Douglas J. McCarthy, voz do Nitzer Ebb e ícone da música eletrônica, morre aos 58 anos

Vocalista britânico marcou a história da música eletrônica e influenciou gerações com sua energia e inovação

Instagram/Douglas McCarthy

Cantor definiu uma era da música eletrônica

Douglas John McCarthy, cuja voz incendiou a história da música eletrônica como o emblemático vocalista do Nitzer Ebb, morreu na quarta-feira (11/6) aos 58 anos. Sua presença de palco, vocais graves e intensidade única ajudaram a definir o gênero da Electronic Body Music (EBM), a música que combinou sintetizadores com batidas dançantes aceleradas e atitude agressiva do punk rock.

“É com grande pesar que informamos que Douglas McCarthy faleceu na manhã de 11 de junho de 2025”, comunicou o Nitzer Ebb nas redes sociais. “Pedimos que todos respeitem Douglas, sua esposa e família neste momento difícil. Agradecemos pela compreensão e traremos mais informações em breve.”

Origem e influências do Nitzer Ebb

A trajetória de McCarthy na música começou nas ruas de Chelmsford, Essex, na Inglaterra, andando de skate ao lado de David Gooday, que se tornaria baterista do Nitzer Ebb. Por meio de Gooday, conheceu Bon Harris, formando um trio unido por noites em que se infiltravam em clubes de disco e funk, como o Goldmine, em Canvey Island.

No início, McCarthy era influenciado pelo glam rock teatral de Showaddywaddy e Slade, assim como pelo art rock sofisticado de Roxy Music e Brian Eno. Outros referenciais vieram dos ritmos angulares do Talking Heads, das batidas minimalistas do Deutsch Amerikanische Freundschaft (DAF), o som industrial do Einstürzende Neubauten, mas principalmente das performances pós-punk provocativas de Siouxsie Sioux e Nick Cave — influências que ajudaram a moldar uma persona de palco singular e magnética.

Nascido com “pais muito conscientes politicamente”, McCarthy identificava-se com as ideias da esquerda, que curiosamente colidiam com a imagem protofascista do começo do Nitzer Ebb (“botas e calças de montaria, cabeças raspadas e camisas brancas e suspensórios”, como McCarthy descrevia).

Ascensão do Nitzer Ebb e impacto na EBM

Fundado em 1982 ao lado de Bon Harris, o Nitzer Ebb rapidamente se destacou como expoente da cena EBM nascente da época. Suas batidas intensas, eletrônica crua e letras confrontadoras renderam reconhecimento global, especialmente com álbuns como “That Total Age” (1987), “Belief” (1989) e “Showtime” (1990). As apresentações ao vivo eram verdadeiros espetáculos viscerais, com McCarthy emanando energia bruta no centro do palco. Os maiores hits da banda, “Join In The Chant” e “Murderous”, pulsam nas pistas de clubes há quase 40 anos.

Após o álbum de 1995, “Big Hit”, o Nitzer Ebb se separou e McCarthy se mudou para os Estados Unidos. Foi um hiato de 11 anos antes do trio voltar em 2006. O grupo lançou mais dois álbuns e continuou a se apresentar até os problemas de saúde de McCarthy impedirem a sequência de shows.

Outras colaborações da carreira

Ao longo da carreira, McCarthy testou constantemente os limites da música eletrônica, mantendo o vigor criativo independentemente da época ou do gênero, graças à colaborações em diversos projetos. Ele se juntou ao Recoil, banda formada com Alan Wilder, ex-Depeche Mode, além de ter formado Fixmer/McCarthy com o produtor francês de techno Terence Fixmer, e o DJM/REX ao lado do músico americano Cyrusrex, com quem abriu shows para o Depeche Mode na França e excursionou com o Skinny Puppy. Além disso, também gravou com Die Krupps, KLOQ, Client, Adult, Reverse Commuter e o produtor suíço Headman, sem esquecer um disco solo em 2012, “Kill Your Friends”, lançado sob o nome Douglas J. McCarthy.

Saúde e legado

Enfrentando desafios de saúde, McCarthy falava abertamente sobre o impacto sofrido após décadas de performances intensas, mas seguiu artisticamente ativo até os últimos dias.

Ele foi hospitalizado inicialmente em 2021 durante uma turnê de Nitzer Ebb pelos Estados Unidos, o que resultou numa pausa nas apresentações. O cantor retornou aos palcos em 2023, mas no ano seguinte a banda anunciou outra pausa, desta vez definitiva, devido aos efeitos da cirrose no cantor, “após anos de abuso de álcool”. Na ocasião, McCarthy escreveu nas redes sociais: “Não farei nenhum show ao vivo como Nitzer Ebb, Fixmer/McCarthy ou qualquer outro veículo até que eu possa fazê-lo com segurança e sem estresse para mim e para as pessoas incríveis que tenho ao meu redor e que continuam ao meu lado em total apoio para me melhorar.”

O cantor nunca mais voltou aos palcos. Com a morte, sua voz imponente, performance brutal e arte inovadora continuará influenciando gerações por meio de discos, vídeos e da lembrança dos fãs.