Com blockbusters ocupando as principais salas de cinema, apenas “Bailarina” ganha lançamento amplo. As demais estreias desta quinta (5/6) são destinadas aos circuitos intermediário e limitado. Outros destaques incluem “Oh! Canadá”, novo filme do veterano diretor Paul Schrader, sempre lembrado como roteirista de “Táxi Driver” (1976), e a animação australiana “Memórias de um Caracol”, que disputou o Oscar 2025. A lista ainda traz um anime, um blockbuster chinês, quatro produções europeias e três dramas nacionais.
🎞️ BAILARINA | Paris Filmes
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Ana De Armas assume o protagonismo em uma nova história do universo de “John Wick”, interpretando uma assassina treinada desde a adolescência nas tradições da organização Ruska Roma, que parte em busca de vingança após perder o pai. O enredo incorpora elementos de ação intensa, característicos da franquia, e introduz combates elaborados e violência estilizada, mantendo o ritmo frenético visto nos filmes anteriores.
O longa destaca participações de Keanu Reeves, que reprisa o papel de John Wick, além de Ian McShane como Winston, Lance Reddick como Charon e Angelica Houston na pele da diretora da escola de bailarinas/assassinas profissionais apresentada em “John Wick 3: Parabellum”. O elenco inclui ainda Gabriel Byrne (“Hereditário”), Catalina Sandino Moreno (“Origem”), Norman Reedus (“The Walking Dead: Daryl Dixon”), David Castañeda (“The Umbrella Academy”) e a francesa Anne Parillaud, referência no subgênero das garotas assassinas graças ao papel-título de “Nikita: Criada para Matar”.
O roteiro é assinado por Shay Hatten (“John Wick 4: Baba Yaga”) e Emerald Fennell (“Saltburn”), enquanto a direção ficou a cargo de Len Wiseman (“Anjos da Noite”).
🎞️ OH, CANADÁ
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Dirigido pelo veterano Paul Schrader (“Fé Corrompida”), o drama introspectivo é baseado no romance “Foregone”, de Russell Banks, e explora o acerto de contas final de Leonard Fife (Richard Gere), um célebre documentarista canadense que, doente terminal, decide revelar segredos sombrios de sua vida antes de morrer. Schrader – conhecido por dissecar almas atormentadas – constrói aqui um “memory play” fragmentado e corajoso, alinhado à tradição de seus estudos de personagens masculinos em crise.
Na trama, Fife, confinado em sua casa em Montreal nos anos 2000, concede uma longa entrevista a um ex-aluno (Michael Imperioli) e confessa verdades ocultas de seu passado: sua fuga para o Canadá como desertor do Vietnã, antigas traições e meias-verdades que alicerçaram sua carreira. Em paralelo, a esposa Emma (Uma Thurman) ouve chocada essas revelações, descobrindo um marido bem diferente do mito público. Alternando cenas do presente com flashbacks dos anos 1960 – nos quais o protagonista é interpretado pelo jovem Jacob Elordi (“Euphoria”) – o filme percorre diferentes formatos e estilos visuais para distinguir as épocas, um experimento cinematográfico concebido pelo diretor de fotografia Andrew Wonder.
A reunião de Gere e Schrader 45 anos após o clássico “Gigolô Americano” (1980) confere à obra um sabor nostálgico, e o ator entrega aqui uma performance contida e vulnerável elogiada como uma das melhores de sua carreira.
🎞️ MEMÓRIAS DE UM CARACOL
▶ Assista ao trailerA animação australiana dirigida por Adam Elliot (“Mary e Max – Uma Amizade Diferente”), é um trabalho impressionante em stop motion, que disputou o Oscar 2025 e conquistou destaque em festivais internacionais, vencendo inclusive o prêmio principal em Annecy (o maior festival da animação). O filme narra a trajetória de Grace Pudel, uma menina solitária e apaixonada por caracóis, que cresce nos subúrbios de Melbourne enfrentando traumas familiares e dificuldades de adaptação social. Por meio de diários e memórias, Grace revisita episódios dolorosos da infância, sempre acompanhada de seus caracóis de estimação, que se tornam símbolos de resiliência e adaptação ao mundo exterior.
Elliot, vencedor do Oscar de Melhor Curta de Animação com “Harvie Krumpet” (2003), constrói uma narrativa sensível, marcada pelo humor sombrio e por uma estética artesanal – todos os personagens e cenários são modelados à mão. Com 95% de aprovação no Rotten Tomatoes, a obra se destaca por tratar de saúde mental, exclusão e amadurecimento com honestidade e sem concessões ao sentimentalismo.
🎞️ COLORFUL STAGE! O FILME: UMA MIKU QUE NÃO SABE CANTAR
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A animação japonesa adapta a popular franquia japonesa de games rítmicos e idols virtuais. Baseado no jogo musical “Hatsune Miku: Colorful Stage!”, o filme combina drama adolescente e espetáculo musical em cores vibrantes, trazendo para as telas a experiência imersiva do jogo, incluindo suas canções e personagens queridos.
A narrativa acompanha a jornada de Hatsune Miku, ícone global dos vocais sintéticos, que aqui enfrenta uma crise existencial: ao perceber que perdeu a capacidade de cantar, Miku parte em busca de sua voz e do significado de sua existência em meio ao universo SEKAI, habitado por outros personagens do jogo.
Como parte da onda de adaptações de jogos e ídolos virtuais para o cinema, “Colorful Stage!” se destaca por abordar de forma sensível temas de depressão juvenil e criatividade em um contexto fantástico. A direção é de Hiroyuki Hata, conhecido por animes como “Lapis Re:Lights” (2020) e “Happy Go Lily” (2015).
🎞️ TERRA À DERIVA 2: DESTINO
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Sucesso de bilheteria na China, “Terra à Deriva 2: Destino” se insere no contexto de grandes blockbusters de ficção científica asiáticos. O longa é um prólogo do fenômeno “Terra à Deriva” e amplia o universo distópico em que a humanidade precisa mover o planeta Terra para longe do Sol em colapso. A narrativa acompanha as origens da missão, conflitos políticos internacionais e os dilemas de cientistas e líderes globais diante da iminente extinção da vida na Terra.
O diretor Frant Gwo compõe uma narrativa marcada por cenas de ação grandiosas, efeitos visuais sofisticados e atmosfera de catástrofe iminente, ao mesmo tempo em que aposta em patriotismo e discursos sobre sacrifício. Seu sucesso internacional, com recordes de bilheteria na Ásia, atesta o avanço técnico do cinema chinês em comparação com produções hollywoodianas do gênero.
🎞️ TELEFÉRICO DO AMOR
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O alemão Veit Helmer (“De Quem é o Sutiã?”) traz sua marca de humor excêntrico à comédia romântica, coprodução entre Alemanha e Geórgia que chamou atenção em festivais europeus pelo tom lúdico e visual distinto. O longa se passa em uma estação de teleférico nas montanhas do Cáucaso, onde personagens de diferentes nacionalidades cruzam seus destinos em cabines suspensas, criando situações inusitadas, desencontros amorosos e reflexões sobre a solidão moderna.
A trama acompanha principalmente Nino (Nino Soselia), uma jovem operadora do teleférico, e Mathilde (Mathilde Irrmann), turista francesa que se vê presa na localidade remota. O elenco inclui ainda Zuka Papuashvili, compondo o trio de protagonistas que se envolvem em romances cruzados, pequenas rivalidades e descobertas pessoais. Helmer aposta em humor visual, gags físicas e na beleza da paisagem georgiana, compondo uma fábula delicada sobre encontros e desencontros.
O estilo visual é marcado por paleta de cores vibrantes e direção de arte minimalista, remetendo a clássicos do cinema mudo e à tradição de comédias humanistas do Leste Europeu. “Teleférico do Amor” é um filme quase sem vilões ou antagonismos, apostando em empatia e situações absurdas.
🎞️ VENCER OU MORRER
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O épico histórico francês ambientado em 1793 resgata a pouco abordada saga do General Charette de La Contrie durante a Guerra da Vendéia – a sangrenta revolta monarquista ocorrida em meio à Revolução Francesa. Codirigido pelos estreantes Vincent Mottez e Paul Mignot, o filme acompanha François-Athanase Charette (Hugo Becker) desde seu retorno à pacata região da Vendéia, após servir na Marinha Real, até emergir relutantemente como líder de camponeses insurgentes contra as forças revolucionárias republicanas. Quando a jovem república decreta leis anticlericais e ameaça os costumes locais, Charette é convencido pelos habitantes a pegar em armas pela monarquia. Em poucos meses, o outrora oficial ocioso transforma-se num estrategista carismático, reunindo sob sua bandeira não apenas soldados desertores mas também mulheres, idosos e crianças camponesas – um exército improvisado decidido a lutar pela liberdade de manter a fé e a tradição ameaçadas.
O filme recria batalhas campais nas florestas do oeste francês, com direito a sabres, mosquetes e canhões, investindo em cenas de ação clássicas e figurinos de época caprichados. Porém, “Vencer ou Morrer” chegou aos cinemas franceses cercado de controvérsia: a crítica local rechaçou maciçamente a produção, acusando-a de romantizar uma visão contra-revolucionária da História. De fato, o filme recebeu um mau acolhimento na imprensa, obtendo resenhas negativas quase unânimes. Ainda assim, atraiu um público considerável, com cerca de 300 mil espectadores na França em nove semanas, um número notável para um drama histórico de orçamento modesto.
Para o espectador brasileiro, talvez distante dessa polêmica, o filme oferece um vislumbre de um capítulo pouco conhecido da Revolução Francesa através de uma perspectiva diferenciada. Hugo Becker (“Meu Nome é Maria”) encarna Charette com convencimento e carisma, retratando-o não como um fanático, mas como um líder apaixonado por sua terra e suas crenças, o que confere alguma nuance à figura histórica.
🎞️ DAAAAAALÍ!
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O francês Quentin Dupieux, cultuado por pérolas bizarras como “Rubber, o Pneu Assassino” (2010) e “Mandíbulas” (2020), brinda o público com uma comédia surrealista em “Daaaaaalí!” – título estilizado com múltiplos “A”s em referência às muitas facetas de Salvador Dalí. Lançado no Festival de Veneza 2023, é uma cinebiografia falsa e deliciosamente absurda. Em vez de seguir a cartilha das cinebiografias convencionais, Dupieux opta por um jogo metalinguístico: cinco atores diferentes interpretam Dalí em diversos momentos, às vezes até dentro da mesma cena, ressaltando a natureza multifacetada e o surrealismo que marcou a estética do célebre artista espanhol.
A trama acompanha Judith (Anaïs Demoustier), uma jornalista determinada a entrevistar Dalí para um documentário – missão que se revela tão excêntrica quanto o próprio pintor. Cada vez que Judith tenta iniciar a entrevista, Dalí (encarnado ora por Édouard Baer, ora por Gilles Lellouche, Jonathan Cohen, Pio Marmaï ou Didier Flamand) a surpreende com exigências absurdas, devaneios e sumiços inexplicáveis, esticando um encontro que deveria durar 15 minutos em um projeto interminável.
Com humor anárquico, Dupieux embaralha realidade e fantasia: são cenas em que Dalí surge multiplicado, troca de personalidade como quem troca de chapéu, e testa a paciência (e a sanidade) da jornalista – tudo isso enquanto o público se deleita com referências à obra do mestre do surrealismo, de relógios derretidos a formigas imaginárias. Se o artista dizia “eu sou surrealismo”, Dupieux leva essa máxima ao pé da letra ao fragmentá-lo em várias personas. O resultado conquistou impressionantes 95% de aprovação no Rotten Tomatoes com elogios por sua criatividade.
🎞️ NÃO SOU NADA
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Em seu novo experimento cinematográfico, o diretor português Edgar Pêra (“Cartas Telepáticas”) transpõe para a tela a mente caleidoscópica do poeta Fernando Pessoa. “Não Sou Nada” se desenrola inteiramente no “Clube do Nada”, uma espécie de editora fictícia dentro da cabeça de Pessoa onde ganham vida seus famosos heterônimos – as múltiplas personalidades literárias criadas pelo poeta. Pêra materializa Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e outros heterônimos interagindo fisicamente com Pessoa (interpretado por Miguel Borges) em um intrigante thriller psicológico de atmosfera onírica. Essas encarnações, todas vestidas de forma idêntica ao poeta mas com personalidades díspares, confrontam-se e disputam espaço pela criação artística, convertendo a psique do escritor num palco de tensões criativas.
O elenco português encabeçado por Borges, Victoria Guerra (como Ofélia, o amor de Pessoa) e Albano Jerónimo confere vida a essa alegoria literária, navegando habilmente entre filosofia e absurdo. À medida que as divergências internas de Pessoa se intensificam, Pêra transforma a metáfora em suspense: um a um, os heterônimos começam a aparecer “assassinados” dentro do clube, como se o próprio poeta precisasse matar partes de si para sobreviver criativamente. Trata-se de um filme enigmático e audacioso – definido pelo próprio realizador como um “cinenigma” –, que brinca com a metaficção e celebra a complexidade do “artista de palavras” Fernando Pessoa.
Embora não tenha trilhado o circuito comercial tradicional, “Não Sou Nada” chamou atenção em mostras lusófonas pela maneira inventiva com que dialoga com a obra do poeta, misturando humor surreal e angústia existencial.
🎞️ OS TRÊS REIS
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Representando o cinema independente nacional, a comédia dramática paulista aborda com leveza temas sociais espinhosos. Rodado no interior de São Paulo com recursos modestos, o filme marca a estreia do diretor Steven Phil e expõe questões contemporâneas importantes – como homofobia, preconceito de classe e abandono familiar – sem abrir mão do humor. A trama acompanha três irmãos de uma família humilde, curiosamente batizados com os nomes dos Reis Magos (Baltazar, Gaspar e Belchior), que se reencontram após anos afastados para cumprir o último desejo da mãe doente: localizar o pai desaparecido há duas décadas.
Baltazar (Giovani Venturini) fugiu de casa e caiu na prisão após envolver-se num crime passional, Gaspar (Murilo Meola) ficou na pequena cidade como mecânico e o caçula Belchior (Rodrigo Dorado), que nunca conheceu o pai, trabalha como enfermeiro e cuida da mãe, Alzira. Quando Alzira, já em estado terminal, insiste que os filhos entreguem uma carta ao pai, os três partem juntos numa viagem de carro pelo interior paulista em busca de um certo Roy Alves, outrora famoso cantor de bailes.
A jornada, que passa por cidades como Santa Bárbara d’Oeste e Ribeirão Preto, transforma-se com revelações. Enquanto perseguem pistas do paradeiro de Roy, os irmãos precisam confrontar preconceitos antigos entre si. Com tons de road movie regional, “Os Três Reis” constrói uma breve etnografia do interior de São Paulo, mostrando cenários simples e personagens pitorescos do Brasil profundo em contraste com a modernidade urbana. O cantor da vida real Eduardo Araújo interpreta o patriarca fictício.
🎞️ A PROCURA DE MARTINA
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Dirigida por Márcia Faria (“Os Quatro da Calendária”), a coprodução Brasil-Argentina aborda questões familiares, envelhecimento e reconciliação, e foi destaque em festivais dedicados ao cinema latino-americano pela sensibilidade do roteiro e pela atuação das protagonistas veteranas. A narrativa acompanha Martina (Mercedes Morán), uma argentina idosa que chega ao Brasil em busca de uma filha que não vê há anos. Em sua jornada por São Paulo, Martina cruza o caminho de outras mulheres igualmente marcadas por perdas e distâncias familiares: a brasileira Lúcia (Carla Ribas) e a argentina Sara (Adriana Aizenberg), formando uma rede de acolhimento e afeto.
O roteiro constrói relações de cumplicidade entre mulheres de diferentes gerações e nacionalidades, usando a busca de Martina como ponto de partida para discutir temas universais, como o luto, o exílio e a resiliência diante do envelhecimento. Márcia Faria aposta em uma abordagem realista, privilegiando a observação dos pequenos gestos cotidianos e das trocas afetivas para valorizar a presença cênica das atrizes. O filme foi gravado em locações reais da cidade de São Paulo, conferindo autenticidade ao percurso errante da protagonista.
No elenco, Mercedes Morán (“O Anjo”) se destaca pela performance contida, equilibrando melancolia e esperança. Carla Ribas (“Que Horas Ela Volta?”) e Adriana Aizenberg (“O Segredo dos Seus Olhos”) completam o trio central, todas com trajetórias marcantes no cinema latino-americano.
🎞️ AINDA NÃO É AMANHÃ
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Produção mineira dirigida por Milena Times, “Ainda Não É Amanhã” faz parte da nova leva do cinema brasileiro autoral, destacando-se pela abordagem realista e pela atenção às vivências de mulheres periféricas. Exibido e premiado em festivais nacionais, o drama apresenta a rotina de Lúcia (Mayara Santos), moradora de uma ocupação em Belo Horizonte, e sua relação com a filha adolescente, enquanto enfrenta desafios de moradia, trabalho informal e violência cotidiana.
A narrativa se desenvolve a partir de microacontecimentos, apostando em observação e nos silêncios das personagens para explorar temas como maternidade, sobrevivência e resistência feminina. Filmado com não-atores e em locações reais, com luz natural e câmera próxima, o longa dá espaço para histórias e rostos pouco vistos nas telas comerciais.