Terror brasileiro é o principal lançamento da semana nos cinemas
Com “Vingadores: Ultimato” monopolizando o circuito cinematográfico nacional, os lançamentos desta quinta (2/4) abrangem apenas o circuito limitado. São somente seis filmes, metade dirigidos por mulheres e todos de tom dramático. O destaque é o brasileiro “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida (“O Animal Cordial”), vencedor de três troféus no Festival de Brasília do ano passado. Trata-se de um drama sobrenatural estrelado por Julio Machado (“Joaquim”), que atesta a boa fase do terror nacional. Na trama, uma filha deseja que a mãe morta volte para a casa. E logo a imaginação infantil começa a perceber “coisas”. Entre os estrangeiros, tanto o austríaco “Mademoiselle Paradis” quanto o francês “Amanda” conseguiram uma façanha, ao atingir 100% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Vencedor de cinco troféus da Academia Austríaca, “Mademoiselle Paradis” faz uma reconstrução requintada de época – o século 17 – e capricha na fotografia para contar a história real de uma célebre pianista cega (Maria Theresia Paradis, em interpretação gloriosa de Maria Dragus) que recupera a visão ao conhecer um curandeiro famoso (Franz Anton Mesmer). Para transmitir a redescoberta do olhar, o filme de Barbara Albert (“Os Mortos e os Vivos”) se transforma num deleite visual para todo o público. Por sua vez, “Amanda”, de Mikhaël Hers (“Aquele Sentimento do Verão”), venceu o Festival de Tóquio e ainda foi premiado em Veneza. Acompanha um jovem sonhador que, de repente, se vê responsável pela sobrinha pequena. A história familiar é abordada de forma diferente do esperado, com pouco melodrama. A lista também inclui outro brasileiro, o discursivo “Borrasca”, mais um drama europeu de época, “Entardecer”, e outro melodrama sobre família, o americano “Tudo o que Tivemos”. Confira maiores detalhes abaixo. A Sombra do Pai | Brasil | Drama Dalva (Nina Medeiros), uma menina de 9 anos, se torna responsável por sua casa quando seu pai, o pedreiro Jorge (Julio Machado), fica doente. Órfã de mãe, ela precisa deixar de lado a infância para cuidar do pai, que por sua vez tem que lidar com a frustração de perder aspectos de sua paternidade. Mademoiselle Paradis | Áustria | Drama Viena, século 17. Maria Theresia Paradis (Maria-Victoria Dragus) é uma jovem cega extremamente habilidosa no piano. Na esperança de conseguir curar sua cegueira, seus pais a levam até o dr. Mesmer (Devid Striesow), um médico que explora métodos alternativos. Após bastante dedicação, ele descobre que Maria na verdade tem gota e consegue fazer com que ela volte a enxergar. É quando a jovem precisa redescobrir o mundo, já que desde a infância apenas ouvia os sons do que estava ao seu redor. Amanda | França | Drama Um homem de 20 anos vive adiando o tempo para tomar decisões mais sérias. Este sonhador solitário sucumbe ao encanto de uma vizinha recém-chegada. Porém, o ritmo descontraído de sua vida diminui quando sua irmã mais velha é brutalmente morta em um ataque. Agora, ele deve se encarregar de sua sobrinha de sete anos, Amanda. Entardecer | Hungria, França | Drama Em 1913, durante o declínio do Império Austro-Húngaro, Irisz (Juli Jakab) retorna à Budapeste, cidade em que nasceu, depois de anos vivendo em um orfanato. Ela pretende trabalhar na loja de chapéus que já pertenceu aos seus familiares, mas logo percebe que existe um novo dono no estabelecimento. Pior do que isso, Irisz descobre que o nome da família está manchado na cidade por razões que ela desconhece. A jovem desafia as regras locais para efetuar sua própria investigação. Tudo o que Tivemos | EUA | Drama Junto com a filha adolescente Emma (Taissa Farmiga), Bridget (Hilary Swank) precisa viajar de volta para a casa da sua mãe, Ruth (Blythe Danner), após ela acordar de madrugada e sair caminhando por uma tempestade de neve devido ao Alzheimer. No retorno a sua casa, Bridget precisa lidar com o teimoso pai Burt (Robert Forster) e o irmão Nicky (Michael Shannon), enquanto discutem sobre colocar Ruth em uma casa de cuidados para a memória ou não. Borrasca | Brasil | Drama Após a morte de um amigo, Gabriel e Diego conversam em meio a uma noite chuvosa. Os dois amigos passam a relembrar momentos que viveram juntos com o falecido, mas apenas um deles vai ao enterro. O outro se recusou a ir porque sua ex-mulher o traiu com o falecido, mas acabou sabendo pelo amigo que foi como estava o funeral. À medida que conversam, eles não só relembram memórias mas também questionam suas próprias vidas.
Festival de Brasília 2018 consagra negros, mulheres e transexuais
O filme “Temporada”, primeira ficção em longa-metragem de André Novais Oliveira (“Ela Volta na Quinta”), foi o grande vencedor do Festival de Brasília 2018, conquistando cinco troféus no encerramento do evento, na noite de domingo (23/9). Eleito Melhor Filme pelo júri, também venceu os Troféus Candangos de Melhor Atriz (para Grace Passô), Ator Coadjuvante (Russão), Direção de Arte e Fotografia. “Temporada” traz Grace Passô como uma mulher que, ao se mudar para Contagem (MG) vinda de uma cidade do interior, tem que lidar com o novo cotidiano e dificuldades no casamento. O detalhe é que se trata de um filme de diretor negro, estrelado por uma mulher negra. E ambos foram premiados. O Melhor Ator foi outro negro: Aldri Anunciação, protagonista de “Ilha”, de Glenda Nicácio e Ary Rosa, que também receberam o Candango de Melhor Roteiro – pela história de um jovem que sequestra um cineasta com o objetivo de rodar a própria história. Ambos atores chamaram atenção para a quantidade de negros que fazem cinema no Brasil sem reconhecimento. “Esse troféu diz respeito a uma porção de militâncias que desentortam o olhar. Para que pessoas como eu possam ser vistas, olhadas e possam ensinar a sociedade”, disse Grace Passô. “Não existe atuação, existe coatuação. Eu não estou só aqui. Atrás existe uma comunidade de negros e negras. Quero dividir esse prêmio com Mário Gusmão, ator negro de 90 anos e que nunca ganhou um prêmio”, exaltou Aldri Anunciação. Por sua vez, o Candango de Melhor Direção ficou com uma mulher: Beatriz Seigner, por seu trabalho em “Los Silencios”, que teve lançamento mundial no último Festival de Cannes. O filme mostra uma ilha no meio da Amazônia, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, que é povoada por fantasmas. A boa safra de terror nacional também rendeu reconhecimentos para “A Sombra do Pai”, outro filme dirigido por uma mulher, Gabriela Amaral Almeida (“O Animal Cordial”), que levou três troféus: Melhor Montagem, Som e Atriz Coadjuvante (Luciana Paes). “Torre das Donzelas”, documentário de Susanna Lira sobre presas políticas, ficou com o Prêmio Especial do Júri. E outro documentário, “Bixa Travesty”, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, sobre a cantora trans Linn da Quebrada, foi escolhido o Melhor Filme pelo Público e recebeu Menção Honrosa do júri, além do Candango de Melhor Trilha Sonora. Confira abaixo os principais premiados. Longa-Metragem Melhor Filme: “Temporada” Melhor Direção: Beatriz Seigner (“Los Silencios”) Melhor Ator: Aldri Anunciação (“Ilha”) Melhor Atriz: Grace Passô (“Temporada”) Melhor Ator Coadjuvante: Russão (“Temporada”) Melhor Atriz Coadjuvante: Luciana Paes (“A Sombra do Pai”) Melhor Roteiro: “Ilha”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio Melhor Fotografia: “Temporada”, Wilsa Esser Melhor Direção de Arte: “Temporada”, Diogo Hayashi Melhor Trilha Sonora: “Bixa Travesty” Melhor Som: “A Sombra do Pai”, Gabriela Cunha Melhor Montagem: “A Sombra do Pai”, Karen Akerman Prêmio do Júri Popular: “Bixa Travesty” Prêmio Especial do Júri: “Torre das Donzelas” Menção Honrosa do Júri: “Bixa Travesty” Curta-Metragem Melhor Filme: “Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados” Melhor Direção: Nara Normande (“Guaxuma”) Melhor Ator: Fábio Leal (“Reforma”) Melhor Atriz: Maria Leite (“Mesmo com Tanta Agonia”) Melhor Ator coadjuvante: Uirá dos Reis (“Plano Controle”) Melhor Atriz coadjuvante: Noemia Oliveira (“Eu, Minha Mãe e Wallace” ) Melhor Roteiro: “Reforma”, Fábio Leal Melhor Fotografia: “Mesmo com Tanta Agonia”, Anna Santos Melhor Direção de Arte: “Guaxuma”, Nara Normande Melhor Trilha Sonora: “Guaxuma”, Normand Roger Melhor Som: “Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados”, Nicolau Domingues Melhor Montagem: “Plano Controle”, Gabriel Martins e Luisa Lana Menção Honrosa de Atriz Coadjuvante: “Mesmo com Tanta Agonia”, Rillary Rihanna Guedes Prêmio do Júri Popular: “Eu, Minha Mãe e Wallace” Prêmio Especial do Júri: “Liberdade”

