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    “G.I. Joe Origens: Snake Eyes” é destruído pela crítica americana

    23 de julho de 2021 /

    As primeiras críticas registram um grande desapontamento da imprensa norte-americana com “G.I. Joe Origens: Snake Eyes”. Com 59 resenhas computadas, o filme atingiu apenas 44% de aprovação no Rotten Tomatoes – e o número vem caindo, conforme as publicações são indexadas. Apenas as performances do elenco, em particular Henry Golding (“Podres de Ricos”) no papel-título e Andrew Koji (da série “Warrior”) como seu antagonista Storm Shadow, foram poupadas. Ganharam até elogios. Mas o trabalho de Robert Schwentke, que assinou dois filmes da franquia “Divergente”, chegou a ser chamado de pior direção de um blockbuster de ação em todos os tempos. “É como se Schwentke operasse a partir de uma lista de esperados clichês de filmes de ação e apressasse todos eles”, publicou o jornal Seattle Times. “Schwentke abusa das firulas e o resultado é que os cortes rápidos e close-ups obscurecem a ação ao invés de destacá-la”, apontou a revista Entertainment Weekly. “É quase comovente ver tudo fracassar como filme de ação, porque há muitos socos e poses icônicas, e espetáculo ninja de grande orçamento. Mas apesar da encenação impressionante e trabalho de dublê impecável, as lutas e perseguições são filmadas por ‘shaky cam’ (câmera tremida) arbitrária e editadas com uma falta clareza do tipo que demora 15 cortes para retratar alguém pulando uma cerca”, descreveu a revista Forbes. “A ação parece ótima quando podemos ver. Mas o diretor Robert Schwentke, infelizmente, optou por capturar muito disso em close-ups de câmera sacudida e editados com muitos cortes rápidos, diluindo a força dos golpes em vez de aumentar seu impacto”, ecoou o jornal Los Angeles Times. As reclamações também se dirigiram ao roteiro escrito pelo grego Evan Spiliotopoulos, cheio de filmes pouco recomendáveis no currículo, como “Hércules” (2014) e “O Caçador e a Rainha do Gelo” (2016). “O roteiro é marcado por clichês, obviedades e previsibilidade sem fim”, lamentou o jornal inglês The Observer. “É um filme de super-heróis medíocre”, resumiu o jornal San Francisco Chronicle. “Pega o GI Joe mais popular e o desmistifica totalmente até que tudo o que resta na tela é um cara com uma espada”, acrescentou o site Screen Crush. “O verdadeiro pecado é que Snake Eyes como personagem é mortalmente tedioso. Ele mal tem personalidade”, descreveu a crítica da agência Associeted Press. “O drama é confuso, a ação é turva e o enredo fica cada vez mais idiota até que, no final, todas as tentativas deste filme de relançar a franquia ‘GI Joe’ explodem”, finalizou o site The Wrap. Mas houve quem gostasse. “‘G.I. Joe Origens: Snake Eyes’ é provavelmente o melhor filme possível com o nome ‘G.I. Joe’ em seu título”, parece ter elogiado a revista Variety. “Em termos de filmes pipoca descaradamente corporativos, ‘Snake Eyes’ é melhor do que a maioria. Isso não é um grande elogio, mas considerando o pedigree estúpido do filme, é melhor que nada”, ponderou mais claramente a revista The Hollywood Reporter. O filme estreia nesta sexta (23/7) nos EUA, mas vai demorar quase um mês para chegar ao Brasil, onde o lançamento está marcado para 19 de agosto.

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    Raya e o Último Dragão mantém 1º lugar nos EUA

    14 de março de 2021 /

    “Raya e o Último Dragão” se manteve em 1º lugar pelo segundo fim de semana consecutivo, faturando US$ 5,5 milhões em 2,1 mil salas. São 100 salas a mais que na semana passada e uma queda de apenas 35% de faturamento em relação à estreia. O desempenho melhor que o esperado reflete a reabertura, em ritmo lento, dos cinemas nos EUA. Mas os valores podiam ser maiores. Além da pandemia, o filme da Disney tem enfrentado boicote de algumas redes de cinema norte-americanas, que se recusam a exibi-lo com preço de lançamento exclusivo, quando também está disponível em streaming. A Warner, que adotou a mesma tática com “Tom & Jerry – O Filme”, 2º lugar nas bilheterias com US$ 4 milhões, aumentou a fatia percentual dos exibidores, mas a Disney não aceitou negociar. Em dez dias, Raya e o Último Dragão” só rendeu US$ 15,8 milhões no mercado interno, menos da metade do que arrecadou no exterior. Somando tudo, a animação tem uma arrecadação global de US$ 52,6 milhões. Além desses valores, entram na conta o aluguel no Disney Plus, o serviço de streaming da empresa, que cobra uma taxa extra de US$ 30 para quem quiser ver o filme online nos EUA. Mas a Disney não revela o quanto isso tem rendido. Os dias de lançamentos simultâneos, porém, podem estar contados. O mercado deve começar a voltar ao normal na próxima semana, após a liberação dos cinemas de Los Angeles, que se juntam aos cinemas recém-abertos de Nova York. Os dois maiores circuitos cinematográficos dos EUA ficaram fechados por praticamente um ano inteiro. Cerca de 50% dos cinemas do país já estão abertos neste fim de semana, de acordo com a Comscore, um grande incremento em relação ao mês passado, quando havia apenas 35% das telas recebiam o público. “O negócio está se recuperando lentamente”, disse Paul Dergarabedian, analista de mídia sênior da Comscore, à revista Variety. “Com a reabertura de grandes cidades como Nova York e Los Angeles, felizmente estamos no limiar do ressurgimento da experiência da tela grande.” Os exibidores agora esperam que a reabertura dos cinemas em Nova York e Los Angeles incentive os estúdios a abandonar os adiamentos consecutivos e os lançamentos simultâneos em streaming. “Viúva Negra” da Disney e “Um Lugar Silencioso – Parte II” da Paramount estão mantendo suas estreias para maio.

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    Raya e o Último Dragão supera pandemia e boicote com 1º lugar nos EUA

    7 de março de 2021 /

    “Raya e o Último Dragão” precisou vencer mais que a pandemia para abrir em 1º lugar nas bilheterias dos cinemas dos EUA e Canadá neste fim de semana. A nova animação da Disney enfrentou boicote de algumas redes de exibição, que se recusaram a colocar o filme em cartaz devido ao que chamaram de intransigência do estúdio ao negociar valores de distribuição. Os cinemas que aceitaram acomodar os planos da Warner de realizar lançamentos simultâneos em streaming, graças a maior compensação financeira, não teriam encontrado a mesma disposição para negociações de parte da Disney, segundo relatos da imprensa americana. Por isso, mesmo exibindo “Mulher-Maravilha 1984”, “Tom & Jerry” e os filmes lançados na HBO Max, a Cinemark e outras redes preferiram ignorar “Raya e o Último Dragão” para passar um recado para a Disney. Por conta dessa má vontade do circuito exibidor, “Raya e o Último Dragão” não chegou a tantas telas quanto poderia, mesmo com a reabertura dos cinemas de Nova York neste fim de semana. Exibido em 2.045 salas, a fantasia animada estreou com US$ 8,6 milhões de bilheteria. Os valores são distantes do desempenho de “Tom & Jerry” na semana passada, que faturou a segunda maior abertura da pandemia, com US$ 14,1 milhões. E vale observar que, enquanto o híbrido animado da Warner foi destruído pela crítica, com apenas 25% de aprovação no Rotten Tomatoes, a princesa guerreira da Disney foi incensada com 95%. A queda de braços, porém, não se limita ao espaço dos cinemas. “Raya e o Último Dragão” foi lançado simultaneamente na plataforma Disney+ (Disney Plus), onde está sendo oferecido com sobrepreço (além do preço da assinatura), numa iniciativa batizada de Premier Access. O valor é US$ 30 para assinantes do Disney+ nos EUA (R$ 69,90 no Brasil, mais a assinatura mensal do serviço!), o que equivale a seis vezes o que o estúdio ganharia em cada ingresso vendido nos cinemas. A Disney já tinha testado esta formato com “Mulan”, mas não o repetiu com “Soul”, lançado sem sobrepreço no Disney+. Diferente de ambos, “Raya e o Último Dragão” é o primeiro lançamento mundial disponibilizado pelo estúdio ao mesmo tempo nos cinemas e em casa – “Mulan” saiu antes da Disney+ se expandir no mercado internacional. Mas de forma elucidativa, os países sem acesso ao Disney+ são os que estão rendendo maior bilheteria para o filme no mercado internacional. Globalmente, “Raya” faturou US$ 26 milhões, com a China e a Rússia fornecendo as maiores bilheterias, respectivamente com US$ 8,4 milhões e US$ 2,8 milhões. O CEO da Disney, Bob Chapek, demonstrou-se muito convencido da força desta opção na semana passada, quando sugeriu que estuda diminuir o período de exclusividade dos cinemas para seus filmes – a chamada janela de distribuição. “O consumidor provavelmente está mais impaciente do que nunca”, disse ele sobre as mudanças no mercado precipitadas pela covid-19, “principalmente porque agora eles tiveram o luxo de passar um ano inteiro recebendo títulos em casa praticamente quando quiseram. Portanto, não tenho certeza se há um retorno”. Ele acrescentou que os espectadores não “terão muita tolerância para esperar por meses que um título saia dos cinemas”, enquanto “apenas fica lá [nos cinemas], juntando poeira”, antes de migrar para o streaming ou outras janelas. Por isso, a Disney não quis negociar valores maiores para as distribuidoras. Enquanto isso, a Warner, que também está fazendo lançamentos simultâneos em streaming, mas dando compensações aos exibidores, comemorou o segundo fim de semana de “Tom & Jerry”, que arrecadou quase tanto quanto “Raya” no mercado interno, US$ 6,6 milhões, elevando sua receita para US$ 23 milhões em dez dias na América do Norte, apesar de também estar disponível na HBO Max. No mundo inteiro, “Tom & Jerry” já faturou US$ 57,3 milhões, um bom desempenho para um mercado que sofre com os lockdowns da pandemia. Alheio a essa disputa, a Lionsgate deve estar lamentando não ter seu próprio streaming, ao ver “Mundo em Caos” ser destruído pela crítica (23% de aprovação) e pouco apreciado pelo público. A sci-fi estrelada por Tom Holland e Daisy Ridley arrecadou anêmicos US$ 3,8 milhões para ocupar o 3º lugar. O filme, que custou cerca de US$ 100 milhões, vai se tornar um grande prejuízo para o estúdio.

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    Tom & Jerry supera críticas negativas com segunda maior estreia da pandemia nos EUA

    28 de fevereiro de 2021 /

    O lançamento de “Tom & Jerry – O Filme” conquistou a segunda maior bilheteria de estreia da América do Norte desde que os cinemas reabriram, durante a pandemia, em agosto passado. O filme faturou US$ 14,1 milhões em 2,4 mil cinemas, perdendo apenas para outro título da Warner Bros., “Mulher Maravilha 1984”, que arrecadou US$ 16,4 milhões durante o Natal. O detalhe é que ambos os filmes foram lançados simultaneamente em streaming, na plataforma HBO Max. O sucesso dos filmes da Warner contraria previsões pessimistas sobre seu desempenho cinematográfico com a disponibilização online. Nenhum outro filme lançado nos últimos 10 meses foi capaz de ultrapassar a marca de US$ 10 milhões em sua estreia no mercado doméstico, incluindo os sucessos “Os Croods 2: Uma Nova Era” (US$ 9,7 milhões) e “Tenet” (US$ 9,35 milhões). No exterior, onde “Tom & Jerry” foi exibido apenas nos cinemas, o filme fez mais US$ 25,1 milhões, somando ao todo US$ 38,8 milhões. Um bom começo para uma produção de Hollywood durante a pandemia, apesar do orçamento salgado de US$ 79 milhões. Contrastando com os números positivos, a reação da crítica ao filme foi completamente negativa. O híbrido de animação e live-action, dirigido pelo veterano Tim Story (“Quarteto Fantástico”), recebeu apenas 25% de aprovação na média do Rotten Tomatoes. “Desesperadamente sem graça”, definiu o crítico do Vulture/New York Magazine. O 2ª lugar nas bilheterias norte-americanas ficou com “Os Croods 2: Uma Nova Era”, que fez US$ 1,2 milhões após impressionantes dois meses em cartaz – e apesar de também estar disponível online. O desempenho desses dois filmes sugere que as produções voltadas ao público infantil são as únicas capazes de atrair grande volume de espectadores aos cinemas durante a atual crise sanitária. Outro detalhe interessante no relatório divulgado pela Warner à imprensa é que as vendas de ingressos de “Tom and Jerry” foram impulsionadas pelo aluguel de cinemas particulares, que foram fechados para receber poucas famílias por vez. E as famílias, ao contrário da crítica, aprovaram o filme, dando nota A- no CinemaScore (pesquisa feita com o público na saída dos cinemas).

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    Amor Estranho Amor: Exibição na TV foi presente para cinéfilos

    14 de fevereiro de 2021 /

    Na época que se dispôs a fazer “Amor Estranho Amor”, Xuxa não sabia que se tornaria apresentadora de programa infantil. Ela era namorada do Pelé, que por sua vez era amigo do produtor Aníbal Massaini Neto, e, como Walter Hugo Khouri era um cineasta que valorizava muito as atrizes que eram elevadas a um posto de sucesso sempre que apareciam em seus filmes, a chance de trabalhar com o cineasta parecia uma oportunidade de ouro. Mesmo sendo um filme que deu uma dor de cabeça para a futura apresentadora, que pagou US$ 60 mil anuais à Cinearte Produções, durante os anos de 1991 a 2018, para sua interdição, não dá para negar que trata-se da obra cinematográfica mais importante e bonita que ela já fez. Mas na filmografia de Khouri, o filme era considerado uma obra menor. Equipará-lo a outras obras do diretor é uma tarefa ingrata, pois estamos falando de alguém que fez grandes filmes através de cinco décadas. Entretanto, “Amor Estranho Amor” cresce na revisão permitida pelo resgate histórico no Canal Brasil, como uma obra-solo, por mais que seja difícil não fazer referência a outros tantos títulos do realizador, especialmente os que apresentam o alter-ego Marcelo. Aqui o nome do protagonista não é Marcelo; é Hugo, representado pelo menino Marcelo Ribeiro e pelo idoso Walter Forster, que comparece como uma espécie de fantasma vindo do futuro para relembrar o seu breve período numa mansão que funcionava como um prostíbulo de luxo, onde sua mãe trabalhava e morava. A mãe, vivida por Vera Fischer, chama-se Ana, nome frequentemente usado por Khouri em seus filmes estrelados pelo mulherengo Marcelo. Vera Fischer aparece com uma beleza tão extraordinária neste filme que parece saída de alguma pintura clássica. Não à toa, a cena em que ela se relaciona intimamente com o filho é explicitamente inspirada na Pietà de Michelangelo. O modo como Khouri vê os corpos femininos tem essa relação da apreciação artística. Embora o desejo esteja também presente, o sentido de busca da beleza clássica comparece de maneira forte. E há os close-ups dos olhares, todos poderosos. Principalmente quando vemos Ana, mas também o personagem de Tarcísio Meira, que interpreta um rico político paulista que exige exclusividade de Ana naquele bordel, e tem a intenção de ajudar a liderar a oposição a Getúlio Vargas momentos antes de o presidente instituir o Estado Novo. Uma das coisas que mais chama atenção no filme é seu início, quando o menino Hugo chega no prostíbulo sem saber que ambiente era aquele. Sua intenção é encontrar a mãe, que fica numa situação complicada. Afinal, como explicar a presença de uma criança em um lugar destinado a adultos? E enquanto o garoto espera e é também olhado e assediado pelas outras jovens mulheres do bordel, ouvimos canções clássicas do cancioneiro brasileiro na voz de cantores como Francisco Alves e Orlando Silva. Inclusive, no final do filme, ainda ouvimos mais uma linda do Francisco Alves, chamada “Misterioso Amor”, que brinca com o título do filme e sua temática edipiana. Ainda que vejamos em outros filmes do realizador personagens que atravessam a infância e a adolescência tendo que lidar com o desejo, como em “Eros – O Deus do Amor” (1981) e “As Feras” (1995), em nenhum outro filme de Khouri o complexo de Édipo é tão bem explorado quanto em “Amor Estranho Amor”. Quando o garoto vai para seu quarto e sabe que a mãe está transado com um homem, ele chora copiosamente. O filme ganha uma dimensão onírica quando o desejo inconsciente (ou talvez nem tão inconsciente assim naquele momento) se materializa na cena entre mãe e filho. Eis um filme que oferece pano para manga para uma série de estudos e discussões, que vão muito além da polêmica pobre que se instalou em torno dele nesses anos todos. Além do mais, junto à direção cheia de classe do realizador, há ainda a música sempre brilhante de Rogério Duprat, a Traditional Jazz Band (a banda tem cenas numa festa), a direção de fotografia do mestre Antonio Meliande, um elenco de apoio de primeira linha – Mauro Mendonça e Otávio Augusto, as jovens Vanessa Alves, Sandra Graffi e principalmente Matilde Mastrangi, rainha do cinema erótico brasileiro, que comparece em uma cena pra lá de inspirada. Por tudo isso, a exibição do filme no Canal Brasil com um upgrade na imagem e no som na última quinta-feira (11/2) foi um presente para os cinéfilos e para os apreciadores da obra do diretor.

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    Boca de Ouro é a versão mais violenta de Nelson Rodrigues

    15 de novembro de 2020 /

    Um filme como “Boca de Ouro”, com um elenco estelar, tempos atrás teria ótimas chances de conseguir uma boa bilheteria. Mas está passando em cinemas vazios. Tempos estranhos estes de pandemia. Há vários motivos para ver o filme. Para começar, o texto de Nelson Rodrigues, que é um autor que costuma garantir o sucesso de suas adaptações. Há também a volta de Daniel Filho na direção, depois de um hiato longo – desde a comédia “Sorria, Você Está Sendo Filmado”, de 2014. E há um elenco muito atraente, que traz outra volta, Malu Mader, e destaca nomes como Marcos Palmeira no papel-título, Guilherme Fontes, Fernanda Vasconcellos, Anselmo Vasconcelos, além do próprio Daniel Filho. Apesar disso, o grande atrativo acaba sendo a revelação da jovem Lorena Comparato, no papel de Celeste, a mulher casada que cai nas graças do gângster de dentes de ouro. Outro ator jovem, mais conhecido pelas telenovelas, Thiago Rodrigues, faz o papel de seu marido, Leleco, personagem que, na adaptação de Nelson Pereira dos Santos, exibida em 1963, tinha sido interpretado pelo próprio Daniel Filho. A estrutura, por sinal, é igual à do filme de Nelson Pereira dos Santos, uma espécie de “Rashomon” (1950), com a personagem de Malu Mader contando três histórias diferentes, ao mesmo tempo contraditórias e complementares sobre o temido Boca de Ouro, bicheiro que acabou de ser encontrado morto. A dupla de repórteres que entra na casa de Guigui (Mader) para colher depoimentos, acaba por ouvir essas histórias, mudadas de acordo com o humor ou a vontade da narradora. As narrativas se equilibram em momentos muito bons e outros menos interessantes, mas todas elas são atraentes e poderosas no uso da violência rodrigueana e que agora pode ser vista de maneira mais explícita. Daniel Filho segue um caminho de sangue e nudez, que já era trilhado pelos melhores especialistas em adaptações de Nelson Rodrigues, como Neville D’Almeida e Braz Chediak. Mas em “Boca de Ouro” ela é mais gráfica, derivada do cinema de horror, e mais bonita plasticamente. É uma violência que vai além do visual, já que Boca de Ouro é um personagem extremamente perturbador, seja quando procura estuprar uma mulher e matar seu marido, quando faz concurso de seios mais bonitos e quando planeja a execução de uma mulher em sua casa. Assim, há espaço para fazer bombear fortemente o coração do espectador diversas vezes, com os atos cruéis desse fascinante personagem da literatura brasileira.

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    Tenet irrita com explicações, mas fascina com ação

    15 de novembro de 2020 /

    A decisão da Warner de lançar “Tenet” nos cinemas mesmo com os índices de contaminação ainda altos e com o público temeroso de pisar em uma sala de exibição foi arriscada. Com isso, o filme do diretor Christopher Nolan tornou-se o único “blockbuster” do semestre, já que houve uma rejeição a “Os Novos Mutantes” – um filme bem simpático e que mereceria um pouco mais de consideração. Começar o texto falando de loucura de lançar “Tenet” em plena pandemia contrasta com o fato de Nolan ser reconhecido como um diretor cerebral. Em seus filmes, quem fica com os neurônios pegando fogo é o público. E se as pessoas acharam “A Origem” (2010) e “Interestelar” (2014) complicados, “Tenet” eleva essa complexidade a uma outra escala. Quando se acha que está começando a entender a trama, Nolan apresenta novas cenas para deixar o espectador perdido novamente. Mas é preciso respeitar um cineasta que é capaz de fazer um filme caro como este, de difícil compreensão, sem um protagonista do nível de Leonardo DiCaprio (“A Origem”) ou Matthew McConnaughey (“Insterestelar”), e seu estúdio apostar que isso atrairia um número considerável de espectadores em plena pandemia. “Tenet” é um filme que faz o público variar sua reação ao longo da projeção. Dá para se irritar com as explicações sobre as balas reversas, depois achar fascinante a história de um mundo reverso e ficar bastante impressionado com as cenas de ação, e em especial com o som, com a qualidade de som do filme, que numa sala IMAX é estrondoso. A trilha sonora, a cargo do sueco Ludwig Göransson, lembra algumas bandas de rock industrial, como o Ministry. É possível embarcar na proposta de Nolan: um diretor com uma fascinação absoluta pelo tempo, e que vem brincando com isso de maneira cerebral ao longo de toda sua filmografia, talvez desde a sua obra de estreia. Lembremos que em Nolan até o sonho é racionalizado, vide “A Origem”. Até porque, com “Tenet”, ele reforça sua posição como um dos cineastas mais determinados a realizar ficção científica da maneira mais séria possível. Ou seja, trazendo conceitos científicos reais, de física e química, para a construção de uma trama complexa. O problema (ou seria a solução?) é que ele não quis fazer um filme de ficção científica, mas uma espécie de thriller de espionagem à moda de James Bond, com o mérito de trazer um protagonista negro e cheio de carisma. John David Washington foi uma grande aposta, já que seu papel de maior destaque até então tinha sido “Infiltrado na Klan”, de Spike Lee, um filme mais direcionado ao circuito alternativo. Aqui ele incorpora um James Bond meio perdido, mas que nunca abandona a elegância. Sempre com um terno chique, mesmo quando está às voltas com lutas braçais com criaturas vindo do futuro. O fato de o protagonista (ele não tem nome no filme) estar tão perdido quanto o espectador não deixa de ser um alento. Aliás, é curioso que, na época da divulgação do filme, contou-se que nem o elenco entendeu a história de “Tenet”. Então, quando vemos os personagens dialogando sobre conceitos complicados de uma maneira até um tanto robótica, a impressão é que Nolan realmente não se importou muito com a preparação dos atores, mais interessado na mise-en-scène, como Alfred Hitchcock tempos atrás. As cenas que mais se aproximam de uma sensação dramática ou minimamente sentimental vem da personagem de Elizabeth Debicki, que interpreta a esposa do personagem de Kenneth Branagh, um homem que tem em suas mãos o destino do universo. Uma das sequências mais empolgantes do filme, inclusive, acontece quando os dois coadjuvantes estão em um barco. Por outro lado, as cenas de ação mais ambiciosas, como as perseguições rodoviárias, parecem um pouco engessadas. Mas ainda assim funcionam como um alívio para o cérebro nas duas horas e meia de duração que, acredite se quiser, passam voando.

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    Os Novos Mutantes é bem melhor que os últimos filmes dos X-Men

    15 de novembro de 2020 /

    Um filme que já nasceu como um cachorro morto para o povo chutar. Ou para as pessoas não verem. A própria distribuidora o lançou no meio da pandemia, quando ninguém quer ir ao cinema. E chovem críticas negativas (34% de aprovação no site Rotten Tomatoes). Mas “Os Novos Mutantes” é envolvente. É bom que exista e finalmente tenha sido lançado, após tanto tempo na geladeira, por mais que tenha sido mais arremessado do que exatamente lançado. É como se a Disney, mesmo tendo comprado a Fox, tratasse o material como obra de concorrente, que não deveria existir. O filme de Josh Boone, diretor dos bons dramas de relacionamentos “Ligados pelo Amor” (2012) e “A Culpa é das Estrelas” (2014), é sem dúvida superior aos dois filmes anteriores dos “X-Men” – os horríveis “X-Men: Apocalipse” (2016) e “X-Men: Fênix Negra” (2019). É também uma produção mais barata e humilde, sem a megalomania dos outros filmes dos mutantes. E com um diferencial muito atraente: o tom de filme de horror, que oferece uma experiência diferente ao subgênero de filmes de super-heróis. Junte-se a isso as angústias dos adolescentes em lidar com seus poderes, que podem servir de metáfora para as explosões hormonais que surgem neste estágio da vida humana. Há um romance gay muito bonito entre duas personagens, inclusive, o que conta ainda mais pontos a favor do filme. Assim, nota-se que a escolha de Boone para a direção do filme teve mais a ver com seu sucesso popular com o melodrama teen “A Culpa é das Estrelas” do que com sua intimidade com filmes de ação ou horror. Na verdade, ele não tinha nenhuma. E isso infelizmente depõe contra o filme quando ele se aproxima de seu clímax e as cenas de ação carecem de um cuidado maior. É quando “Os Novos Mutantes” cai bastante. Os efeitos especiais do urso gigante também são outro problema. Mas há outros tantos aspectos positivos, como a presença brilhante de Anya Taylor-Joy (“A Bruxa”) como a provocadora e badass Ilyana Raspuntin. A atriz ficou muito bem, trazendo expressividade e charme para a personagem. Ilyana tem o poder de se teleportar para um limbo, tem uma espada mágica gigante e um dragãozinho demoníaco como companheiro. Todos os demais atores e atrizes acabam ficando eclipsados pela presença de Taylor-Joy (atualmente arrancando aplausos na minissérie “O Gâmbito da Rainha”). Mas isso não quer dizer que a química não funcione. Rahne Sinclair (Maisie Williams, de “Game of Thrones”), a menina que se transforma em lobo; Danielle “Dani” Moonstar (Blu Hunt, de “The Originals”), com poderes a ser descobertos; Sam Guthrie (Charlie Heaton, de “Stranger Things”), uma espécie de míssil humano descontrolado; e Roberto da Costa (Henry Zaga, ator brasileiro de “13 Reasons Why”), cujo corpo arde como um vulcão; todos estão bem. Aliás, o elenco tem dois intérpretes brasileiros: além de Zaga, Alice Braga (“A Rainha do Sul”) aparece no papel da médica responsável pelos novos mutantes na instalação que os aprisiona. Quem leu as histórias clássicas do grupo, com roteiro de Chris Claremont e arte de Bill Sienkiewicz e Bob McLeod, provavelmente terá ainda mais prazer vendo o filme. É uma pena que os personagens não passarão desse único longa. Assim sendo, a abertura para o futuro na vida daqueles jovens em processo de autodescoberta ao final da narrativa traz um gostinho amargo de interrupção. Caso de obra que definitivamente teve má sorte em seu processo de produção, pós-produção e lançamento.

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    Os 7 de Chicago demonstra que a intolerância do passado ainda é muito atual

    15 de novembro de 2020 /

    Aaron Sorkin adora tribunais. Dentre as obras roteirizadas por ele, são comuns tramas passadas de tribunais (como em “Questão de Honra” e “A Grande Jogada”) ou em meio a discussões jurídicas (“A Rede Social” e a série “The Newsroom”). O motivo é simples: a ambientação serve ao objetivo de Sorkin de destilar seus diálogos ácidos, rítmicos, inteligentes e musicalmente compostos. E nesse sentido, “Os 7 de Chicago”, seu trabalho mais recente, mantém a tradição de narrativas desenvolvidas diante de um juiz, mas com uma diferença essencial. O filme narra a história real do julgamento de sete pessoas acusadas de conspiração pelo governo americano. Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen), Jerry Rubin (Jeremy Strong), David Dellinger (John Carroll Lynch), Tom Hayden (Eddie Redmayne), Rennie Davis (Alex Sharp), John Froines (Danny Flaherty) e Lee Weiner (Noah Robbins) estavam entre as milhares de pessoas envolvidas em protestos contraculturais e contra a Guerra do Vietnã ocorridos em Chicago, durante a Convenção Nacional Democrata em 1968. Os protestos culminaram em um conflito violento com a polícia e, como resultado, os sete foram presos, juntamente com Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II), ativista político e co-fundador dos Panteras Negras, e usados como bodes expiatórios com o intuito de frear qualquer manifestação do tipo em território americano. Os interesses escusos do governo são expostos ao jovem promotor Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt) que aceita, a contragosto, a tarefa de tentar condená-los. Estabelecendo uma aproximação com a contemporaneidade, Sorkin mostra a década de 1960 – e mais especificamente, o ano de 1968 – como um período de constantes conflitos e pouco entendimento. Era uma época divisiva, na qual gerações distintas eram incapazes de estabelecer qualquer tipo de diálogo. Os principais articuladores do protesto, vindos do movimento estudantil e da cultura hippie, eram vistos como um oposto perigoso à cultura conservadora, aqui representada pela figura do juiz do caso (interpretado por Frank Langella), que distorce a lei para atender aos seus próprios preconceitos. Porém, a divisão também acontecia dentro das lideranças. E o diretor/roteirista é hábil ao estabelecer essas diferenças logo de início. Ao apresentar os personagens, Sorkin nos mostra as visões de mundo e o que cada um deles espera daquele protesto. São visões complementares, porém distintas. E nisso se destacam as atuações de Sacha Baron Cohen e Eddie Redmayne. Os dois atores encaram seus personagens como figuras inteligentes, mas opostas. Enquanto Hoffman usa a percepção negativa que as pessoas têm sobre ele a seu favor, Hayden é muito mais pragmático e politizado. Um deseja uma revolução sóciocultural, e o outro uma revolução política. Mais do que o julgamento si, o principal conflito de “Os 7 de Chicago” se dá no confronto entre esses dois. E para priorizar esse conflito, Sorkin manipula a temporalidade do filme, abusando de flashbacks e de uma narrativa fora de ordem. Amplamente utilizados ao longo da sua carreira, esses recursos são um pouco confusos em alguns momentos, mas funcionam ao apresentarem as informações ao público na mesma ordem que elas são introduzidas no tribunal. Além disso, diretor adota um estilo frenético, criando tensão ao misturar imagens reais dos protestos com aquelas captadas em tom igualmente realista. Mas a grande diferença deste filme em relação às demais obras do autor é o tom dos diálogos. Aqui, é visível como o roteirista diminuiu um pouco o seu ritmo, apostando muito mais na compreensão da sua mensagem do que na sonoridade das suas palavras. Os diálogos são mais lentos, pausados e, nem por isso, menos significativos. Embora seja menos objetivo do que Spike Lee (“Destacamento Blood” e “Infiltrado na Klan”) em sua abordagem, Sorkin tem o mesmo alvo: olhar para a década de 1960 como tentativa de compreender o presente. Em particular, os abusos racistas sofridos pelo único réu negro do caso, Bobby Seale, aproximam claramente os protestos de antes e os mais recentes – contra abusos similares que levaram aos assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor e outros, fomentando o movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Ao incluir neste quadro o abismo de visões de mundo que cercaram a recente eleição presidencial americana, fica bem demonstrado que o passado apresentado na tela ainda é muito atual.

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    Estou Pensando em Acabar com Tudo é pesadelo psicológico e existencial

    3 de outubro de 2020 /

    O roteirista Charlie Kaufman não é estranho à ideia de entrar na cabeça dos seus personagens com o intuito de exibir seus medos e angústias mais profundos. Ainda assim, em experiências anteriores, como “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” (2004) e “Adaptação” (2002), os limites entre realidade e ficção eram visíveis e, em sua maioria, identificáveis. Só que em “Estou Pensando em Acabar com Tudo” ele apaga essas fronteiras, apresentando uma obra complexa e ambiciosa – e um dos seus melhores trabalhos. Baseado no livro homônimo de Iain Reid, o filme parece acompanhar a jovem Lucy (Jessie Buckley) enquanto ela viaja com o namorado Jake (Jesse Plemons) para conhecer os sogros. Um sentimento de estranhamento é estabelecido logo de início. As roupas coloridas da personagem contrastam com a frieza do ambiente. Ela ensaia um sorriso, mas seu pensamento é invadido pela vontade de acabar com tudo. Quando eles chegam ao seu destino, conhecemos os pais de Jake (interpretados por David Thewlis e Toni Collette). O estranhamento perdura ao longo de toda essa sequência, a começar pelo fato de os pais demorarem uma eternidade para recebê-los. Além disso, eles parecem rejuvenescer em algumas cenas e envelhecer em outras. Mas existe uma explicação para essa temporalidade etérea – e aqui vamos entrar no terreno dos spoilers. De fato, não há como abordar a genialidade da história sem dar o maior spoiler de todos – a razão porque o filme é genial. Prossiga apenas se já tiver visto o filme para não perder o prazer de ser surpreendido. O verdadeiro protagonista da história é um homem idoso que trabalha como zelador em uma escola rural. Ele aparece em poucos momentos ao longo da obra, mas é a sua história que vemos ser contada. Ao mesmo tempo, nenhum dos demais personagens é real, embora Jake, interpretado por Jesse Plemons, seja próximo disso, uma lembrança (ou a imaginação) da juventude do protagonista real. Jake é a persona que ele escolheu para interpretar a si mesmo nessa viagem nostálgica e auto reflexiva. Já os demais personagens são uma mistura de memórias e manifestações do seu inconsciente. O diretor/roteirista é hábil ao dar essas “pistas” acerca da realidade da história por meio de segredos escondidos nos diálogos. Quando Lucy recita um recita um poema sobre solidão, por exemplo, Jake afirma: “parece que você escreveu sobre mim”. A fala é uma referência a sua situação atual, trabalhando de noite e voltando para uma casa vazia. O controle exercido por esse protagonista ausente fica explícito na maneira como o longa é apresentado para o público, especialmente no formato de tela utilizado. Além de limitar o mundo daqueles personagens, o formato em 4:3 (tela quadrada) é uma alusão à pequena TV que o zelador assiste na cozinha. Mas a relação cinematográfica ultrapassa o formato da tela. Kaufman – que também dirige o filme – ainda explora diferentes gêneros cinematográficos: há momentos de terror, suspense, drama, animação e até cenas musicais. Também existem referências a personalidades relacionadas ao cinema (como a crítica Pauline Kael) e a outros filmes (como o final, tirado de “Uma Mente Brilhante”). Tudo faz parte do imaginário de Jake – conforme sugerido na cena em que vemos o quarto. Mas Kaufman esconde esse protagonismo, direcionando sua câmera à atriz Jessie Buckley. E esta opção deixa a trama ainda mais complexa. Pois apesar de ela ser a narradora – o que a aproxima do público –, a personagem não é, necessariamente, uma pessoa real, mas a representação idealizada de todas as mulheres que causaram algum impacto na vida do protagonista. Não por acaso, o nome e profissão dela mudam ao longo de toda a narrativa. Toda essa confusão intencional tem o intuito de explorar a complexidade da vida humana e a impossibilidade de criar uma narrativa concisa acerca de um ser humano. Conforme é dito em um momento: “Às vezes o pensamento é mais próximo da realidade do que uma ação”. “Estou Pensando em Acabar com Tudo” é, portanto, uma (auto) avaliação da vida do protagonista. No que se manifesta como um fluxo de pensamento – as vezes confuso como um sonho ou pesadelo – , ele confronta suas memórias e tenta compreender o rumo da sua vida, cuja trajetória agora se aproxima do fim. Ao longo dessa viagem pessoal e derradeira, ele revisita traumas antigos e relacionamentos perdidos – reais ou imaginados. Até finalmente “aceitar tudo”, revelando a moral da história.

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  • Filme

    A Prima Sofia explora liberdade feminina com atriz que viveu escândalo sexual

    3 de outubro de 2020 /

    Alguns filmes que envolvem o público pela trama acabam por se tornar ainda mais interessantes por detalhes de seus bastidores. É o caso da escalação de Zahia Dehar em “A Prima Sofia”, novo drama de Rebecca Zlotowski, diretora do charmoso e torto “Além da Ilusão” (2016). A hiper-sexualização da personagem de Dehar, beirando o vulgar, é o elemento principal da forma como o filme registra a liberdade sexual feminina, a falta de pudor e a vontade amoral de se entregar aos prazeres. Ela escandaliza e mexe frontalmente com o machismo do público. Nisto lembra um filme de algumas décadas atrás, “A Mulher Pública” (1984), de Andrzej Zulawski. Mas a polêmica em torno do filme, ao menos na França, deu-se principalmente por Dehar ter se tornado bastante conhecida no país como garota de programa. Ela virou notícia em 2010 durante os escândalos que envolveram dois jogadores da seleção francesa de futebol, Franck Ribéry e Karim Benzema, que foram acusados de pagá-la por serviços sexuais quando ela ainda tinha 17 anos. Os jogadores se livraram de condenação por afirmar que não sabiam que ela era menor de idade. Mas ela não lamenta a exposição, que acabou ajudando sua carreira, transformando-a em modelo, designer e agora atriz no filme de Zlotowski. Seu papel em “A Prima Sofia” guarda muita similaridade com as páginas do noticiário de sua vida real, trazendo referências que são mais bem apreciadas por quem conhece os bastidores do caso. No filme, ela vive a prima do título, que surge na cidade de Cannes de surpresa para visitar a jovem Naïma (a estreante Mina Farid), de 16 anos, que a recebe com muita alegria e entusiasmo. Há algo nessa prima que veio de Paris que fascina Naïma, como seu sex appeal, sua tranquilidade em se expor de topless e também seu ar de liberdade, que ela expressa o tempo todo em seu desejo de aproveitar a vida – uma vontade tatuada acima do bumbum, com a frase em latim “Carpe diem”. Num determinado momento, quando as duas estão tomando sol na praia, dois rapazes surgem atraídos pelo corpo exuberante de Sofia. E a garota não se importa com a admiração. Ao contrário: chega a deixá-los desconfortáveis com sua sexualização, ao aproximar a mão de um deles de seu seios e falar como sua pele é macia, especialmente em outra parte de seu corpo. O comportamento da prima deixa Naïma escandalizada, mas aos poucos a jovem começa a olhá-la como um exemplo de vida. A prima Sofia é uma típica bad girl – em entrevista, Zahia Dehar disse adorar as bad girls, por serem mais fortes e mais livres que qualquer mulher – e a percepção da rejeição social a seu comportamento é muito clara no filme. Isto se manifesta em olhares e comentários toda vez que Sofia passa com seus trajes provocantes, seja um vestido totalmente transparente para a noite, seja um vestido leve e florido, como o que ela usa para ir a um palacete na Itália, com os rapazes que ela conhece. As cenas na Itália são deliciosas por lidarem com a questão do julgamento social – o preconceito. Em determinado momento, Sofia decide se manifestar num roda de pessoas ricas, dizendo que aquele lugar lhe fazia lembrar Marguerite Duras. Uma das mulheres (Clotilde Courau) ri e desconfia que aquela garota com jeito de prostituta não sabe nada da escritora, e decide perguntar quais seus livros preferidos de Duras. Mas o que enriquece a cena é outro detalhe de bastidores, já que Courau é casada com o Príncipe de Veneza e uma integrante real da elite italiana, em mais um acerto de casting de Zlotowski. “A Prima Sofia” é também um conto sobre a brutalidade masculina, ainda que narre isso de maneira relativamente leve – em comparação, por exemplo, a “20 Anos”, de Fernando Di Leo, que mostra a violência despertada pela liberdade sexual feminina de maneira infinitamente mais impactante. Entretanto, por mais que Sofia atraia as atenções, o filme é na verdade sobre Naïma, do quanto ela aprende naquele breve período de férias de verão, que aproveitará para sua vida, para o seu futuro. Nisto, encontram-se semelhanças com o clássico “A Colecionadora” (1967), de Éric Rohmer, que tem sido citado em algumas críticas. E tem mesmo tudo a ver.

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  • Filme

    Queen & Slim é filme de denúncia e resistência importantes

    3 de outubro de 2020 /

    Estreia na direção de longas-metragens da diretora de videoclipes Melina Matsoukas, “Queen & Slim” é um filme importante para o momento que estamos vivendo, embora aqui no Brasil tenha saído em VOD, sem muito alarde. A produção estreou nos Estados Unidos no final do ano passado e teve um bom desempenho nas bilheterias domésticas (US$ 43,8 milhões para um orçamento de US$ 18 milhões), em parte porque a dupla de atores ingleses que dá vida aos personagens do título é ótima – tanto Daniel Kaluuya, já indicado ao Oscar por “Corra!” (2017), quanto a ex-modelo Jodie Turner-Smith (da série “The Last Ship”). Mas além da bela atuação, o filme de Matsoukas se destaca pela valorização de uma estética afro-americana, seja na construção das imagens, muito bem cuidadas na fotografia de Tat Radcliffe, que traz um viés muito próprio para a beleza dos corpos negros, seja na trilha musical sensual e quente. Aliás, vale destacar que o diretor de fotografia também foi o responsável pelo primeiro episódio da nova série “Lovecraft Country”, que aborda o terror afro-americano na HBO. E é impressionante como ambos os trabalhos têm elementos em comum. Assim como a série passada nos anos 1950, o filme situado nos dias de hoje retrata os EUA como um país extremamente racista. O terror de ser abordado por um policial branco é o mesmo, 70 anos depois, demonstrando que, apesar da conquista de direitos, a repressão motivada pela cor da pele se mantém igual. Na trama, Queen e Slim se conhecem em um restaurante, após marcarem um encontro via Tinder. “Por que você escolheu este restaurante?”, ela pergunta. “O dono é negro”, ele responde. Isso já ajuda a demarcar o território e estabelecer o clima. Mas é na volta do encontro, em meio a uma conversa não muito animada, que o racismo se impõe, quando eles são parados pelo inevitável policial branco. A situação sai de controle e eles acabam se tornando fugitivos da lei. E, conforme fogem pelo vasto território americano, acabam ganhando fama de heróis, pois vem à tona que o policial que os confrontou já tinha matado um homem negro antes. Por mais que o filme caia em sua segunda metade, a trama acaba prendendo a atenção, tanto por suas cenas marcantes e várias qualidades, quanto pelas questões que levanta e representatividade que traz à tela – representatividade não apenas negra, mas também feminina/feminista, vislumbrada na força da personagem Queen e também pelo fato de ter uma diretora negra por trás das câmeras. E há também a beleza típica dos road movies, que costumam destacar as transformações por que passam os personagens ao longo da jornada. A arte segue sendo uma das formas mais eficazes e bonitas de resistência.

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  • Filme,  Música

    Narciso em Férias é emocionante e essencial para a democracia

    3 de outubro de 2020 /

    “Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido.” Essa é uma das falas de Caetano Veloso em “Narciso em Férias”, ao descrever o seu primeiro momento no cárcere, quando foi colocado, sem a menor explicação, em uma solitária escura. Só de pensar nisso, de ter essa sensação de deslocamento da realidade, já é aterrador. “Narciso em Férias” marca o retorno da dupla de cineastas Ricardo Calil e Renato Terra ao mundo da música popular brasileira, depois do ótimo “Uma Noite em 67” (2010). Desta vez, a opção de entrecortar as falas de Caetano Veloso com imagens de arquivo e depoimentos de outros entrevistados foi deixada de lado, e o filme fica muito mais poderoso apenas com as cenas da entrevista com o cantor, músico e compositor baiano. Há quem diga que apresentar única e exclusivamente a entrevista de uma pessoa à frente de uma câmera não é fazer cinema, mas isso é bobagem. Esquecem da grandeza de Eduardo Coutinho, mestre nesse formato. Em “Narciso em Férias”, os diretores optaram por esconder, sempre que possível, suas próprias vozes na condução da entrevista. E utilizam apenas três enquadramentos básicos: o close-up, um plano que mostra o corpo inteiro do cantor e um plano mais distante, que acentua a parede ao fundo. Tudo que ele conta já está em um capítulo do seu livro “Verdade Tropical”, justamente intitulado “Narciso em Férias”, e que agora se tornará um livro à parte, já em pré-venda. O termo foi tomado de empréstimo de um livro do romancista americano F. Scott Fitzgerald, e que também se refere ao fato de que, durante todo o período em que esteve preso, Caetano não se olhou no espelho – deu férias a seu lado narcisista, por assim dizer. Histórias narradas oralmente são a base da construção de nossa civilização e é bom ver que esse tipo de recurso ainda segue sendo incrivelmente poderoso, especialmente quando encontramos alguém que consegue nos colocar dentro da ação. Há momentos da fala de Caetano que conseguem fazer o público se sentir em seu lugar, com um detalhismo de carga dramática assombrosa. O documentário é cheio de momentos de bastante emoção, especialmente em seu terço final. O próprio Caetano Veloso parece ter se surpreendido com o próprio choro e pede para que os diretores parem a filmagem em determinado momento. E não é um momento em que ele fala de seu sofrimento, mas de quando comenta o sentimento de gratidão, que ele tem por um sargento que ficou com pena de sua situação, de ele ser o único que não podia receber a visita da esposa, e que o ajudou. E ele lamenta não ter procurado saber o nome desse homem. Sem dúvida um dos momentos mais bonitos e tocantes do documentário e que, muito provavelmente, perderia um bocado da força sem a voz e sem o olhar do cantor . Outro acerto de Calil e Terra foi o fato de trazerem canções para o documentário. Já começa com uma canção de Orlando Silva, “Súplica”, cuja importância é exposta ao longo do filme. Além disso, cada vez que “Hey Jude”, dos Beatles, tocava nos rádios – foi um grande sucesso da época, o final dos anos 1960 – trazia esperança para Caetano. Outras duas canções do próprio Caetano, inspiradas pela experiência do cárcere, também são citadas com emoção: “Irene” e “Terra”. Além de enfatizar a importância e a beleza do trabalho de um de nossos mais brilhantes músicos, “Narciso em Férias” também impacta por lembrar como os artistas brasileiros foram presos e exilados durante a ditadura militar, em um momento em que a extrema direita se apresenta como uma ameaça cada vez maior para a democracia do Brasil. E isso o torna um filme essencial.

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