Academia Brasileira revela lista de filmes nacionais que disputam vaga no Oscar 2025
12 títulos concorrem à vaga de representante do país na categoria de Melhor Filme Internacional na premiação de Hollywood
Estreias | “Twisters”, “MaXXXine” e comédia com Scarlett Johansson chegam aos cinemas
Blockbuster de tornados gigantes tem a maior distribuição dentre os lançamentos da semana
Pedro Carlos Rovai (1938 – 2018)
O cineasta Pedro Carlos Rovai morreu na madrugada de quinta-feira (1/11), no Rio, em consequência de complicações de um câncer. Ele tinha 80 anos e uma longa carreira como produtor e diretor de filmes brasileiros. Seu nome está ligado tanto à explosão da pornochanchada quanto ao surgimento das franquias infantis no cinema nacional, além ter sido pioneiro da atual fase de comédias românticas comerciais e ter produzido grandes sucessos teatrais. Natural de Ourinhos, no interior de São Paulo, Rovai praticamente inventou o gênero conhecido como pornochanchada ao dirigir, escrever e produzir “Adultério à Brasileira” em 1969. O filme era, na verdade, uma antologia à italiana, juntando três histórias cômicas com teor sexual, como vinha sendo feito com sucesso no cinema italiano da época. A produção inspirou novas antologias sensuais, como “Lua-de-Mel e Amendoim” (1971) e “Os Mansos” (1972), que contaram com segmentos realizado por Rovai, e demonstrou a viabilidade das comédias sexuais no país. O próprio Rovai assinou um dos maiores sucessos do gênero, “Ainda Agarro esta Vizinha” (1974), inspirado em texto de Oduvaldo Vianna Filho (criador de “A Grande Família”) e estrelado por Adriana Prieto (dos clássicos “Os Paqueras” e “Lúcia McCartney, Uma Garota de Programa”), que ele também dirigiu em “A Viúva Virgem” (1972). Visto por mais de 4 milhões de pessoas, “Ainda Agarro esta Vizinha” se tornou uma das maiores bilheterias da época, mostrando o microcosmo de um prédio de Copacabana, habitado pela vizinha gostosa, um redator publicitário, um mágico sem talento e um porteiro gay, entre outros. A partir do sucesso desse filme, ele passou a se dedicar à carreira de produtor, tornando-se um dos mais prolíficos da pornochanchada e se destacando pela variedade de temas, da comédia explícita, como “Eu Dou o que Ela Gosta” (1975), do especialista Braz Chediak, ao thriller “Ariella” (1980), adaptação do romance de Cassandra Rios. Suas produções atingiram refinamento que transcenderam o rótulo de pornochanchada, resultado em clássicos como “Bonitinha, mas Ordinária” (1981), adaptação de Nelson Rodrigues com Lucélia Santos e direção de Chediak. Ele tentou acompanhar as mudanças de rumo do mercado, dirigindo o musical “Amante Latino” (1979), estrelado pelo cantor Sidney Magal, mas após a produção de “Beijo na Boca” (1982), com Claudia Ohana e direção de Paulo Sérgio de Almeida, seu ímpeto foi tolhido pela estagnação comercial do cinema brasileiro. Mas isso não o tirou de cena, apenas mudou seu cenário. Ele trocou as câmeras pelos palcos de teatro, ao produzir mais de 12 peças, como “A Gaiola das Loucas”, com Vera Gimenez, e “Piaf”, com Bibi Ferreira, a maior parte delas nos anos 1980. Rovai só foi voltar ao cinema após a chamada Retomada, e visando público completamente diferente daquele que o consagrou. Em 2000, ele produziu “Tainá – Uma Aventura na Amazônia”, sobre as aventuras infantis de uma indiazinha amazônica. E novamente encontrou sucesso, tanto que o título virou uma trilogia, com os lançamentos de “Tainá 2 – A Aventura Continua” (2005) e “Tainá – A Origem” (2013), inaugurando o filão das franquias infantis bem antes dos filmes derivados da novelinha “Carrossel”. O passo seguinte foi voltar à direção, com “As Tranças de Maria” (2003), baseado em conto-poema de Cora Coralina, mas, embora premiado em festivais do Nordeste, a falta de sucesso comercial desestimulou Rovai a continuar filmando. Foi seu último trabalho como diretor. Mas ele ainda seguiu investindo com êxito na produção, realizando os dois filmes da franquia “Qualquer Gato Vira-Lata”, estrelados por Cleo Pires. O primeiro, de 2012, pegou o começo da explosão das comédias românticas, mostrando que Rovai continuava antenado às tendências do mercado. Para completar, também produziu a obra-prima “O Outro Lado do Paraíso” (2015), drama premiado de André Ristum sobre a construção de Brasília, estrelado por Eduardo Moscóvis, que acumulou troféus nos festivais de Gramado, Brasília e no exterior. Pedro Carlos Rovai continuava em plena atividade e absolutamente relevante aos 80 anos.
Premiado no Festival de Gramado, A Voz do Silêncio ganha trailer
A Imovision divulgou o pôster e o trailer de “A Voz do Silêncio”, que rendeu a André Ristum (“O Outro Lado do Paraíso”) o prêmio de Melhor Direção no Festival de Gramado 2018. A prévia é de uma tristeza só, acompanhando desgraças em diversas histórias entrelaçadas na cidade de São Paulo, e também destaca o trabalho de edição de Gustavo Giani, também premiado em Gramado. O elenco destaca Marieta Severo (“A Grande Família”), Ricardo Merkin (“Zama”), Arlindo Lopes (“Alguém Como Eu”), Claudio Jaborandy (“Entre Irmãs”), Stephanie de Jongh (“O Outro Lado do Paraíso”), Marat Descartes (“Quando Eu Era Vivo”), Tássia Cabanas (“Amare”), Nicola Siri (“Os Dias Eram Assim”) e Marina Glezer (“Delicia”). O filme terá três sessões na Mostra de São Paulo, antes de chegar ao circuito comercial em novembro.
Ferrugem vence o Festival de Gramado, que também destacou Benzinho com quatro prêmios
O filme “Ferrugem”, de Aly Muritiba, conquistou o troféu de Melhor Filme no 46º Festival de Gramado, encerrado na noite de sábado (25/8) no Rio Grande do Sul. Mas “Benzinho”, de Gustavo Pizzi, levou os prêmios do Público e da Crítica e a maior quantidade de Kikitos – quatro, ao todo. Curiosamente, os dois filmes tiveram première mundial em janeiro no Festival de Sundance, nos Estados Unidos, e disputam a vaga para representar o Brasil no Oscar 2019 O longa de Muritiba, que retrata bullying virtual e o impacto do vazamento de um vídeo íntimo de uma garota, já tinha sido premiado também no Festival de Seattle. Na noite de sábado, além do Kikito principal, venceu os prêmios de Melhor Roteiro, dividido entre Muritiba e Jessica Candal, e Desenho de Som (Alexandre Rogoski). A estreia comercial está marcada para a próxima quinta-feira (30/8) nos cinemas brasileiros. Já o filme de Gustavo Pizzi, co-escrito e estrelado por Karine Teles, entrou em cartaz na quinta-feira passada (23/8) e também tem troféus internacionais em sua bagagem, como os prêmios da Crítica e de Melhor Filme Ibero-Americano do Festival de Málaga, na Espanha. O filme repete a qualidade da parceria anterior do casal, o drama “Riscado” (2010). O fato de dramatizar o cotidiano familiar, com situações aparentemente banais, pode soar pouco atraente para o grande público. No entanto, nas mãos de Pizzi e Karine, “Benzinho” alcança profundidade poética e transforma a crise de uma mãe sufocada pela família em algo tocante, que sensibilizou público e crítica de Gramado a lhe darem troféus. Além destes Kikitos, também venceu nas categorais de Melhor Atriz (Karine Teles) e Atriz Coadjuvante (Adriana Esteves). Única animação na competição, “A Cidade dos Piratas”, de Otto Guerra, baseado nos quadrinhos de Laerte, recebeu uma Menção Honrosa. A cinebiografia do boxeador Eder Jofre, “10 Segundos para Vencer” conquistou os dois prêmios de interpretação masculina: Osmar Prado venceu como Melhor Ator e Ricardo Gelli como Melhor Ator Coadjuvante. André Ristum foi considerado o Melhor Diretor por “A Voz do Silêncio”, que também recebeu o Kikito de Melhor Montagem, e “Simonal” conquistou outros três prêmios técnicos, entre eles o de Trilha Sonora, criada pelos filhos do biografado, Simonia e Max de Castro. Vale lembrar que a diretora Daniela Thomas retirou “O Banquete” da competição, devido à morte do jornalista Otávio Frias. A assessoria de imprensa justificou a atitude como uma manifestação de respeito, por a trama retratar uma carta aberta como a publicada pelo publisher do jornal Folha de S. Paulo nos anos 1990, dirigida ao então presidente do Brasil. Já a esvaziada competição de filmes latinos – uma disputa entre cinco títulos – foi dominada por “As Herdeiras”, do paraguaio Marcelo Martinessi, que arrebatou seis troféus: Melhor Filme, Direção, Roteiro, Atriz (compartilhado entre suas três intérpretes principais) e os prêmios da Crítica e do Público. O longa já tinha recebido o Prêmio da Crítica no Festival de Berlim. Discursos políticos marcaram os agradecimentos, com aplausos e vaias de acordo com a filiação partidária do público, bem como a defesa do curta-metragem como formato a ser considerado no novo sistema de pontuação da Agência Nacional de Cinema (Ancine). Vários cineastas vestiram na premiação a camiseta “Ancine, Eu Existo” como parte da manifestação. Confira abaixo a lista completa dos vencedores do festival, inclusive os curtas premiados. Longas Brasileiros Melhor Filme: “Ferrugem”, de Aly Muritiba Prêmio da “Benzinho” Prêmio do Júri Popular: “Benzinho” Menção Honrosa: “A Cidade dos Piratas” Melhor Direção: André Ristum (“A Voz do Silêncio”) Melhor Atriz: Karine Teles (“Benzinho”) Melhor Ator: Osmar Prado (“10 Segundos para Vencer”) Melhor Roteiro: Jessica Candal e Aly Muritiba (“Ferrugem”) Melhor Fotografia: Pablo Baião (“Simonal”) Melhor Atriz Coadjuvante: Adriana Esteves (“Benzinho”) Melhor Ator Coadjuvante: Ricardo Gelli (“10 Segundos para Vencer”) Melhor Montagem: Gustavo Giani (“A Voz do Silêncio”) Melhor Direção de Arte: Yurika Yamazaki (“Simonal”) Melhor Trilha Sonora: Max de Castro e Simoninha (“Simonal”) Melhor Desenho de Som: Alexandre Rogoski (“Ferrugem”) Longas Estrangeiros Melhor Filme: “As Herdeiras”, de Marcelo Martinessi Prêmio da “As Herdeiras” Prêmio do Júri Popular: “As Herdeiras” Prêmio Especial do Júri: “Averno” Melhor Direção: Marcelo Martinessi (“As Herdeiras”) Melhor Atriz: Ana Brum, Margarita Irún e Ana Ivanova (“As Herdeiras”) Melhor Ator: Nestor Guzzini (“Mi Mundial”) Melhor Roteiro: Marcelo Martinessi (“As Herdeiras”) Melhor Fotografia: Nelson Wainstein (“Averno”) Curtas-Metragens Melhor Filme: “Guaxuma”, de Nara Normande Prêmio da “Torre” Prêmio do Júri Popular: “Torre” Prêmio Canal Brasil: “Nova Iorque” Prêmio Especial do Júri: “Estamos Todos Aqui” Melhor Direção: Fábio Rodrigo (“Kairo”) Melhor Atriz: Maria Tujira Cardoso (“Catadora de Gente”) Melhor Ator: Manoel do Norte (“A Retirada para um Coração Bruto”) Melhor Roteiro: Marco Antonio Pereira (“A Retirada para um Coração Bruto”) Melhor Fotografia: Beto Martins (“Nova Iorque”) Melhor Montagem: Tiago Kistenmacker (“Aquarela”) Melhor Direção de Arte: Pedro Franz e Rafael Coutinho (“Torre”) Melhor Trilha Musical: Manoel do Norte (“A Retirada para um Coração Bruto”) Melhor Desenho de Som: Fabio Carneiro Leão (“Aquarela”)
Estreias: Além de Warcraft, cinema brasileiro se destaca com quatro lançamentos
Adaptação de um videogame, “Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos” é a estreia mais ampla da semana, com lançamento em 894 salas. A direção é de Duncan Jones (“Contra o Tempo”), filho de David Bowie, em seu terceiro longa-metragem, mas o primeiro com visual criado por computador, combinando atores reais com orcs gigantescos que só existem como efeitos especiais. Nisso, a obra lembra “Avatar”, mas também videogames, enquanto a história remete ao mundo de conflitos entre raças místicas da Terra Média de Tolkien. Jones, porém, não é James Cameron ou Peter Jackson. E nem os efeitos da empresa clássica ILM (Industrial Light and Magic, criada para os primeiros “Star Wars”) se comparam às criações realistas da WETA (a companhia de efeitos de Jackson). Artificial ao extremo, inclusive nas interpretações, “Warcraft” é um game não jogável, que não entretém como deveria. Nos EUA, onde estreia na próxima semana, foi dilacerado pela crítica (26% de aprovação na média do site Rotten Tomatoes, mais “podre” que o fraco “Alice Através do Espelho”). Diante do predomínio de blockbusters americanos em cartaz (“X-Men”, “Alice”, “Capitão América”, “Angry Birds”, as quatro maiores bilheterias da semana), até as comédias brasileiras, que costumavam ter grande distribuição, precisam se apertar nas salas que sobram. Ainda assim, “Uma Loucura de Mulher” conseguiu 280 telas para projetar sua história de político demagogo e crítica ao machismo em nível besteirol, centrada numa mulher histérica como as caricaturas que predominam o gênero. É o terceiro dos oito filmes da overdose de Mariana Ximenes (“Os Penetras”) prevista para 2016. Em contraste, dois dramas brasileiros de diretores consagrados têm lançamento em pouquíssimas salas, exemplificando a diferença de tratamento do circuito para produções dramáticas nacionais. Dirigido pelo ótimo André Ristum (“Meu País”) e estrelado por Eduardo Moscovis (“Amor em Sampa”), “O Outro Lado do Paraíso” acompanha as dificuldades de uma família durante a construção de Brasília e o golpe militar. Foi vencedor do prêmio do público no Festival de Gramado, mas chega em apenas 21 salas. Ainda mais restrita, a estreia de “Campo Grande”, de Sandra Kogut (“Mutum”), acontece em oito salas (no Rio e em São Paulo). Filme mais qualificado da semana, conquistou troféus nos festivais do Rio, Havana, Mar del Plata e Malaga. Na avaliação das distribuidoras, porém, quanto mais premiado, pior. É também a obra mais terna e emocionante, que gira em torno de um casal de crianças abandonadas na porta da casa de uma mulher na periferia carioca. Sem atores famosos, é puro cinema. Quarta produção nacional da semana, o documentário “Brasil: DNA África” não teve o circuito divulgado. O filme acompanha cinco cidadãos comuns que se submetem a um teste de DNA e descobrem suas origens na África. Entre as produções estrangeiras com distribuição limitada, o pior filme também leva a melhor. Nem Bill Murray evita o desastre de “Rock em Cabul”, em 21 salas. Na “comédia”, ele vive um empresário falido de artistas, que se vê perdido no Afeganistão e ajuda uma jovem local a vencer um reality show. O humor, quando acontece, é ofensivo. Dirigido por Barry Levinson (“Rain Man”), que teve seu auge nos anos 1980, recebeu somente 8% de críticas positivas na média do Rotten Tomatoes. A programação se completa com o drama lituano “Paz para Nós em Nossos Sonhos” em três telas (Porto Alegre, Salvador e Fortaleza) e a comédia francesa “Tudo sobre Vincent”, em duas salas (ambas em São Paulo). O primeiro é uma obra densa e típica do cineasta Sarunas Bartas (“A Casa”), com longos takes e lento feito caracol – não por acaso, sua filmografia raramente chega ao Brasil -, enquanto o segundo oferece humor nonsense sobre o universo dos super-heróis, com um homem que ganha superforça em contato com a água.





