Estreias | “Furiosa: Uma Saga Mad Max” chega aos cinemas

Outros destaques da programação incluem o thriller de ação "Fúria Primitiva" e duas comédias brasileiras estreladas por Giulia Benite

Divulgação/Warner Bros

“Furiosa”, o quinto filme da “saga Mad Max”, é o principal lançamento nos cinemas, ocupando a maior quantidade de telas nesta quinta (23/5). Aguardado com ansiedade pelos fãs da franquia premiada, especialmente após a repercussão positiva de sua première no Festival de Cannes, o longa deve render assunto entre os cinéfilos pelos próximos dias.

Mas a programação também destaca o thriller de ação “Fúria Primitiva” e a comédia dramática “Ás Vezes Quero Sumir”, ambos com avaliações positivas no Rotten Tomatoes, além de incluir cinco títulos brasileiros, com um detalhe curioso: duas comédias tem o mesmo diretor e estrela, respectivamente Hsu Chien Hsin e Giulia Benite (a menina Mônica da “Turma da Mônica”, agora em versão “Jovem”). Confira todas as estreias.

 

FURIOSA – UMA SAGA MAD MAX

 

O retorno épico do diretor George Miller ao mundo pós-apocalíptico e ultraviolento de Mad Max é um compilado de perseguições de veículos pela imensidão desértica, cenas de adrenalina intensa, promessas de vingança e muitas colisões de metal com carne e ossos. Centrado na principal personagem feminina de “Mad Max: Estrada da Fúria” – vivida por Charlize Theron em 2015 – , a produção conta a origem de Furiosa, mostrando como ela foi sequestrada do Green Place das Muitas Mães para cair nas mãos da grande horda de motoqueiros liderada pelo Senhor da Guerra Dementus. Jurando vingança, ela encontra a cidadela controlada por Immortan Joe. E enquanto os dois tiranos lutam pelo poder, Furiosa aprende a sobreviver aos desafios que a impedem de voltar para casa.

O elenco destaca Anya Taylor-Joy (“O Gambito da Rainha”) no papel-título e Chris Hemsworth (“Thor: Amor e Trovão”) como Dementus. Já a produção volta a reunir o diretor George Miller com a equipe de “Mad Max: Estrada da Fúria”, incluindo a editora Margaret Sixel, a figurinista Jenny Beavan e o compositor Junkie XL. Mas o visual tem um novo diretor de fotografia, Simon Dugan (“300: A Ascensão do Império”), que substituiu o recém-aposentado John Seale com texturas digitais.

Bastante aplaudido no Festival de Cannes, onde teve sua première mundial na semana passada, o filme conquistou a simpatia da crítica mundial e está avaliado com 85% de aprovação no site Rotten Tomatoes.

 

FÚRIA PRIMITIVA

 

A estreia impressionante do ator Dev Patel (“Quem Quer Ser um Milionário?”) na direção é um thriller de vingança cheio de adrenalina e confrontos intensos. No estilo das lutas insanas de “John Wick”, a trama se passa na Índia e traz inspirações da mitologia hindu, especialmente na figura de Hanuman, símbolo de devoção, força e coragem.

Além de dirigir, Patel estrela a produção no papel de “Kid”, um jovem que sobrevive participando de um clube de luta clandestino, onde é constantemente derrotado enquanto usa uma máscara de gorila. Conforme cresce movido por uma raiva profunda, ele inicia uma jornada de vingança contra os líderes corruptos responsáveis pela morte de sua mãe e pela exploração contínua dos mais desfavorecidos.

Embora o filme seja um thriller de ação, ele utiliza o pano de fundo da sociedade indiana onde o sistema de castas historicamente estratificado influencia as dinâmicas sociais e econômicas. “Kid”, como um personagem marginalizado, é representativo dos muitos que se encontram nas camadas inferiores deste sistema, lutando por sobrevivência em condições adversas. Sua participação em lutas clandestinas e sua vida nas sombras da sociedade são simbólicas das limitações impostas por sua posição social. A injustiça que ele enfrenta e sua subsequente busca por vingança são amplificadas pelo contexto desse sistema, contra manifestações do abuso de poder e privilégio que perpetuam a desigualdade e a exploração.

A inspiração na figura de Hanuman, um herói divino conhecido por sua força e coragem, serve como um símbolo de resistência e empoderamento contra as adversidades impostas pelo sistema. Ele é uma das figuras mais importantes e veneradas no panteão hindu, conhecido por sua devoção inabalável ao deus Rama, conforme narrado no épico “Ramayana”. Hanuman é frequentemente descrito como tendo o rosto de um macaco e um corpo forte. No longa, Patel lança mão desse simbolismo para agir como um John Wick hindu.

O elenco ainda inclui Sharlto Copley (“Distrito 9”), Pitobash (“Um Conto Indiano”), Vipin Sharma (“Atentado ao Hotel Taj Mahal”), Ashwini Kalsekar (“Assassinato às Cegas”), Adithi Kalkunte (“Atentado ao Hotel Taj Mahal”), Sikandar Kher (“Aarya”), Makarand Deshpande (“RRR”) e a estrela de Bollywood Sobhita Dhulipala (“Felizes para Sempre”) em sua estreia em Hollywood.

Patel também co-roteirizou o filme, que foi produzido por Jordan Peele, o diretor de “Corra!”. Por sinal, “Fúria Primitiva” foi inicialmente planejado para um lançamento exclusivo na Netflix, mas a paixão de Peele pelo projeto ajudou a colocá-lo no cinema. A estreia nos Estados Unidos arrancou muitos elogios da critica, atingindo 89% de aprovação no Rotten Tomatoes.

 

ÀS VEZES QUERO SUMIR

 

A comédia dramática explora a vida de Fran, uma mulher socialmente ansiosa e emocionalmente contida, interpretada por Daisy Ridley (“Star Wars: A Ascensão Skywalker”). Fran trabalha em um ambiente de escritório opressor e passa boa parte de seu tempo imersa em fantasias de morte. A rotina começa a mudar com a chegada de um novo colega de trabalho, vivido por Dave Merheje (“Ramy”), um extrovertido que, aos poucos, a incentiva a sair de sua concha e explorar novas possibilidades na vida.

O filme se baseia num curta de 2019, dirigido por Stefanie Abel Horowitz, e em uma peça de 2013 chamada “Killers” de Kevin Armento. Os dois são creditados como autores da história, mas a versão do longa-metragem, dirigida por Rachel Lambert (“I Can Feel You Walking”), foca exclusivamente na história de Fran, deixando de lado outras narrativas presentes na peça original. A adaptação destaca-se pela atmosfera surreal e pela representação autêntica da vida cotidiana da protagonista, que é pontuada por suas fantasias mórbidas. Para completar, a cinematografia utiliza cenas do ambiente natural ao redor de Fran, integrando-as ao seu estado emocional dissociado, o que contribui para uma atmosfera sonhadora.

Embora aborde temas pesados, o enredo não é sombrio ou niilista, oferecendo momentos de humor e esperança conforme Fran começa a se abrir para novas experiências. Aprovadíssimo pela crítica americana, atingiu 81% de média positiva no Rotten Tomatoes.

MORANDO COM O CRUSH

DE REPENTE, MISS!

 

O prolífico diretor Hsu Chien Hsin, que já tinha assinado a comédia “Licença para Enlouquecer” em 2024, chega com mais dois títulos do gênero, lançados simultaneamente nos cinemas nesta semana – e o ano ainda nem chegou na metade. Ambos são estrelados por Giulia Benite (da franquia “Turma da Mônica”), em papéis que refletem sua entrada na adolescência.

“Morando com o Crush” traz a atriz num romance adolescente com Vitor Figueiredo (“Malhação”). Numa trama típica da anime, eles vivem dois colegas de escola que têm sentimentos ocultos um pelo outro. A situação se complica quando a mãe de Hugo, Antônia (Carina Sacchelli), e o pai de Luana, Fábio (Marcos Pasquim), iniciam um relacionamento e decidem morar juntos. Os jovens precisam então compartilhar o mesmo teto enquanto lidam com suas emoções e a presença constante de seus pais. O roteiro é de Sylvio Gonçalves, das comédias “SOS: Mulheres ao Mar” e “Diários de Intercâmbio”.

Já “De Repente, Miss!” aborda a relação entre mãe e filha. Giulia é a filha de Fabiana Karla (“Rensga Hits!”), que curiosamente se chama Mônica. A mãe abandonou sua promissora carreira na publicidade para criar os filhos e agora, prestes a completar 40 anos, enfrenta uma crise ao questionar as escolhas que fez na vida, especialmente com o distanciamento de sua filha adolescente, Luiza, uma influenciadora digital em ascensão. Seu marido (João Baldasserini) decide presenteá-la com uma viagem em família para um resort famoso, onde um concurso de miss entre os hóspedes vira a oportunidade de Mônica para se reconectar com a filha. O roteiro é de Dani Valente, criadora de “Desjuntados”, e o elenco ainda destaca Danielle Winits (“Os Farofeiros”) como concorrente favorita no concurso.

 

MUNDO NOVO

 

O primeiro longa solo de Alvaro Campos (“Altas Expectativas”) é um drama antirracista inspirado pelo clássico “Adivinhe Quem Vem para Jantar” (1967), que explora o racismo estrutural no Brasil, focando na classe média. Rodada no morro do Vidigal durante a pandemia de Covid-19, em parceria com o grupo Nós do Morro, a produção destaca Tati Villela no papel de Conceição, uma mulher que enfrenta diretamente os desafios impostos pelo preconceito.

Conceição é uma advogada negra casada com Marcelo (Nino Batista), um grafiteiro branco. O casal decide buscar um financiamento bancário para comprar um apartamento no Leblon, após terem passado o isolamento da pandemia de Covid-19 juntos. No entanto, para conseguirem o financiamento, precisam da ajuda de Charles (Kadu Garcia), irmão de Marcelo, cuja participação revela os verdadeiros pensamentos dele sobre o relacionamento interracial​.

“Mundo Novo” foi exibido em importantes festivais de cinema, incluindo o Festival do Rio de 2021, onde ganhou prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Atriz.

 

A ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE

 

O longa psicodélico dirigido e estrelado por Helena Ignez é descrito como um “filme memorial, de amor”, que fala sobre como uma viagem ao Marrocos nos anos 1970 afetou a vida de seus dois protagonistas. Jarda Ícone, interpretada por Helena Ignez, é uma artista, sexóloga e roqueira octogenária que continua a influenciar suas discípulas e amigas com projetos feministas e artísticos autossustentáveis. Lírio Terron, interpretado pelo cantor Ney Matogrosso, é um defensor dos direitos humanos. O elenco também destaca Djin Sganzerla como a versão jovem da personagem vivida por sua mãe.

A produção independente aborda temas como sexualidade e liberdade femininas, e é inspirada pelo trabalho da sexóloga americana Betty Dodson. A narrativa mistura memórias do passado com reflexões sobre o presente, utilizando diferentes mídias e estilos visuais, ao estilo experimental das obras da cineasta. A viúva de Rogério Sganzerla foi atriz dos clássicos “O Bandido da Luz Vermelha” (1968), “A Mulher de Todos” (1969), “Copacabana Mon Amour” (1970) e neste século virou diretora, dando continuidade ao estilo arrojado dos filmes de Sganzerla em longas como “Luz nas Trevas: A Volta do Bandido da Luz Vermelha” (2010), uma homenagem ao clássico do marido, e “A Moça do Calendário” (2018), que combina uma narrativa não linear com diferentes gêneros cinematográficos.

 

CONTO DE FADAS

 

A animação adulta dirigida pelo russo Alexandr Sokurov (“Fausto”) mistura elementos históricos e fictícios para criar uma narrativa surreal e perturbadora. A trama apresenta os líderes da 2ª Guerra Mundial, Adolf Hitler, Josef Stalin, Benito Mussolini e Winston Churchill, no inferno ou purgatório, onde suas interações são retratadas através de um estilo visual único, que combina imagens de arquivo com tecnologia deep-fake.

A ação se desenrola em um cenário desolado e repetitivo, onde os políticos caminham e conversam incessantemente, ridicularizando uns aos outros e refletindo sobre suas vidas e arrependimentos. Stalin, Hitler, Mussolini e Churchill são representados em suas línguas nativas, e suas discussões variam de queixas triviais a lamentações mais sérias sobre suas ações durante suas vidas. Por exemplo, Hitler expressa arrependimento por não ter destruído Londres completamente e Mussolini discute a religião como uma “doença psíquica”.

A obra não segue uma narrativa convencional, optando por uma estrutura mais livre e contemplativa que destaca o vazio e a falta de propósito das almas na pós-morte. A estética é marcada por uma névoa prateada e fundos apocalípticos que contribuem para a atmosfera onírica e inquietante. E embora possa parecer tedioso e repetitivo em alguns momentos, isso é proposital, visando refletir a natureza interminável e sem sentido da situação em que os personagens se encontram

 

THE SHIFT – O DESLOCAMENTO

 

O filme do Angel Studios, mesma produtora da série “The Chosen”, é uma sci-fi inspirada na história bíblica de Jó. A trama acompanha um homem chamado Kevin (Kristoffer Polaha, de “Jurassic World: Domínio”), que é transportado para diferentes realidades. Ele é desafiado por um misterioso estranho conhecido como “O Benfeitor” e deve enfrentar várias provações enquanto luta para “mudar de realidade” e voltar para a mulher que ama. A história busca explorar a batalha moral e espiritual de Kevin, refletindo sobre temas como resistência e fé.

O primeiro longa do diretor Brock Heasley também traz em seu elenco Neal McDonough (“Legends of Tomorrow”), Elizabeth Tabish (“The Chosen”) e Sean Astin (trilogia “O Senhor dos Anéis”).

 

OSPINA, CALI, CALÔMBIA

 

O documentário aborda a carreira do diretor colombiano Luis Ospina, que fala da sua vida e seus trabalhos. A obra com reflexões sobre o cinema é resultado do encontro, em Lisboa, do diretor brasileiro Jorge de Carvalho com o lendário cineasta de “Pura Sangre” (1982) e “Soplo de Vida” (1999) – além de diversos documentários.