O filme argentino “Simón de la Montaña” foi o grande vencedor da Semana da Crítica do Festival de Cinema de Cannes, onde seu diretor criticou os cortes na Cultura feitos pelo presidente Javier Milei.
A obra dirigida por Federico Luis é uma das sete produções argentinas nesta edição do Festival, sendo considerado o maior contingente latino-americano participante no evento, que acontece em meio a um cenário conturbado no país.
“Este é o momento crucial em que você tem que levantar a cabeça e lutar com o dobro de esperança, porque quando há um grande inimigo na sua frente, o desejo de lutar se torna muito grande”, declarou o ator Lorenzo Ferro, que interpretou Simón.
Atualmente, a Argentina enfrenta uma grave crise econômica sob o governo ultraliberal de Milei, que visa reduzir gastos do Estado com diversos cortes, incluindo programas de apoio ao cinema do país, como a instituição INCAA, que demitiu mais de um quarto de seus funcionários e interrompeu o recebimento de novo projetos audiovisuais por 90 dias.
“O governo embarcou em uma cruzada contra a Cultura, a Ciência e a Educação”, disseram os profissionais do cinema argentino em um comício realizado em Cannes no último domingo (19/5), quando exibiram uma faixa com o slogan “Cine Argentino Unido”.
“A indústria cinematográfica não é apenas uma questão econômica. Dada a importância mínima dos cortes propostos para as finanças públicas, só podemos pensar que essas ações são um ataque ideológico”, acrescentam eles, mencionando o grande impacto sobre a futura produção cinematográfica da Argentina.
Apoio em Cannes
Os organizadores do Festival de Cannes demonstram apoio às críticas dos profissionais argentinos desde o início dos cortes de Milei. A Quinzena dos Diretores também criticou a situação do país, “embora esteja repleto de cineastas únicos e empolgantes”.
Segundo o diretor-geral do evento, Thierry Frémaux, o cinema nacional é como uma “arma patriótica” que pode melhorar a cultura de um país. Além disso, ele comparou a “difícil situação” da indústria cinematográfica argentina com a boa tendência da área no Brasil.
Presente no evento, o diretor Hernán Rosselli reconheceu que os filmes enfrentarão maior dificuldade. “Os filmes continuarão a ser feitos com muito esforço, porque os cineastas não deixarão de filmar, mas a indústria cinematográfica, o trabalho no cinema, sofrerá muito”, afirmou.