O ator James Earl Jones, amplamente reverenciado por sua presença imponente em cena e por sua voz inconfundível, que ressoou como Darth Vader em “Star Wars” e Mufasa em “O Rei Leão”, faleceu nesta segunda-feira (8/12) aos 93 anos. O astro de Hollywood, que se destacou também no teatro, morreu em sua casa no condado de Dutchess, em Nova York, segundo informou sua agência.
A ironia é que, antes de marcar gerações com sua voz, o ator nascido em 17 de janeiro de 1931 em Arkabutla, Mississippi, enfrentou sérios problemas de fala. Criado pelos avós maternos, ele desenvolveu uma gagueira severa na infância. Aos cinco anos, sua família se mudou para Dublin, Michigan, onde ele passou a viver em uma fazenda. Essa mudança acentuou seu problema de fala e ele chegou a fingir ser mudo para evitar ser ridicularizado.
A solução para a gagueira veio quando um professor de inglês, notando a potência de sua voz, o incentivou a recitar um poema em sala de aula. Para sua surpresa, ele descobriu que, ao memorizar as palavras, a gagueira desaparecia. Com essa descoberta, Jones passou a explorar o poder da fala e, ao concluir o ensino médio, ganhou um concurso de oratória. Esse feito lhe rendeu uma bolsa de estudos integral na Universidade de Michigan, onde inicialmente estudou medicina antes de descobrir sua paixão pelo teatro.
Início da carreira no teatro e no cinema
Após sua experiência universitária, Jones fez sua estreia nos palcos em produções teatrais locais. Seu talento o levou a Nova York em 1958, após servir na Guerra da Coreia. Sua carreira foi fortemente influenciada por conselhos dados por seu pai, o também ator Robert Earl Jones: “Faça isso por amor, não por fama ou dinheiro”.
Em 1964, o diretor Stanley Kubrick se impressionou com seu talento ao vê-lo durante uma produção de Shakespeare no Central Park, em Nova York, e decidiu que sua presença seria perfeita para seu filme “Dr. Fantástico”. Jones acabou estreando no cinema pelas mãos de um dos maiores cineastas de todos os tempos.
Ascensão ao estrelato em “A Grande Esperança Branca”
Depois disso, Jones teve vários outros papéis pequenos em filmes e séries, enquanto seguiu privilegiando a Broadway. Em 1968, ele protagonizou a peça “A Grande Esperança Branca” como Jack Jefferson, personagem inspirado no boxeador Jack Johnson, o primeiro campeão mundial negro de boxe. Sua atuação foi tão marcante que ele recebeu o Tony de Melhor Ator e, posteriormente, reprisou o excelente desempenho na adaptação cinematográfica da peça em 1970, recebendo sua única indicação ao Oscar de Melhor Ator.
Sua atuação foi reconhecida em nível nacional e o colocou na capa da revista Newsweek. O prestígio o tornou protagonista de “O Presidente Negro” (1972), em que interpretou o primeiro presidente afro-americano dos Estados Unidos, lutando contra o racismo declarado dos anos 1970. Ele também viveu o líder negro Malcolm X na cinebiografia de Muhammad Ali, “O Maior de Todos” (1977), e foi um dos Reis Magos na minissérie épica “Jesus de Nazaré” (1977), de Franco Zefirelli.
A voz imortal de Darth Vader e Mufasa
Em 1977, George Lucas procurava uma voz grave e poderosa para dar vida a Darth Vader, vilão de seu “Guerra nas Estrelas” (Star Wars). Inicialmente, Lucas considerou Orson Welles, mas temia que sua voz fosse muito conhecida. Optando por James Earl Jones, Lucas ofereceu a ele um trabalho de apenas um dia, pelo qual Jones recebeu US$ 7 mil.
Jones dublou rapidamente as falas de Darth Vader e no processo se tornou uma das vozes mais lembradas da história do cinema. Entretanto, sua identidade foi mantida em segredo por Lucas. O ator só foi reconhecido publicamente como a voz do personagem a partir do terceiro filme da trilogia original, “O Retorno de Jedi” (1983).
Mais tarde, em 1994, ele emprestou sua voz a outro personagem icônico, Mufasa, o pai de Simba na animação “O Rei Leão”. O sucesso da produção da Disney o apresentou a uma nova geração, e sua frase “Simba, você desobedeceu” tornou-se um marco entre crianças e adultos. Quando o desenho ganhou um remake computadorizado em 2019, Jones foi o único ator original a retomar seu papel clássico.
Grandes papéis como ator
Além de ser reconhecido por sua voz, Jones teve papéis famosos como intérprete. Ele viveu o poderoso vilão Thulsa Doom, que enfrentou o jovem Arnold Schwarzenegger em “Conan, o Bárbaro” (1982), e foi um guerreiro zulu heróico na aventura “Allan Quarterman e a Cidade do Ouro Perdido” (1986). Também foi o rei e pai de Eddie Murphy em “Um Príncipe em Nova York” (1988) e sua sequência tardia de 2021, e o recluso escritor Terence Mann em “Campo dos Sonhos” (1989), que se tornou um de seus papéis mais celebrados.
Ele ainda viveu o mentor do agente Jack Ryan em três filmes: “A Caçada ao Outubro Vermelho” (1990), com Alec Baldwin no papel principal, “Jogos Patrióticos” (1993) e “Perigo Real e Imediato” (1994), ambos com Harrison Ford na pele do espião. Paralelamente, conquistou dois prêmios Emmy em 1991, tornando-se o primeiro ator a vencer dois Emmys no mesmo ano – por seu trabalho na série policial “Anjo Maldito” (Gabriel’s Fire) e no telefilme “Heat Wave”, sobre os distúrbios raciais de Watts, em Los Angeles, em 1965.
Fora sua vasta carreira como ator, Jones marcou a história da TV como a voz oficial da CNN por muitos anos, gravando a famosa frase “This is CNN”. Ele também foi reverenciado por seu trabalho como narrador em documentários, incluindo “Rainhas do Reino Animal”, da National Geographic, pelo qual ganhou seu primeiro Emmy em 2024.
O retorno e a despedida de Darth Vader
Em 2014, ele surpreendeu os fãs ao voltar a empostar a voz de Darth Vader na série animada “Star Wars: Rebels”, quatro décadas após sua última dublagem no papel. A participação continuou no cinema, quando ele reviveu o vilão em “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016) e no final da nova trilogia, “Star Wars: A Ascensão Skywalker” (2019). Seu último trabalho foi a despedida do personagem na série “Obi-Wan Kenobi”, exibida em 2022 na Disney+.
Legado na cultura americana
Jones recebeu um Oscar honorário pelo conjunto da obra em 2011, numa homenagem à sua extraordinária contribuição à indústria cinematográfica. E, em 2022, a Broadway renomeou o Cort Theatre para James Earl Jones Theatre, em reconhecimento à sua longa e brilhante trajetória nos palcos.