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Cinemas destacam retorno de Lindsay Lohan, nova versão de Drácula e terror com crianças
Estreias da semana incluem a continuação de “Sexta-Feira Muito Louca”, o terror “A Hora do Mal”, o "Drácula" romântico de Luc Besson e dramas brasileiros como “Paterno” e “A Melhor Mãe do Mundo”
As estreias de cinemas desta quinta (7/8) combinam produções internacionais aguardadas e novidades do cinema brasileiro. O destaque vai para o retorno de Lindsay Lohan em “Sexta-Feira Mais Louca Ainda”, sequência de uma comédia muito popular de 2003, além de dois novos títulos de terror: o suspense psicológico “A Hora do Mal”, do mesmo diretor de “Noites Brutais” e com 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, e a releitura gótica “Drácula – Uma História de Amor Eterno”, dirigida por Luc Besson. Completam a programação dramas nacionais e franceses, além de animações independentes, distribuídos em circuito limitado.
🎞️ A HORA DO MAL
O novo terror escrito e dirigido por Zach Cregger, responsável por “Noites Brutais” (2022), começa com o misterioso desaparecimento simultâneo de 17 crianças da mesma classe em uma pequena cidade do interior. Todas sumiram às 2h17 da madrugada, sem sinais de sequestro ou invasão domiciliar. Desesperados por respostas, pais e autoridades se mobilizam para entender o que aconteceu naquela madrugada, enquanto paira a dúvida sobre quem (ou o quê) estaria por trás do sumiço coletivo.
Julia Garner (“Ozark”) vive a misteriosa Sra. Gandy, professora da classe das crianças desaparecidas, que se torna o centro das suspeitas e cuja busca por respostas se torna obsessiva. O elenco também destaca Josh Brolin (“Duna: Parte 2”) como o pai de um dos desaparecidos, que pressiona a professora em busca de uma explicação de por que somente os alunos dela sumiram. Figura de autoridade fragilizada, sua presença imponente é usada para desestabilizar, quase como efeito simbólico da dor que corrói sua família. Pra completar, Alden Ehrenreich (“Han Solo: Uma História Star Wars”) vive um policial local e Benedict Wong (“Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”) interpreta o administrador da escola.
O filme marca a volta de Zach Cregger como diretor e roteirista após sua estreia em “Noites Brutais” surpreender e liderar as bilheterias norte-americanas – o sucesso foi tanto que ele também está confirmado para comandar uma nova adaptação de “Resident Evil”. Inspirado por “Magnolia”, ele estrutura o roteiro em episódios cruzados, cada um centrado em um personagem. As convergências dos pontos de vista revelam histeria popular e dinâmicas de poder. Narrativamente, o filme funciona como uma crítica social: a cidade se fragmenta em especulações, teorias conspiratórias e linchamentos morais, refletindo o modo como tragédias reais são instrumentalizadas.
O filme atingiu 100% no Rotten Tomatoes nas primeiras avaliações, com elogios ao roteiro ousado, à edição que sustenta a tensão crescente e ao clímax perturbador. Um clássico moderno de terror.
🎞️ DRÁCULA – UMA HISTÓRIA DE AMOR ETERNO
O veterano Luc Besson, responsável por filmes como “O Quinto Elemento” (1997) e “Lucy” (2014), estreia no terror com uma nova versão da história de Drácula. O longa marca a segunda parceria do cineasta francês com o ator Caleb Landry Jones, após trabalharem juntos no divisivo “Dogman” (2023). O astro americano tem o papel do príncipe romeno Vlad, que se transforma em Drácula após a morte brutal de sua esposa e renegar a fé, buscando vingança contra a Igreja.
O enredo reinventa o personagem gótico criado por Bram Stoker, acrescentando detalhes vistos anteriormente nos quadrinhos da Marvel dos anos 1970 e em “Drácula: Uma História Nunca Contada” (2014), como batalhas medievais e uma origem romântica. A produção faz sua transição para a era vitoriana com cenas do vampiro ao longo dos séculos na Europa, além de traçar referências ao visual marcante de “Drácula de Bram Stoker” (1992). O resumo dessa ópera é um Drácula trágico em busca de redenção, que encontra uma mulher idêntica ao seu amor perdido, ao mesmo tempo em que desperta a atenção de um padre caçador de vampiros.
O elenco também destaca Zoë Bleu Sidel (“Minha Namorada É uma Vampira”) em papel duplo como a esposa de Vlad e Mina, a italiana Matilda De Angelis (“Citadel: Diana”) como a melhor amiga de Mina e o alemão Christoph Waltz (“Django Livre”) no papel de padre antagonista.
🎞️ A MELHOR MÃE DO MUNDO
O drama dirigido por Anna Muylaert (“Que Horas Ela Volta?”) acompanha Gal (Shirley Cruz, “Vida Invisível”), catadora de recicláveis em São Paulo que, após uma tentativa frustrada de denúncia à polícia por agressão cometida pelo marido Leandro (Seu Jorge, “Marighela”), decide fugir em uma carroça improvisada com os dois filhos pequenos. Ela transforma essa jornada incerta em uma “grande aventura” para preservar a inocência das crianças enquanto percorre bairros periféricos à procura de liberdade.
O roteiro, escrito em colaboração com Grace Passô e Mariana Jaspe, equilibra retrato social e intimidade familiar. Muylaert trabalha o contraste entre a brutalidade do cotidiano urbano e a imaginação infantil – especialmente nos diálogos entre Gal e as crianças, quando temas como dignidade, medo e esperança emergem com leveza emocional
Lançado no último Festival de Berlim e premiado no Cine PE, o longa dá continuidade ao interesse da cineasta por mães brasileiras em contextos marginais, após “Quer Horas Ela Volta?” e “Mãe Só Há Uma”, agora com olhar para personagens negras periféricas.
🎞️ PATERNO
Dirigido pelo brasileiro Marcelo Lordello, “Paterno” chega aos cinemas após uma longa jornada de produção. O longa foi filmado em 2017, participou de mostras e venceu prêmios em festivais, e só agora estreia comercialmente.
Na trama, Marco Ricca (“Chatô: O Rei do Brasil”) interpreta Sérgio, um arquiteto de meia-idade que assume o legado da construtora familiar no Recife à medida que seu pai é acometido por doenças e segredos do passado vêm à tona. O personagem se vê dividido entre concretizar seu projeto imobiliário e enfrentar o distanciamento emocional do filho adolescente, enquanto questiona os valores herdados e o lugar que ocupa no mundo moderno.
À medida que desenterra segredos do passado do pai e enfrenta decisões difíceis nos negócios, Sérgio empreende também uma jornada íntima de autoconhecimento e acerto de contas com a figura paterna – daí o título simbólico “Paterno”. O filme aborda os conflitos geracionais, os dilemas éticos em empresas familiares e as responsabilidades da paternidade. O elenco também inclui Thomás Aquino (“Os Outros”), Rejane Faria (“Marte Um”), Nelson Baskerville (“Onde Está Meu Coração”), Gustavo Patriota (“Salomé”) e a veterana Selma Egrei (“Apocalipse”).
🎞️ PACTO DA VIOLA
Suspense regional embalado por música de viola e toques de realismo mágico, “Pacto da Viola” apresenta Alex (Wellington Abreu, “Cano Serrado”), um músico sertanejo que falhou em alcançar o sucesso na cidade grande e retorna à sua pequena cidade natal, no interior de Minas, para ajudar o pai enfermo.
O pai, Lázaro (Sérgio Vianna, “Versace”), é um violeiro respeitado e líder da tradicional Folia de Reis local, que acredita estar doente por causa de uma dívida espiritual ou desequilíbrio ritual. Ao mergulhar nas crenças populares do sertão para tentar salvá-lo, Alex se vê dividido entre a fé e o medo do desconhecido, enfrentando forças misteriosas que colocam à prova seus limites e sua descrença inicial.
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Guilherme Bacalhao explora a cultura do interior brasileiro — da música de raiz às celebrações folclóricas — enquanto constrói um clima de tensão mística. Exibido no Festival de Brasília de 2024, o filme rendeu a Wellington Abreu o prêmio de Melhor Ator por seu trabalho como Alex.
🎞️ A MENSAGEM DE JEQUI
Representando o cinema nacional infantil, a aventura ambiental dirigida pelo estreante Igor Amin acompanha Jequi, um menino quilombola do Vale do Jequitinhonha (MG) que vive em harmonia com a natureza e sua comunidade ribeirinha. Quando percebe os riscos que a mineração predatória e outras ameaças do chamado “progresso” trazem para sua região – especialmente o perigo à pureza das águas do rio onde brinca – o garoto decide agir.
Inspirado pelas histórias de seus ancestrais e pelos ensinamentos dos mais velhos, Jequi encontra uma forma singela e poderosa de espalhar seu alerta ambiental: ele coloca uma mensagem dentro de uma garrafa e a lança correnteza abaixo, na esperança de que chegue a outras crianças e povoados ao longo do rio.
O filme tem forte caráter educativo e poético, focado em temas como preservação da natureza, racismo ambiental e valorização das comunidades tradicionais. Foi desenvolvido a partir de oficinas de cinema e educação climática com estudantes quilombolas locais, conferindo autenticidade à voz das crianças retratadas. No elenco, destaca-se o jovem Kaique Santos Silva no papel de Jequi, ao lado de atores mirins da região, compondo um elenco diverso e representativo.
“A Mensagem de Jequi” ganhou relevância antes mesmo de sua estreia, ao ser selecionado para exibição na COP30 (Conferência do Clima da ONU) em novembro, na mostra “Telas Amigáveis” em Belém.
🎞️ PEQUENOS INVASORES
A animação da África do Sul acompanha Norman, um adolescente de 16 anos preocupado com o meio ambiente, cuja vida vira de cabeça para baixo quando três minúsculos alienígenas pacíficos caem acidentalmente em seu chá gelado e acabam alojados em seu cérebro. Com os novos hóspedes espaciais em sua mente, Norman ganha poderes para enfrentar um vilão intergaláctico ameaçador, ao mesmo tempo em que precisa proteger seus amigos e todo o planeta.
Assim, cenas hilárias ocorrem quando Norman age de forma estranha para cumprir as missões dos aliens (para seus colegas, parece que ele está falando sozinho ou tendo tiques, enquanto na verdade discute planos de batalha com as criaturinhas em sua cabeça).
Totalmente animado em CGI 3D, com visual colorido e personagens cartunescos, o filme dirigido pela dupla Gerhard Painter e Paul Meyer mira imitar o nível Pixar/DreamWorks de qualidade, mas entrega apenas as possibilidades sul-africanas. Vale apontar que a premissa de aliens dentro de uma mente adolescente remete a “Divertida Mente” da Pixar (embora lá fossem emoções, não ETs). Segundo os cineastas, a equipe de animadores locais trabalhou incansavelmente durante a pandemia para atingir excelência técnica, movidos pela visão de provar que a África do Sul tem talento para produzir um longa-metragem animado de nível mundial. O esforço é visível, mas a animação se mostra extremamente datada em relação não só à produção americana, mas também europeia e asiática.
🎞️ A FANFARRA
A comédia dramática de Emmanuel Courcol (“A Noite do Triunfo”) gira em torno de duas vidas opostas unidas pela música. Thibaut (Benjamin Lavernhe, “A Favorita do Rei”) é um maestro de prestígio internacional, enquanto seu irmão recém-descoberto, Jimmy (Pierre Lottin, “Notre-Dame – Desastre em Paris”), leva uma vida simples e desajustada.
Ao descobrir já adulto que foi adotado, Thibaut busca suas raízes e encontra Jimmy, que até então desconhecia. O reencontro inesperado dos irmãos – que têm personalidades muito diferentes, mas compartilham o amor pela música – dá início a uma jornada de descobertas mútuas, laços familiares e segundas chances. Juntos, eles decidem formar uma fanfarra (uma pequena banda de música) e seguir em turnê pelo interior da França, enfrentando desafios pessoais e cômicos no caminho. Baseado em uma história real, “A Fanfarra” explora temas como laços fraternos, identidade e pertencimento social, tudo temperado com humor leve e emoção.
O filme foi exibido fora de competição no Festival de Cannes 2024 e conquistou o Prêmio do Público no Festival de San Sebastián do mesmo ano, o que sinaliza sua forte conexão emocional com a audiência.
🎞️ NIKI DE SAINT-PHALLE
O drama biográfico franco-belga retrata a vida da famosa artista plástica Niki de Saint Phalle, reconhecida por esculturas e obras de arte monumentais. Estreia da atriz Céline Sallette (“Solo Vermelho”) na direção, o filme se passa nos anos 1950 e acompanha Niki aos 23 anos de idade – então uma jovem modelo, aspirante a atriz, casada e mãe de uma menina de dois anos. Buscando se libertar da lembrança dos abusos cometidos pelo pai e do ambiente opressor do período macartista nos EUA, ela e o marido se mudam para a França, onde Niki se interna voluntariamente numa clínica psiquiátrica e passa por tratamentos com eletrochoque para tratar depressão e trauma. Nesse período, ela inicia suas primeiras pinturas e colagens como forma de resistência emocional e encontra a arte.
A narrativa explora sua transformação em uma artista revolucionária, destacando a mistura de dor e rebeldia que alimentaram sua criatividade. Charlotte Le Bon (“The White Lotus”) interpreta Niki ao longo de sua evolução da jovem abusada à artista livre e transgressora com desenvoltura, mas, por limitações de direitos, o longa não mostra as obras reais da artista. A solução foi filmar “do ponto de vista das obras”, usando Le Bon como tela viva para expressar tanto a angústia quanto a euforia criativa que deu origem às famosas “Nanas” e outras obras feministas, que tornaram Niki de Saint-Phalle uma das maiores representantes da arte moderna do século 20.
🎞️ A PRISIONEIRA DE BORDEAUX
Estrelado pela renomada Isabelle Huppert (“Elle”), o drama francês explora um encontro improvável entre duas mulheres de mundos opostos. Huppert interpreta Alma Lund, uma socialite da elite parisiense que vive um momento difícil após a prisão de seu companheiro, sentindo-se isolada e vulnerável. Em suas visitas à penitenciária, Alma cruza o caminho de Mina (Hafsia Herzi, “Rapto”), uma jovem mãe solo de origem modesta que viaja mais de três horas desde seu conjunto habitacional para visitar o marido preso.
Num gesto de empatia inesperado, quando Mina é impedida de visitar o marido em determinado dia, Alma a convida para ficar em sua casa naquela noite – iniciando assim uma amizade improvável e transformadora entre as duas. A diretora Patricia Mazuy (“Paul Sanchez Está de Volta”) desenvolve com sutileza essa relação, revelando como a convivência permite que ambas compartilhem suas dores, esperanças e diferenças socioculturais.