A programação de cinema da semana destaca a estreia de “Transformers – O Início”, animação que conta o início da rivalidade de Optimus Prime e Megatron, entre outros detalhes da origem dos robôs gigantes que viram carros. As opções alternativas incluem um anime dramático sobre uma amizade criada em torno da paixão de duas garotas pela arte dos mangás, um thriller dirigido e estrelado por Michael Keaton no papel de um assassino senil, um documentário raro e cultuado de Paul McCartney em estúdio com os Wings em 1974, e três produções brasileiras que chamaram atenção no circuito dos festivais nacionais. Para mais títulos e detalhes, confira a lista completa de lançamentos abaixo.
TRANSFORMERS – O INÍCIO
A animação que serve de prólogo para a franquia “Transformers” é bem mais divertida que o esperado, graças à presença de profissionais com passagem pela Marvel e a Pixar em seu comando criativo. A trama se passa inteiramente em Cybertron, planeta natal dos Autobots e Decepticons, e revela a origem dos poderes de Optimus Prime, além de mostrar que ele e Megatron eram amigos, antes de se tornarem rivais. Junto com Bumblebee e Elita, a dupla se aventura pela primeira vez na superfície de Cybertron, que tem uma paisagem muito diferente do que eles imaginavam – diferente, inclusive, do que o público conheceu em outros filmes. Ao longo de sua jornada, eles ganham a habilidade de se transformar em carros, elemento que caracteriza a franquia, e encontram um novo e perigoso inimigo que ameaça o planeta inteiro.
Este é o primeiro longa-metragem da franquia que não inclui humanos em sua história. Mas não dispensa atores famosos. O elenco de vozes originais destaca Chris Hemsworth (“Thor”) como Optimus Prime, Brian Tyree Henry (“Trem Bala”) como Megatron, Keegan-Michael Key (“Wonka”) na dublagem de Bumblebee e Scarlett Johansson (“Viúva Negra”) como Elita, além de Laurence Fishburne (“John Wick”) como Alpha Trion e Jon Hamm (“Mad Men”) como Sentinel Prime.
O filme chega ao Brasil uma semana após o lançamento nos EUA, onde teve uma abertura abaixo das expectativas, mas agradou a crítica. A animação computadorizada dirigida por Josh Cooley (de “Toy Story 4”) atingiu 88% no Rotten Tomatoes, a segunda avaliação mais alta da franquia. Entre os críticos norte-americanos, só teve menor aprovação que os 90% de “Bumblebee”, que, por coincidência, também foi mal de bilheteria.
LOOK BACK
O anime belíssimo é adaptação da obra homônima do renomado mangaká Tatsuki Fujimoto. Completamente diferente dos mangás mais conhecidos do autor, “Chainsaw Man” e “Fire Punch”, notórios pela violência, “Look Back” se destaca por sua narrativa sensível e introspectiva. A história gira em torno de duas jovens garotas, a andrógina Fujino e Kyomoto, que compartilham o amor pelos mangás e desenvolvem uma forte amizade e parceria criativa ao longo dos anos. O enredo explora temas como a solidão, a busca pela perfeição artística, o impacto da crítica e o luto, tornando-se um retrato poderoso sobre o crescimento pessoal e as complexidades da criação artística.
Roteiro e direção são de Kiyotaka Oshiyama, animador de “O Menino e a Graça”, “Estrada do Pinguim” e da série de “Chainsaw Man”, que mescla traços simples com um visual estilizado capaz de evocar profundidade emocional. O uso das cores, a trilha sonora sutil e os momentos de silêncio intensificam o peso emocional da obra, fazendo com que “Look Back” seja uma experiência sensorial que vai além da animação convencional, enquanto também aborda os bastidores da indústria dos mangás.
AINDA SOMOS OS MESMOS
O suspense político do gaúcho Paulo Nascimento (“A Oeste do Fim do Mundo”) se passa no Chile, logo após o golpe de estado de Augusto Pinochet em 1973. A trama acompanha Gabriel (Lucas Zaffari, de “Genesis”), estudante universitário e crítico do regime militar brasileiro, que fugiu para o Chile acreditando estar seguro, mas acaba se envolvendo em uma nova crise política. Junto com outros brasileiros de esquerda, exilados no país, ele busca refúgio na Embaixada da Argentina durante o golpe. Mas o local é cercado por tropas da ditadura, num cerco que dura semanas e impede que eles sejam ajudados. Enquanto isso, o pai de Gabriel (Edson Celulari, “Nosso Lar 2”), um empresário com conexões com os militares brasileiros, tenta fazer de tudo para ajudar o filho a escapar.
O enredo é baseado em relatos reais dos que viveram essa experiência angustiante sem saber se sobreviveriam, e explora os dilemas morais e emocionais enfrentados pelos jovens diante das armas. Vencedor do Festival de Cinema Independente de Montreal, no Canadá, o longa também inclui no elenco Carol Castro (“Maldivas”) e Gabrielle Fleck (“Sem Fôlego”).
PASÁRGADA
O primeiro longa-metragem dirigido por Dira Paes (atriz de “Pureza”), que também atua como protagonista, narra a história de Irene, uma bióloga especializada em ornitologia (o estudo de aves), que vive em reclusão na Mata Atlântica. Aos 50 anos, Irene é uma mulher solitária que se dedica completamente ao seu projeto de pesquisa, mas, ao longo da trama, começa a redescobrir sua própria ancestralidade e enfrentar dilemas relacionados à sua vida pessoal e profissional.
Um dos principais personagens é Manuel (interpretado por Humberto Carrão, de “Marighela”), um jovem guia que conhece profundamente a fauna local e que ajuda Irene a navegar tanto pela floresta quanto seus próprios dilemas internos. Com andamento lento e trama introspectiva, a produção aborda a conexão com a natureza, os desafios da maturidade e o desejo de liberdade, inspirando-se no poema “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira, para expressar essa busca por um refúgio pessoal e espiritual. O filme foi premiado no Festival de Gramado de 2024 na categoria de Melhor Design de Som, o que reflete a importância do som para criar uma experiência sensorial profunda dentro de sua história contemplativa.
O DIA QUE TE CONHECI
A comédia romântica da produtora indie Filmes de Plástico acompanha Zeca, um bibliotecário que enfrenta desafios diários como pegar ônibus para trabalhar na cidade vizinha e lidar com a dificuldade de manter sua rotina. A vida de Zeca toma um rumo inesperado quando ele conhece Luisa, uma colega de trabalho que lhe dá a notícia de sua demissão, ao mesmo tempo em que, compadecida, lhe oferece uma carona para casa. Dessa interação surge uma conexão inesperada. A relação entre os dois evolui gradualmente, do formal ao romântico, enquanto ambos lidam com questões pessoais, como o uso de medicamentos psiquiátricos e o isolamento social.
Com uma abordagem sensível do cotidiano, o longa do mineiro André Novais Oliveira retrata situações comuns com humor e leveza, como o transporte público problemático e as interações casuais que acabam revelando profundidade emocional, sem cair em clichês tradicionais do gênero romântico. O elenco central é formado por Renato Novaes, irmão do diretor, e Grace Passô, que voltam a ser dirigidos por Oliveira após o premiadíssimo “Temporada”, vencedor do Festival de Brasília de 2018.
PACTO DE REDENÇÃO
Em seu segundo filme como diretor, o astro Michael Keaton (“Os Fantasmas Ainda se Divertem – Beetlejuice Beetlejuice”) interpreta John Knox, um assassino profissional que descobre estar sofrendo de demência progressiva, o que complica ainda mais sua vida perigosa. Com o tempo correndo contra ele, Knox recebe um apelo desesperado de seu filho afastado, que matou um homem num acesso de raiva, após sua filha ser abusada. Para se reconectar com o filho e evitar sua prisão, Knox inicia uma corrida contra a polícia para encobrir o crime e contra o relógio da sua própria mente, que se deteriora rapidamente.
O elenco inclui nomes de peso como Al Pacino (“Casa Gucci”), que interpreta um velho amigo de Knox, James Marsden (“Sonic – O Filme”), no papel de seu filho, além de Marcia Gay Harden (“The Morning Show”) e a polonesa Joanna Kulig (“Guerra Fria”).
A FORJA – O PODER DA TRANSFORMAÇÃO
O novo filme evangélico do diretor Alex Kendrick e seu irmão roteirista Stephen Kendrick acompanha Isaiah Wright (interpretado por Aspen Kennedy, da série religiosa “Kingdom Business”), um jovem de 19 anos que, um ano após se formar no ensino médio, ainda não encontrou direção para sua vida. Ele é pressionado por sua mãe a tomar decisões mais responsáveis e construir um futuro melhor, então encontra um mentor cristão (Cameron Arnett, “Forty-Seven Days with Jesus”) que o ajuda a descobrir seu propósito através de ensinamentos bíblicos e lições de vida. A história também traz a personagem Miss Clara (Karen Abercrombie), que volta ao cinema quase uma década após o maior sucesso dos irmãos Kendrick, “Quarto de Guerra” (2015).
Como é típico do gênero dos dramas de fé, a produção parece um telefilme antigo, com atores pouco conhecidos e foco maior na mensagem de conversão religiosa do que em aspectos técnicos cinematográficos.
DEIXE-ME
O drama suíço acompanha Claudine (interpretada por Jeanne Balibar), uma costureira que cuida sozinha de seu filho com deficiência. Cada terça-feira, Claudine escapa de sua rotina ao viajar para um hotel nas montanhas, onde se envolve com homens de passagem. Essa prática funciona como uma fuga de sua vida cotidiana restrita e das responsabilidades maternas. O enredo muda quando ela conhece Michael (Thomas Sarbacher, de “A Onda”), um engenheiro alemão que decide prolongar sua estadia no hotel por causa dela. Esse relacionamento inesperado a faz reconsiderar seu futuro e a possibilidade de uma nova vida, além das obrigações que a definem.
O primeiro longa de Maxime Rappaz pondera a dicotomia entre a solidão e o desejo de pertencimento, mas também se destaca pela paisagem alpina deslumbrante e pela delicada atuação de Balibar (de “Barbara” e “Guerra Fria”), que transmite as tensões internas de uma mulher presa entre o dever e o anseio por liberdade. Foi premiado nos festivais de Zurique, na Suíça, e Vancouver, no Canadá.
PAUL MCCARTNEY AND WINGS – ONE HAND CLAPPING
Praticamente considerado “perdido”, o documentário de David Litchfield (que trabalhou nos efeitos de “Alien” e “Aliens”) captura a banda Wings no lendário Abbey Road Studios em 1974, gravando o que deveria ser um álbum “ao vivo no estúdio”, que nunca foi lançado até este ano. O filme oferece um olhar íntimo sobre as sessões de gravação, revisitando alguns dos maiores sucessos da banda de Paul McCartney, como “Band on the Run,” “Live and Let Die” e “Jet”, além de momentos pessoais dos artistas, incluindo performances acústicas exclusivas de Paul.
Filmado em apenas quatro dias, o registro fornece uma visão rara da dinâmica interna do grupo enquanto McCartney trabalhava para definir sua identidade musical pós-Beatles. Ele aparece em modo extremamente colaborativo com a esposa e tecladista Linda McCartney e o guitarrista Denny Laine, ambos já falecidos. Além disso, o filme contém entrevistas que detalham o processo criativo e momentos descontraídos, como exibições de artes marciais do baterista Geoff Britton.
Apesar de não ter sido lançado na época, “One Hand Clapping” tornou-se uma peça cult entre os fãs de McCartney, graças à proliferação de cópias piratas. Com a passagem do tempo, a fama do material “perdido” só aumentou, o que motivou sua restauração, ampliação e primeira exibição oficial nas telas, junto com o lançamento do disco gravado na ocasião, 50 anos após os registros originais.
ANTONIO CANDIDO, ANOTAÇÕES FINAIS
O veterano documentarista Eduardo Escorel (“1930 – Tempo de Revolução”) usa os últimos cadernos escritos pelo crítico literário e sociólogo Antonio Candido, antes de sua morte em 2017, aos 98 anos, para expor seus pensamentos finais sobre temas como a fragilidade física, a política brasileira, lembranças de sua infância, suas preferências literárias e cinematográficas, além de memórias de sua esposa, Gilda de Mello e Souza.
A narrativa é conduzida pela voz do ator Matheus Nachtergaele, que lê os textos de Candido com uma cadência introspectiva e melancólica. Para ilustrar o texto, Escorel utiliza imagens do apartamento de Candido, de seus cadernos escritos à mão e registros familiares para criar uma reflexão íntima sobre a passagem do tempo e a sabedoria acumulada pelo intelectual ao longo de sua vida. A obra dá acesso à mente de um dos mais importantes pensadores brasileiros, proporcionando ao público uma visão não apenas de sua genialidade, mas também de sua humanidade e suas reflexões sobre o Brasil contemporâneo.
TERRA DE CIGANOS
O documentário examina a vida de várias comunidades ciganas no Brasil, que abriga a terceira maior população cigana do mundo, com cerca de 800 mil membros. Com uma abordagem de road movie musical, o diretor estreante Naji Sidki retrata as tradições, adversidades e a arte das famílias ciganas, especialmente no que diz respeito à música. A obra destaca como esses grupos buscam preservar sua cultura e identidade enquanto se integram à sociedade brasileira, onde permanecem muitas vezes invisíveis ou marginalizados.