Sem blockbusters, a programação de cinema da semana está bem eclética, do drama de arte picante ao thriller violento de ação, passando pela história do rock nacional. São 11 lançamentos, com destaque para a sedução de Zendaya em “Rivais”, a pancadaria de “Contra o Mundo”, o brasileiro “Aumenta que é Rock’n’Roll” e o anime “Spy x Family Código: Branco”. A lista ainda tem terror trash, documentário de MPB, sci-fi japonesa e produções europeias. Eis as estreias desta quinta (25/4).
RIVAIS
O drama picante acompanha a história de três jogadores de tênis que se envolvem em um triângulo amoroso enquanto enfrentam as tensões do mundo esportivo. Zendaya (“Duna”) interpreta Tashi Duncan, uma tenista prodígio que, após se machucar e encerrar precocemente a carreira, torna-se uma treinadora implacável dentro e fora das quadras. Ela é casada com o campeão Art, que lida com uma série de derrotas nos últimos anos. Enquanto busca uma redenção para o marido no esporte, uma reviravolta surpreendente acontece quando ele é desafiado pelo fracassado Patrick, ex-melhor amigo de Tashi e que também já foi seu namorado. Para completar, Patrick pede para ser treinado por Tashi, enquanto também se envolve com ela. Mike Faist (“West Side Story”) interpreta Art e Josh O’Conner (“The Crown”) vive Patrick.
O primeiro roteiro produzido por Justin Kuritzkes, marido da cineasta Celine Song (de “Vidas Passadas”), retrata os pretendentes ofegantes por Tashi, a imagem da perfeição dentro e fora da quadra, que os surpreende pela ousadia. Entre cenas de idas e vindas no tempo, Tashi deixa claro que tem o controle total sobre a dinâmica sexual desse trio. E brinca com os meninos por prazer. A performance é um triunfo de Zendaya, que demonstra toda a sua maturidade como atriz.
A direção é de Luca Guadagnino, conhecido por “Até os Ossos” (2022) e “Me Chame Pelo Seu Nome” (2027), e que foi tão fundo no jogo de sedução que recebeu uma classificação indicativa para maiores (R-Rated) nos cinemas dos Estados Unidos.
CONTRA O MUNDO
O thriller de ação pós-apocalíptica traz Bill Skarsgard (“John Wick 4: Baba Yaga”) como Boy, que escapa ainda criança do assassinato brutal de sua família, mas perde a voz. Em sua fuga para a floresta, Boy encontra um misterioso xamã de artes marciais que o transforma em uma força imparável de vinganç. Escolhendo sua voz interior com o tom grandioso ouvido no último videogame que jogou (dublagem do comediante H. Jon Benjamin), ele se dedica a ganhar músculos e habilidades para ir atrás do clã responsável por seu infortúnio. O resultado é uma explosão de ação selvagem e imaginativa, que lembra os videogames de luta como “Street Fighter”, misturados ao estilo do filme “Kill Bill”.
“Contra o Mundo” marca a estreia na direção de longas-metragens do cineasta alemão Moritz Mohr, que é reconhecido por seus trabalhos em curtas, como o premiado drama de samurai feminino “Akumi” (2005). O elenco também destaca Famke Janssen (da franquia “X-Men”) como Hilda Van Der Koy, a matriarca desequilibrada da dinastia responsável pela aniquilação dos entes queridos de Boy, além de Jessica Rothe (“A Morte Te Dá Parabéns”), Michelle Dockery (“Downton Abbey”), Andrew Koji (“Guerreiro”), Sharlto Copley (“Invasão Zumbi 2: Península”), Isaiah Mustafa (“It: Capítulo Dois”), Yayan Ruhian (“John Wick 3: Parabellum”) e Brett Gelman (“Stranger Things”).
AUMENTA QUE É ROCK’N’ROLL
O filme aborda a história da rádio Fluminense FM nos anos 1980. Conhecida como “a Maldita”, a rádio foi fundada em 1982 e se tornou a primeira FM especializada em rock no Brasil – um ano antes da gaúcha Ipanema FM e três anos antes da paulista 89 FM. A emissora chegou a se tornar a segunda rádio mais ouvida no Brasil e tocava em sua programação até fitas demo de bandas novas, entre elas Legião Urbana e Biquíni Cavadão – bem antes de suas primeiras gravações oficiais. O resumo cinematográfico é baseado no livro autobiográfico de Luis Antonio Mello, fundador da “Maldita”, que deixou a rádio depois do primeiro Rock in Rio, em 1985. Acompanhando o apogeu e a queda da geração mais popular do rock brasileiro, a Fluminense durou apenas até 1990.
“Aumenta que é Rock’n’Roll”, cujo título lembra uma música da época, gravada por Celso Blues Boy (“Aumenta que Isso Aí é Rock’n’Roll”), tem direção de Tomás Portella (“Operações Especiais”, “Desculpe o Transtorno”) e destaca em seu elenco Johnny Massaro (“O Filme da Minha Vida”) como Luiz Antônio, um radialista atrapalhado, que inesperadamente se vê no comando de uma estação de rádio falida e caindo aos pedaços. Contando apenas com sua paixão pelo rock, mas com estratégias inovadoras (como locução exclusivamente feminina) e uma equipe muito louca, ele cria a Fluminense FM. Apesar do tom de comédia, a produção retrata a essência da revolução musical dos anos 1980 – com direito a uma trilha sonora bastante representativa da época.
O elenco também conta com Marina Provenzano (“Bom Dia, Verônica”), Adriano Garib (também de “Bom Dia, Verônica”), George Sauma (“Sai de Baixo: O Filme”), João Vitor Silva (“Impuros”) e Flora Diegues (“O Grande Circo Místico”). Por sinal, este foi o último trabalho de Flora, filha do diretor Cacá Diegues e da produtora Renata Magalhães, que faleceu em 2019, vítima de um câncer.
SPY X FAMILY CÓDIGO – BRANCO
O anime “Spy x Family”, um dos maiores sucessos da plataforma Crunchyroll, ganha seu primeiro longo derivado. Baseada no mangá de Tatsuya Endo, a franquia se passa num país totalitário e acompanha a missão de um mestre espião, que precisa formar uma família fictícia para se infiltrar numa escola de elite, único lugar público frequentado por um dos líderes do governo. Ele cria a persona de Loid Forger e completa a missão com a adoção de uma órfã chamada Anya, seguida por um acordo com a desconhecida Yor, uma mulher introvertida em busca de um namorado, que é convencida da conveniência de virar sua esposa de mentirinha. O espião só não sabe que Yor é uma assassina profissional que precisa melhorar seu disfarce e Annya é uma telepata, foragida de um laboratório, com conhecimento dos planos de todos – e que se imagina o tempo todo numa grande aventura ao estilo de seu programa de espionagem favorito.
O filme conta uma história inédita, acompanhando as férias de inverno dos Forgers, que coincidem com uma missão secreta para salvar o mundo. As complicações acontecem quando Annya engole um aparelho cobiçado pelos vilões. O roteiro é de Ichirô Ôkouchi (“Nossa Guerra de Sete Dias”) e a direção de Kazuhiro Furuhashi, principal diretor dos episódios de “Spy x Family”.
PLANO 75
Em um futuro distópico, um programa do governo japonês incentiva os idosos a serem sacrificados para remediar a suposta problemática de uma sociedade envelhecida. O Plano 75 busca voluntários para a eutanásia como forma de aliviar a pressão sobre o sistema previdenciário, e Michi, uma idosa que enfrenta dificuldades financeiras, passa a considerar a iniciativa como uma saída. Além dela, o filme destaca mais dois personagens: um defensor pragmático do Plano 75 e uma trabalhadora filipina. Todos eles enfrentam escolhas de vida ou morte em meio a essa nova realidade.
A mulher idosa perdeu o emprego e não consegue se reempregar por causa da idade. Ela faz bicos em subempregos, como sinalizadora de trânsito, e está prestes a perder sua casa, pois os proprietários exigem garantias exageradas para inquilinos idosos. Ela encontra o segundo protagonista, o jovem vendedor Hiromi, quando ele lhe oferece o plano. No início, ele é um empregado exemplar, mas logo começa a questionar tudo quando descobre que um dos candidatos é seu tio. Além disso, descobre um interesse financeiro sinistro por trás do plano social e econômico. Já Maria, a filipina, é uma jovem funcionária do necrotério onde os idosos que aderem ao Plano 75 são levados após a eutanásia. Diretamente envolvida com as consequências finais do projeto, ela se vê em uma posição de confronto direto com as realidades sombrias do plano.
O primeiro longa individual da diretora japonesa Chie Hayakawa é uma ficção futurista, mas espelha a realidade atual de muitos idosos que lutam contra um sistema previdenciário frágil e a exclusão social. “Plano 75” é um comentário sobre a pressão que recai sobre os mais velhos, muitas vezes fazendo-os sentir-se descartáveis.
LA CHIMERA
O novo drama da italiana Alice Rohrwacher (“Feliz como Lázaro”) traz o inglês Josh O’Conner (“The Crown”) como um jovem arqueólogo, que se envolve com um grupo de ladrões de túmulos repletos de relíquias da era etrusca. Este grupo se dedica à venda desses objetos no mercado negro de arte.
O título “La Chimera” faz referência a criatura mitológica grega com partes de leão, cabra e serpente. No filme, cada personagem persegue sua própria quimera, algo inalcançável que motiva sua jornada. Para os ladrões, a quimera é o desejo pelo dinheiro fácil, já para o arqueólogo, a quimera se parece com a mulher que ele perdeu. Para encontrá-la, ele desafia o invisível e procura por toda parte em busca de um caminho mitológico para a vida após a morte.
Exibido no Festival de Cannes e premiado na Mostra de São Paulo do ano passado, o filme também inclui a brasileira Carol Duarte (“A Vida Invisível”) e a italiana Isabella Rossellini (“Julia”) em seu elenco.
A NATUREZA DO AMOR
A comédia romântica acompanha Sophia, interpretada por Magalie Lépine Blondeau, uma professora de filosofia em Montreal que vive em um relacionamento estável, porém monótono, com Xavier. A vida de Sophia muda quando ela conhece Sylvain, interpretado por Pierre-Yves Cardinal, um carpinteiro contratado para reformar a casa de campo do casal. Sophia se apaixona por Sylvain à primeira vista, dando início a um romance que desafia as convenções sociais.
A trama explora a atração entre opostos e questiona se esse tipo de amor pode realmente durar. A iniciativa foi bem recebida pela crítica e pelo público, graças à sua abordagem sensível e autêntica do amor e dos relacionamentos dos personagens. Além disso, o longa da canadense Monia Chokri (“Babysitter”) venceu o troféu Cézar (o “Oscar francês”) de Melhor Filme Estrangeiro, no ano passado.
VIDRO FUMÊ
O suspense gira em torno de Mary, vivida pela inglesa Ellie Bamber (“Willow”), uma estrangeira que decide mudar de ares e vai morar no Rio de Janeiro. Na Cidade não tão Maravilhosa, Mary e seu namorado, interpretado pelo australiano James Frecheville (“Mestres do Ar”), são sequestrados e passam uma noite de terror nas mãos dos sequestradores em uma van branca com vidro fumê, que circula pela cidade. Ao mesmo tempo, uma história paralela se desenvolve, em que Miriam, uma jovem artista negra interpretada por Mari Oliveira (“Elas por Elas”0, também vive um terror ao sofrer assédios sexuais de um político corrupto.
A direção é do português Pedro Varela (“A Canção de Lisboa”).
URSINHO POOH – SANGUE E MEL 2
Após aterrorizar o público com um dos piores filmes de 2023, conquistando o troféu Framboesa de Ouro, o Ursinho Pooh retorna às telas pelas mãos do mesmo diretor inepto, Rhys Frake-Waterfield, que ganhou o Framboesa de Pior Diretor, após transformar os personagens clássicos da Disney em assassinos implacáveis. Na trama, Christopher Robin, traumatizado pelos eventos do primeiro filme, tenta seguir em frente com sua vida. No entanto, ele logo se vê confrontado por Pooh e seus amigos, que estão ainda mais sanguinários e determinados a se vingar – agora de toda a cidade. A continuação representa uma melhoria em relação ao original em muitos aspectos, desde o orçamento maior até a quantidade de mortes, mas o Poohniverso continue sendo um destino mais indicado para fãs de slasher hardcore.
DORIVAL CAYMMI – UM HOMEM DE AFETOS
O documentário é uma jornada pelo universo do cantor e compositor que revolucionou a música no Brasil e influenciou gerações de músicos, abrindo caminho para movimentos como Bossa Nova e Tropicália. O filme tem como base narrativa uma entrevista inédita em que Dorival Caymmi revela sua afetividade pelas coisas mais singelas da vida, confidencia “causos” e apresenta registros raros e inéditos. A direção é de Daniela Broitman (“Marcelo Yuka no Caminho das Setas”).