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Jim Shooter, ex-editor da Marvel e criador de “Guerras Secretas”, morre aos 73 anos
Responsável por profissionalizar a Marvel e criar a era dos grandes eventos de crossover, o roteirista e editor morreu após luta contra o câncer
Figura central da Marvel nos anos 1980, ele revolucionou os quadrinhos
Jim Shooter, ex-editor-chefe da Marvel Comics e uma das figuras mais influentes da indústria de quadrinhos dos anos 1980, morreu aos 73 anos após enfrentar um câncer no esôfago. A morte foi anunciada na segunda-feira (1/7) pelo escritor e editor Mark Waid.
Considerado um prodígio, Shooter começou a trabalhar com quadrinhos ainda adolescente. Enviou roteiros para a National Comics — hoje DC Comics — nos anos 1960 e foi contratado pelo lendário editor Mort Weisinger, que o colocou na folha de pagamento da editora. Aos 13 anos, ajudava financeiramente sua família operária da Pensilvânia com roteiros para a revista “Super-Heróis">Legião dos Super-Heróis”, onde criou personagens como Karate Kid, Rapaz de Ferro e os vilões do Quinteto Fatal. Também foi o criador do vilão Parasita, inimigo do Superman.
Ascensão meteórica até o topo da Marvel
Depois de se afastar brevemente da indústria, voltou à DC nos anos 1970, retomando trabalhos com Superman e a Legião. Em 1976, foi recrutado por Marv Wolfman para a Marvel, primeiro como assistente editorial. Em 1978, com apenas 26 anos, assumiu o comando da editora.
Como editor-chefe, Shooter instituiu práticas profissionais inéditas na época: garantiu pagamento pontual a artistas, criou programas de royalties e ofereceu plano de saúde. Também supervisionou uma geração de autores e desenhistas que transformaram a Marvel. Sob sua liderança, surgiram fases memoráveis como as de Chris Claremont e John Byrne em “X-Men”, Frank Miller em “Demolidor” e Walt Simonson em “Thor”.
Shooter também idealizou a minissérie “Guerras Secretas” (“Secret Wars”, de 1984), ilustrada por Mike Zeck e John Beatty. A obra foi o primeiro grande evento de crossover da Marvel, com desdobramentos em múltiplas revistas mensais, e estabeleceu um modelo comercial que revolucionou a indústria dos quadrinhos e se mantém até hoje.
Trabalho como editor-chefe dividiu opiniões
Apesar do sucesso, sua gestão foi marcada por atritos com autores e editores. Conhecido por seu estilo rígido e microgerencial, Shooter acabou rompendo com os próprios talentos que projetou, como Frank Miller e John Byrne, levando ambos a migrarem para a DC, onde assinaram projetos icônicos. Miller criaria “O Cavaleiro das Trevas”, e Byrne reimaginaria o Superman com impacto suficiente para estampar a capa da revista Time.
Mesmo criticado por muitos, colegas como Larry Hama destacaram sua integridade. Em um depoimento no Facebook, Hama contou que Shooter burlou regras internas da Marvel para garantir plano de saúde à viúva de um artista da casa, que morreu um dia antes do prazo permitido para adesão. “Ele disse: ‘Eles devem isso a ele. Só não vamos mencionar que ele já morreu’”, Shooter teria dito a Hama.
Legado continuou além da Marvel
Shooter foi demitido da Marvel em 1987. Nos anos 1990, voltou ao mercado como fundador da Valiant Comics, editora que revitalizou publicações clássicas como “Magnus Enfrenta os Robôs” e “Solar, o Homem-Átomo”, além de lançar novos super-heróis com forte apelo na época. A empresa atraiu nomes como Bob Layton, Barry Windsor-Smith e Don Perlin.
Ele ainda tentou outros empreendimentos, como a Broadway Comics (ligada à produtora de Lorne Michaels, criador do “Saturday Night Live”), e escreveu quadrinhos para Dark Horse e DC nas décadas seguintes. Em 2007, voltou à “Legião dos Super-Heróis” para uma breve passagem pela DC.
Reconhecimento do ex-chefão da DC
Paul Levitz, principal autor da “Legião dos Super-Heróis” e ex-presidente da DC Comics, escreveu um tributo ao colega no Facebook. “Jim foi um excelente roteirista de super-heróis, criador de personagens, editor com olhar afiado e um homem que se dedicava integralmente ao que fazia.”
Com um olhar crítico, Levitz concluiu: “Ele era, na minha visão, mais fraco como gestor de empresa, embora fosse isso que mais desejava ser. Mas o que fazia bem, fazia gloriosamente… e meu eu infantil sempre será grato por sua inspiração.”