Censura: Ernesto Araújo diz que é “natural” dar apoio a “determinados filmes” e não para outros
A revelação de que a Embaixada do Brasil no Uruguai teria tentado censurar a exibição do documentário “Chico: Artista Brasileiro”, de 2015, numa mostra de cinema brasileiro em Montevideo, foi comentada pelo chanceler Ernesto Araújo, durante sua visita a Washington. A tentativa de censura ganhou projeção internacional após a produtora JBM Producciones acusar a Embaixada brasileira, uma das patrocinadoras do Festival Cine de Brasil 2019, de proibir a inclusão do filme na mostra. A questão veio à tona num comunicado da JBM ao diretor Miguel Faria Jr. O jornal O Globo cita que, em anexo, há um arquivo de áudio recebido pela produtora, em que uma mulher diz: “A Claudia agora conversou com o embaixador em Montevidéu, do Brasil no Uruguai, e eles falaram que ‘Chico’ é um filme que eles não querem exibir. Então vamos tirar ‘Chico’, tá?”. A empresa que organiza a mostra é outra, chamada Inffinito. A orientação para tirar o filme teria sido feita para a Inffinito, que repassou a informação para a JBM. Ao abordar a polêmica, Araújo negou a determinação de censura, preferindo usar palavras mais amenas como “preferência”, “sugestão” e “apoio a determinados filmes”. Ao mesmo tempo, confirmou orientação da Embaixada para vistoriar listas de títulos e pedir supressão de obras que desagradem ao governo Bolsonaro em troca de apoio. “Houve um pedido, de uma entidade que está organizando uma mostra de cinema, de algum tipo de apoio da embaixada brasileira em Montevidéu. A embaixada pediu a lista, foi-lhe fornecida a lista de filmes que potencialmente poderiam ser exibidos. E a embaixada indicou quais seriam aqueles que, enfim, seriam da preferência, digamos. E acho que o interesse não estava nesse filme sobre o Chico Buarque. E a empresa, essa entidade que terá algum tipo de apoio institucional da embaixada seguiu, pelo o que eu sei, essa sugestão”, disse o chanceler. “Então, é uma situação em que, se você pede o apoio institucional da embaixada brasileira, é natural que a embaixada brasileira fale: eu quero dar apoio para esses determinados filmes a serem exibidos”, completou.
Censura: Embaixada brasileira tenta impedir exibição de filme sobre Chico Buarque no Uruguai
A produtora uruguaia JBM Producciones comunicou ao diretor Miguel Faria Junior que seu documentário “Chico: Artista Brasileiro”, de 2015, foi censurado pela Embaixada brasileira em Montevideo. A Embaixada, uma das patrocinadoras do Festival Cine de Brasil 2019, a ser realizada em outubro, avisou aos produtores do evento que o filme, que narra a trajetória do artista Chico Buarque nos últimos 50 anos, estava proibido de integrar a mostra. A carta enviada pela produtora ao diretor Miguel Faria foi publicada na íntegra pela coluna de Anselmo Goes no jornal O Globo “Querido Miguel Quiero informar cómo van las cosas camino al estreno, finalmente, de CHICO en Uruguay. Junto a nuestra asociada ENEC quien además de distribuidores son exhibidores, habíamos planificado estrenar el filme en el Festival de Cine de Brasil 2019 que se lleva a cabo en octubre y entre otros es auspiciado por la Embajada de Brasil en Montevideo. Esta mañana recibo un sorpresivo mensaje del exhibidor diciéndome que los llamaron de la embajada para “pedirles” que NO se exhiba el filme de CHICO en ese festival. Si bien es lógico debido a la situación política de Brasil, en Uruguay es muy grave que se censure la exhibición de una película siendo que en este caso JMB Filmes de Uruguay es el distribuidor y este acto afecta nuestros intereses. Adjunto mas abajo copia del mensaje oficial de ENEC (dueños socios de la sala ALFA/BETA) comunicándomelo y un archivo adjunto de audio de la llamada de una señora, suponemos desde Brasil, que avisa a la sala de la desición de la embajda de Brasil en Uruguay.” Anselmo Goes também informou que a empresa responsável pelo festival, a Infinitto, resolveu incluir o filme assim mesmo, por não aceitar censura do Brasil no Uruguai. Não está claro se a Embaixada vai retirar o apoio ao evento.
Fevereiros celebra a música e a religiosidade de Maria Bethânia
Maria Bethânia, uma das maiores intérpretes da música brasileira, com 50 anos de uma brilhante carreira, já recebeu inúmeras homenagens, foi cantada em prosa e em verso, por meio de todas as mídias possíveis. Um desafio para o documentarista Márcio Debellian. O que ainda faltaria dizer ou abordar sobre ela? Quem mostrou o caminho foi a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Em 2016, a Verde e Rosa homenageou Bethânia com o enredo “Menina dos Olhos de Oya”, dando destaque ao lado religioso da vida dela. O sincretismo religioso de Maria Bethânia combina o candomblé, a devoção católica, sobretudo, à Nossa Senhora e sabedorias herdadas dos índios. Esse amálgama traz a fé temperada pela diversidade e pela tolerância. E o convívio muito próximo e intenso com o mano Caetano acrescenta os elementos de ceticismo e ateísmo à mistura. Caetano Veloso, aberto a tudo, como ela, compartilhando experiências, mesmo sem crer verdadeiramente. Belos exemplos de respeito à ampla diversidade de cultos, crenças e não crenças. Que celebra a vida e a história, com festa. O filme “Fevereiros” explora bem esse caminho, ao mostrar e tratar do desfile campeão da Mangueira, que levou em conta a história do samba, a tolerância religiosa e o racismo, ao homenagear a carreira da cantora, que explodiu em 1964, no show Opinião, com a célebre interpretação de “Carcará”, de João do Vale. A ave, em grandes dimensões, foi um dos destaques do desfile. Márcio Debellian buscou explorar o universo familiar, festivo e religioso de Bethânia, acompanhando-a a Santo Amaro da Purificação, cidade natal dela, no Recôncavo Baiano, a região brasileira que recebeu mais negros escravizados da África. E a cidade que cultua Santo Amaro, Nossa Senhora da Purificação e outros santos em todos os fevereiros, com grandes rituais e festas populares. Maria Bethânia nunca deixa de estar lá, a partir de 31 de janeiro, em todos os fevereiros, luminares, marcantes de sua vida. “Fevereiros” traz a boa conversa de Bethânia, de Caetano Veloso, de outros familiares dela, participações de Chico Buarque e da turma da Mangueira. Tudo muito bom de se ver e ouvir. Pena que haja pouca música cantada por ela, mas isso se perdoa. Afinal, o que mais se conhece dela são suas canções gravadas, os poemas que ela recita lindamente, suas aparições mágicas nos palcos. O recorte de “Fevereiros” é outro, não exatamente original, mas bastante oportuno. Em tempos de fundamentalismos religiosos idiotas e opressores, é bom celebrar a vida, a festa, a tolerância e, sobretudo, a diversidade. Lançado no festival do Rio 2017 e já exibido em 29 festivais de cinema pelo mundo, “Fevereiros” foi escolhido como o Melhor Filme do 10º. In-Edit Brasil e recebeu menção honrosa do Júri Latino-americano do Festival Internacional do Uruguai.
Confira o trailer de O Grande Circo Místico, candidato do Brasil a uma vaga no Oscar 2019
A H2O filmes divulgou o trailer de “O Grande Circo Místico”, escolhido para representar o Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar 2019 na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Apresentado em sessão especial fora de competição no Festival de Cannes, “O Grande Circo Místico” marca a volta do diretor Cacá Diegues à ficção cinematográfica após 12 anos – desde “O Maior Amor do Mundo” (2006). Trata-se de uma coprodução internacional, em parcerias com Portugal e França. Além disso, foi rodado em Portugal, devido às leis que proíbem uso de animais selvagens em produções no Brasil, e destaca o ator francês Vincent Cassel (“O Filme da Minha Vida”) entre os papéis principais. “O Grande Circo Místico” era originalmente um poema do escritor Jorge de Lima (1893-1953), que inspirou um espetáculo de dança de Naum Alves de Souza nos anos 1980 e um álbum musical homônimo de Chico Buarque e Edu Lobo. Inspirado em tudo isso, o filme conta os feitos e desventuras dos membros de uma companhia circense ao longo de um século, entre 1910 e 2010. O elenco inclui Jesuíta Barbosa (“Malasartes e o Duelo com a Morte”), Bruna Linzmeyer (“O Filme da Minha Vida”), Mariana Ximenes (“Uma Loucura de Mulher”), Antônio Fagundes (“Alemão”) e Marcos Frota (“Os Saltimbancos Trapalhões: Rumo a Hollywood”). A imprensa internacional não se empolgou. O filme estreia em 15 de novembro, mas para cumprir regra do Ministério da Cultura, entrou em cartaz neste fim de semana em apenas uma sala em Macaé, no Rio de Janeiro.
Fernanda Montenegro e Camila Pitanga participam de clipe da Anistia Internacional com cantores brasileiros
A Anistia Internacional Brasil comemorou os 70 anos da Declaração dos Direitos Humanos com o lançamento de um clipe musical intitulado “Manifestação”, uma gravação coletiva que busca chamar atenção para a defesa desses direitos universais. E em meio a dezenas de cantores brasileiros de gerações e estilos diferentes, como Chico Buarque, Ludmilla e Criolo, acabou se destacando a participação de quatro atrizes, igualmente bem distintas: Fernanda Montenegro, Letícia Sabatella, Camila Pitanga e Roberta Estrela D’Alva. Unidos no mesmo tom, os artistas da seleção cultural brasileira cantam contra o racismo, a homofobia, a fome e as desigualdades sociais, com um refrão proclamador. “E proclamamos que não se exclua ninguém senão a exclusão”. A letra é do escritor Carlos Rennó e a música foi composta por Russo Passapusso (do BaianaSystem), pelo rapper Rincón Sapiência e pelo maestro e compositor Xuxa Levy. Já o clipe, que combina imagens dos artistas em estúdio e cenas de protestos nas ruas do país, foi dirigido pelo cineasta João Wainer (do documentário “Junho: O Mês que Abalou o Brasil”) e o fotojornalista Fabio Braga. Ao final, o vídeo informa o listão dos participantes, que além dos já citados inclui Pericles, Rael, Rico Dalasam, Paulo Miklos, As Bahias e a Cozinha Mineira, Luedji Luna, Xenia França, Ellen Oleria, BNegao, Felipe Catto, Chico César, Paulinho Moska, Pretinho da Serrinha, Pedro Luis, Marcelino Freire, Ana Canãs, Márcia Castro, Larissa Luz, Siba Veloso e Marcelo Jeneci.
Chico Buarque demonstra devoção submissa, cega e doentia em sua nova cantiga
É estranho falar num videoclipe de Chico Buarque, mas foi o que a gravadora Biscoito Fino divulgou para a nova música do cantor, “Tua Cantiga”. Trata-se da primeira canção inédita do artista em seis anos. Ela tem letra do próprio cantor e melodia do pianista Cristóvão Bastos, com quem Chico fez há 30 anos a canção “Todo o Sentimento”. A música fala numa devoção submissa, cega e doentia – “Largo mulher e filhos e de joelhos vou te seguir” – , e não deve demorar a virar meme, visto como poderia facilmente servir para ilustrar a ligação entre o cantor e Lula, com trechos que poderiam aludir até a fatos ainda nos noticiários – “Se um desalmado te faz chorar…” Como se sabe, as letras de Chico sempre tem entrelinhas. Mas também pode ser só uma canção antiquada de amor. “Tua Cantiga” faz parte do vindouro álbum “Caravanas”, e o clipe, dirigido por Bruno Tinoco, recria o suposto clima intimista em que o disco foi gravado. Chico aparece entrando nos estúdios da Biscoito Fino, no Rio, com a banda já tocando, canta sua parte e vai direto para a rua ao final da canção, sem dirigir uma palavra sequer aos músicos. “Caravanas” tem lançamento esperado para o fim de agosto.



