Estreias | Semana fria destaca terror e lançamentos limitados no cinema

O horror canadense "Hora do Massacre" e o drama histórico italiano "O Sequestro do Papa" são as principais novidades da programação

Divulgação/StudioCanal

Com os cinemas batendo recordes de bilheteria com blockbusters animados, a programação desta quinta (18/7) freia o ritmo com uma seleção de lançamentos voltada ao circuito de arte. A maioria das novidades da semana tem distribuição limitada, voltada para nichos de fãs de cinema europeu e latino, além do público de documentários. A exceção é o terror independente “Hora do Massacre”, slasher da geração Ikea/TokStok, comandado pelo trio canadense RKSS. Confira todas as estreias.

 

HORA DO MASSACRE

 

O novo terror do coletivo canadense RKSS Film Collective (ou Roadkill Superstars) segue um grupo de jovens ativistas ambientais que decide vandalizar uma megastore de móveis como forma de protesto contra o desmatamento da Amazônia. No entanto, o plano dá errado quando eles ficam presos dentro da loja labiríntica e são perseguidos por um segurança perturbado, adepto da caça ritualística. Enquanto tentam escapar, os protagonistas enfrentam situações de extrema violência e terror.

As vítimas de assassinatos brutais são interpretadas por atores novatos. Os mais conhecidos são Turlough Convery (“Killing Eve”) e Benner O. Arthur (“Django”). Na verdade, o destaque pertence à direção do trio François Simard, Anouk Whissell e Yoann-Karl Whissell, que chamou atenção com “Turbo Kid” em 2015, uma incursão estilizada às sci-fis dos anos 1980, passada no futuro distante de… 1997. Agora, eles aprofundam o terror testado em “Verão de 84” (2018) com uma abordagem visceral. A concepção mantém sua ironia característica e acrescenta subtexto anticapitalista, reviravoltas inesperadas e um rompimento com os clichês habituais do subgênero slasher.

 

O SEQUESTRO DO PAPA

 

O veterano diretor italiano Marco Bellocchio, do clássico “De Punhos Cerrados” (1965) e do recente “O Traidor” (2019), dirige o drama histórico sobre Edgardo Mortara, um menino judeu que foi sequestrado em 1858 em Bolonha, Itália. A ordem veio do Papa Pio IX, após Edgardo ser batizado secretamente por sua babá. O filme acompanha a luta desesperada dos pais de Edgardo para recuperá-lo, enfrentando a resistência do Vaticano e a crescente indignação pública.

A trama foca nas consequências políticas e religiosas do sequestro, explorando como este evento gerou controvérsia internacional e debate sobre os direitos civis e a autoridade da Igreja. Edgardo foi levado à força para Roma, onde foi educado como católico, enquanto seus pais fizeram várias tentativas, tanto legais quanto pessoais, para trazê-lo de volta para casa. O escândalo se tornou um símbolo do fim das tradições autoritárias da Igreja.

Exibido no Festival de Cannes, a obra venceu o David di Donatello (o Oscar italiano) de Melhor Roteiro Adaptado, escrito pelo próprio Bellocchio em parceria com a cineasta Susanna Nicchiarelli (“Nico, 1988”).

 

DIVERTIMENTO

 

O drama francês é baseado na história real de Zahia Ziouani, uma jovem de 17 anos que sonha em se tornar maestrina. Ambientado na Paris de 1995, Zahia enfrenta inúmeros desafios devido à sua origem humilde e ao preconceito por ser filha de imigrantes argelinos. Determinada a tornar a música clássica acessível a todos, Zahia, junto com sua irmã gêmea Fettouma, que deseja ser uma violoncelista profissional, decide criar uma orquestra chamada Divertimento, composta por músicos diversos de sua comunidade imigrante.

Para sua narrativa inspiradora e edificante, a diretora Marie-Castille Mention-Schaar (“Os Herdeiros”) mergulha no mundo da música clássica, sem perder de vista a luta de Zahia contra as adversidades sociais e culturais para alcançar seu sonho. O elenco inclui Oulaya Amamra (“Sal das Lágrimas”) como Zahia Ziouani, Lina El Arabi (“Olhos do Deserto”) como Fettouma, e o veterano Niels Arestrup (“O Profeta”) como o maestro Sergiu Celibidache, que serve de inspiração para Zahia.

 

HACHIKO – PARA SEMPRE

 

A famosa história de lealdade entre um cão e seu dono promete tocar o coração do público… mais uma vez. Como deixa claro o título, o filme é baseado na história real de Hachiko, um cão Akita japonês que esperou diariamente pelo seu dono falecido na estação de trem durante uma década, entre 1925 e 1935. A nova versão troca a ambientação original pela China contemporânea, mas mantém a essência da história, que já teve diversas versões japonesas e uma americana com Richard Gere (“Para Sempre a Seu Lado”) em 2007.

A direção é de Ang Xu (“12 Citizens”) e o elenco inclui Jugang Ba (“Sr. Seis”), Joan Chen (“O Último Imperador”) e Xiaogang Feng (“Amor Até as Cinzas”).

 

A FILHA DO PESCADOR

 

A coprodução entre várias empresas de cinema da América Latina gira em torno de Samuel, o último pescador de garoupas em mergulho livre, que vive isolado na ilha de La Aguja. Sua vida muda drasticamente quando ele recebe a visita inesperada do filho há muito distante, que agora é Priscila, uma prostituta trans da Colômbia, que está fugindo de agiotas. Apesar da rejeição inicial de ver o filho voltar como filha, Samuel, que vive amargurado pela partida de sua esposa e da criança há 15 anos, permite que Priscila fique, mas sua presença é observada com estranheza pelos outros pescadores.

A estreia do diretor Edgar De Luque Jácome explora temas de identidade, aceitação e a dinâmica complexa entre pai e filha em um ambiente isolado, contrastando a tranquilidade da vida na ilha com os conflitos internos dos personagens.

 

GREICE

 

A personagem-título é uma jovem brasileira que estuda e trabalha em Lisboa, Portugal. Durante uma festa do curso de Belas Artes, ela se envolve com Afonso, um homem misterioso, e é acusada de provocar um incidente no evento. Suspensa e com a necessidade de renovar sua permissão de residência, Greice precisa voltar a Fortaleza, sua cidade natal no Brasil, onde tenta esconder os problemas de sua família e navegar por dilemas emocionais e culturais trazidos por seu retorno às raízes.

Coprodução entre Brasil e Portugal, a obra destaca as complexidades das escolhas e a busca por pertencimento, e rendeu a Leonardo Mouramateus o troféu de Melhor Direção no Festival IndieLisboa. O longa estrelado por Amandyra (“Da Ponte para Lá”) também venceu a 13ª edição do Festival Olhar de Cinema, em Curitiba.

 

LO QUE QUEDA EN EL CAMINO

 

O documentário segue a jornada de Lilian, uma mãe solteira que decide deixar sua terra natal na Guatemala com quatro filhos pequenos, em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos. Sua trajetória é acompanhada por dois diretores, o brasileiro Danilo do Carmo (“Preto Tá na Moda”) e o alemão Jakob Krese (“Home Sweet Home”), oferecendo uma visão íntima e realista dos desafios enfrentados pelos migrantes durante a perigosa travessia intercontinental – desde a passagem por regiões controladas por gangues até a dependência de traficantes de pessoas. O longa captura momentos de tensão e desespero, mas também de esperança e solidariedade entre os migrantes.

 

A MÚSICA NATUREZA DE LÉA FREIRE

 

O documentário brasileiro oferece uma visão poética da relação entre a musicista Léa Freire e a natureza. Dirigido por Lucas Weglinski, conhecido por “Máquina do Desejo – 60 Anos do Teatro Oficina”, o longa explora como a natureza inspira a criação musical de Freire, destacando a importância da preservação ambiental. O documentário utiliza entrevistas e performances em busca de materializar o processo criativo da artista e pretende agradar tanto aos amantes da música quanto aqueles preocupados com questões ecológicas.

 

BLUE LOCK – EPISÓDIO NAGI

 

A animação japonesa é baseada no popular mangá e anime “Blue Lock”, sobre jogadores de futebol do ensino médio. Este episódio especial foca em Nagi Seishiro, oferecendo aos fãs da série uma viagem nostálgica pelos eventos da 1ª temporada, mas sob a perspectiva do jovem prodígio, conhecido por sua habilidade técnica extraordinária e atitude indiferente. A abordagem proporciona uma nova visão sobre os eventos já conhecidos, capturando tanto novos espectadores quanto aqueles que já acompanham a série.

A narrativa começa mergulhando os espectadores no ambiente intenso do Blue Lock, um programa de treinamento rigoroso criado para desenvolver o melhor atacante do mundo. Nagi, talentoso mas sem empolgação, é inserido neste cenário de alta pressão onde apenas os mais dedicados têm sucesso. O filme mostra sua evolução de um gênio preguiçoso para um competidor determinado, enquanto lida com os desafios do treinamento e das rivalidades em novas cenas e momentos expandidos, que proporcionam uma compreensão mais profunda de sua jornada.

A adaptação da obra dos mangakas Muneyuki Kaneshiro e Yusuke Nomura é dirigida por Shunsuke Ishikawa, conhecido por seu trabalho em “Sword Art Online”, e visa tantos otakus quanto fãs de esportes, graças à sua representação intensa e realista de competição esportiva.