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  • Filme

    Documentário deleita cinéfilos com a trajetória de Brian De Palma

    29 de novembro de 2016 /

    De todos os cineastas da Nova Hollywood, Brian De Palma foi o que se manteve mais fiel às suas raízes, ainda produzindo um cinema com os mesmos interesses estéticos e temáticos sem que para isso precise se proibir de navegar por diferentes gêneros e estúdios. Ele não tem a estabilidade financeira de George Lucas ou está na posição confortável de Steven Spielberg, que tem seu próprio estúdio e dirige uma média de um filme a cada dois anos. Por outro lado, talvez seja muito mais influente do que seus colegas, algo que se reflete pelo interesse em refilmar a sua obra e os inúmeros cineastas inebriados por seu estilo. Realizadores do documentário “De Palma”, Jake Paltrow e Noah Baumbach são oriundos do cinema indie e têm em alta conta o cineasta norte-americano. Os constantes encontros entre os três renderam uma amizade que agora se traduz nesta contribuição no cinema, na qual De Palma traça uma linha do tempo de sua própria carreira, rememorando desde o seu interesse juvenil por tecnologia até “Paixão” (2012), seu filme mais recente. Quem é fã do cineasta sabe que a idade o tornou cada vez mais avesso a entrevistas, sendo por vezes monossilábico principalmente em questões sobre o seu passado. Não à toa, nos primeiros minutos do documentário, o vemos de braços cruzados, um tanto desinteressado ao tratar sobre si mesmo e a sua velha obsessão pelo cinema de Alfred Hitchcock. No entanto, o conforto em estar em um ambiente familiar e revendo a sua trajetória para amigos fazem toda a diferença, logo reavaliando os seus próprios altos e baixos com algum senso de humor. Trata-se de uma filmografia tão incrível e cheia de experiências para compartilhar que um documentário com quase duas horas de duração soa insuficiente. Após a realização de filmes experimentais (“Dionysus in ’69”, “Woton’s Wake”) e outros que flertavam sobre o anseio da juventude diante da guerra no Vietnã (“Saudações” e a sua continuação “Olá, Mamãe!”), De Palma quase viu o seu ofício de diretor ganhar um fim abrupto com a sua demissão durante a pós-produção de “O Homem de Duas Vidas” (1972), o seu primeiro filme para um grande estúdio, a Warner Bros. A sorte veio com “Carrie, a Estranha” (1976), o primeiro de quatro filmes que julga ter obtido uma harmonia entre o sucesso comercial, a liberdade artística e o êxito da crítica – os demais são “Vestida Para Matar” (1980), “Os Intocáveis” (1987) e “Missão: Impossível” (1996). Por outro lado, o fracasso esteve à espreita sempre que De Palma atingia o topo. Das sessões vazias de “O Fantasma do Paraíso” (1974) em Los Angeles aos comentários severos por “A Fogueira das Vaidades” (1990), o cineasta ainda assim encontra alguma satisfação ao reconhecer o status de cult que algumas de suas produções receberam, especialmente “Um Tiro na Noite” (1981), cujo fiasco à época fez o seu casamento com a atriz Nancy Allen chegar ao fim, bem como levou à falência a companhia Filmways. Hoje, o longa é considerado brilhante, um clássico. Mesmo dando conta de todos esses percalços, “De Palma” tem sido severamente criticado pela escolha de seu formato. Tendo somente Brian De Palma como testemunha e uma montagem bem astuta com a sua seleção de trechos de filmes e fotografias, houve quem taxasse Paltrow e Baumbach de preguiçosos, ao criarem basicamente um seleção de comentários para material extra de DVD. Não soa justo, pois De Palma não é um artista que precisa de comentários bajuladores de terceiros, sendo os seus depoimentos e as imagens antológicas que arquitetou as melhores defesas de seu próprio legado.

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  • Música

    Repleto de lacunas, o filme Elis dá saudades da cantora Elis

    26 de novembro de 2016 /

    Elis Regina (1945-1982) foi uma cantora perfeita. Voz, dicção, técnica e afinação impecáveis. E uma intérprete fabulosa, da dimensão de Edith Piaf, Amália Rodrigues ou Ella Fitzgerald. Um portento. Nada mais justo e razoável que uma carreira como essa seja objeto de uma cinebiografia. A questão é alcançar a qualidade artística necessária para fazer jus ao projeto. Isso, o filme “Elis”, de Hugo Prata, alcança parcialmente. Quando entra em cena Andréia Horta (da novela “Liberdade, Liberdade”), Elis realmente revive na tela. A atriz faz um trabalho notável, digno de muitos prêmios. A figura de Elis emerge em gestos, movimentos, risos de arreganhar a gengiva, coreografias que acompanham o canto, enfim, no seu conhecido estilo de ser, determinado, irônico e agressivo. As interpretações de Elis estão lá inteiras, com alta qualidade de som, já que não é Andréia quem canta, ela dubla Elis. Perfeito! Bem, nem tanto. O repertório escolhido é todo muito bom, como aliás era o repertório de Elis Regina em todas as fases de sua carreira. Mas há ausências inconcebíveis. Elis foi a principal intérprete de Milton Nascimento e Gilberto Gil. Nenhuma música deles está no filme. Como não está nada da antológica gravação que ela fez com Tom Jobim. Nem suas inovadoras interpretações de Adoniran Barbosa. Problemas com os direitos das músicas? Falha grave, do ponto de vista artístico. O começo real da carreira dela também foi deletado. Vendo o filme, tudo parece ter começado no Rio, com “Menino das Laranjas” (de Theo Barros), embora se faça referência à sua origem gaúcha e trabalho em Porto Alegre. Só que Elis Regina gravou 2 LPs na gravadora Continental: “Viva a Brotolândia”, em 1961, e “Poema”, em 1962. São 24 faixas gravadas, de discos escancaradamente comerciais, tentando lançar a cantora para concorrer com Celly Campello (1942-2003), que fazia muito sucesso na época. Elis renegou essa fase de sua carreira, rejeitou esses discos (que não são tão ruins assim), mas é algo que teria de ser registrado numa cinebiografia que deu relevo ao trabalho da cantora. Da vida pessoal de Elis, o casamento com Ronaldo Bôscoli durou pouco, uns cinco anos, foi muito conturbado, já que ele era mulherengo, infiel. Seu papel artístico junto a ela acrescentou pouco à arte de Elis. Pelo filme, ele foi o maior amor da vida dela e teve papel artístico muito relevante. Uma forma de romancear e fazer uma narrativa atraente? O fato é que o casamento com César Camargo Mariano foi mais longo e muitíssimo mais importante, do ponto de vista artístico. No filme, ele perde essa força. Mas nunca Elis foi tão brilhante como quando entoou canções arranjadas por César. Era algo de arrasar quarteirão de tão bom, tão sofisticado. Quem viveu esse período sabe disso. E as gravações estão aí para comprovar. Algumas no filme, também, claro. Os conflitos políticos que envolveram a ditadura militar, o canto de Elis na Olimpíada do Exército, a reação fulminante de Henfil no Pasquim, colocando-a no cemitério dos mortos-vivos, e a evolução que a levou a entoar o hino informal da anistia, “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, onde se pedia a volta do irmão do Henfil (Betinho), estão muito bem retratados. A cena em que ela aparece sendo vaiada em show ao vivo me parece excessiva para ser considerada real. Os espetáculos, muito bem produzidos para palco, com ênfase teatral, além do show, como “Transversal do Tempo” e “Saudade do Brasil”, não aparecem. E o grande sucesso, “Falso Brilhante”, um ano em cartaz, não é retratado, realmente. Apenas a música cantada surge e não o frenesi que foi aquela montagem teatralmente empolgante. Em suma, o filme está cheio de lacunas e falhas, que não vão passar despercebidas aos fãs de Elis, que conhecem a sua trajetória. Ainda assim, é um espetáculo bom de se ver, com uma atriz sensacional e uma música extraordinariamente bela. A produção serve mais é para dar muita saudade!

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  • Filme

    É Apenas o Fim do Mundo embaraça o cinema pretensioso de Xavier Dolan

    26 de novembro de 2016 /

    O prestígio que cerca precocemente jovens talentos costuma dividir opiniões. Não por acaso, todas as reações ao trabalho do cineasta canadense Xavier Dolan são exaltadas, sejam elas positivas ou negativas. Dolan tinha acabado de atingir a maioridade quando foi revelado ao mundo com o desconcertante “Eu Matei a Minha Mãe” (2009). Desde então, transformou-se em um queridinho dos franceses, recebendo em Cannes um Prêmio do Júri por “Mommy” (2014) e o Grande Prêmio do Júri por seu novo filme, “É Apenas o Fim do Mundo”, tendo somente 27 anos, algo que veteranos que batem cartão com frequência no festival jamais conseguiram. Por um lado, não se questiona que ele seja um bom diretor de elenco, algo que advém de também desempenhar o ofício da interpretação, e que compreende bem as possibilidades de artimanhas da linguagem, tendo em “Mommy” modificado a largura da tela com uma intenção muito mais do que estética. Por outro lado, a sua visão para dramas adultos soa infantilizada, por vezes tratando banalidades com a pirraça de um jovem que visualiza tudo como o fim do mundo – vem bem a calhar aqui o título de seu novo filme. Seu sexto longa-metragem concentra tudo o que de pior é apontado em seu cinema. Isso porque a adaptação que faz da peça de Jean-Luc Lagarce é insuportável, um pavor. Escritor que oculta o fato de estar com uma doença terminal, Louis-Jean Knipper (Gaspard Ulliel, de “Saint Laurent”) volta para a casa de sua família com a intenção de revelar a sua condição. Não há um segundo que ele não ensaie o modo como trará a informação à tona, mas sempre se acovarda quando se julga preparado. Há quatro membros da família que o aguardam: a sua mãe (Nathalie Baye, de “Uma Doce Mentira”), a sua irmã caçula Suzanne (Léa Seydoux, de “007 Contra Spectre”), o seu irmão mais velho Antoine (Vincent Cassel, de “Em Transe”) e a sua cunhada Catherine (Marion Cotillard, de “Macbeth”, deslocada como nunca). Raramente se viu um núcleo familiar que usa tanto as trivialidades como justificativa para discutir aos berros. Ainda que alguma escolha no passado de Louis-Jean tenha deixado um mal estar na atmosfera da residência, briga-se por várias outras coisas, como a preparação do jantar, a ausência de cartas, a passividade de Catherine, a notificação de partida do anfitrião e por aí vai. Dolan faz algo pior que um teatro filmado. Quase sem pausas para respiros, a sua câmera fica grudada nas faces do elenco durante 90 minutos, como se pretendesse com isso representar a rua sem saída em que está o seu protagonista, captando cada olhar e gota de suor, mas jogando pela lixeira a potencialidade dos intérpretes, ao ignorar que uma atuação depende da anatomia em sua totalidade para se comunicar. A pretensão dessa escolha, somada à artificialidade da iluminação do diretor de fotografia André Turpin (também de “Mommy”) para reforçar a inconstância do temperamento dos personagens, marca “É Apenas o Fim do Mundo” como o ponto mais embaraçoso da carreira de Dolan, mais do que o elenco composto exclusivamente por atores franceses. E também leva a questionar os critérios do juri do último Festival de Cannes, presidido pelo cineasta George Miller (“Mad Max: Estrada da Fúria”), que preferiu premiar isso e ignorar, por exemplo, “Elle”, de Paul Verhoeven.

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  • Filme

    Depois da Tempestade reflete de forma sensível a dissolução de uma família

    26 de novembro de 2016 /

    O foco na família continua o forte do cinema de Hirokazu Koreeda. Ainda que seja bem menos sombrio do que “Ninguém Pode Saber” (2004) e “O Que Eu Mais Desejo” (2011), “Depois da Tempestade” (2016) é desses filmes que parecem manter uma nuvem negra sobre seu protagonista Ryota, um escritor fracassado, que agora faz bicos trabalhando como detetive particular e que tem muita dificuldade para pagar a pensão do filho, fruto de um casamento que chegou ao fim. Ele ainda sente muita falta da esposa, demora para virar a página, sem falar que é muito doloroso para ele ter que ficar longe do garoto. O personagem é problemático, chega até mesmo a tentar roubar a própria mãe, entre outras coisas, mas percebemos que se tratam de atos desesperados. Podemos vê-lo como um sujeito que demorou a crescer e por isso acaba perdendo tudo o que havia conquistado, mas também podemos mais solidários com ele, especialmente quando há uma triste identificação com muitos aspectos de sua personalidade e de sua vida. Uma das curiosidades de “Depois da Tempestade” é o modo como Koreeda filma as ruas, quase sempre vazias. Aquilo passa uma sensação de um universo quase morto, como se não houvesse escapatória para o protagonista a não ser tentar se reconciliar com a esposa, que, no entanto, está bastante ciente de que seu casamento acabou e tem um posicionamento bem prático diante da vida. Para ela, não dá para conviver com um homem tão irresponsável. E assim vai até o terço final do filme, quando a narrativa encaminha os personagens para a casa da avó (Kirin Kiki, a velhinha de “Sabor da Vida”). Aliás, impressionante como a atriz, que já havia aparecido em outros filmes do diretor, funciona como a personificação da mãe/avó amorosa. E de como esse aspecto, bem como o ritual de fazer refeições e de comer, é tão próximo dos valores japoneses. A parte final do filme é a mais rica em significação e em sentimento, com a chegada de Ryota e do filho na casa da avó, enquanto esperam um tufão que deve causar alguns estragos na cidade. O aconchego da casa da avó, seus olhos amorosos e tristes pelo insucesso do filho, a tentativa de aproximação com a nora, tudo isso é explorado com muita delicadeza. Evitando o melodrama carregado, Koreeda prefere um drama agridoce, sutil, que aproxima o espectador daquela família e transmite sua tristeza, até concluir de forma conformista, diante da situação final. Que, aliás, não chega a ser uma solução pessimista, mas realista.

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  • Filme

    Animais Fantásticos e Onde Habitam é o melhor prelúdio já feito por Hollywood

    21 de novembro de 2016 /

    As sagas mais adoradas do cinema, mais cedo ou mais tarde, decidem explorar o passado de seus universos, ricos em detalhes e cheios de potencial. Um dos maiores problemas é que não sobra muito espaço para surpresas e sabemos onde tudo vai parar, nem que isso leve três filmes, como “Star Wars” fez para mostrar a transformação de Anakin Skywalker em Darth Vader. Outro ponto que costuma atrapalhar é a necessidade de conectar a trama do prelúdio quase o tempo todo com os filmes originais. Felizmente, quem assina o roteiro de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, que serve de prólogo para a franquia “Harry Potter”, é J.K. Rowling, a própria criadora de Harry e a pessoa mais indicada para contar o que de mais relevante aconteceu antes do menino bruxo descobrir seus poderes. Tendo como ponto de partida um guia fictício sobre criaturas mágicas, Rowling consegue ser sutil ao fazer uma ou outra ligação direta com os filmes, que começam em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, e mostrar novidades de sobra para iniciar uma franquia inédita e envolvente. É verdade que seu roteiro sugere alguns mistérios que podem ligar os fatos de “Animais Fantásticos” a “Harry Potter”, mas isso deve ficar mais claro em novos filmes. Por enquanto, ainda é mais especulação – mas quanto menos você souber, melhor. A trama central acompanha a chegada do protagonista a ora belíssima, ora depressiva Nova York pós-1ª Guerra Mundial (cortesia de um mix de CGI, fotografia, direção de arte e figurinos impecáveis). Trata-se do magizoologista inglês Newt Scamander (Eddie Redmayne, finalmente em um filme que todos irão assistir), que carrega em sua mala os animais fantásticos do título. A princípio, as tramas paralelas à busca de Scamander, pelos bichos que escapam da mala, podem parecer deslocadas do filme. Mas, não se preocupe, porque você gostará de ser surpreendido: Rowling costura tudo muito bem até o ato final e ainda deixa o espectador querendo ver mais desse universo. Embora o cineasta David Yates, que dirigiu os últimos quatro “Harry Potter”, esteja à frente das câmeras, o show é verdadeiramente comandado por ela. Desta vez, com a vantagem de escrever diretamente para as telas, evitando quaisquer equívocos de adaptação e os tradicionais buracos na narrativa, que surgem na transposição de livros para o cinema. Yates segue com cacoetes de Peter Jackson, mas é o homem de confiança da escritora – e da Warner – , para traduzir em imagens a imaginação de Rowling. A escritora, por sinal, confia bastante em sua imaginação para não encher a trama com cenas de ação, lutas, correrias e explosões a cada cinco ou dez minutos. E, em vez de se repetir com outra saga de um escolhido, vai na contramão dos blockbusters atuais ao oferecer uma história de muitas camadas, até lenta para os padrões de hoje. Rowling não tem a mínima pressa para situar e envolver o espectador, que não sentirá a menor falta de Harry, Rony e Hermione na nova trama. Por vezes, seu enredo até abusa do silêncio, em influências que remetem à fase de ouro do cinema. O que leva à atuação de Eddie Redmayne, indicado duas vezes seguidas ao Oscar de Melhor Ator (vencendo por “A Teoria de Tudo”). Numa primeira impressão, é fácil acusá-lo de exagero, mas Newt é um cara solitário que cria e estuda animais do mundo bruxo. Ou seja, ele é no mínimo excêntrico. Dentro da proposta do filme, sua estranheza também reflete a forma como os americanos veem os imigrantes e os julgam sem conhecê-los de perto. Sim, Rowling tem coragem de tocar num tema polêmico: a aversão americana aos imigrantes, bem na hora em que Donald Trump vence as eleições para se tornar presidente dos EUA, com uma plataforma anti-imigração. Aliás, vale a pena reparar no diálogo sobre a melhor escola de bruxaria, numa cutucada à prepotência americana. Além de materializar esse conceito, Redmayne é o ator em cena que melhor aproveita os truques corporais do cinema mudo. Ainda assim, as atuações mais cativantes pertencem a Dan Fogler, como Jacob, o improvável amigo “trouxa” (ops, “no-maj”) e Queenie (Alison Sudol), a doçura em pessoa, que lê os pensamentos de todos ao redor. Tente não se apaixonar pelos dois. Por falar em apaixonante, a cena final é lindíssima, além de servir para J.K. Rowling ilustrar uma nova espécie de magia, a magia do cinema. Com um filme tão envolvente e uma premissa tão promissora para iniciar uma nova franquia, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” não é apenas bom entretenimento. É possivelmente o melhor prelúdio já feito por Hollywood.

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    Indignação é um belo filme sobre a juventude

    21 de novembro de 2016 /

    James Schamus é um produtor de bom gosto, que trabalhou diversas vezes com Ang Lee e talvez por isso tenha herdado uma sensibilidade especial, de modo a conseguir um resultado muito bom em sua estreia como diretor. Sua principal opção estética ao filmar “Indignação” foram sequências longas, ainda que com muito uso de campo e contracampo, para que dar conta do texto denso de Philip Roth (“Revelações”), autor do romance homônimo lançado em 2008, que serve de base para a trama. A história se passa durante o período de juventude do escritor, na década de 1950, mais especificamente no ano de 1951, quando explodia a Guerra da Coreia e antes do nascimento oficial do rock’n’roll, que se manifestaria como uma forma de extravasar a energia e a intensidade daquela geração. O personagem principal, o jovem Marcus (Logan Lerman, de “As Vantagens de Ser Invisível”), é um garoto bom e aparentemente muito centrado e correto. Mas há algo nele que o deixa particularmente irritado com as regras impostas pela sociedade. E é interessante esse aspecto, pois, por mais que convide o espectador a assumir seu ponto de vista, especialmente a cada cena positiva entre ele e Sarah Gadon (da minissérie “11.22.63”), o filme não o torna dono da verdade. É possível questioná-lo sempre, por mais que a sabatina com o reitor da universidade (grande momento de Tracy Letts) seja um tanto desnorteadora. A trama se inicia nos últimos dias de Marcus com sua família em New Jersey, antes dele passar a morar na universidade de Winesburg, em Ohio. É lá que percebemos sua dificuldade (ou má vontade) de socialização, por mais que, inicialmente, tenha simpatizado com seus dois colegas de quarto. Sua intenção ali é essencialmente estudar. Quem acaba fazendo com que mude de ideia é a bela e aparentemente recatada Olivia Hutton (Gadon), cujo nome ele recita em voice-over com ar respeitoso, de modo a torná-la, desde o primeiro instante, especial. O tímido e inexperiente Marcus resolve convidá-la para sair. E o resultado do primeiro encontro é inesquecível. Tanto que o rapaz, com aquela mentalidade tão conservadora do início dos anos 1950, não sabe como lidar com o comportamento mais ousado daquela moça, que, para nós, espectadores, é uma promessa de felicidade, algo a não se deixar escapar. Tudo bem que Olivia Hutton é uma garota complexa – tem um histórico de problemas mentais em uma instituição psiquiátrica –, mas sua doçura, beleza e encantamento compensam tudo isso. Schamus sabe muito bem quando inserir as poucas intervenções narrativas extraídas do livro de Roth e quando utilizar apenas imagens para compor seu filme, que nos leva junto do protagonista. O trabalho de direção de atores, o cuidado com a montagem das cenas, especialmente as mais longas e tensas (ou intensas), além dos belos enquadramentos em scope, fazem de “Indignação” um dos melhores filmes de estreia dos últimos anos, provavelmente por sua capacidade de criar identificação com esse momento tão conturbado e ao mesmo tempo tão mágico, que é a juventude e seus encantos e dissabores.

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    Paul Verhoeven passa longe do politicamente correto com Elle

    18 de novembro de 2016 /

    Desde o início de sua carreira, o holandês Paul Verhoeven provou que não havia meias palavras quando o assunto era sexo. Produzidos nos anos 1970, “Negócio É Negócio” e “Louca Paixão” foram os primeiros indícios da visão despudorada do realizador sobre o tema, atingindo o seu ápice em 1992 ao eletrizar o mundo com “Instinto Selvagem”. É essa credencial que faz de Verhoeven um nome perfeito para a direção de “Elle”, cuja premissa não facilita nem um pouco o julgamento da plateia diante do que testemunha. Adaptação do romance “Oh…”, de Philippe Djian, “Elle” abre somente com os sons de confronto sexual. Segundos depois, nos deparamos com o corpo estirado e violado de Michèle Leblanc (Isabelle Huppert, de “Amor”) em sua própria casa. Sem esboçar qualquer horror ao que acabou de atingi-la, simplesmente limpa as taças e louças que foram quebradas durante o ataque, descarta a sua roupa na lixeira e se banha reagindo somente ao sangue que se mistura com a espuma da banheira. Em um jantar, confidencia ao ex-marido Richard (Charles Berling, de “Qual É o Nome do Bebê”) e aos amigos Anna (Anne Consigny, de “Tudo Acontece em Nova York”) e Robert (Christian Berkel, de “O Agente da UNCLE”) o estupro com a mesma naturalidade que se fala com um estranho na rua sobre uma mudança climática. Diz que não comunicará o crime à polícia e segue naturalmente a sua rotina profissional como chefe de uma empresa de desenvolvimento de games. A excentricidade da personagem, confirmada em seu silêncio e em outras posturas injustificáveis (como a de destruir o para-choque de Richard antes de encontrá-lo e o de se relacionar com o marido de sua melhor amiga), sugere que Verhoeven, a partir do texto de David Birke (“Os 13 Pecados”), não está interessado em fazer um manifesto sobre a violência contra a mulher, uma abordagem que muitos visualizam mais pelo potencial comercial em tempos de empoderamento e menos por sua força discursiva. Isto porque Michèle é uma pessoa tão ou mais perigosa que o seu agressor. A partir de um background fantástico, a protagonista vai saindo da posição de mera vítima. Fatos passados e presentes modelam uma mulher nem um pouco preocupada em externar os seus julgamentos cruéis, o que a faz ganhar desafetos não somente no trabalho, como em seu núcleo familiar. Também é curioso perceber a sua incapacidade de se desvincular das ações criminosas de seu pai, autor de uma barbaridade que o fez pegar prisão perpétua. Não há dúvidas de que Michèle quer vingança, porém, há algo nesse desejo que pode desencadear nela uma maldade reprimida que quase anula o que ainda resta de nossa empatia por sua condição. Com tudo isso, Verhoeven não se vê no compromisso de fazer um filme politicamente correto. Ao contrário, pois há tanto humor ditando as interações de Michèle com os demais personagens que o resultado chega a desconcertar. Isto não impede o fascínio pelo curso da história, ainda que o terceiro ato amorteça consideravelmente toda a tensão arquitetada por uma obra então desprendida de zonas de conforto.

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    Creepy vai além do suspense de serial killer

    18 de novembro de 2016 /

    Diretor de cinema desde os 20 anos, Kiyoshi Kurosawa tem uma respeitável coleção de clássicos de terror em sua filmografia, mas desde que passou a visar também o circuito dos festivais de arte, vem lidando com um projeto atrás do outro. Recentemente em Toronto para promover “Le Secret de la Chambre Noire” (coprodução entre Bélgica, França e Japão falada em francês), já regressou para a sua terra natal para as filmagens de seu novo longa-metragem a ser lançado no próximo ano. Se às vezes o resultado parece feito à toque de caixa, como “O Sétimo Código” (exibido na edição de 2014 do Indie Festival), por outro há muito a ser avaliado e discutido, como se vê em “Creepy”. Mesmo envolto no gênero do suspense, Kurosawa faz um estudo psicológico curioso a respeito da deformidade familiar, em detrimento do que, a princípio, parece um mero mistério de assassinato em série. Takakura (Hidetoshi Nishijima, de “Dolls”) decidiu abandonar o ofício de detetive após um episódio traumático. Um ano depois, recebe o pedido de seu colega Nogami (Masahiro Higashide, de “Gonin Sâga”) para investigar o desaparecimento de uma família, que deixou como único membro e testemunha a jovem Saki (Haruna Kawaguchi, da série “GTO”). Ao identificar que o caso é mais obscuro que parece, Takakura acaba negligenciando a sua esposa Yasuko (Yûko Takeuchi, de “Ring: O Chamado”), com quem acabou de se mudar para um novo bairro. Paralelamente ao avanço das investigações, acompanhamos a rotina solitária e banal de Yasuko, que aos poucos se aproxima de Nishino (Teruyuki Kagawa, de “Samurai X: O Filme”, sensacional), vizinho instável que vive com uma filha adolescente, Mio (Ryôko Fujino, de “Solomon’s Perjury”), e a sua esposa enferma. Paulatinamente, Kurosawa descortina as aparências, por vezes sugerindo que Takakura e Yasuko estão lidando com contextos completamente isolados. E o faz com bom domínio de direção, mais preocupado com a tensão provocada a partir das interações de personagens e a exploração dos cômodos de uma propriedade do que o horror passageiro da violência gráfica. Uma pena que Kurosawa e o seu parceiro de roteiro Chihiro Ikeda não tenham sido mais cuidadosos nos elementos detetivescos da trama, inspirada em um romance de Yutaka Maekawa. Trata-se de um aspecto totalmente negligenciado em “Creepy”, comprometendo por vezes a seriedade e a evolução da história, a cada erro primário que é cometido por alguém envolvido na resolução do crime central. Um deslize que só vem a ser contornado com a intensidade dramática do ato final.

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  • Filme

    Sem ser memorável, Snowden consegue entreter, informar e provocar

    18 de novembro de 2016 /

    Apesar de um pouco distante da grande mídia, em comparação com seu destaque nas décadas de 1980-90, Oliver Stone segue ativo e perseguindo ainda mais um tipo de cinema militante de esquerda, numa opção ousada, já que são poucos que manifestam tamanha simpatia por medalhões da esquerda. Os documentários “Comandante” (2003), “Ao Sul da Fronteira” (2009), “Castro in Winter” (2012) e “Mi Amigo Hugo” (2014) são exemplos disso. Mas pouca gente viu esses filmes. Em “Snowden – Herói ou Traidor”, ele tenta voltar a ser relevante, deixando o bajulamento de políticos de lado para voltar a se embrenhar na boa luta contra o sistema. No novo filme, Stone denuncia a capacidade e o poder que o governo americano tem de não só vigiar cidadãos de seu próprio país, mas como também de provocar até mesmo apagões em vários outros países com apenas um clique. Stone encontrou em Edward Snowden, vivido na tela por Joseph Gordon-Levitt (“A Travessia”), um prato cheio para fomentar uma nova controvérsia, e sem poupar o Presidente Barack Obama, que não é apenas cúmplice das armações maquiavélicas do Estado, embora percebamos que isto é parte de algo maior e já instituído. Snowden, ex-empregado da NSA (Agência Nacional de Segurança), e testemunha de segredos de estado chocantes, é mostrado inicialmente em 2013, quando decide contar tudo o que sabe para um grupo de jornalistas. A divulgação cairia como uma bomba, mas o rapaz, então com menos de 30 anos, tinha consciência dos riscos que ele e sua esposa sofreriam. A estrutura narrativa é convencional, através de flashbacks que remontam ao tempo em que Snowden era um simples soldado, que acabou se afastando do exército depois de quebrar as duas pernas em um acidente simples. Neste período, foi recrutado para trabalhar em uma agência de espionagem. E é aí que sua história realmente começa. A narrativa não poupa esforços para elevar o protagonista, de delator/traidor, à categoria de herói. Mas isso não chega a ser um problema. O problema é quando o diretor lança mão de artifícios banais para forçar a situação, como a utilização de uma trilha sonora épica e cafona. A personagem da esposa de Snowden também acaba ficando relegada a segundo plano, embora a atriz Shailene Woodley mostre ser, da turma de garotas que protagonizaram filmes para adolescentes recentemente, a que menos tem problema em fazer cenas de sexo ousadas (quem viu “Pássaro Branco na Nevasca”, de Gregg Araki, sabe do que estou falando). No mais, é um filme que se beneficia bastante de seu elenco de apoio. Um luxo poder contar com Melissa Leo, Zachary Quinto, Tom Wilkinson, Joely Richardson e até Nicolas Cage, em papel bem pequeno. E embora não seja tão memorável quanto gostaria de ser, “Snowden” consegue entreter, informar e provocar. Sem falar que, para o público brasileiro, não deixa de ser interessante ver o nome do país sendo citado em um par de vezes, inclusive sobre o caso da Petrobrás.

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  • Pequeno Segredo
    Filme

    Candidato brasileiro ao Oscar, Pequeno Segredo é melodrama convencional

    11 de novembro de 2016 /

    Membro da família de velejadores Schurmann, David Schurmann já havia se prontificado a levar para os cinemas detalhes de suas expedições com o documentário “O Mundo em Duas Voltas” (2007). Em “Pequeno Segredo”, escolhido para representar o Brasil na busca por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, o diretor volta a resgatar as memórias de sua família, especialmente de sua irmã adotiva, desta vez como ficção. Mas em vez de suas aventuras marítimas pelo mundo, foca um drama particular narrado por sua mãe Heloisa no livro “Pequeno Segredo – As Lições de Kat para Família Schurmann”. Mesmo o mais desinformado dos espectadores sabe que o centro da trama é a enfermidade carregada por Kat (Mariana Goulart), pré-adolescente que acredita ingerir vitaminas para controlar uma hepatite. Adotada por Heloisa (Julia Lemmertz) e Vilfredo (Marcello Antony), Kat tem os detalhes de sua concepção recriados aos poucos em “Pequeno Segredo”. Graduado em cinema e televisão na Nova Zelândia, David Schurmann sugere ter grande afeto por filmes corais, aqueles em que alguns personagens desconhecidos entre si se conectam em uma narrativa não linear. É um desafio gerenciar indivíduos de personalidades distintas em linhas temporais diversas e, mesmo que Schurmann tenha a facilidade de lidar com apenas dois núcleos familiares, há uma regra sagrada não respeitada em “Pequeno Segredo”: o fator surpresa. Fracassando ao pretender que o “pequeno segredo” nos seja revelado na mesma altura em que Kat descobre o que condenará a sua existência (uma pista jogada no primeiro ato trata de destruir qualquer apreensão que esse mistério provocaria), a condução de Schurmann se sabota na tentativa de respeitar as regras mais básicas da cartilha do melodrama. É um filme que não tem vergonha de admitir que foi feito para emocionar, mas que não sabe até onde apelar para fazê-lo. Além da estrutura, dessas que ainda lidam com dados do passado já descortinados pelo presente, outro problema no filme vem a ser a construção de personagens. O senso de desprendimento dos Schurmann foi substituído por um novo estilo de vida em que Kat é uma prioridade 24 horas por dia. Já os pais biológicos da garota (interpretados por Maria Flor e Erroll Shand) contam com preocupações como o bem-estar próprio e alheio, assim como os dilemas de abandonar ou se manter em seus locais de origem. Mas são logo descartados quando os Schurmann assumem um protagonismo mais evidente. Lamentavelmente, o trabalho mais ingrato recai justamente nos ombros da irlandesa Fionnula Flanagan, excelente veterana, mais conhecida por filmes como “Mães em Luta” e “Os Outros”, bem como por sua participação especial no seriado “Lost”. No papel da avó biológica de Kat, a atriz precisa se virar com falas desprezíveis e ainda é submetida a uma redenção a partir de um monólogo sobre o que é amar, que jamais compramos. É preciso coragem para tornar pública uma história dolorosa e privada e David Schurmann busca compartilhar a de sua irmã com carinho e ênfase em valores, que deseja que o público carregue consigo após a sessão. No entanto, também é preciso um amadurecimento profissional que nenhuma credencial para tentar uma vaga no Oscar é capaz de substituir. Talvez fosse melhor ter repassado a história de Kat para outro diretor que não se preocupasse tanto em higienizar a tela e enfeitá-la com borboletas.

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    Através da Sombra faz adaptação ousada de terror gótico tradicional

    11 de novembro de 2016 /

    Na cena que abre “Através da Sombra”, acompanhamos por alguns segundos todo o ritual de Laura (Virginia Cavendish) em abotoar o seu suéter preto. Logo em seguida, ela comparece a um encontro com Afonso (Domingos Montagner, em trabalho póstumo), homem rico que a entrevista para cuidar de seus dois sobrinhos, Elisa (Mel Maia) e Antonio (Xande Valois), na fazenda de café que tem no interior. Na ocasião, ela parece seduzida por um corpo masculino que se movimenta enquanto luta, tentando desviar o olhar daquela anatomia bem trabalhada. E é neste prólogo que o veterano Walter Lima Jr. (“A Ostra e o Vento”) explicita o que pretende com a sua adaptação livre de “A Outra Volta do Parafuso”, clássico gótico do escritor americano Henry James (1843-1916) . Os elementos sobrenaturais são mantidos em um contexto brasileiro, mas é a tensão sexual que pauta o perigo em seu roteiro. A neblina da era vitoriana é substituída aqui pela fumaça do café queimado e se alastra por um ambiente que, aos poucos, parece assombrado pela ausência de uma professora, que Laura vem substituir. Governanta, Dona Geraldina (Ana Lúcia Torre) faz mistério quanto ao destino da antiga funcionária, ampliando as dúvidas de Laura quanto ao que ela acredita ver e que é invisível para os demais. A versão de Walter Lima Jr. para a história de terror tradicional é ousada, não poupando sequer a inocência das crianças, que se alternam entre insultos contra a protagonista e como agentes para provocar o seu recato, a exemplo do beijo que recebe de Antonio. Mesmo com forças ocultas se comunicando através de um copo (no jogo ancestral do tabuleiro de ouija) e aparições aleatórias, a ameaça de “Através da Sombra” é mais material, dando sentido a uma conclusão que, para muitos, pode soar abrupta.

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    O Nascimento de Uma Nação é obra impactante de um diretor mergulhado em polêmica

    11 de novembro de 2016 /

    Quando se discute os primeiros avanços da linguagem cinematográfica, é inevitável citar “Um Nascimento de Uma Nação”. No entanto, por trás daquela produção de 1915, em que D.W. Griffith promoveu evoluções narrativas e técnicas, há um discurso racista repulsivo, que ainda gera controvérsias cem anos depois. Nem mesmo “Intolerância”, lançado no ano seguinte como uma “compensação”, removeu o estigma de Griffith de cineasta maldito, ainda que genial. Protagonista em “Nos Bastidores da Fama”, o ator Nate Parker debuta como diretor fazendo uma provocação ao legado deixado pela obra de Griffith, apropriando-se do mesmo título para contar a história de Nat Turner, líder de uma histórica rebelião de escravos na Virgínia de 1831. A ironia é que Parker acabou carregando também uma polêmica consigo, esta de cunho pessoal: no mesmo instante em que se discutia as possibilidades de seu filme se destacar no Oscar 2017, veio a público uma acusação de suposto estupro que ele teria cometido quando ainda era universitário e que teria levado a vítima a cometer suicídio Apesar de ter vencido o Festival de Sundance no começo do ano, “O Nascimento de Uma Nação” agora vê as suas chances de novas premiações reduzidas a zero, além de amargar um fracasso comercial que certamente acionou o alarme da Fox Searchlight, que obteve os direitos de distribuição do longa pelo valor recorde de US$ 17,5 milhões, o dobro do orçamento da produção, após sua repercussão inicial. Mais uma vez vem a indagação para problematizar a experiência cinematográfica: é possível separar a obra artística de seu autor? Atendo-se somente ao filme, é indiscutível o seu impacto e relevância, ao tratar um tópico sombrio da história da humanidade, que deve ser sempre lembrado, especialmente quando ainda se nutre preconceito por etnias específicas. Trata-se também de uma abordagem diferente dos filmes de escravidão, que não se contenta com a denúncia, ao mostrar a reação de negros contra os abusos de seus “donos”. Nat Turner, vivido pelo próprio Nate Parker, era um escravo visto com certo fascínio por seus próprios contemporâneos, não somente por ter recorrido a subterfúgios para se alfabetizar, mas pela influência natural que exercia como pregador, proporcionando para si e para os outros algum alento com a sua crença no divino. Foi também quem promoveu uma rebelião histórica, quando a situação atingiu um limite em que nada mais poderia ser feito a não ser se rebelar. Ainda que Parker, como diretor, não consiga resistir a tentação de conferir um tom poético às suas imagens, como no enforcamento que se apresenta a partir de um plano fechado em uma borboleta, ou nas duas ou três visões de um anjo, o seu registro é muito mais contundente que o celebrado “12 Anos de Escravidão” (2013), impondo a crueza que se espera de uma história capaz de ressoar no presente, onde a intolerância permanece enraizada.

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    O Plano de Maggie junta ótimo elenco em comédia indie descartável

    11 de novembro de 2016 /

    No ótimo “O Tempo de Cada Um” (2002), há um segmento que parece repercutir de modo especial em sua diretora e roteirista Rebecca Miller. Trata-se daquele protagonizado por Parker Posey, em que sua personagem vive à sombra do pai, um artista celebrado. Para quem não sabe, Rebecca é filha de ninguém menos que o dramaturgo Arthur Miller, além de ser esposa do ator irlandês Daniel Day-Lewis. Os anos se passaram e Rebecca segue na desconfortável posição de ser lembrada mais por suas relações familiares e menos pelo trabalho que produz individualmente. “O Plano de Maggie” é um sintoma dessa constatação desagradável, sendo uma comédia indie que esquecemos assim que nos retiramos da sala do cinema ou ejetamos o DVD. O ponto de partida é até promissor. Enquanto atua no campo universitário, Maggie (Greta Gerwig) topa servir de barriga de aluguel para Guy (o simpático Travis Fimmel, do seriado “Vikings”), sujeito que está conseguindo uns bons trocados com a produção de picles artesanais e que sonha em ter um filho. Mas John (Ethan Hawke), um professor e escritor fracassado, casado com a bem-sucedida dinamarquesa Georgette (Julianne Moore), surge na vida de Maggie declarando o seu amor por ela de modo imediato. Tudo isso a faz mudar seus planos de curto prazo, desistindo do acordo com Guy e logo se casando com John após o seu divórcio com Georgette. Só que a vida perfeita que Maggie visualizava acaba se transformando em uma realidade amarga, em que trabalha duramente para sustentar John até que ele seja capaz de finalizar o seu novo livro. Vem assim o seu plano de tentar devolver o marido para a ex-mulher para voltar a cuidar com mais independência de si mesma. Apesar dos contornos aceitáveis, não há nada de particularmente especial neste quinto longa-metragem de Rebecca Miller, concebido a partir de um argumento de Karen Rinaldi. Sem nenhum arrojo visual ou narrativo, “O Plano de Maggie” acaba dependendo demais de seu talentoso elenco para energizar as coisas. Não funciona, especialmente por comprometer Greta Gerwig a fazer uma personagem que nada mais é do que uma variação de sua inesquecível Frances Ha, reagindo diante das adversidades da vida com a mesma calmaria com a qual passamos margarina no pão.

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