A programação de cinema destaca o elogiado “Longlegs”, terror com Nicolas Cage psicopata, e “Estômago 2 – O Poderoso Chef”, continuação do sucesso nacional de 2007. Os dois são os títulos de maior apelo comercial, mas o circuito limitado oferece várias outras opções, incluindo “Cidade; Campo”, que foi premiado no Festival de Berlim, e a versão restaurada do clássico documentário musical “Stop Making Sense”, que captura o auge da banda Talking Heads nos anos 1980.
LONGLEGS – VÍNCULO MORTAL
A trama de um dos terrores mais comentados do ano, com 86% de aprovação no Rotten Tomatoes e recorde de bilheteria do estúdio indie americano Neon, segue uma jovem agente do FBI que investiga assassinatos brutais cometidos por um serial killer conhecido como “Longlegs”. Este assassino tem uma obsessão por famílias com filhas nascidas no dia 14, deixando mensagens criptografadas e satanistas nas cenas dos crimes. A investigação a leva a descobrir uma conexão pessoal e perturbadora com o psicopata, em meio a segredos sombrios sobre seu próprio passado e sua família, além de levá-la a explorar temas de trauma e o legado do mal.
Com clima especialmente macabro, o longa tem direção de Oz Perkins (“Maria e João: O Conto das Bruxas”), filho do ator Anthony Perkins (“Psicose”), e traz Maika Monroe (“Corrente do Mal”) como a agente e Nicolas Cage (“O Peso do Talento”) como Longlegs. A performance alucinada do ator e a construção de suspense ao longo da trama fazem de “Longlegs” um dos lançamentos mais tensos de 2024. Um detalhe curioso é que a trilha sonora intrigante foi composta pelo irmão do diretor, Elvis Perkins, que assina como Zilgi.
ESTÔMAGO 2 – O PODEROSO CHEF
A aguardada sequência de “Estômago” (2007) retoma a história de Raimundo Nonato (João Miguel), que, 15 anos após os eventos do primeiro filme, agora comanda a cozinha de uma prisão. No entanto, sua posição é ameaçada com a chegada de um chef mafioso italiano (Nicola Siri, de “O Traidor”), criando uma disputa intensa pelo controle do presídio. Para sobreviver e manter sua posição, Raimundo precisará se aliar ao atual líder dos detentos, interpretado por Paulo Miklos (“O Homem Cordial”).
A direção e o roteiro são novamente de Marcos Jorge e Lusa Silvestre, respectivamente, trazendo de volta a mistura de comédia e drama que transformou o primeiro filme num grande sucesso.
CIDADE; CAMPO
O drama premiado de Juliana Rojas (“As Boas Maneiras”) aborda a migração entre os ambientes urbano e rural em duas histórias de sinais trocados. Na primeira, Joana migra para São Paulo após o rompimento de uma barragem de dejetos de mineração inundar sua cidade natal. Na capital, ela enfrenta as dificuldades do trabalho precarizado, se envolvendo em uma luta coletiva por melhores condições junto com seus novos colegas de emprego. Na segunda história, Flávia se muda com Mara, sua companheira, para a fazenda que herdou do pai, falecido recentemente. Mas ao tentar se adaptar à vida no campo, o casal se defronta com os desafios de um ambiente hostil e desconhecido.
O quarto longa-metragem de ficção de Rojas foi rodado na cidade de São Paulo e na zona rural do Mato Grosso do Sul. O lançamento aconteceu no Festival de Berlim, onde encantou a crítica internacional e recebeu o prêmio de Melhor Direção na seção Encounters, criada para fomentar trabalhos ousados de cineastas independentes e inovadores. O elenco destaca Fernanda Vianna (“Justiça”), Mirella Façanha (“Samantha!”) e Bruna Linzmeyer (“Pantanal”).
ZÉ
A cinebiografia retrata a vida de José Carlos Mata Machado, um líder estudantil torturado até a morte nos porões do DOI-Codi após se envolver na luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Ambientado no começo dos anos 1970, o filme segue Zé, que abandona sua vida de classe média para se juntar à resistência junto com sua parceira Bete, enfrentando a dura realidade da militância clandestina enquanto criam seus filhos em meio a privações e perseguições. O diretor Rafael Conde (“Samba Canção”) constrói uma narrativa focada na experiência humana e nos desafios emocionais enfrentados pelos militantes, mas evita cenas explícitas de violência, optando por retratar a tortura e o medo de forma mais sutil e psicológica.
Numa justiça poética, após o fim da ditadura, o nome de José Carlos Mata Machado foi dado a uma rua em Belo Horizonte, cuja antiga denominação era Dan Mitrione, torturador que veio dos Estados Unidos para o Brasil com o objetivo de ensinar “Métodos Modernos de lnterrogatório” aos policiais e militares.
BERNADETTE
A veterana Catherine Deneuve (“Bem Amadas”) vive a personagem-título, Bernadette Chirac, esposa do ex-presidente francês Jacques Chirac, explorando sua trajetória com humor e perspicácia. Figura pública muitas vezes ofuscada pelo marido, ela sofre uma transformação de esposa tradicional e discreta numa figura central da política francesa. Em tom de sátira, o primeiro longa da diretora Léa Domenach mostra como Bernadette usava posição como primeira-dama para se envolver em projetos sociais, especialmente com o desenvolvimento do programa “Pièces Jaunes”, uma campanha de arrecadação de fundos para hospitais. Sua persistência e capacidade de manobrar dentro do sistema político lhe garantiram respeito e reconhecimento, gerando reconhecimento e autonomia em um cenário que frequentemente a subestimava. A obra recebeu indicação ao César (o Oscar francês) de Melhor Filme de Estreia.
A CAÇA
Em fuga de uma guerra civil, um grupo de refugiados africanos fica à deriva no Mediterrâneo e acaba sendo resgatado por um iate que lhes oferece abrigo em uma ilha. O que inicialmente parecia um milagre, logo se torna um pesadelo quando os anfitriões mostram suas intenções verdadeiras: caçar seus visitantes por esporte.
Primeiro grande projeto de destaque do diretor Louis Lagayette, que explora temas sombrios como a violência e a desumanização, “A Caça” divide opiniões. Por um lado, a tensão e a atmosfera envolvem o espectador, mas, por outro, o roteiro peca pela falta de profundidade.
PETS EM AÇÃO!
A animação segue as aventuras de Grace e Pedro, dois animais de estimação que se encontram em uma jornada cheia de desafios e diversão. Gracie é uma cachorrinha de raça que acredita ser a melhor de todas, enquanto Pedro é um gato recém-adotado que se contenta até com jantar do lixo. Apesar de serem da mesma família, eles não se suportam e vivem discutindo por qualquer coisinha. Mas, durante uma viagem em família, acabam se perdendo no aeroporto e precisam superar suas diferenças para encontrar o caminho de volta para casa.
Dirigida por Kevin Donovan (sumido desde “O Terno de Dois Bilhões de Dólares” com Jackie Chan em 2002) e Gottfried Roodt (criador da série animada sul-africana “Noodle and Bun”), a produção é uma colaboração internacional entre Estados Unidos, África do Sul e Canadá, e combina humor com lições de amizade e trabalho em equipe.
STOP MAKING SENSE
Considerado um dos maiores filmes de concerto de todos os tempos, o registro histórico da banda Talking Heads está sendo relançado em comemoração ao seu 40º aniversário. Originalmente dirigido por Jonathan Demme (que depois venceu o Oscar por “O Silêncio dos Inocentes”), o documentário da turnê de 1984 foi restaurado em 4K para esta nova edição, que inclui exibições em IMAX. No registro famoso, a banda toca sucessos como “Psycho Killer”, “Take Me to the River” e “Once in a Lifetime”.
FERNANDA YOUNG – FOGE-ME AO CONTROLE
O documentário celebra a criador de “Os Normais” em todas suas facetas, de insana a consciente, de feminista punk a mãe apaixonada. Também conhecida pelas opiniões firmes no “Saia Justa”, a obra da diretora Susanna Lira (“Torre das Donzelas”) reforça como Fernanda Young sacudiu a televisão brasileira e se tornou uma das vozes mais importantes da sua geração.