A cantora Françoise Hardy, uma das maiores vozes da música francesa, morreu nesta terça-feira (11/6) aos 80 anos. A notícia foi confirmada por seu filho, Thomas Dutronc, nas redes sociais. “Mamãe se foi,” escreveu Thomas em uma publicação no Instagram, acompanhada de uma foto dele quando era bebê no colo da mãe. Hardy enfrentava um câncer na faringe desde 2018 e já havia sido diagnosticada com um câncer linfático em 2004. Ela se afastou da música nos últimos anos devido aos efeitos debilitantes de seu tratamento, incluindo dificuldades para engolir e dores crônicas.
Sucesso musical nos anos 1960
Nascida em Paris em 1944, Françoise Hardy emergiu como uma das principais figuras do movimento yé-yé nos anos 1960 (iê-iê-iê no Brasil), conquistando a Europa com sua voz suave e estilo distinto. Seu sucesso “Tous les Garçons et les Filles”, lançado em 1962, vendeu milhões de cópias e a catapultou para a fama aos 18 anos de idade. Hardy não só conquistou o público francês, mas também ganhou notoriedade internacional, gravando versões de suas músicas em italiano, alemão e inglês.
Além de seu sucesso no yé-yé, a artista também se aventurou no folk. Em 1968, ela gravou uma versão da canção “Suzanne” de Leonard Cohen que se tornou um marco significativo em sua carreira, aproximando-a da sensibilidade poética e introspectiva da música de protesto. Hardy foi uma das primeiras artistas francesas a adotar influências do movimento folk, que estava em ascensão nos Estados Unidos na década de 1960, ajudando a popularizar o gênero na França enquanto expandia seu próprio repertório musical
Entre 1962 e 1973, ela lançou um álbum por ano, consolidando seu status como uma das maiores artistas da época. Alguns de seus maiores sucessos incluem “Le Temps de l’Amour,” “Comment te Dire Adieu” e “Mon Amie la Rose”. Ela trabalhou com compositores renomados como Serge Gainsbourg, que escreveu para ela o hit “Comment te Dire Adieu”, e Michel Berger, que compôs duas canções para o álbum “Message Personnel” (1973).
Influência na moda e no cinema
Com o fotógrafo Jean-Marie Périer, com quem se relacionou até 1967, Françoise entrou no mundo da moda atuando como modelo, e tornou-se um ícone fashion. Em colaboração com designers renomados como Yves Saint-Laurent e Paco Rabanne, ela influenciou a moda dos anos 1960 com seu estilo característico de minissaias e botas brancas – que ela usou de forma emblemática no clipe de “Mini Mini Mini”, de Jacques Dutronc em 1966.
Neste mesmo período, ela começou a atuar em filmes como “Castelo na Suécia” (1963) de Roger Vadim, “Une Balle au Coeur” (1966) de Jean-Daniel Pollet, e “Masculino e Feminino” (1966) de Jean-Luc Godard. Hardy também filmou em Hollywood, participando de “O que É que Há, Gatinha?” (1965), dirigido por Clive Donner e roteirizado por Woody Allen, onde contracenou com Peter Sellers e Peter O’Toole, e do clássico de corridas “Grand Prix” (1966), de John Frankenheimer.
Romance com Jacques Dutronc
Em 1967, Françoise Hardy começou um relacionamento com o músico Jacques Dutronc. Os dois tiveram um filho, Thomas Dutronc, nascido em 1973. Eles se casaram em 1981, mas se separaram em 1987, mantendo uma relação próxima e nunca se divorciando oficialmente. Hardy e Dutronc formaram um dos casais mais emblemáticos da música francesa, com suas vidas pessoais e profissionais frequentemente entrelaçadas. Juntos, eles gravaram hits como “Les Garçons” e “Puisque vous Partez en Voyage”.
Luta contra o câncer
Nos últimos anos, Françoise Hardy enfrentou diversos problemas de saúde. Além do câncer linfático diagnosticado em 2004, ela lutou contra um câncer na faringe desde 2018, submetendo-se a tratamentos intensivos como imunoterapia e radioterapia. Esses tratamentos causaram efeitos colaterais severos, como dificuldade em engolir e dores persistentes.
Seu último álbum, “Personne d’autre,” lançado em 2018, refletiu essa luta contra a doença e foi aclamado pela crítica.
Em 2021, Hardy escreveu uma carta aberta ao presidente francês Emmanuel Macron, publicada no jornal La Tribune du Dimanche, pedindo a legalização da eutanásia na França. “Quero partir em breve e de maneira rápida”, disse ela em um trecho da carta, defendendo o direito de morrer com dignidade.