Amigos de Jean-Pierre Léaud pedem ajuda para o ator de clássicos do cinema francês
Jean-Pierre Léaud, ator francês conhecido pelos clássicos “Os Inocentes” (1959) e “A Chinesa” (1967), está enfrentando problemas financeiros e de saúde. A informação foi divulgada por familiares e amigos do artista, que lançaram uma campanha de arrecadação na plataforma Leetchi, afirmando que o ator de 79 anos está passando por um momento difícil. “Apesar de uma carreira excepcional, Jean-Pierre está atravessando um momento difícil em termos morais, físicos e materiais”, diz a página dedicada ao ator no site. “Seu amigo Serge Toubiana, testemunha dessa preocupante situação, acaba de mobilizar diversos contatos no meio cinematográfico e apelar à generosidade de todos”. Embora a campanha não forneça detalhes específicos sobre a condição do ator, Toubiana, presidente da Unifrance e ex-diretor da Cinemateca Francesa, revelou à imprensa francesa que Léaud teria enviado diversas mensagens preocupantes durante a última edição do Festival de Cannes, em maio. Segundo ele, o ator disse estar com dificuldades para se levantar. O ex-diretor também afirmou que Léaud teria se envolvido em muitos jogos de azar na juventude, o que o levou a perder o dinheiro acumulado ao longo de sua carreira. A campanha no Leetchi já alcançou a meta de € 15 mil, estipulada pelos amigos de Léaud – equivalente a aproximadamente R$ 78 mil. Sucesso no cinema e Palma de Ouro Jean-Pierre Léaud é um ícone do cinema francês há muitos anos. Nascido em Paris, o ator deu início a carreira ainda na infância, aos 14 anos. Com essa idade ele estrelou o longa “Os Inocentes” (1959), dirigido por François Truffaut, um dos filmes franceses mais famosos de todos os tempos. Seu personagem, Antoine Doinel, era um menor abandonado. Ele voltou a viver Doinel e trabalhar com Truffaut em “O Amor aos Vinte Anos” (1962), “Beijos Roubados” (1968), “Domicílio Conjugal” (1970) e “Amor em Fuga” (1979), transformando-se em alter-ego do diretor. Léaud estrelou os quatro longas-metragens ao lado da atriz Claude Jade, que na época era noiva de Truffaut. O ator também trabalhou em filmes icônicos de Jean-Luc Godard, como “A Chinesa” (1967), “Alphaville” (1965) e “O Demônio das Onze Horas” (1965), além de colaborar com outros diretores da Nouvelle Vague e inovadores do cinema dos anos 1960 e 1970. Sua filmografia inclui inúmeros clássicos como “O Testamento de Orfeu” (1960) de Jean Cocteau, “Não me Toque” (1971) de Jacques Rivette, “O Último Tango em Paris” (1972), de Bernardo Bertolucci, “A Mãe e a Puta” (1973) de Jean Eustache, e até “O Leão de Sete Cabeças” (1970), do brasileiro Glauber Rocha. Mais recentemente, Léaud apareceu “Irma Vep” (1996), de Olivier Assayas, protagonizou “O Pornógrafo” (2001), de Bertrand Bonello, e viveu o personagem-título de “A Morte de Luís XIV” (2016), de Albert Serra, que lhe rendeu o prêmio Lumière de Melhor Ator. No mesmo ano, ele recebeu uma Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes, em reconhecimento à sua contribuição para o cinema.
Jean-Luc Godard, ícone da nouvelle vague, morre aos 91 anos
O cineasta Jean-Luc Godard, maior nome da nouvelle vague e lenda do cinema francês, morreu nessa terça (13/9) aos 91 anos por suicídio assistido. Dono de uma carreira longeva e repleta de experimentações, Godard dirigiu mais de 130 obras, incluindo longas-metragens, curtas, séries de TV e documentários. Seus títulos mais conhecidos são também aqueles que ajudaram a revolucionar o cinema francês, como “Acossado” (1960), “Viver a Vida” (1962) e “O Demônio das Onze Horas” (1965). Nascido em Paris em 1930, Godard era filho de pais protestantes que viviam entre a França e a Suíça. Após terminar o ensino médio, ele se matriculou na universidade Sorbonne, em Paris, mas logo abandonou as aulas para frequentar os cinemas e cineclubes – onde encontrou outros colegas cinéfilos, como François Truffaut e Jacques Rivette. Os três, junto com Claude Chabrol e Maurice Scherer (mais conhecido como Eric Rohmer) começaram a escrever críticas e, em 1952, Godard publicou os seus primeiros artigos na revista Cahiers du Cinéma, fundada no ano anterior. Godard acabou expulso da revista depois de roubar o dinheiro do caixa e fugir para a Suíça, onde com a verba dirigiu o curta-documentário “Operação Beton” (1955). O roubo, de todo modo, não foi um caso isolado. Godard era conhecido por ser cleptomaníaco. Ele voltou para Paris em 1956, depois de trabalhar na TV suíça e passar um tempo em um hospital psiquiátrico. Ele começou a trabalhar como publicitário, escrevendo materiais promocionais para o estúdio 20th Century Fox, e conseguiu até voltar a escrever para a Cahiers du Cinéma. Neste período, dirigiu três curtas: “Charlotte e Seu Namorado” (1958), “Todos os rapazes se chamam Patrick” (1959) e “Uma História d’Água” (1961), co-dirigido com Truffaut. Com esta experiência, ele decidiu dirigir seu primeiro longa-metragem, que se tornou responsável por catapultar a sua carreira e por chamar atenção para um novo estilo de filmar, que foi batizado como “nouvelle vague” – ou, a nova onda do cinema francês. “Acossado” (1960) contava a história de um ladrão de carros (Jean-Paul Belmondo, que havia trabalhado com Godard no curta “Charlotte e Seu Namorado”) que usa seu charme para seduzir Jean Seberg embora fosse procurado por ter matado um policial. O filme é uma homenagem ao cinema clássico hollywoodiano, ao mesmo tempo que traz personagens sexualmente liberados e propõe a desconstrução da narrativa convencional, colocando câmeras onde escolas de cinema diziam para nunca colocar e fazendo uma edição de cenas que os mestres considerariam errada. Só que essa era a ideia da nova onda. Godard também empregou um estilo de montagem muito mais ágil, fazendo diferentes experimentos com imagens e sons dessincronizados, e chamando a atenção para a artificialidade do cinema – o oposto do que o naturalismo da montagem clássica pretendia. A novidade jogou os manuais de cinema no lixo. Mas foi um sucesso. “Acossado” venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim e deu origem aos filmes totalmente autorais. Depois disso, Godard começou a fazer um filme atrás do outro, sempre empregando doses de experimentalismo visual. Seus melhores trabalhos na década de 1960 foram: “Uma Mulher É Uma Mulher” (1961), “Viver a Vida” (1962), “Alphaville” (1965) e “O Demônio das Onze Horas” (1965), clássicos existencialistas. Mas paralelamente também desenvolveu uma fase maoísta, mais evidente em “A Chinesa” (1967), que se acirrou após os protestos estudantis de maio de 1968 e o viu perder adeptos. Ironicamente, também foi a fase em que filmou o documentário “Sympathy for the Devil” (One + One, 1968) com os Rolling Stones. Muitos destes primeiros filmes foram estrelados pela atriz e modelo dinamarquesa Anna Karina, que se casou com o diretor em 1961. Os dois tiveram um relacionamento tumultuado, que acabou em 1965. Godard chegou a adaptar esse relacionamento para o cinema no filme “O Desprezo” (1963), em que escalou ninguém menos que Brigitte Bardot como a versão ficcional de Karina. Em 1967, Godard se casou com a atriz Anne Wiazemsky, que também começou a atuar nos seus filmes. Este casamento durou até 1979. Na década de 1970, ele se juntou a um grupo de ativistas e cineastas de esquerda para formar o “Grupo Dziga Vertov”, nomeado em homenagem ao famoso cineasta russo. O grupo comandou diversos filmes, como “Tudo Vai Bem” (1972) e “Letter to Jane: An Investigation About a Still” (1972), ambos estrelado por Jane Fonda. Em 1977, Godard voltou para a Suíça e passou a morar com a cineasta Anne-Marie Miéville. Foi o relacionamento mais duradouro da vida do diretor, que persistiu até o final da sua vida. Abrindo uma nova fase, ele dirigiu em 1980 “Salve-se Quem Puder (A Vida)”, uma obra que se propôs a examinar os relacionamentos sexuais acompanhando três protagonistas que interagem entre si. O filme foi exibido no Festival de Cannes e saudado como o grande retorno do cineasta. Foi também um enorme sucesso de bilheteria no país. “Salve-se Quem Puder (A Vida)” deu um novo fôlego para a carreira de Godard, que passou a realizar vários filmes consagrados, como “Paixão” (1982), “Detetive” (1985) e principalmente “Eu Vos Saúdo Maria” (1985), que teve grande repercussão pelo tema: uma estudante universitária, que fica grávida sem ter relações sexuais. Considerado uma blasfêmia, foi proibido em vários países, inclusive no Brasil. A polêmica voltou a sacudir a carreira do infant terrible, que a partir daí radicalizou de vez. Seu filme “Rei Lear” (1987), estrelado por nomes como Woody Allen, Leos Carax, Julie Delpy e Burgess Meredith, dividiu a crítica. O Washington Post afirmou que se tratava de um “total desrespeito de Godard a uma apresentação sustentada e coerente das suas ideias”, enquanto o Los Angeles Times afirmou que se tratava de “obra de um gênio certificado.” Na década de 1990, Godard comandou filmes como “Nouvelle Vague” (1990), estrelado por Alain Delon, “Infelizmente Para Mim” (1993), com Gerard Depardieu, e “Para Sempre Mozart” (1996). Porém, o grande destaque desse período foi a série documental “Histoire(s) du cinéma”, iniciada em 1989 e finalizada em 1999. Com um total de 266 minutos e exibida pela emissora francesa Canal Plus, a série consistiu de entrevistas, cenas de filmes clássicos e imagens de arquivo para narrar um século da História do Cinema. Numa entrevista ao jornal francês Libération, publicada anos após o lançamento, Godard descreveu o projeto como “um pouco como meu álbum de fotos de família – mas também o de muitos outros, de todas as gerações que acreditaram no amanhecer. Só o cinema poderia reunir o ‘eu’ e o ‘nós’”. Com a chegada do novo século, Godard voltou a inovar em obras como “Filme Socialismo” (2010), “3x3D” (2013) e “Adeus à Linguagem” (2014), filmes que, como o último título sugere, rompiam de vez com a linguagem tradicional cinematográfica – algo que Godard já vinha fazendo, pouco a pouco, desde o início da sua carreira. Radicais, mantiveram a divisão crítica entre os que consideraram as obras geniais e os que não viram mais cinema nas realizações do cineasta, apenas instalações de arte. Seus últimos créditos como diretor foram o documentário “Imagem e Palavra”, basicamente uma colagem de imagens de arquivo e gravações aleatórias, e o curta “Spot of the 22nd Ji.hlava IDFF”, ambos de 2018. Nos seus últimos anos, Godard se tornou completamente recluso. Ele se recusava a dar entrevistas, não aceitava prêmios e não viajava para os festivais. Quando lhe foi oferecida a Ordem Nacional do Mérito da França, ele recusou, dizendo: “Não gosto de receber ordens e não tenho méritos”. E quando foi premiado com um Oscar honorário em 2010, ele se recusou a viajar para Los Angeles para aceitá-lo pessoalmente. Anne-Marie Miéville disse na época que Godard “não irá para a América, ele está ficando velho demais para esse tipo de coisa. Você faria todo esse caminho apenas por um pedaço de metal?” Ao longo da carreira, Godard colecionou mais de 50 “pedaços de metal”, incluindo prêmios nos principais festivais de cinema do mundo, como o Urso de Ouro no Festival de Berlim (que ele venceu por “Eu Vos Saúdo Maria”), no Festival de Cannes (por “Imagem e Palavra” e “Adeus à Linguagem”), entre muitos outros. Ao saber da morte do cineasta, o ex-ministro da Cultura da França, Jack Lang, disse à rádio France Info que Godard era “único, absolutamente único… Ele não era apenas cinema, era filosofia, poesia”. O presidente francês Emmanuel Macron também prestou a sua homenagem, chamando-o de “iconoclasta”. “Inventou uma arte decididamente moderna, intensamente livre. Nós perdemos um tesouro nacional, um olhar de gênio”, definiu o governante. Ce fut comme une apparition dans le cinéma français. Puis il en devint un maître. Jean-Luc Godard, le plus iconoclaste des cinéastes de la Nouvelle Vague, avait inventé un art résolument moderne, intensément libre. Nous perdons un trésor national, un regard de génie. pic.twitter.com/bQneeqp8on — Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) September 13, 2022
O Formidável tira sarro da seriedade de Godard
Michel Hazanavicius procurou saber de Jean-Luc Godard se ele havia visto o seu “O Formidável”, se havia gostado ou desgostado do modo como foi caracterizado nesta comédia autobiográfica baseada no livro de uma das ex-esposas do cineasta, a alemã Anne Wiazemsky. Até onde se sabe, o jovem diretor não recebeu nenhuma resposta de seu “homenageado”. Apesar das aspas, podemos dizer que o filme de Hazanavicius consegue ser ao mesmo tempo uma homenagem a Godard, emulando e trazendo à tona momentos importantes de uma fase da vida e da obra do homem, como também um filme que tira sarro de Godard, vivido por Louis Garrel. O diretor do oscarizado “O Artista” (2011) novamente fala sobre cinema e seus bastidores, mas o foco agora é o cinema francês do final dos anos 1960, quando muita coisa estava mudando no mundo. Em um ano em que tivemos uma comédia que também brinca com os bastidores do cinema francês, a divertida “Rock’n’Roll – Por Trás da Fama”, de Guillaume Canet, é bom ver outro trabalho inteligente e espirituoso sobre o tema. E “O Formidável” talvez exija menos do espectador pouco habituado a ver filmes franceses, mesmo que cinéfilos se divirtam mais com as referências a Godard. A trama ecoa os protestos da primavera de Paris e a radicalização política da época, e se concentra numa tentativa de revolução num cinema que já era considerado revolucionário. Ao final da década de 1960, Godard encontrava-se num momento tão radical de sua vida que rejeitava até mesmo os seus próprios filmes, colocando os marcos da nouvelle vague na categoria de lixo burguês ou arte ultrapassada. Sua intenção era criar algo totalmente novo na forma e no conteúdo e ainda trazer muito da política que ele abraçava naquele momento, o maoismo. Uma das partes mais engraçadas do filme, aliás, é quando Godard fica sabendo que seu filme “A Chinesa” (1967) não foi apreciado pelos chineses. Segundo algumas fontes, os revolucionários chineses acharam que o diretor francês não entendeu nada da ideologia de Mao. Outras passagens bem engraçadas giram em torno das participações de Godard nas manifestações acirradas de 1968, quando havia briga entre a polícia e os estudantes. Além de perder muitos óculos, o diretor sempre se saía mal quando ia para as discussões entre os estudantes comunistas. Uma das melhores coisas do filme merece ser mencionada como destaque: Stacy Martin, a jovem francesa que encantou o mundo em “Ninfomaníaca” (2013), de Lars Von Trier, faz o papel da jovem esposa de Godard, Anne, que atura, com amor e paciência, as bobagens e os arroubos de arrogância daquele homem que se achava melhor do que todos. Com uma mulher tão doce quanto Anne, difícil não pensar no quanto Godard foi vacilão em ter deixado passar alguém tão especial na vida dele. E para acentuar ainda mais essa impressão, o filme a apresenta sem roupa diversas vezes, uma vez, inclusive, evocando uma cena do clássico “O Desprezo” (1963), em que a câmera de Godard passeia pelo corpo nu de Brigitte Bardot. O elenco ainda destaca Bérénice Bejo, esposa de Hazanavicius, que entretanto aparece pouco, em papel de coadjuvante, como uma das amigas de Godard. É um papel pequeno, mas o diretor faz bem em tê-la presente, já que Bejo tem feito uma série de trabalhos muito bons e é uma atriz talentosa.
Anne Wiazemsky (1947 – 2017)
A atriz alemã Anne Wiazemsky, que estrelou clássicos da nouvelle vague e foi casada por 12 anos com o cineasta Jean-Luc Godard, morreu na quinta-feira (5/10), aos 70 anos, após lutar contra um câncer. Seu nome verdadeiro era Anna Ivanovna Vyazemskaya e ela era uma princesa da dinastia Rurik, que governou a Rússia por mais de 700 anos. Seu nascimento aconteceu em 14 de maio de 1947 na parte ocidental de Berlim, onde sua família se exilou após a revolução bolchevique. Seu pai era um príncipe russo que se tornou diplomata e se casou com uma francesa. Seu avô era o escritor francês François Mauriac. Por conta do trabalho do pai, viveu uma infância nômade, em embaixadas pela Europa e até América do Sul, antes da família se estabelecer em Paris em 1962. Belíssima, encantou o diretor Robert Bresson, que a escalou, logo na estreia, como protagonista de seu clássico “A Grande Testemunha” (1966), aos 18 anos de idade. Ela ficou encantada pela experiência, mas também perturbada pela obsessão de Bresson. O fascínio que exercia no diretor a marcou tanto que ela lhe dedicou grande espaço em sua autobiografia, anos mais tarde. “Num primeiro momento, ele parecia contente em apenas segurar o meu braço ou tocar meu rosto. Mas então vinha o desagradável momento em que ele tentava me beijar. Eu o afastava, e ele não insistia. Mas ficava tão triste que eu me sentia culpada”, escreveu. Seu romance com Godard começou no ano seguinte, nos bastidores de outro filme, “A Chinesa” (1967). Ela tinha apenas 19 anos na época e ele estava no auge da carreira, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. Esta história de amor e contracultura foi contada recentemente no filme “O Formidável” (Le Redoutable), de Michel Hazanavicius, atualmente em exibição no Festival do Rio. A atriz trabalhou em outros projetos do cineasta, como a comédia de humor negro “Week-End à Francesa” (1967), o documentário “Sympathy for the Devil” (1968), que misturava cenas dos bastidores da banda Rolling Stones com imagens de revolução, e “Tudo Vai Bem” (1972), quando seu casamento, ao contrário do título, já não ia bem. Wiazemsky também estrelou o grande clássico de Pier Paolo Pasolini, “Teorema” (1968), um marco do cinema da época pela grande voltagem de erotismo. “É quase banal falar do fascínio que um diretor pode ter pela sua atriz principal. A emoção que existiu entre mim e Bresson, voltei a senti-la com Pasolini quando filmávamos ‘Teorema’. Isto pode suscitar boas performances. Mas Pasolini era homossexual. Nem sempre significa que tenhamos de dormir juntos”, ela escreveu. Sua impressionante filmografia sessentista ainda inclui o drama apocalíptico “A Semente do Homem” (1969), de Marco Ferreri, e “Pocilga” (1969), sua segunda parceria com Pasolini. Mas, após a separação de Godard, a qualidade de seus trabalhos despencou, com raras exceções – entre elas “A Criança Secreta” (1979), de Philippe Garrel, e “Rendez-vous” (1985), de André Téchiné. Aos poucos, ela perdeu o interesse em atuar, descobrindo uma nova vocação como escritora de romances e memórias, que revelaram vários episódios da sua vida, mas também das dos seus ilustres antepassados. Ela publicou mais de uma dúzia de livros, alguns inclusive renderam filmes como “Todas Essas Belas Promessas” (2003), “Eu Me Chamo Elizabeth” (2006) e “Un an Après”, de 2015, que inspirou “O Formidável” (2017), em que foi vivida por Stacy Martin (“A Ninfomaníaca”).
Diretor de O Artista ousa fazer Festival de Cannes rir de Godard
Além de Netflix, o Festival de Cannes também teve cinema neste domingo (21/5). Um filme sobre cinema, para deixar bem claro: o francês “Le Redoutable”, de Michel Hazanavicius (diretor de “O Artista”), sobre o lendário cineasta Jean-Luc Godard. Abordar um personagem tão complexo como Godard, que continua ativo aos 86 anos, foi considerado um desafio, que Hazanavicius transformou em comédia. “Algumas pessoas provavelmente pensam que contar a história de Godard é blasfêmia”, disse o diretor à imprensa. “Meus amigos estavam preocupados. Mas ele não é meu herói ou meu Deus. Godard é como o líder de uma seita e eu sou um agnóstico”. Mesmo assim, Hazanavicius não vê problema em crucificar Godard. Seu filme encontra o cineasta em crise, renegando sua filmografia em meio ao contexto das rebeliões de maio de 1968 na França, logo após filmar “A Chinesa” (1967) sobre uma estudante marxista-maoista, vivida por Anne Wiazemsky, sua musa e esposa. O que atraiu Hazanavicius ao projeto foi o livro de memórias de Wiazemsky, a francesa de origem alemã que cativou os diretores da nouvelle vague. Em 1966, com 18 anos, ela estrelou o filme de Robert Bresson “A Grande Testemunha”, e, durante a filmagem, conheceu Godard, com quem se casou um ano depois. Segundo o diretor, o livro explica como a ainda adolescente ficou apaixonada pelo cineasta de meia-idade, que se mantinha espirituoso, charmoso e rebelde numa época em que a juventude não confiava em ninguém com mais de 30 anos. “Todo mundo já ouviu falar que ele era um cara difícil. Para mim, isso não poderia ter sido toda a história. Havia claramente algo muito sedutor sobre ele”. “É por isso que eu queria que Louis Garrel vivesse Godard”, completou, referindo-se à fama de sex symbol do ator francês, que na tela contracena com a jovem Stacy Martin (revelação de “Ninfomaníaca”). A própria Anne Wiazemsky elogiou a transformação de Garrel, algo que chamou atenção de toda a crítica. “Fiquei hipnotizada com a semelhança alucinante entre Louis Garrel e Jean-Luc. Fala como ele”, declarou a atriz de 69 anos. O que Godard exprime no filme da Hazanavicius, porém, é pura amargura, resultado da impossibilidade de ser jovem para sempre, da dificuldade de revolucionar a sociedade e o cinema como desejaria, e da insustentabilidade de seu casamento. A personalidade difícil não perdoa nem seus fãs, porque gostam de filmes que ele já considerava antigos e ultrapassados em 1968. O mau humor permanente gera frases impagáveis, mas também conduz à situações de pastelão, em que o protagonista sempre quebra seus óculos no final das piadas. Hazanavicius retoma os truques de “O Artista”, ao transformar as características da nouvelle vague em clichês, que ajudam a informar as cenas, ao mesmo tempo em que cutuca Godard e a geração de 1968, ao insinuar que era uma loucura o cineasta desdenhar de seus melhores filmes, especialmente porque ele não sabia nada sobre a luta de classes dos proletários que supostamente abraçava com “A Chinesa”. É realmente uma heresia para os cinéfilos que ainda acreditam que Godard é Deus. E são muitos, como se viu pela quantidade de críticos que considerou seu último filme experimental como um dos melhores do ano passado. “Estou preparado para o pior, mas espero o melhor”, completou o diretor, ciente do que fez.
Louis Garrel é Jean-Luc Godard em primeiro teaser de cinebiografia
O filme francês “Le Redoutable”, em que o ator Louis Garrel (“Dois Amigos”) vive o cineasta Jean-Luc Godard, ganhou seu primeiro teaser. Com legendas em inglês, a prévia registra uma entrevista de Godard por meio de um plano fechado em seu intérprete, destacando no close a transformação convincente do galã no infant terrible, o que é uma façanha e tanto, tendo em vista como os dois são diferentes. Com entradas de calvice, mas ainda jovem, Godard é retratado durante sua fase mais contestadora, nos anos 1960. Além de Garrel, o elenco também destaca Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca” (2013), como a atriz alemã Anne Wiazemsky. O filme vai contar o romance entre Godard e Wiazemsky, iniciado nos bastidores de “A Chinesa”, em 1967. Ela tinha apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky, e tem direção de Michel Hazanavicius, que retorna ao tema dos bastidores cinematográficos de “O Artista”, seu filme mais conhecido – e que lhe rendeu do Oscar de Melhor Direção em 2012. Ainda não existe previsão para a estreia de “Le Redoutable”.
Louis Garrel vira Jean-Luc Godard em fotos de cinebiografia
A revista Paris Match publicou as primeiras fotos de “Le Redoutable”, em que o ator Louis Garrel (“Dois Amigos”) vive o cineasta Jean-Luc Godard. A transformação do galã no infant terrible do cinema francês é bastante convincente, quase inacreditável, tendo em vista como os dois são diferentes. Com entradas de calvice, mas ainda jovem, Godard é retratado durante sua fase mais contestadora, nos anos 1960. Além de Garrel, as fotos também registram Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca” (2013), como a atriz alemã Anne Wiazemsky. O filme vai contar o romance entre Godard e Wiazemsky, iniciado nos bastidores de “A Chinesa”, em 1967. Ela tinha apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky, e tem direção de Michel Hazanavicius, num retorno ao tema dos bastidores cinematográficos que lhe rendeu o Oscar de Melhor Direção em 2012 por “O Artista”. As filmagens começaram há apenas duas semanas em Paris e ainda não existe previsão para a estreia de “Le Redoutable”.
Louis Garrel viverá Jean Luc-Godard no novo filme do diretor de O Artista
O ator Louis Garrel (“Dois Amigos”) vai viver o cineasta Jean Luc-Godard no filme “Le Redoutable”, dirigido por Michel Hazanavicius. O projeto está sendo anunciado como uma homenagem ao gênio do movimento nouvelle vague pelo chefe de vendas do estúdio Wild Bunch, Vincent Maraval. “Não é exatamente uma comédia, mas será alegre e carinhoso em grande estilo”, ele descreveu para o site Screen Daily. O filme também marcará a volta de Hazanavicius ao tema dos bastidores cinematográficos, que lhe rendeu o Oscar de Melhor Direção em 2012 por “O Artista”, e irá focar o romance de Godard com a atriz alemã Anne Wiazemsky, iniciado durante as filmagens de “A Chinesa”, em 1967. Ela tinha apenas 19 anos na época, mas os dois se casaram e ficaram juntos por mais de uma década. A trama é baseada no livro autobiográfico “Un An Après”, de Wiazemsky. A jovem atriz será vivida por Stacy Martin, revelação de “Ninfomaníaca” (2013). “Le Redoutable” ainda não tem data de lançamento definido.






