Norman Lear, gênio da TV americana, morre aos 101 anos
O lendário produtor e roteirista de televisão Norman Lear, criador de séries pioneiras como “Tudo em Família”, “Good Times”, “Maude”, “Os Jeffersons” e “One Day at a Time”, que abordaram pela primeira vez questões sociais como racismo, mães solteiras e aborto na televisão dos Estados Unidos, morreu na terça-feira (5/12) de causas naturais em sua casa, em Los Angeles, aos 101 anos. Vencedor de seis prêmios Emmy por seu trabalho na televisão, Lear também era conhecido por seu empenho em favor de causas progressistas e trabalhou de forma ativa até os 90 anos. Começo de carreira com indicação a Oscar A jornada de Norman Lear no mundo do entretenimento começou longe dos holofotes da televisão. Nascido em 27 de julho de 1922, em New Haven, Connecticut, Lear iniciou sua carreira após a 2ª Guerra Mundial, onde serviu na Força Aérea dos Estados Unidos. Após o serviço militar, ele mergulhou no mundo do entretenimento como agente de imprensa em Nova York, mas rapidamente transitou para a escrita de comédias. Seu primeiro grande trabalho foi como escritor para Dean Martin e Jerry Lewis no “The Colgate Comedy Hour”, um programa televisivo no início dos anos 1950. Norman estreou como roteirista de cinema em 1963, adaptando uma peça de Neil Simon no filme “O Bem Amado” (Come Blow Your Horn), estrelada por Frank Sinatra. O sucesso do filme estabeleceu um parceria entre o escritor e o diretor Bud Yorkin, que teve como ponto alto “Divórcio à Americana” (1967), comédia sobre um casal, interpretado por Dick Van Dyke e Debbie Reynolds, que se encontra em um processo turbulento de divórcio. Conseguindo equilibrar o humor com uma crítica social aguda, refletindo as mudanças culturais da época, o roteiro do então jovem Norman recebeu uma indicação ao Oscar, consagrando o escritor. Ele também escreveu a comédia “Quando o Strip-Tease Começou” (The Night They Raided Minsky’s, 1968), dirigida por William Friedkin (de “O Exorcista”), antes de cometer uma ousadia. Em 1971, Norman comandou seu único filme como diretor, “Uma Cidade Contra o Vício” (Cold Turkey), sátira sobre uma cidade cujos habitantes decidem parar de fumar para ganhar um desafio corporativo e o prêmio em dinheiro associado. Crítica mordaz à indústria do tabaco e à cultura do consumismo americano, o filme dividiu opiniões e encerrou a carreira cinematográfica do roteirista, mas desde então virou cult e ganhou reconhecimento por sua abordagem direta na discussão de questões sociais, um tema recorrente em muitos de seus trabalhos posteriores na televisão. A revolução de “Tudo em Família” Nesse meio tempo, Norman levou sua parceria criativa com Bud Yorkin para os negócios. Juntos, eles fundaram a Tandem Productions, que se tornou a plataforma para o desenvolvimento das séries do roteirista, combinando visão criativa com experiência de produção. Norman também estava no lugar certo na hora certa. No início dos 1970, houve uma mudança significativa no panorama da televisão americana. As redes estavam buscando conteúdos mais relevantes e realistas que refletissem as mudanças sociais e culturais da época. Então, Norman teve a ideia de adaptar a série britânica “Till Death Us Do Part” para o público americano, com foco em questões sociais relevantes. Lear e Yorkin adaptaram o conceito, trazendo para o centro da produção questões de racismo, sexismo e política, temas até então pouco explorados na TV. E, claro, a princípio houve hesitação das redes em aceitar uma série com temáticas tão polêmicas. A ABC inicialmente pegou o projeto, mas depois o abandonou devido ao seu conteúdo controverso. Mas a CBS, sob a nova liderança do executivo Robert Wood, queria modernizar sua programação e se mostrou mais aberta a assumir riscos. Norman apresentou sua versão do sitcom britânico, rebatizado como “Tudo em Família” (All in Family) à CBS, que aceitou produzir a série, reconhecendo seu potencial para conectar-se com as mudanças da época. “Tudo em Família” (All in the Family) estreou em 12 de janeiro de 1971 e rapidamente se tornou um marco na televisão americana. Os episódios giravam em torno da família Bunker, liderada por Archie Bunker, interpretado por Carroll O’Connor. Archie é um trabalhador de classe média, morador do bairro Queens, em Nova York, e notoriamente conservador, preconceituoso e de mentalidade fechada, refletindo as tensões sociais e políticas da época. Archie Bunker foi concebido como um retrato da classe trabalhadora americana da época, resistente às mudanças sociais e culturais que estavam ocorrendo nos Estados Unidos. Ele frequentemente expressava suas visões através de declarações racistas, sexistas e homofóbicas. A genialidade da série estava justamente em usar o personagem para satirizar e desafiar essas visões, expondo a ignorância e o absurdo de seus preconceitos. Apesar de suas falhas, Archie também era retratado como um personagem capaz de evolução e mudança, o que contribuiu para a profundidade e relevância da série. Com sua abordagem única e um humor afiado, “Tudo em Família” foi não apenas um sucesso de audiência, mas também um veículo para discussões sociais profundas. E, de quebra, venceu quatro vezes o Emmy, como Melhor Série Estreante e Melhor Série de Comédia. O universo de Norman Lear na TV Norman acabou criando um universo televisivo em torno do sucesso de “Tudo em Família”, expandido através de vários spin-offs. Este universo refletia e comentava a complexidade da sociedade americana da época. O melhor é que nada parecia forçado, já que os personagens foram introduzidos na série principal, causando repercussão suficiente para que se ramificassem em suas próprias narrativas. Por exemplo, a personagem Maude Findlay apareceu pela primeira vez em “Tudo em Família” como a prima liberal de Edith Bunker, antes de se tornar a protagonista de sua própria série, “Maude”, que estreou em 1972 e foi protagonizado por Bea Arthur no papel-título. A série destacou-se por abordar temas controversos, incluindo um episódio memorável sobre o aborto, um assunto raramente discutido na televisão naquela época. Cada spin-off abordava temas sociais do seu próprio ponto de vista único. Enquanto “Tudo em Família” se concentrava no conservadorismo e nas visões de mundo de Archie Bunker, “Maude” explorava questões feministas e liberais. Já “Good Times” e “Os Jeffersons” focavam em famílias afro-americanas, trazendo à tona questões de racismo e ascensão social. “Good Times” era tecnicamente um spin-off de um spin-off. A série surgiu em 1974 a partir de “Maude”, de onde veio a personagem Florida Evans (papel de Esther Rolle), que era a empregada da família Findlay. Florida e seu marido James Evans (interpretado por John Amos) eram os personagens centrais, vivendo em um conjunto habitacional em Chicago com seus três filhos. Eles não eram da classe média como os anteriores e lidavam com questões de pobreza, racismo e sonhos de ascensão social. Com personagens memoráveis como J.J., interpretado por Jimmie Walker, “Good Times” combinou comédia com um retrato realista dos desafios enfrentados pelas famílias negras urbanas. Mais bem-sucedida de todas as séries derivadas, “Os Jeffersons” estreou em 1975 e teve uma notável duração de 11 temporadas. A produção focava uma família afro-americana de classe média que se muda para um bairro de elite. George e Louise Jefferson, interpretados por Sherman Hemsley e Isabel Sanford, foram introduzidos em “Tudo em Família” como vizinhos de Archie e Edith Bunker. Inicialmente, George Jefferson foi concebido como um contraponto a Archie Bunker – ambos eram personagens orgulhosos e teimosos, mas com pontos de vista políticos e sociais opostos. Esta dinâmica proporcionou momentos de confronto e humor, refletindo as tensões raciais e de classe da sociedade americana. Em sua série própria, os Jeffersons se mudam para um apartamento de luxo em Manhattan após o sucesso dos negócios de limpeza a seco de George. Os episódios acompanhavam as aventuras e desafios da família em seu novo ambiente, inovando ao apresentar na TV uma família negra bem-sucedida financeiramente, e ainda ainda assim tendo que lidar com racismo e preconceito contra sua ascensão social. Pioneira em vários sentidos, a série ainda abordou relações interraciais e até questões de identidade de gênero. A última atração desse universo foi “Archie Bunker’s Place”, lançada em 1979 como uma continuação direta de “Tudo em Família”, com Archie Bunker gerenciando um bar. “Archie Bunker’s Place” tentou manter o espírito original, mas com uma abordagem um pouco mais suavizada. Outras Criações Notáveis Além dessas séries icônicas, Lear foi responsável por outras produções de sucesso, como “Sanford and Son”, uma adaptação americana da série britânica “Steptoe and Son”, e “One Day at a Time”, uma sitcom que abordou a vida de uma mãe solteira e seus dois filhos. “One Day at a Time” só durou menos que “Os Jeffersons”. Ambas foram lançadas no mesmo ano e tiveram mais de 200 episódios produzidos, mas “Os Jeffersons” ficou um ano a mais no ar, até 1985. A trama acompanhava Ann Romano, uma mãe recém-divorciada interpretada por Bonnie Franklin, que enfrentava os desafios de criar sozinha suas duas filhas adolescentes, Julie e Barbara Cooper, interpretadas por Mackenzie Phillips e Valerie Bertinelli, respectivamente. O que tornou “One Day at a Time” única na época foi seu foco em uma mãe solteira e as questões que ela enfrentava, uma premissa rara na televisão dos anos 1970. A série abordava temas como feminismo, namoro, violência doméstica e problemas financeiros, tudo sob a perspectiva de uma família liderada por mulheres. Após o sucesso estrondoso na décadas de 1970, Norman Lear deixou de lado os roteiros para se concentrar na produção. Neste papel, ele esteve envolvido em filmes icônicos como “A Princesa Prometida” (1987) e “Tomates Verdes Fritos” (1991), que se tornaram clássicos cult, além da popular série “Vivendo e Aprendendo” (The Facts of Life), que também teve mais de 200 episódios produzidos nos anos 1980. Recentemente, ele ainda se envolveu no remake de “One Day at a Time”, lançado em 2017 com uma nova abordagem e relevância para o público contemporâneo. A nova versão reimaginou a trama com um contexto latino, centrando-se em uma família cubano-americana. Inicialmente produzida pela Netflix, a série durou quatro temporadas seguindo Penelope Alvarez, uma mãe solteira e veterana do exército, interpretada por Justina Machado, que cria sua filha radical Elena e seu filho sociável Alex com a ajuda de sua mãe cubana tradicional, Lydia, interpretada pela vencedora do Oscar Rita Moreno. Além disso, ao longo da série, adolescente Elena (interpretada por Isabella Gomez) passa por um processo de autodescoberta e, eventualmente, se assume como lésbica. Tributos e legado Sua ousadia criativa e importância para a TV é considerada tão grande que o Sindicato dos Produtores dos EUA (PGA) batizou um prêmio com seu nome. O “Prêmio de Realização de Carreira Norman Lear” é uma homenagem concedida a produtores de televisão que demonstraram uma conquista vitalícia notável em sua profissão. Entre muitos outros tributos, ele também foi homenageado por instituições como o Television Hall of Fame e o Peabody Award, em reconhecimento ao seu trabalho pioneiro. Os tributos a Norman Lear enfatizam seu impacto profundo, com sua morte emocionando diversas personalidades e entidades nos EUA. A People for the American Way, organização que Norman co-fundou, destacou seu uso da cultura para gerar conversas e promover mudanças positivas. O Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA) destacou seu compromisso com a justiça social, reconhecendo sua habilidade de usar o humor para combater o racismo e os preconceitos. Rob Reiner, que trabalhou em “Tudo em Família” e dirigiu “A Princesa Prometida”, o chamou de “segundo pai” e expressou profunda gratidão e admiração pelo genial criador. O apresentador Jimmy Kimmel descreveu Lear como alguém cuja “coragem, integridade e bússola moral inigualável” o tornaram “um grande americano, um herói em todos os sentidos”. Jane Fonda destacou seu impacto significativo no “rosto e alma da comédia americana” e sua importância pessoal para muitos, incluindo ela mesma. E George Clooney refletiu que sua morte aos 101 anos foi “cedo demais”. Ele prestou homenagem ao artista como “o maior defensor da razão do mundo” e um “amigo querido” de sua família, além de reconhecê-lo como um gigante. Até Bob Iger, CEO da Walt Disney Company, enfatizou o “impacto monumental e legado” de Lear, reconhecendo-o como um ícone e uma das mentes mais brilhantes da história da...
30 comédias românticas para o Dia dos Namorados
Pensou numa sessão de cinema em casa com uma boa companhia neste Dia dos Namorados? A gente ajuda na seleção dos títulos, indicando 30 comédias românticas que marcaram época. A lista leva em conta apenas lançamentos disponíveis em streaming, o que limita a relação a produções feitas a partir do final dos anos 1980 – nem parece que estúdios com um século de arquivos são donos de grandes plataformas! Mas tem vencedor do Oscar e alguns dos atores que viram ícones do gênero. Confira abaixo os títulos selecionados, acompanhados de trailers e a indicação de onde encontrar cada um. | HARRY & SALLY: FEITOS UM PARA O OUTRO | 1989 | AMAZON PRIME VIDEO, VOD* | UMA LINDA MULHER | 1990 | STAR+ | VEM DANÇAR COMIGO | 1992 | AMAZON PRIME VIDEO | QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL | 1994 | AMAZON PRIME VIDEO | JERRY MAGUIRE | 1996 | CLARO TV+, HBO MAX, STARZPLAY, VOD* | PROCURA-SE AMY | 1997 | VOD* | (500) DIAS COM ELA | 1997 | STAR+ | AFINADO NO AMOR | 1998 | HBO MAX, VOD* | SHAKESPEARE APAIXONADO | 1998 | STAR+, STARZPLAY, VOD* | MENSAGEM PARA VOCÊ | 1998 | HBO MAX, VOD* | UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL | 1999 | CLARO TV+, PARAMOUNT+, STAR+, TELECINE, VOD* | COMO PERDER UM HOMEM EM 10 DIAS | 1999 | AMAZON PRIME VIDEO, CLARO TV+, PARAMOUNT+, VOD* | 10 COISAS QUE EU ODEIO EM VOCÊ | 1999 | DISNEY+ | ALTA FIDELIDADE | 2000 | STAR+ | O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN | 2001 | CLARO TV+, TELECINE, VOD* | SIMPLESMENTE AMOR | 2003 | VOD* | ALGUÉM TEM QUE CEDER | 2003 | HBO MAX, VOD* | LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS | 2007 | STAR+, VOD* | ENCANTADA | 2007 | DISNEY+ | PENSE COMO ELES | 2007 | PARAMOUNT+, VOD* | RESSACA DE AMOR | 2008 | VOD* | NICK & NORAH – UMA NOITE DE AMOR E MÚSICA | 2008 | VOD* | A PROPOSTA | 2009 | STAR+ | TODA FORMA DE AMOR | 2011 | CLARO TV+, VOD* | AMOR A TODA PROVA | 2011 | HBO MAX, VOD* | DOENTES DE AMOR | 2017 | AMAZON PRIME VIDEO, TELECINE | COM AMOR, SIMON | 2018 | STAR+ | PARA TODOS OS GAROTOS QUE JÁ AMEI | 2018 | NETFLIX | EMMA. | 2020 | CLARO TV+, VOD* | VOCÊ NEM IMAGINA | 2020 | NETFLIX * Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Google Play, Microsoft Store, Loja Prime e YouTube, entre outras, sem necessidade de assinatura mensal.
Sugestão de remake de A Princesa Prometida coloca fãs contra a Sony
Fãs de “A Princesa Prometida” estão em pé de guerra contra a Sony. Uma reportagem da revista Variety sobre Norman Lear, produtor executivo do filme, que aos 97 anos se tornou o mais velho vencedor do Emmy, registrou os planos do estúdio para um remake do clássico de 1987. “Pessoas muito famosas, cujos nomes eu não mencionarei, querem refazer ‘A Princesa Prometida'”, disse o executivo Tony Vinciquerra. A simples sugestão fez o Twitter se encher protestos. Uma das falas célebres do filme, “Inconcebível!”, dita por Vizzini, personagem do ator Wallace Shawn, virou mantra da indignação coletiva. Dirigida por Rob Reiner e escrita por William Goldman, a história de amor de 1987 é considerada um dos melhores filmes de contos de fadas de todos os tempos, e permanece tão icônica que sua estrutura foi o ponto de partida para “Era uma Vez um Deadpool”, lançado no ano passado. A historia é narrada por um vovô a seu netinho doente, na cama. Enquanto o menino tem a expectativa de ouvir uma história de pirata, a trama tem romance e uma princesa, mas logo os protestos da criança se tornam entusiasmo pelo desenrolar da aventura e da expectativa diante das inúmeras dificuldades do casal para se reencontrar e viver seu o avô de um menino lê a história de um pirata que virou pirata que encontra numerosos obstáculos, inimigos e aliados em sua busca para se reunir com seu verdadeiro amor. O netinho era Fred Savage e o elenco também incluía Cary Elwes e Robin Wright, como o casal principal, além de Mandy Patinkin, Billy Crystal, Chris Sarandon, Peter Falk, Christopher Guest e o lutador André, o Gigante. “Há uma escassez de filmes perfeitos neste mundo. Seria uma pena estragar esse”, tuitou Cary Elwes, que interpretou o protagonista Westley. “Sério?”, afirmou a atriz Jamie Lee Curtis, que é casada com Christopher Guest, intérprete do Conde Rugen, o homem com um dedo extra no filme. “Bom, eu casei com o homem de seis dedos, obviamente por isso estamos juntos há 35 anos e existe apenas o ÚNICO A Princesa Prometida e é o de William Goldman e Rob Reiner”, reclamou Curtis. O ator-roteirista-produtor Seth Rogen respondeu a essa ideia no Twitter com um indignado “Eu jamais ousaria isso”. Mas a revolta não se limitou a fãs anônimos e famosos de Hollywood. “Inconcebível que alguém sequer pense em tentar…”, protestou o senador republicano Ted Cruz sobre o remake, completando, em letras garrafais, com a frase que resume o sentimento geral: “NÃO MEXAM COM A PERFEIÇÃO”.


