Série que desbancou “Senna” causa polêmica na comunidade científica

"Inferno em La Palma" lidera o Top 10 global da Netflix com teoria apocalíptica amplamente debatida

Divulgação/Netflix

Fenômeno de audiência na Netflix

A série norueguesa “Inferno em La Palma” desbancou “Senna” do 1º lugar no ranking global da Netflix com uma trama apocalíptica que se baseia numa teoria controversa entre cientistas.

A narrativa apresenta a luta de uma família de turistas noruegueses para escapar da ilha de La Palma, ameaçada por um tsunami gerado pelo colapso do vulcão, com ondas que poderiam atingir diversas regiões costeiras ao redor do Atlântico. Enquanto a premissa atrai audiência, especialistas e moradores locais criticaram a abordagem, considerando-a alarmista.

O vulcão ativo de La Palma

A ilha de La Palma, conhecida como “Isla Bonita” por suas paisagens deslumbrantes, abriga o vulcão Cumbre Vieja, um dos mais ativos das Ilhas Canárias. Em setembro de 2021, o vulcão entrou em erupção pela primeira vez em 50 anos, em um evento que durou 85 dias e se tornou o mais longo da história da ilha. A erupção destruiu mais de 3 mil propriedades e vastas áreas de plantações de banana, além de forçar a evacuação de 7 mil pessoas. Apesar da ausência de vítimas fatais, gases tóxicos e a lava que alcançou o oceano causaram danos duradouros à economia e ao meio ambiente local.

Essa recente atividade vulcânica reforça o contexto da trama da série, mesmo que a teoria do tsunami seja foco de controvérsia.

A teoria do mega-tsunami

Segundo a minissérie, uma grande erupção poderia colapsar parte do vulcão Cumbre Vieja no oceano, gerando um tsunami com ondas gigantescas capazes de atingir várias partes do mundo. A teoria foi inicialmente proposta em 2001, em um estudo que estimava que as ondas poderiam alcançar até 80 metros ao longo das costas da América do Norte e do Sul.

No entanto, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) afirma que a hipótese é improvável. Estudos recentes indicam que o colapso de vulcões ocorre de forma incremental, produzindo ondas significativamente menores. “Se o Cumbre Vieja entrasse em colapso, as ondas provavelmente não ultrapassariam 3 a 7 metros ao atingirem a costa dos Estados Unidos”, declarou o USGS. Mesmo assim, seriam muito maiores no local, podendo submergir a ilha como alardeado na ficção.

Muitos cientistas consideram o Cumbre Vieja a cordilheira vulcânica mais ativa das Ilhas Canárias. E este detalhe gera outro tipo de questionamento.

Impacto cultural e críticas locais

Enquanto “Inferno em La Palma” conquista audiência global, a série enfrenta críticas de residentes e autoridades das Ilhas Canárias por seu suposto alarmismo. O jornal local La Voz de La Palma afirmou que a produção “presta um péssimo serviço à ilha”, temendo que o conteúdo possa prejudicar o turismo, principal motor econômico da região. Cientistas locais também alertaram que a narrativa da série amplifica medos infundados, já que a teoria do mega-tsunami é considerada obsoleta.

Apesar das polêmicas, a produção filmada nas próprias Ilhas Canárias, incluindo locais emblemáticos de La Palma e Tenerife, virou um fenômeno no streaming, superando “Senna” até mesmo no Brasil. Com apenas quatro episódios, “Inferno em La Palma” combina ação, drama e elementos de ficção científica para criar uma experiência imersiva, embora controversa, de uma corrida contra o tempo para os personagens escaparem da ilha por todos os meios possíveis, enfrentando revezes em série.