
Divulgação/Rizzoli Film
Morre Lea Massari, estrela de “A Aventura” e ícone do cinema europeu
Atriz italiana, que faleceu aos 91 anos, trabalhou em clássicos de Michelangelo Antonioni, Louis Malle e Dino Risi
Despedida de uma estrela europeia
Lea Massari, uma das maiores atrizes italianas e referência do cinema europeu, morreu aos 91 anos em sua casa em Roma no começo da semana. Com uma carreira que atravessou o teatro, a televisão e principalmente o cinema, Massari se destacou em grandes produções e marcou gerações de cinéfilos ao lado de nomes como Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Michel Piccoli e Omar Sharif. Discreta, foi elogiada por crítica e público, mas evitou os holofotes nas últimas décadas, mantendo-se afastada desde sua aposentadoria há mais de 30 anos.
Como Lea Massari começou a carreira?
Nascida Anna Maria Massatani em 30 de junho de 1933, ela adotou o nome artístico Lea em homenagem ao noivo Leo, que morreu pouco antes do casamento. Filha de engenheiro, passou a infância entre Espanha, França e Suíça, acompanhando o trabalho do pai. Estudou arquitetura e trabalhou como modelo até ser apresentada ao cinema pelo figurinista Piero Gherardi (“A Doce Vida”, “8½”), amigo da família.
Papéis inesquecíveis na década de 1960
A estreia aconteceu em “Proibido” (1955), de Mario Monicelli, no papel de uma jovem de vila sarda. O protagonismo veio no filme seguinte, “Sonhos em uma Gaveta” (1957), de Renato Castellani. Mas o reconhecimento cinéfilo ficou para a década seguinte, a partir de “A Aventura” (1960), clássico que inaugurou o cinema existencial de Michelangelo Antonioni.
Um dos filmes mais influentes da história do cinema moderno, “A Aventura” trouxe Massari como Anna, cuja repentina e misteriosa ausência em um passeio de barco serve como ponto de partida para a narrativa inovadora de Antonioni. O filme revolucionou a linguagem cinematográfica e projetou a atriz internacionalmente.
Em seguida, ela atuou no épico “O Colosso de Rodes” (1961), estreia de Sergio Leone, e recebeu um prêmio especial David di Donatello por “Uma Vida Difícil” (1961), de Dino Risi, interpretando Elena, esposa de um intelectual antifascista vivido por Alberto Sordi. Ainda chegou a fazer teste para o papel feminino principal de “8½” (1963), de Federico Fellini, mas relatou que Piero Gherardi, preferindo Anouk Aimée, sabotou sua chance com um figurino “absurdo”.
A fase francesa dos anos 1970
Outro papel importante foi Clara em “Sopro no Coração” (1971), de Louis Malle, que marcou sua transição para o cinema francês ao ser indicado ao Oscar e repercutir pela abordagem ousada da relação entre mãe e filho adolescente, interpretado por Benoît Ferreux.
Em seguida, ela emplacou uma sequência de filmes com os principais galãs do cinema francês. Foi a mulher de Alain Delon em “A Primeira Noite de Tranqüilidade” (1972), drama sobre relação imprópria entre professor e aluna, dirigido por Valerio Zurlini, contracenou com Jean-Louis Trintignant em “O Homem que Surgiu de Repente” (1979), de René Clément, e atuou com Jean-Paul Belmondo no policial “Medo Sobre a Cidade” (1975), dirigido por Henri Verneuil, sobre a caça a um serial killer.
Últimos trabalhos
No fim dos anos 1970, Lea Massari esteve em “Encontros com Anna” (1978), dirigido por Chantal Akerman, referência do cinema autoral europeu, interpretando uma das personagens marcantes encontradas pela protagonista ao longo de sua viagem. Em seguida, integrou o elenco de “Cristo Parou em Eboli” (1979), de Francesco Rosi, adaptação do livro de Carlo Levi sobre exílio político no sul da Itália, consolidando sua presença em produções de prestígio internacional e parcerias com grandes cineastas do continente.
A partir de meados dos anos 1970, Lea Massari passou a se dedicar com mais frequência à televisão, impulsionada pelo papel principal na minissérie “Anna Karenina” (1974), em que interpretou a personagem título em adaptação do clássico de Tolstói. Após consolidar-se em diversas produções para TV, encerrou sua trajetória artística em “Viagem de Amor” (1990), filme em que viveu uma história romântica ao lado de Omar Sharif, fazendo sua despedida do audiovisual com um último papel de destaque.
Massari foi casada com Carlo Bianchini, ex-piloto da Alitalia, desde 1963, separando-se em 2004. Não teve filhos. Após deixar os palcos, tornou-se ativista pelos direitos dos animais e contra a caça.