Harvey Weinstein admite que trocava sexo por papéis de cinema, mas advogado insiste que não foi bem isso
Poucas semanas após o início de seu processo criminal por assédio sexual, estupro e conduta inapropriada, o produtor Harvey Weinstein deu uma entrevista polêmica para a revista britânica “The Spectator”, em que admite que abusou de seu poder e que oferecia papéis em filmes em troca de sexo, mas garantiu não ser um estuprador. “Você nasceu rico e privilegiado e você era bonito”, disse Weinstein, ao entrevistador, o colunista Taki Theodoracopulos. “Eu nasci pobre, feio, judeu e tive de lutar minha vida inteira para chegar a algum lugar. Você tinha muitas garotas, nenhuma garota olhava para mim até eu virar grande em Hollywood.” “Sim, eu ofereci a elas papéis em filmes em troca de sexo, mas era assim que era e ainda é com todo mundo”, afirmou o produtor. “Mas eu nunca me forcei para cima de uma única mulher.” Apesar das falas tentarem diminuir o peso das acusações contra Weinstein, ao sugerir uma troca consensual de sexo por favor profissional, a entrevista não teve a repercussão desejada e foi rapidamente contestada pelo advogado do produtor, que emitiu um comunicado para a imprensa. No comunicado, Ben Brafman negou que o seu cliente tenha admitido a prática conhecida como “teste do sofá”, afirmando que a frase foi citada de forma equivocada. “Eu estava presente na conversa; não foi uma entrevista, foi um encontro social entre dois amigos. Harvey e Taki não discutiram o caso, e eu não permitiria que o fizessem. Falamos da velha Hollywood e o contraste com a cultura europeia. O sr. Weinstein nunca disse nada sobre trocar papéis por sexo.” De forma curiosa, o próprio Taki Theodoracopulos emitiu um comunicado, admitindo o erro. “Depois de 41 anos sem uma só retratação na ‘Spectator’, eu acredito que representei mal a conversa que tive com Harvey Weinstein. Foi um erro. Espero não ter prejudicado seu caso”. O pedido de desculpas do jornalista, entretanto, fornece um detalhe sórdido sobre o encontro, afirmando que se reuniu com Weinstein porque ele prometeu informações exclusivas e desfavoráveis sobre a atriz Asia Argento, a primeira a denunciar o produtor por estupro, e que virou alvo de uma campanha de cyberbullying nas redes sociais após o suicídio de seu namorado, o chef-celebridade Anthony Bourdain, há pouco mais de um mês. Ao saber dessa motivação, Argento desabafou no Twitter: “Eu entendo agora quem está por trás do horrível bullying dirigido contra mim e Rose McGowan. Weinstein, seu maldito monstro estuprador, ainda tentando nos prejudicar e atingir. Não por muito tempo. Você vai para a cadeia”.
Movimento #MeToo sai em defesa de Asia Argento contra cyberbullying nas redes sociais
O movimento “#MeToo” divulgou uma carta aberta com assinaturas de 45 personalidades em apoio a Asia Argento, que vem sendo atacada nas redes sociais desde a morte do seu namorado, o chef-celebridade Anthony Bourdain, há pouco mais de um mês. “Asia tem recebido uma quantidade sem fim de ‘cyberbullying’ e sido vítima de várias calúnias que partem de ‘haters’ que a culpam pela morte de Anthony Bourdain”, diz o texto. “Estamos aqui para pedir àqueles que estão com raiva e luto pela perda de Anthony que encontrem uma saída saudável para manifestar sua dor. Asia é uma sobrevivente, assim como nós, e sua fama e demonstração externa de força não a tornam menos vulnerável. Asia não é uma manchete – ela é um ser humano, e ela está passando por um momento de dor horrível”, segue o apelo. Segundo fontes anônimas publicadas pela imprensa, Anthony Bourdain vivia um “amor doentio” pela italiana, com quem estava há mais de um ano. Os mesmos fofoqueiros espalharam que o casal tinha um “relacionamento livre”, o que deixaria o chef depressivo. Bastaram essas declarações sem vozes para a turba pegar tochas e forcados para atacar a bruxa por levar o astro de reality show culinário ao suicídio. Asia Argento foi uma das primeiras atrizes a denunciar abusos do ex-todo poderoso de Hollywood Harvey Weinstein e a primeira a assumir ter sido estuprada por ele, em reportagem publicada pela revista The New Yorker em outubro do ano passado. Após esta corajosa revelação, Anthony Bourdain tornou-se um forte defensor das vítimas de abuso sexual e do movimento “#MeToo”, o que não foi bem visto por alguns seguidores do chef, apresentador e escritor. Entre outros apelos, o comunicado divulgado na quinta-feira (12/7) fala justamente sobre a mania de culpar as mulheres. “Há muito tempo existe uma narrativa tradicional de culpar, difamar e martirizar mulheres corajosas. Nós rejeitamos essa narrativa.” Também vítimas de violência sexual, os atores Rosanna Arquette, Terry Crews, Rose McGowan, Olivia Munn e Mira Sorvino estão entre os nomes que assinam a carta em apoio à colega.

