A Vingança Está na Moda surpreende com humor negro desconcertante
Casada com P. J. Hogan (“O Casamento de Muriel”), a australiana Jocelyn Moorhouse teve de abdicar de sua carreira como cineasta para cumprir em tempo integral o papel de mãe de dois filhos com autismo. Fez de “Terras Perdidas”, de 1997, a sua última aventura por trás das câmeras. Há 10 anos, ensaiava um retorno com “Eucalyptus”, mas o projeto foi permanentemente engavetado devido às divergências com o astro Russel Crowe, a quem havia revelado em “A Prova”. Todos esses meandros tornam o retorno de Moorhouse em “A Vingança Está na Moda” ainda mais esperado, especialmente pelo peso de um nome que contribuiu, ainda que de forma discreta, para a propagação da produção australiana para o mundo – além Crowe, o esplêndido Hugo Weaving também se beneficiou do sucesso de “A Prova”. Mas vale um adendo: nem todos devem embarcar na história, que mergulha em tons obscuros sem aviso prévio. A princípio, o regresso de Myrtle Dunnage (Kate Winslet, ótima, ainda que velha demais para o papel) a uma cidadezinha no meio do nada sugere uma comédia tradicional com uma protagonista provando que deu a volta por cima, agora pretendendo acertar algumas pendências com pessoas responsáveis por transformar o seu passado em um verdadeiro inferno. A questão é que o peso que Myrtle carrega é o de alguém acusado por cometer um assassinato, cujos detalhes foram nebulosos demais para processar em sua infância. Adulta, tenta reparar o relacionamento com a mãe senil (Judy Davis) enquanto impacta a pequena comunidade com as suas habilidades como estilista. Porém, é a receptividade de dois homens que a fará reconstruir a cena do acontecimento que a traumatizou. O primeiro é Farrat (Weaving), sargento que gosta de experimentar roupas e adereços femininos em segredo, e Teddy McSwiney (Liam Hemsworth), rapaz que amolece aos poucos o coração de pedra de Myrtle. Quando tudo parece caminhar para uma resolução convencional, o texto de Moorhouse e Hogan, com base no romance homônimo de Rosalie Ham, dá novos rumos aos planos de vingança da protagonista. Se antes as suas habilidades em conceber belos figurinos tinha como intenção ocultar a sua motivação em seduzir e desmoralizar todos que a taxaram como uma assassina, os infortúnios do acaso tingem o filme com um humor negro desconcertante. Entre os lançamentos recentes, talvez “A Vingança Está na Moda” seja o que mais se atreveu a sair de uma zona de conforto ao seu final, provocando uma reação de ame-o ou deixe-o.
X-Men: Apocalipse é o blockbuster da vez no circuito de estreias
Mais uma semana, mais um blockbuster para ocupar cerca de 40% de todos os cinemas disponíveis no Brasil. Desta vez, a iniciativa é da Fox, que lança “X-Men: Apocalipse” em 1.276 salas nesta quinta (19/5), com 814 telas 3D e domínio do circuito IMAX (12 salas). O longa completa o reboot da franquia – um reinicio que rendeu trilogia, com “X-Men: Primeira Classe” (2011) e “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” (2014) – e reintroduz, em suas versões juvenis, alguns dos mutantes mais famosos da Marvel, Cíclope, Jean Grey, Tempestade e Noturno, interpretados por jovens em ascensão – respectivamente, Sophie Turner (série “Game of Thrones”), Tye Sheridan (“Amor Bandido”), Alexandra Shipp (“Straight Outta Compton”) e Kodi Smit-McPhee (“Planeta dos Macacos: O Confronto”). O elenco é impressionante, com James McAvoy (“Victor Frankenstein”), Michael Fassbender (“Macbeth”), Nicholas Hoult (“Mad Max: Estrada da Fúria”), Oscar Isaac (“Star Wars: O Despertar da Força”) e, desta vez, faz bom uso do status de estrela de Jennifer Lawrence (franquia “Jogos Vorazes”) como líder dos X-Men. O que atrapalha é o tema que se repete pelo terceiro filme de super-herói consecutivo do ano: o conflito entre os “mocinhos” – justificando os 49% (melhor que “Batman vs. Superman”) de aprovação no Rotten Tomatoes. O filme só estreia na próxima semana nos EUA. Espera-se que, esgotado o assunto, Fox, Marvel e Warner descubram logo outras histórias. Como ainda há salas lotadas com a briga de “Capitão América: Guerra Civil”, a sequência de outro sucesso tem que se contentar com módicas 250 salas. É o tamanho da distribuição reservada para a comédia “Vizinhos 2”, que volta a juntar Seth Rogen e Zac Efron, desta vez contra uma república de garotas bagunceiras comandada por Chlöe Grace Moretz (“Carrie, a Estranha”). O humor é grosseiro como o filme anterior, mas tem seu apelo. 62% dos críticos americanos aprovaram. Todos os demais lançamentos disputam o já saturado circuito limitado. Mas não são exatamente clássicos, exceto por um, que é de, de fato, um marco de 1982. Os maiores entre os pequenos são dois dramas com astros famosos, o australiano “A Vingança Está na Moda”, estrelado por Kate Winslet (“O Leitor”), que venceu diversos prêmios em seu país de origem, e “Pais & Filhas”, em que Russell Crowe (“Noé”) e Amanda Seyfried (“Ted 2”) enfrentam seus demônios pessoais, separados por uma geração. Ambos ocupam em torno de 45 telas, mas apenas o primeiro vale o ingresso. Para se ter noção, “Pais & Filhas”, dirigido pelo ex-superestimado Gabriele Muccino (“Sete Vidas”), foi considerado podre, com 18% no Rotten Tomatoes. Dois filmes brasileiros entram na faixa seguinte, com 19 e 17 salas, respectivamente. “Amores Urbanos”, estreia na direção de Vera Egito (assistente de “A Deriva”), tenta retratar as crises da geração que cresceu com a MTV, com roqueiros indies atrás e diante das câmeras, mas a cenografia supera a dramaturgia, deixando sua história de adultos imaturos muito abaixo de, por exemplo, “Califórnia”, sobre o amadurecimento de uma adolescente, feito por uma ex-VJ com sangue de cineasta. Já o documentário “Espaço Além – Marina Abramovic e o Brasil” explora a relação artística e espiritual da artista com o país. Os menores lançamentos inéditos são o drama francês de época “Os Anarquistas” (em 12 salas), mais um romance convencional que uma obra sobre o assunto de seu título, e o exercício sul-coreano “Certo Agora, Errado Antes” (3 salas), em que o diretor Hong Sang-soo se mostra mais Hong Sang-soo que nunca, contando duas vezes a mesma história com pequenas diferenças. Seriam dois filmes pelo preço de um único ingresso? Meio filme pelo preço de um ingresso inteiro? Uma lição sobre contemplação zen? Uma pegadinha que deixa críticos teorizando como trouxas? Ah, as reflexões filosóficas profundas que Hong Sang-soo enseja… Fãs paulistas e cariocas de clássicos ainda tem a opção de assistir à versão remasterizada do imponente “Fitzcarraldo”, de Werner Herzog, um desastre amazônico com tantas histórias de bastidores quanto as que foram eternizadas na tela. O relançamento chega a duas salas, uma em São Paulo e outra no Rio.
Mad Max: Estrada da Fúria vence o “Oscar australiano”
“Mad Max: Estrada da Fúria” venceu o troféu de Melhor Filme do ano, conferido pela Academia de Artes Cinematográficas e Televisivas da Austrália, o equivalente australiano ao Oscar. A cerimônia realizada em Sydney rendeu ao todo seis prêmios para o longa pós-apocalíptico de George Miller, inclusive o de Melhor Direção e Fotografia (John Sayles). Além da consagração a “Mad Max”, a Academia australiana também foi generosa com “A Vingança Está na Moda” (The Dressmaker), que dominou as categorias de interpretação. O drama rendeu os troféus de Melhor Atriz para Kate Winslet e ainda premiou seus Coadjuvantes Hugo Weaving e Judy Davis. Para completar, “A Vingança Está na Moda” também levou o Prêmio do Público. O prêmio de Melhor Ator, por sua vez, ficou com Michael Caton por “Last Cab To Darwin”. A Academia ainda aproveitou a cerimônia para homenagear a atriz Cate Blanchett por sua carreira. Aos 46 anos, ela se tornou a australiana mais famosa em atividade em Hollywood, tendo vencido dois Oscars, por “O Aviador” em 2005 e por “Blue Jasmine” em 2014.


