Lindsay Burdge), uma comissária de bordo americana, que depois de uma temporada sozinha e deprimida pelo suicídio de seu namorado, acaba conhecendo e se apaixonando por Jérôme (Damien Bonnard), um garçom parisiense. E, quando finalmente decide ficar na França para viver este amor, surge Clémence (Esther Garrel), um antigo amor de Jérôme que transformará a vida de Gina em uma rede de desilusões e loucura. Olhos do Deserto | Canadá, França | Drama Gordon (Joe Cole), um operador de hexapod, uma espécie de robô aranha, e Ayusha (Lina El Arabi), uma jovem do Oriente Médio, estão desenvolvendo uma relação aparentemente impossível. Ele, que é um guardião de um oleoduto no deserto através dos olhos do robô, acaba se apaixonando pela moça, a quem observa diariamente. O único problema é que, para o azar dos dois, ele controla o sistema do outro lado do mundo, na América. Colheita Amarga | Canadá | Drama Ucrânia, 1930. Yuri (Max Irons), artista nascido numa família de guerreiros cossacos, se esforça para conseguir uma aprovação dos parentes e tem a vida transformada quando o Exército Vermelho invade seu país e sua família é perseguida pelo regime stalinista. Réquiem para Sra. J | Sérvia, Bulgária, Macedônia, Rússia, França | Drama Sra. J. (Mirjana Karanovic) passa seus dias desolada. Viúva e desempregada, ela se sente cansada e solitária, mesmo morando com suas duas filhas e sua sogra. Entendiada, decide cometer suicídio, mas antes precisa resolver algumas tarefas importantes, como preparar sua lápide ao lado do finado esposo. A Câmera de Claire | França, Coreia do Sul | Drama Numa viagem de trabalho ao Festival de Cannes, Jeon Man-hee (Kim Min-hee) é demitida por sua chefe, que não revela o real motivo da demissão. Ao mesmo tempo, Claire (Isabelle Huppert), uma professora que sonha em trabalhar como poeta, sai pelas ruas tirando fotos em sua câmera Polaroid. Essas duas mulheres se conhecem e tornam-se amigas. Por acaso, as imagens de Claire ajudam Jeon a compreender melhor o momento pelo qual está passando. Alguém Como Eu | Brasil | Comédia Helena (Paolla Oliveira) e Alex (Ricardo Pereira) são um casal que, como todos os outros, vivem diferentes fases em seu relacionamento. Depois de alguns meses de dúvidas sobre o seu namoro, Helena passa a imaginar como seria se Alex fosse uma mulher, mas sua obsessão pelo assunto vai transformar seus devaneios em algo que a atrapalha. Antes que eu Me Esqueça | Brasil | Comédia Aos 80 anos de idade, Polidoro (José de Abreu) é um soberbo juiz aposentado que vive sozinho e mal tem contato com o filho Paulo (Danton Mello), pianista fracassado. Quando sua filha mais próxima, Bia (Letícia Isnard), entra com uma ação para interditá-lo, ele decide investir seus fundos numa boate de striptease em Copacabana. Rio Mumbai | Brasil | Drama Nelson (Pedro Sodré) é um jovem jornalista casado com Maria (Clara Choveaux). Um dia, o rapaz passa a presenciar estranhas experiências e é convencido por seu vizinho, um velho cientista (Bruce Gomlevsky), de que tais acontecimentos estão ligados a viagens no tempo. Maria, por sua vez, descobre por meio de um diário de bordo que há uma conexão atemporal entre eles. A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro | Brasil | Documentário A história do Brasil nos anos 1960, 70 e 80 é revisitada através de um panorama da vida de Tarso de Castro, jornalista criador do Pasquim e membro de uma geração de intelectuais que se opunham à ditadura militar.
Deadpool 2 vira maior lançamento “para adultos” de todos os tempos no Brasil
A classificação etária para maiores de 18 anos não mudou a programação da Fox para “Deadpool 2”, que chega aos cinemas nesta quinta (17/5) em aproximadamente 1,4 mil salas. Trata-se da maior distribuição de um filme para adultos de todos os tempos no Brasil. Contribui para a elevada expectativa de comparecimento o fato de os filmes de super-heróis arrasarem quarteirões no país mesmo quando são ruins – o Brasil foi um dos países em que “Liga da Justiça” fez mais sucesso – , além de ser uma continuação com personagem conhecido e o investimento em marketing criativo ter sido esmagador – até Rubens Barrichello se envolveu na divulgação. A cereja no topo é o fato de “Deadpool 2” ser uma fantástica explosão metalinguística de violência e humor negro, que tende a deixar o público na dúvida se acredita no que está vendo ou se cobre os olhos para não ver. A história? O que que menos importa é a história. Quem viu o primeiro, já sabe o que esperar. E tem o detalhe: o filme está com 85% de aprovação no site Rotten Tomatoes, então é oficialmente melhor que o primeiro, que teve 83% de críticas positivas. A contraprogramação nos shoppings é um desenho animado para crianças, infantilóide a ponto de dispensar trabalho aos neurônios. Produção alemã, “A Abelhinha Maya: O Filme” é um derivado de uma série televisiva do Studio 100 Animation (o mesmo que produziu as novas séries de “Heidi” e “Vicky, o Viking”) exibida no canal pago Disney Junior. No circuito limitado, o destaque é o documentário “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que venceu vários prêmios internacionais. Ao cobrir o Impeachment de Dilma, o filme escancara a bizarrice que reina no Congresso nacional, um show de horrores que os eleitores precisam parar de prestigiar. Dito isso, sua narrativa tenta diferenciar os que vestem vermelho, embora, na vida real, tanto estes quanto aqueles se igualam em outros processos, que não são políticos, mas criminais. Completam a programação limitada quatro dramas. Dentre eles, o brasileiro “Querida Mamãe” e o japonês “Entre-Laços” têm em comum o tema da aceitação e da tolerância em relação à sexualidade de pessoas que compõem as famílias abordadas. Vale avisar que o japonês é muito melhor resolvido, tanto que venceu o Teddy Award (melhor filme de temática LGBT) do Festival de Berlim. Confira abaixo todos os filmes, com sinopses e trailers, que estreiam nesta semana nos cinemas. Deadpool 2 | EUA | Super-Heróis Quando o super-soldado Cable (Josh Brolin) chega em uma missão para assassinar o jovem mutante Russel (Julian Dennison), o mercenário Deadpool (Ryan Reynolds) precisa aprender o que é ser herói de verdade para salvá-lo. Para isso, ele recruta seu velho amigo Colossus e forma o novo grupo X-Force, sempre com o apoio do fiel escudeiro Dopinder (Karan Soni). A Abelhinha Maya: O Filme | Alemanha | Animação Quando a entusiasmada Maya surpreende de maneira negativa a Imperatriz de Buzztropolis, ela é forçada a formar uma equipe para competir nos Jogos de Mel. Com a chance de salvar sua colmeia, Maya irá conhecer novos amigos, além de adversários extremamente habilidosos, e se aventurar além do jogo. O Processo | Brasil | Documentário A diretora Maria Augusta Ramos passou meses no Planalto e no Congresso Nacional captando imagens sobre votações e discussões que culminaram no Impeachment da “presidenta” Dilma Rousseff, e mostra os bastidores políticos da crise política sem nenhum tipo de abordagem direta, como entrevistas ou intervenções nos acontecimentos. Querida Mamãe | Brasil | Drama Heloísa (Letícia Sabatella) é uma médica que sofre de infelicidade crônica, tendo problemas com o marido (Marat Descartes) e a própria mãe (Selma Egrei), a quem constantemente acusa de tê-la preterida pela irmã. Após se separar do marido, Heloísa conhece no hospital em que trabalha a pintora Leda, que sofreu um acidente de carro. Grata pelo atendimento prestado, Leda deseja pintar um quadro da médica. Inicialmente reticente, ela aceita a proposta e, ao visitar o ateliê, acaba se envolvendo com a pintora. Entretanto, por mais que o novo relacionamento deixe Heloísa bem mais feliz, ela precisa lidar com o preconceito tanto de sua mãe quanto da própria filha. Entre-Laços | Japão | Drama Aos 11 anos de idade, Tomo é abandonada pela mãe e terá que confiar na ajuda de seu tio, que a leva para morar com ele e sua namorada Rinko. Inicialmente com pensamentos confusos após descobrir que Rinko é uma mulher transexual, Tomo vai aos poucos descobrindo o verdadeiro sentido de família. A Natureza do Tempo | Argélia, França, Alemanha | Drama Argélia, tempos atuais. Entre as novas configurações da sociedade árabe contemporânea, a vida de três pessoas completamente distintas irão se interligar inesperadamente: a de um corretor de imóveis rico, de um médico neurologista ambicioso preso ao seu passado e a de uma bela jovem totalmente dividida entre a razão e a emoção. Paris 8 | França | Drama Etienne se muda para Paris para estudar cinema. Na faculdade, ele conhece dois jovens que compartilham objetivos similares aos seus, mas, ao longo do ano, nem tudo sai como o planejado.
Filme religioso e terror adolescente marcam semana sem grandes estreias de cinema
O impacto de “Vingadores: Guerra Infinita” encolheu o circuito, que não tem nenhum grande lançamento, em mais de um sentido, nesta quinta (3/5). As maiores estreias são filmes que fracassaram nos Estados Unidos. Mas há opções europeias razoáveis em lançamento limitado para cinéfilos dos grandes centros urbanos. Ao todo, são apenas sete estreias e, pela primeira vez no ano, nenhuma delas é documentário. Clique nos títulos abaixo para ver os trailers de cada obra. “Paulo – Apóstolo de Cristo” segue “Ben-Hur”, “Ressurreição”, “Maria Madalena” e “Últimos Dias no Deserto” na ressurreição dos filmes sobre as origens do cristianismo. Mas esta súbita proficuidade não encontrou respaldo do público, já que todos deram prejuízo nas bilheterias. O que chega agora no Brasil é o mais barato da tendência, que busca recriar o período do império romano com apenas US$ 5 milhões de orçamento – contra os US$ 100 milhões de “Ben-Hur” – e foi considerado medíocre pela crítica americana – 41% no Rotten Tomatoes. A trama gira em torno do santo que batiza São Paulo, que foi o maior algoz dos cristãos antes de passar pela mais espetacular conversão de relações públicas de todos os tempos, virando o principal representante do cristianismo, por meio de seus próprios relatos. O filme não se detém sobre esta reflexão cínica, preferindo aderir à história oficial, a religiosa, que o próprio Paulo escreveu. Assim, ele já surge em cena cativo em Roma, prisioneiro de Nero e sofrendo punições dignas de Cristo, ao mesmo tempo em que lamenta seu passado e conspira com Lucas para escrever e contrabandear as bases do Novo Testamento. O intérprete de Paulo, James Faulkner, já foi um Papa corrupto na série “Da Vinci’s Demons”, e a interpretação de Lucas traz de volta Jim Caviezel a esse período histórico, após sofrer como o personagem-título de “A Paixão de Cristo” (2004). O terror “Verdade ou Desafio” reúne dois astros de séries adolescentes, Lucy Hale (de “Pretty Little Liars”) e Tyler Posey (“Teen Wolf”), numa história batida de terror, em que um grupo de jovens é assombrado por uma ameaça sobrenatural, determinada a matar um por um. Os clichês lembram de “Premonição” (2000) ao terror da semana passada, qualquer que tenha sido, de tão convencional que é a história. Numa época de renascimento do gênero, o longa de Jeff Wadlow (“Kick-Ass 2”) representa um grande retrocesso e foi recebido com tomates podres nos Estados Unidos – meros 15% de aprovação no Rotten Tomatoes. “Gringo – Vivo ou Morto” é uma comédia de ação com elenco famoso, violência e humor negro. O gringo do título é um funcionário azarado de uma empresa farmacêutica. Endividado, mal-amado e infeliz, é encarregado de entregar uma fórmula de pílula de cannabis para um laboratório no México e aproveita a viagem para cair na farra, quando acaba raptado por narcotraficantes. David Oyelowo (“Selma”) interpreta o protagonista, Charlize Theron (“Mad Max: Estrada da Fúria”) e Joel Edgerton (“Ao Cair da Noite”) são seus patrões gananciosos, e a história ainda tem uma turista americana vivida por Amanda Seyfried (“Ted 2”) e um mercenário humanitário incorporado por Sharlto Copley (“Elysium”), sem esquecer Thandie Newton (série “Westworld”) no papel de mulher de Oyelowo e coadjuvantes como Melonie Diaz (“Fruitvale Station”) e… Paris Jackson (a filha de Michael). Esse elenco diversificado é dirigido por Nash Edgerton (“O Quadrado”), irmão mais velho do ator Joel Edgerton, que se esforça muito para passar por um Quentin Tarantino australiano. Deveria se esforçar mais para ser original, já que a obra obteve 41% de aprovação no Rotten Tomatoes. Único lançamento nacional da semana, o drama “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos” traz Edson Celulari como um cego de nascença, que vive feliz com a mulher e a filha, até que tem a chance de voltar a ver com uma cirurgia. O ator não filmava desde “Diário de um Novo Mundo” (2005) do mesmo diretor, Paulo Nascimento, e é a única motivação para se desperdiçar a visão com este melodrama moralista que prega o contentamento e outras banalidades. Circuito europeu Representante italiano a uma vaga no Oscar 2018, “Ciganos da Ciambra” é uma coprodução brasileira. Em seu time de produtores, figura o brasileiro Rodrigo Teixeira, além do americano Martin Scorsese. Escrito e dirigido por John Carpignano (“Mediterranea”), o longa é expansão de um curta homônimo, premiado no Festival de Cannes em 2014. A trama se passa em uma comunidade cigana na região da Calábria, sul da Itália, e acompanha o rito de passagem de um jovem cigano de 14 anos. O personagem é interpretado pelo ator Pio Amato (também de “Mediterranea”) com um naturalismo impressionante. Fuma, bebe e é o homem da casa, após o pai e o irmão serem presos, e não conhece outro modo de sustentar os parentes que não seja praticar roubos. A filmagem em tom documental é aflitiva, num resgate do neorrealismo italiano, reforçado pela escolha do elenco amador. É possível achar que esse filme já foi visto há 50 anos. Mas também é possível lamentar que, em meio século, o mundo tenha permanecido tão igual em sua desigualdade. Carpignano venceu o David di Donatello 2018 (o Oscar italiano) de Melhor Direção. O destaque de “Os Fantasmas de Ismael” é o elenco, que reúne Marion Cotillard (“Assassin’s Creed”) e Charlotte Gainsbourg (“Ninfomaníaca”) como rivais pelo amor de Mathieu Amalric (“O Grande Hotel Budapeste”). A trama gira em torno do Ismael do título (Amalric), cuja mulher (Cotillard) lhe abandonou há 20 anos e é dada como morta. Ao se apaixonar e iniciar uma nova relação (com Gainsbourg), ele é surpreendido pela volta de ex, supostamente do além – na verdade, da Índia. O filme francês tem roteiro e direção de Arnaud Desplechin (“Três Lembranças da Minha Juventude”), que desperdiça uma premissa misteriosa com subtramas desnecessárias, para justificar a presença do igualmente excelente elenco coadjuvante: Alba Rohrwacher (“As Maravilhas”), Hippolyte Girardot (“Amar, Beber e Cantar”) e Louis Garrel (“Saint Laurent”). Mas, em seu terço final, reduz tudo ao egocentrismo do personagem de Amalric, um diretor de cinema em crise que não consegue terminar seu filme, exatamente como parece ser aqui o caso de Desplechin. Por fim, o menos badalado e melhor dos europeus. “O Parque” já tem dois anos, lançado no Festival de Cannes 2016, e seu diretor, o francês Damien Manivel (“O Jovem Poeta”), até fez mais um longa desde então. A obra gera perplexidade por ser muito simples e, ao mesmo tempo, complexa. Sem movimentos de câmera ou trilha sonora, com atores estreantes, que batizam os personagens, e passado inteiramente no parque do título, o filme acompanha dois adolescentes em seu primeiro encontro romântico, durante uma tarde de verão. Entre conversas típicas da situação e a separação do casal ao anoitecer, acontece outro encontro, mais inusitado, entre a nouvelle vague romântica e o cinema fantástico do tailandês Apichatpong Weerasethakul. Impressionante.
Vingadores: Guerra Infinita chega com força total aos cinemas
Os super-heróis da Marvel chegam com força total nesta quinta (26/4), ocupando mais de mil telas de cinemas. Mas o circuito limitado resiste ao esmagamento do blockbuster com a programação de mais oito lançamentos, dos quais cinco são produções nacionais. Clique nos títulos de cada filme para ver os trailers de cada estreia. Culminação do plano de dez anos da Marvel para conquistar o mundo, “Vingadores: Guerra Infinita” é o crossover mais ambicioso já feito. Ou seja, um longa que necessita que o espectador tenha visto vários outros filmes antes de entrar no cinema. Ápice do gênero dos filmes de quadrinhos, em que tudo é continuação e o próximo capítulo precisa superar o anterior, o terceiro “Vingadores” é hiperlativo em tudo, da maior quantidade de super-heróis já reunida à maior duração de uma produção do estúdio, sem esquecer da maior quantidade de lutas. Festival de socos e chutes, tem ação do começo ao fim, com algumas piadinhas típicas, mas num tom dramático que costuma ser mais associado aos longas da DC Comics, com direito até à morte de Superman – ou equivalente reversível na Marvel. Trata-se também do mais caro comercial de todos os tempos, com US$ 150 milhões investidos por empresas de carros, refrigerantes e outras para incluir seus produtos em momentos estratégicos da projeção. Mas os fãs nem perceberão as mensagens subliminares, já que o final trágico monopolizará as discussões por pelo menos um ano, até o próximo filme, num exemplo da eficiência máxima da fórmula Marvel de cinema. O fiapo da história que justifica a sinergia de marcas, reunindo Vingadores, Guardiões da Galáxia, Doutor Estranho e personagens de Pantera Negra, gira em torno da ameaça de Thanos, supervilão que chega para mostrar para a Warner o que ela podia ter feito com Darkseid. Quarteirões serão arrasados com os inevitáveis recordes de bilheteria. Dramas indies A programação inclui mais três filmes falados em inglês, dois deles ingleses de verdade, todos dramáticos e de estúdios independentes. “Estrelas de Cinema Nunca Morrem” traz Annette Bening (“Mulheres do Século 20”) como a estrela do cinema noir Gloria Grahame (“No Silêncio da Noite”, “Os Corruptos”) no final de sua vida. E sua atuação é o grande destaque da produção, que tem diretor fraquinho (Paul McGuigan, de “Victor Frankenstein”) e segue a estrutura convencional das obras biográficas. Na trama, Bening incorpora a estrela hollywoodiana já em fase decadente, que viaja para Liverpool, na Inglaterra, em 1981 para trabalhar numa peça de teatro, onde acaba se envolvendo num romance com um homem muito mais jovem, encarnado por Jamie Bell (“Quarteto Fantástico”). A história é baseada nas memórias de Peter Turner, o personagem de Bell. E o que começa como a atração de um jovem aspirante a ator por uma femme fatale lendária logo vira um relacionamento profundo, que precisará ser testado quando a atriz descobre que está morrendo de câncer, aos 57 anos de idade. Recebida com elogios da crítica, o longa viu sua aprovação cair de 95% para 80% no Rotten Tomatoes quando a atuação de Bening não lhe rendeu sua quinta indicação ao Oscar. “Somente o Mar Sabe” é o novo drama baseado numa história real do diretor James Marsh (“A Teoria de Tudo”). Narra a façanha do empresário britânico e marinheiro amador Donald Crowhurst, que, apesar de sua inexperiência, construiu um barco para participar de uma competição de velejadores em 1968, uma maratona solitária e sem paradas ao redor do mundo. Seu objetivo era ganhar o prêmio para saldar suas extensas dívidas, mas ao embarcar na viagem não levou em conta como seria difícil cumprir o trajeto. Desesperado sob a fúria dos elementos, ele decide forjar sua localização para sugerir que está sendo bem-sucedido em sua aventura. Colin Firth (“Kingsman: O Círculo Dourado”) vive o protagonista e o elenco também destaca Rachel Weisz (“A Luz Entre Oceanos”) como sua esposa. 73% no Rotten Tomatoes. “Tudo que Quero” presta homenagem aos fãs de “Star Trek”, ao ao acompanhar uma jovem autista obcecada pelo universo trekker, que sonha escrever para a franquia. Logo, uma competição de roteiros para uma nova história da série a faz fugir dos cuidados da terapeuta e da irmã mais velha para chegar à fronteira final: Los Angeles, um lugar inamistoso e cheio de perigos para alguém em suas condições. Dakota Fanning (“Amaldiçoada”) tem o papel principal e o elenco traz Toni Colette (“Uma Longa Queda”) como a terapeuta e Alice Eve (que já estrelou um filme da franquia, “Além da Escuridão: Star Trek”) como a irmã mais velha. A direção é do polonês Ben Lewin, de 71 anos de idade, cujo trabalho mais recente foi o premiado drama indie “As Sessões” (2012). Para completar, a trilha é do guitarrista brasileiro Heitor Pereira (da franquia “Meu Malvado Favorito”). O resultado, porém, tem apenas 58% de aprovação – média para se ver em streaming. Festival de cinema brasileiro Em compensação, vale a pena ir ao cinema apreciar as produções nacionais da semana, que contam histórias necessárias do Brasil atual. “Praça Paris” venceu os prêmios de Melhor Direção e Atriz no Festival do Rio do ano passado. Suspense dramático, acompanha uma terapeuta portuguesa (Joana de Verona, de “Mistérios de Lisboa”) que trabalha na UERJ, onde atende Glória (Grace Passô, a premiada, de “O Roubo da Taça”), ascensorista da universidade, que lhe narra uma realidade bastante violenta – foi estuprada pelo próprio pai quando criança e seu irmão é um perigoso bandido que está na prisão. Cada vez mais assustada com os relatos, a terapeuta se sente ameaçada ao mesmo tempo em que Glória passa a vê-la como algo essencial em sua vida. Dirigido pela veterana Lúcia Murat (“A Memória que me Contam”), o longa exibe um retrato perturbador do Brasil atual, com elementos para se discutir racismo, empoderamento feminino e divisões sociais do país. E com uma tensão aflitiva, que não deixa seguro nem quem está no cinema. “A Cidade do Futuro” gira em torno de um relacionamento homoafetivo e a formação de uma família moderna por um casal gay e a irmã grávida de um deles. Entretanto, a história se passa no sertão baiano, marcado por machismo e homofobia, e foi inspirada em experiências reais do trio de atores (Mila Suzarte, Gilmar Araújo e Igor Santos) que, não por acaso, emprestam seus próprios nomes aos personagens. Assim, o filme dos codiretores Marília Hughes Guerreiro e Cláudio Marques (“Depois da Chuva”) simboliza os dramas reais de inúmeras pessoas obrigadas a deixar seus lares e migrar para terra desconhecida, devido à intolerância. Uma denúncia importante sobre um fenômeno que não vira manchete dos jornais, atualmente preocupados em avisar quem viajar à Copa 2018 que a Rússia é homofóbica. Mas a Rússia é aqui. Um dos principais documentários do ano, “Ex-Pajé” chega ao circuito comercial após ganhar Menção Especial no Festival de Berlim e vencer o prêmio da crítica no É Tudo Verdade. Novo trabalho de Luiz Bolognesi, roteirista de “Elis”, “Como Nossos Pais” e “Bingo: O Rei das Manhãs” e diretor da premiada animação “Uma História de Amor e Fúria”, registra os povos da floresta Amazônica nos dias de hoje, a partir da história de Perpera, um índio Paiter Suruí que viveu até os 20 anos numa tribo isolada onde se tornou pajé. Mas, após o contato com os homens brancos, ouviu de um pastor evangélico que ser pajé é coisa do diabo e viu sua tribo se voltar contra ele. O filme mostra como missões evangélicas aceleram a aculturação, transformando em pecado um estilo de vida que lograra escapar da dizimação desde a colonização portuguesa. A fotografia do espanhol Pedro J. Márquez (“Como Nossos Pais”) merece menção à parte, por ser de tirar o fôlego. Os dois documentários que fecham a programação são “Rogério Duarte – O Tropikaoslista”, um registro com entrevistas e imagens de arquivo do artista plástico tropicalista Rogério Duarte, figura fundamental da arte brasileira dos anos 1960 e 70, falecido há dois anos, e “Pagliacci”, dedicado à arte dos palhaços, que conta a trajetória do grupo LaMínima, criado por Fernando Sampaio e pelo também recém-falecido ator Domingos Montagner (da novela “Velho Chico”).
Sem blockbusters, cinemas recebem filmes de José Padilha, Wim Wendes e Hirokazu Kore-Eda
Em semana sem blockbusters, a programação de cinema ganha perfil de festival internacional, com lançamentos de Wim Wenders, Hirokazu Kore-Eda, José Padilha e do retorno de Ruy Guerra após mais de uma década. Mas só os nomes famosos não garantem bons filmes. Até o terror horroroso com maior distribuição, que abre em 380 salas, é de um diretor francês conhecido. “Exorcismos e Demônios” tem direção de Xavier Gens, que retorna ao gênero que o consagrou em “(A) Fronteira” (2007), após fracassar em produções mais convencionais. Baseado numa história real, conta a história do exorcismo de uma jovem freira esquizofrênica por um padre psicopata, com requintes de crueldade. O fato chocou a Romênia e inspirou um filmão. Não este, mas “Além das Montanhas” (2012), do romeno Cristian Mungiu. A versão de terror, porém, não passa de um sub-“O Exorcismo de Emily Rose” (2005), que conseguiu uma rara unanimidade entre a crítica norte-americana: atingiu 0% (zero por cento) de aprovação no site Rotten Tomatoes. Um horror de ruim. Festival internacional “7 Dias em Entebbe” é o segundo filme internacional de José Padilha e, como “RoboCop” (2014), trata de história já vista antes, a quarta filmagem de uma das missões de resgate e combate ao terror mais famosas de todos os tempos: o salvamento dos passageiros de um voo da Air France vindo de Tel Aviv, que teve sua trajetória desviada para Entebbe, em Uganda, por sequestradores em 1976. Em vez de destacar a ação de resgate como as produções B anteriores – entre elas, telefilmes com Charles Bronson (“Desejo de Matar”) e Linda Blair (“O Exorcista”) – , Padilha optou por enfatizar o aspecto político da trama, em especial a causa palestina. Para completar a revisão, ainda minimizou o papel do comandante da missão, considerado herói em Israel – e que era irmão do atual Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu. O resultado desarma um longa que estampa metralhadoras e militares em seu pôster, em favor de cenas demasiadamente discursivas. A crítica norte-americana bocejou, com 22% de aprovação no Rotten Tomatoes. O longa do alemão Wim Wenders, “Submersão”, é um melodrama romântico, em que a sueca Alicia Vikander (“Tomb Raider”) e o inglês James McAvoy (“X-Men: Apocalipse”) se apaixonam e são separados por seus trabalhos arriscados, que flertam com tragédias. Ele viaja à Somália para libertar prisioneiros de jihadistas, enquanto ela explora as profundezas do oceano num mini-submersível. Diante de situações de morte iminente, resta aos dois as lembranças de um encontro na véspera de Natal ocorrido em uma praia. Vale dizer que o trailer é ótimo. Já o filme demora quase duas horas para contar o que se vê na prévia de dois minutos. Lento de doer, tem apenas 16% de aprovação. Ao contrário dos demais, “O Terceiro Assassinato” tem avaliação positiva, 90% no Rotten Tomatoes. Mas mesmo entre os elogios se constata um consenso de que é um trabalho menor do japonês Hirokazu Kore-Eda. O que começa com tons de suspense logo se transfigura num drama de tribunal. A trama gira em torno do julgamento de um assassino confesso, que seu advogado suspeita ser inocente, e a situação vira uma discussão metafísica do que seria a verdade. O alemão “De Encontro com a Vida”, de Marc Rothemund (“Uma Mulher Contra Hitler”) é o mais previsível da lista. Baseado numa história real, acompanha um jovem que perde 90% da visão, mas consegue fingir não ter deficiência para conseguir um emprego num hotel de luxo. A trama edificante logo vira uma comédia romântica, quando uma camareira entra na história. Seleção brasileira “Todo Clichê do Amor” vai da comédia rasgada à conversa dramática em três histórias diferentes, amarradas por um cacoete estilístico do ator e diretor Rafael Primot em seu segundo longa – após o surpreendente “Gata Velha Ainda Mia” (2014). Apesar do elenco atuar em volume histérico, há nuances que sobrevivem aos clichês do título. O bom elenco feminino inclui Maria Luisa Mendonça (série “Magnífica 70”), Débora Falabella (“O Filho Eterno”) e Marjorie Estiano (“Sob Pressão”) como uma dominatrix. “Quase Memória”, o “novo” longa de Ruy Guerra, foi exibido pela primeira vez no Festival do Rio de… 2015, o que comprova a dificuldade enfrentada pelos filmes brasileiros para chegar aos cinemas. Se uma obra do diretor de clássicos como “Os Cafajestes” (1962), “Os Fuzis” (1964), “Ópera do Malandro” (1986), “Kuarup” (1989) e “Estorvo” (2000) sofre com isso, o que dirá um diretor estreante. E olha que se trata da adaptação de um best-seller nacional, o livro homônimo de Carlos Heitor Cony, com mais de 400 mil exemplares vendidos, e estrelado por um dos atores mais populares do país, Tony Ramos, que volta a protagonizar um filme após o ótimo trabalho em “Getúlio” (2014). Expoente do Cinema Novo, Ruy Guerra não filmava desde “O Veneno da Madrugada” (2005) e retorna com um filme “borgiano”, em que um homem velho (Ramos) encontra sua versão jovem (Charles Fricks) e idealista, e ambos lembram do pai (vivido por João Miguel). Se o encontro se dá em tom teatral, as lembranças têm abordagem quase surrealista, ao se desdobrarem numa história fabulosa de tom circense, pela distorção causada pela memória distante. O elenco da produção ainda inclui Mariana Ximenes (“Uma Loucura de Mulher”) e Antonio Pedro (“A Casa da Mãe Joana”). Por fim, o documentário “Construindo Pontes” tem a plasticidade que se espera da diretora de fotografia de “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo” (2009) e “Lixo Extraordinário” (2010), apesar de ser construído em cima de conversas entre Heloísa Passos e seu pai, Álvaro, que viveu o auge de sua carreira de engenheiro civil durante o “milagre econômico” da ditadura militar. Esquerdista convicta de que o Brasil sofreu um golpe com o Impeachment de Dilma Rousseff, ela não consegue aceitar o saudosismo do pai pela ditadura e seu apoio a Sergio Moro, o juiz que participa do acordo das elites para tirar Lula das eleições deste ano. As discussões entre os dois ilustram a polarização em que se encontra o país. Mas, de forma inconsciente, também a cegueira de quem polariza, já que inicia com uma filmagem em super-8 das Sete Quedas, as cachoeiras destruídas para dar lugar à hidrelétrica Itaipu, uma das obras faraônicas do governo militar, no que se supõe uma crítica à direita, mas não termina com imagens de Belo Monte, a Itaipu do PAC petista, que causou desastre maior, por ir além do crime ambiental, afetando comunidades indígenas para favorecer interesses de corruptos. A não construção desta ponte metafórica é que causa a polarização do país.
Rampage opta pelo gigantismo para se destacar entre as estreias de cinema da semana
Maior estreia da semana, “Rampage – Destruição Total” chega em quase mil salas, apostando que a ocupação do espaço cinematográfico, overdose de marketing, monstros gigantes e a popularidade do astro Dwayne Johnson sejam capazes de transformar um lançamento genérico num blockbuster. Mas este não é um novo “Jumanji”. Apesar de baseado num jogo antigo de arcade, esta adaptação se leva a sério demais, com muitas explosões e expressões compenetradas, embora não passe, basicamente, de um amontoado de absurdos dignos da série “Zoo”, já cancelada. O filme é uma adaptação do velho game homônimo lançado em 1986, em que três criaturas gigantes (o macaco George, o lagarto Lizzy e o lobisomem Ralph) destruíam cidades e lutavam contra militares. E a trama não passa disso, com alguns vilões humanos para justificar “cientificamente” a transformação dos bichos em pseudo-Godzillas. A versão de cinema foi escrita pelos roteiristas Carlton Cuse e Ryan Condal (criadores da série “Colony”), marcando um reencontro entre Condal e Johnson após o fraco “Hércules” (2014). “Rampage”, por sinal, também é o terceiro filme do ator dirigido por Brad Peyton, que o comandou em “Terremoto: A Falha de San Andreas” (2015) e “Viagem 2: A Ilha Misteriosa” (2012). Todos muito bem-sucedidos nas bilheterias. E todos considerados medíocres pela crítica. Desta vez não é diferente, com apenas 49% de aprovação no Rotten Tomatoes. Os demais lançamentos chegam em circuito bem menor, após passarem por festivais internacionais. Clique nos títulos de cada filme para ver os trailers de todas as estreias. Novo filme de Roman Polanski A estreia mais convencional é “Baseado em Fatos Reais”, um thriller do veterano Roman Polanski. Trata-se da adaptação do livro homônimo de Delphine de Vigan, que venceu diversos prêmios literários em 2015, com roteiro de outro cineasta famoso, Olivier Assayas (“Personal Shopper”). Mas se essa combinação gera expectativa, ela logo se frustra ao entregar um amontoado de clichês do gênero, de “Mulher Solteira Procura” (1992) a “Louca Obsessão” (1990). Na trama, a esposa do diretor, Emmanuelle Seigner (“A Pele de Vênus”), vive o alter-ego de Delphine de Vigan, uma escritora que passa por um bloqueio criativo após o lançamento de seu último e bem-sucedido livro. O momento difícil é superado com a ajuda de uma nova e maravilhosa amiga, Elle, papel de Eva Green (“O Lar das Crianças Peculiares”). O problema é que a amiga, que trabalha como ghost writer, revela-se uma admiradora obsessiva que, em pouco tempo, tenta se intrometer no texto e até na vida íntima da escritora. Para não ficar no já visto, há uma pouco inesperada reviravolta. Cinema brasileiro premiado Em contraste, a frustração causada por “Aos Teus Olhos” é muito bem-vinda. A trama parece feita sob medida para estes tempos de acusações de abuso que geram movimentos e condenações nas redes sociais, combinando suspeita e drama sem conclusão fácil. A premissa é inspirada na peça espanhola “O Princípio de Arquimedes”, de Josep Maria Miró, mas o filme é brasileiro, escrito por Lucas Paraizo (de “Gabriel e a Montanha” e série “Sob Pressão”) e dirigido por Carolina Jabor (“Boa Sorte”). A trama gira em torno do personagem de Daniel de Oliveira (“Sangue Azul”), um professor de natação infantil acusado de abuso sexual pelos pais de um aluno. A acusação vem, como é praxe hoje em dia, pelas redes sociais. O post de uma mãe se torna viral e provoca um linchamento virtual imediato. A denúncia se espalha rapidamente na internet e até as pessoas mais próximas do protagonista, como a diretora da escola e um colega de trabalho, ficam em dúvida sobre suas ações e intenções. Esta história também aconteceu com o professor vivido por Mads Mikkelsen em “A Caça” (2012). A diferença é que o personagem brasileiro não é simpático e dá bandeira, embora isso apenas reforce o julgamento superficial das aparências. Exibido em diversos festivais nacionais e internacionais, “Aos Teus Olhos” venceu quatro troféus no Festival do Rio 2017: Melhor Ator (Daniel de Oliveira), Melhor Ator Coadjuvante (Marco Ricca, pai do menino supostamente abusado), Melhor Roteiro e Melhor Filme no Voto Popular. Também foi considerado o Melhor Filme brasileiro na Mostra de São Paulo. Logicamente, também é o melhor filme para ver neste fim de semana. Surpresas da América do Sul “Severina” também tem direção de brasileiro, Felipe Hirsch (de “Insolação”), mas é falado em espanhol e filmado no centro de Montevidéu, no Uruguai, onde o dono de uma livraria de poucos clientes se apaixona por uma musa fugidia, argentina como o escritor Jorge Luis Borges, que visita sua loja para roubar livros. Não há gênero mais convencional que a comédia romântica, portanto ver um filme anti-convencional partir das premissas desse gênero é digno de exaltação. Exibido no Festival de Locarno, é uma obra para amantes de literatura, cinema e também para os simplesmente amantes – de amar. Premiado em festivais latinos, “A Noiva do Deserto” marca a estreia de duas diretoras assistentes de sucessos argentinos, Cecilia Atán (assistente de “Táxi, um Encontro”) e Valeria Pivato (assistente de “Leonera”), no comando de um longa. A história, escrita pelas duas, gira em torno de uma mulher de 54 anos, que vê seu trabalho como doméstica em risco, conforme a crise econômica afeta a família que a emprega, deixando-a desnorteada e literalmente sem rumo. A história é bastante simples, mas se torna profunda com a interpretação formidável da chilena Paulina Garcia, que já tinha encantado no papel-título de “Gloria” (2013). Mestres orientais Completa a programação dois filmes de mestres orientais. “Antes que Tudo Desapareça” é uma sci-fi de Kiyoshi Kurosawa. O diretor japonês, que conquistou um séquito por seus terrores cultuados da virada do século – entre eles, “A Cura” (1997) e “Pulse” (2001) – , faz sua versão de “Invasores de Corpos” ao mostrar alienígenas que assumem identidades humanas para preparar uma invasão da Terra. Elementos de humor negro vem à tona em detalhes, como no que revela o segredo – uma mulher desconfia que seu marido se tornou gentil demais. Apesar da premissa conhecida, o resultado é esquisito o suficiente para ser puro Kurosawa. “O Dia Depois” também é puro Hong Sang-soo. É mais uma história de corações partidos do diretor sul-coreano, calcada na contemplação e na repetição, e marcada por algum detalhe estilístico – no caso, filmada em preto e branco, com edição fragmentada, para marcar passagens bruscas de tempo, e paralelos que visam destacar que o protagonista é um homem fadado a se repetir. No ano retrasado, Hong Sang-soo confessou em Cannes que só precisava de duas coisas para fazer um filme: atores e um restaurante/café/bar. Desta vez, é um confusão de identidades que dispara a indefectível discussão filosófica de bar-restaurante, típica do cinema de noodles e álcool de Sang-hoo. O evento acontece durante os primeiros dias de trabalho de uma funcionária recém-contratada numa pequena editora. O proprietário da empresa traía a mulher com outra funcionária. Por isso, sua esposa desconfiada aparece de surpresa e estapeia a nova funcionária, que não tem nada a ver com a história. É a deixa para o bar-restaurante, onde a conversa entre o patrão e a empregada se estende até o fim do filme.
Principal estreia da semana é o melhor terror do ano
O melhor terror de 2018 – até o momento – é a principal estreia da programação de cinema nesta quinta (5/4), mas também há outros filmes bem recomendados. Clique nos títulos abaixo para ver os trailers de todos os 11 lançamentos – três são brasileiros. “Um Lugar Silencioso” chega aos cinemas em estreia simultânea com os Estados Unidos. O filme é escrito, dirigido e estrelado pelo ator John Krasinski (“Detroit em Rebelião”) e marca sua primeira parceria com Emily Blunt (“A Garota no Trem”), sua esposa na vida real. Os dois vivem os pais de uma família em fuga, que se afasta da civilização para viver no mais completo silêncio, numa fazenda isolada. O motivo do silêncio são criaturas terríveis, que invadiram o planeta e reagem ferozmente ao menor barulho. O terror é o terceiro filme dirigido por Krasinski, após as comédia indies “Brief Interviews with Hideous Men” (2009) e “Família Hollar” (2016), e teve sua première no Festival SXSW, nos Estados Unidos, ocasião em que foi aplaudido de pé e conquistou 100% de aprovação da crítica, segundo o site Rotten Tomatoes. Num gênero conhecido por seus clichês, o filme surpreende pela originalidade e entrega tensão do começo ao fim. “Com Amor, Simon” entrou em cartaz há três semanas e já virou cult nos Estados Unidos. Comédia adolescente elogiadíssima (92% de aprovação), marca a volta do produtor Greg Berlanti (criador das séries de super-heróis da DC Comics) ao cinema, num clima que chega a lembrar os clássicos de John Hughes – embora trata-se de uma adaptação de best-seller atual, “Simon vs. A Agenda Homo Sapiens”, de Becky Albertalli. Mas o que na superfície parece um filme teen típico, com romance, festas, amizades e família, tem uma diferença em relação às Sessões da Tarde de outrora: seu jovem protagonista procura encontrar coragem para revelar que é gay. “O Homem das Cavernas” é a nova animação de massinhas de Nick Park, criador de “Wallace e Gromit”, “Shaun: O Carneiro” e diretor do divertido “A Fuga das Galinhas”. O filme acompanha, como diz o título nacional, as aventuras de Dug, guerreiro da última tribo das cavernas, mas subverte as expectativas por não se passar na Idade da Pedra e sim muitos séculos depois, na Era do Bronze. Na trama, os homens pré-históricos vão enfrentar o exército “moderno” do tirano Lord Nooth. Dono de um castelo e elefantes encouraçados, ele expulsa a tribo, mas, numa tentativa de retomar suas terras, Dug o desafia para uma partida pré-histórica de futebol. Dublado em inglês por Eddie Redmayne (“Animais Fantásticos e Onde Habitam”), o protagonista ganhou voz de Marco Luque (“Altas Horas”) para o lançamento no Brasil. “Covil de Ladrões” acrescenta mais um título à filmografia de thrillers genéricos de Gerard Butler (“Tempestade: Planeta em Fúria”). O longa marca a estreia na direção de Christian Gudegast, roteirista de “Invasão a Londres” (2016), que já era um thriller genérico estrelado por Butler. A ação gira em torno de uma gangue de assaltantes de bancos, que passa a ser investigada pela equipe mais brutal e bem-sucedida da polícia, também referida maldosamente como “bandidos de distintivo”. Apesar das críticas negativas (41%), atraiu público suficiente para receber encomenda de continuação. Dramas europeus Principal opção cinéfila da semana, “1945”, do húngaro Ferenc Török, registra em preto e branco eventos pouco discutidos sobre as consequências da 2ª Guerra Mundial. Na trama, a chegada de dois judeus a sua cidadezinha húngara deixa o local em polvorosa, uma vez que todos foram cúmplices dos nazistas e se aproveitaram dos bens dos judeus deportados para campos de extermínio, vivendo em suas propriedades. O remorso e a culpa vêm à tona de forma dramática, assim como a ganância, expondo o pior da humanidade. Com 91% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme foi aplaudido no Festival de Berlim e venceu o Festival de Jerusalém. “Uma Temporada na França” também mergulha em deportações e drama pesado, mas reflete o mundo de hoje por meio da situação de um imigrante africano (Eriq Ebouaney, de “Atentado em Paris”), pai de duas crianças pequenas, que perde o direito de ficar na França – assim como a dignidade – e entra em desespero. A direção é de Mahamat-Saleh Haroun (do premiado “Um Homem que Grita”), natural do Chade, e o elenco inclui a veterana Sandrine Bonnaire (“Sob o Sol de Satã”). “Ella e John” tem direção do italiano Paolo Virzì (“A Primeira Coisa Bela”) e junta Donald Sutherland (“Jogos Vorazes”) e Helen Mirren (“A Dama Dourada”) num road movie da Terceira Idade. Eles vivem um casal idoso que decide embarcar numa última viagem em seu motor home pelo interior dos Estados Unidos, o mesmo veículo com o qual costumavam acampar com os filhos nos anos 1970. O que começa como uma comédia leve, porém, logo revela-se um melodrama, com a descoberta de que o homem está passando por uma situação médica complexa. Assim, o passeio cinematográfico conduz apenas aos lugares comuns – 33% de aprovação. Cinema brasileiro “Arábia” resulta da leitura do diário de um trabalhador chamado Cristiano (Aristides de Sousa), encontrado depois que ele sofre um acidente. E é importante saber que o personagem é inspirado na vida real de seu intérprete. Aos 15 anos, o rapaz já tinha sido internado cinco vezes na Fundação Casa e levado cinco tiros. Sua história, contada pelos diretores Affonso Uchôa (“A Vizinhança do Tigre”) e João Dumans (roteirista de “A Cidade onde Envelheço”), é um retrato da desigualdade brasileira, que expõe as angústias da classe baixa trabalhadora, sujeitos humildes, que trabalham em fábricas, plantações e vivem na periferia. Apesar do título, o filme fala de um Brasil 100% brasileiro, ainda que pouco abordado pelo cinema besteirol nacional. Tudo com uma poesia cinematográfica de tirar o fôlego – e premiada em diversos festivais internacionais, de Buenos Aires ao IndieLisboa. “Tropykaos” segue caminho oposto, afastando-se do naturalismo para abraçar o surreal. A trama segue um poeta em crise de criatividade num encontro com o realismo mágico. Sofrendo com o verão de Salvador, ele embarca numa odisseia em busca de um novo ar-condicionado, enquanto tem delírios de autocombustão, que advém do consumo de crack, mas também de muitas sessões de cinema marginal e tropicalismo. Foi premiado no Festival de Tiradentes. O documentário “Em Nome da América” traça um painel inédito sobre a ação do Corpo da Paz no Brasil. O programa criado pelo Presidente John Kennedy nos anos 1960 tinha oficialmente a missão de ajudar nações subdesenvolvidas do continente americano, mas extra-oficialmente buscava evitar a criação de uma “nova Cuba”. O filme de Fernando Weller revela o choque cultural que marcou os jovens americanos idealistas que desembarcaram no Nordeste, encontrando uma região marcada por fome e violência, ao mesmo tempo em que se desenrolavam o golpe militar de 1964 no Brasil, a Guerra do Vietnã e a infiltração da CIA na América Latina. Circuito anime Apesar de ser um filme com atores, “Attack on Titan” entrou na programação alternativa de animes do Cinemark. O filme é baseado no mangá criado em 2009 por Hajime Isayama – e editado no Brasil como “Ataque dos Titãs”. A história já tinha sido adaptado numa anime cultuadíssima de 2013, dirigida por Tetsurō Araki (da série anime “Death Note”), e sua versão “live action” chegou aos cinemas japoneses em duas partes, lançadas de forma consecutiva em 2015. O lançamento atual é a primeira parte, que estreia no Brasil “apenas” com três anos de atraso. Ao menos, a segunda parte não vai demorar: a previsão é para maio. Fãs da anime podem se decepcionar com a versão com atores, pois até “Círculo de Fogo: A Revolta” “adaptou” melhor a premissa original. A direção de ambas as partes foi feita por Shinji Higuchi (do mais recente filme japonês de Godzilla), com roteiro de Yusuke Watanabe (“Dragon Ball Z: A Batalha dos Deus”) e um elenco que destaca Kiko Mizuhara (“Como na Canção dos Beatles: Norwegian Wood”), Satomi Ishihara (“A Invocação 3D”), Kanata Hongo (“Gantz”), Hiroki Hasegawa (“Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno?”), Takahiro Miura (“Patrulha Estelar”) e o cantor de J-pop Haruma Miura (“Five Minutes to Tomorrow”).












