Estreias | Programação de cinema destaca Turma da Mônica Jovem

O filme da “Turma da Mônica Jovem” é o maior lançamento desta quinta (18/1), ocupando o circuito amplo dos cinemas. Mas as telas também recebem filmes de terror, animação, catástrofe e drama […]

Divulgação/Imagem Filmes

O filme da “Turma da Mônica Jovem” é o maior lançamento desta quinta (18/1), ocupando o circuito amplo dos cinemas. Mas as telas também recebem filmes de terror, animação, catástrofe e drama da temporada do Oscar – com dois filmes portugueses no circuito de arte. Confira as estreias da semana.

 

TURMA DA MÔNICA JOVEM – REFLEXOS DO MEDO

 

A nova fase na franquia cinematográfica da Turma da Mônica introduz uma mudança significativa de elenco, equipe criativa e produção em relação às versões live-action anteriores. Recebendo hate desde a escalação, por substituir o elenco original amplamente aclamado, e sofrendo questionamentos precoces pela divulgação de trailers de qualidade duvidosa, o lançamento vem confirmar muitos dos temores dos fãs. Para começar, a trama complica a simplicidade dos primeiros lançamentos ao ser apresentada como uma história de terror (ao estilo “Scooby-Doo encontra os Feiticeiros de Waverly Place”), mas não usa o gênero para representar uma jornada de amadurecimento como “Laços” e “Lições”, embora houvesse uma possibilidade clara de explorar os medos/traumas associados à chegada à adolescência e à transição para o Ensino Médio.

A história se desenrola no contexto do primeiro dia de aula do Ensino Médio, quando Mônica, Cebola, Magali, Cascão e Milena descobrem que o Museu do Limoeiro está ameaçado de ser leiloado. Determinados a impedir que isso aconteça, os amigos se unem para investigar os motivos por trás da situação e se deparam com segredos antigos e assustadores relacionados ao bairro. À medida que exploram esses mistérios, percebem que estão lidando com uma ameaça maior do que imaginavam, envolvendo elementos sobrenaturais.

Há a intenção de abordar temas de terror e suspense, mas falhas técnicas e a falta de conexão entre os intérpretes impedem que a tentativa seja levada a sério. Complicador maior, a história traz uma Magali feiticeira. Embora seja uma característica que os leitores reconhecem dos gibis da versão jovem da Turma, o detalhe não deixa de ser um choque para o público que cresceu com os quadrinhos originais ou descobriu os personagens nos dois filmes recentes. E, no fundo, só serve para tornar a produção mais próxima de um “Detetives do Prédio Azul Jovem”. Por sinal, esse é o grande paradoxo da “Turma da Mônica Jovem”: embora o elenco seja mais velho, o filme é mais infantil, sem o mesmo apelo universal para todas as idades dos anteriores.

A direção é de Maurício Eça (“A Menina Que Matou os Pais”), o papel de Mônica é feito pela atriz Sophia Valverde (“As Aventuras de Poliana”) e o grande elenco – com personagens demais – ainda destaca Xande Valois (“Um Tio Quase Perfeito”) como Cebola, Bianca Paiva (“Chiquititas”) como Magali, Theo Salomão (“Escola de Gênios”) como Cascão e Carol Roberto (“The Voice Kids”) como Milena.

 

MEU AMIGO ROBÔ

 

A animação sem diálogos é uma fantasia gentilmente excêntrica, ambientada numa versão animada da Nova York dos anos 1980, povoada exclusivamente por animais antropomórficos e robôs surpreendentemente sensíveis. Esta narrativa, que dispensa falas em favor de uma narrativa visual expressiva, é baseada na graphic novel de 2007 de Sara Varon, que originalmente tinha um público-alvo jovem. O filme de Berger, no entanto, mergulha em nostalgia pela Nova York da era Reagan, apelando para um público mais amplo e difícil de definir. Apesar de adequado para crianças, o subtexto incidente e a atmosfera de melancolia podem confundir os mais jovens.

Premiado no Annie Awards 2023 (o Oscar da animação) como Melhor Filme Independente, a obra do espanhol Pablo Berger (da versão muda de “Branca de Neve”) explora a relação entre dois personagens principais, um cão e um robô, que vivem uma amizade caracterizada por um companheirismo potencialmente queer, mas mantido em castidade. A história segue o cão, vivendo uma vida solitária no East Village, cuja rotina é interrompida ao montar um robô de um kit que ele compra, inspirado por um infomercial. A amizade entre o cão e o robô floresce através de atividades compartilhadas, como passeios turísticos e patinação no Central Park, ao som de “September” de Earth, Wind and Fire. No entanto, a separação inevitável ocorre quando o companheiro mecânico enferruja após um dia na praia, forçando o cão a enfrentar o inverno sozinho, enquanto o robô se deteriora, sonhando com um reencontro.

“Meu Amigo Robô” aborda temas de amor, perda e amizade, sugerindo que relacionamentos finitos não são necessariamente fracassados. A narrativa comovente também se destaca por suas referências visuais inteligentes aos anos 1980 e à vida nas ruas de Nova York, explorando as alegrias e tristezas da vida urbana e a busca por conexão em um mundo frequentemente indiferente.

 

MERGULHO NOTURNO

 

Embora não seja adaptação de um conto de Stephen King, o terror compartilha das características tradicionais das obras do autor, confrontando americanos comuns com o sobrenatural. Na trama, o casal formado por Wyatt Russell (“O Falcão e o Soldado Invernal”) e Kerry Condon (de “Os Banshees de Inisherin”) se muda com a filha adolescente (Amelie Hoeferle, de “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”) e o filho caçula (Gavin Warren, de “Fear the Walking Dead”) para uma nova casa, apenas para descobrir que a piscina do quintal é assombrada por espíritos malévolos.

A produção da Blumhouse/Atomic Monster expande a história de um aclamado curta-metragem homônimo de 2014, de Rod Blackhurst e Bryce McGuire. A direção é do próprio McGuire, que faz sua estreia em longas e, desde o início, estabelece um clima de suspense e tensão. No entanto, a ampliação da história para o formato de longa-metragem enfrenta desafios. Embora comece de forma promissora, o desenvolvimento da história se depara com complicações em seu roteiro e mitologia, tornando-se vítima de uma narrativa excessivamente elaborada. O que é bizarro diante de uma premissa que se resume, basicamente, a duas palavras: piscina assombrada.

 

SOBREVIVENTES – DEPOIS DO TERREMOTO

 

O candidato da Coreia do Sul ao Oscar 2004 traz novas perspectivas para o cinema de catástrofe. A ação se passa em Seul após um terremoto devastador, quando um único edifício permanece em pé, cercado por escombros. A escassez de alimentos e água logo se torna um problema para os moradores sobreviventes, incluindo Min-sung (Park Seo-joon, de “A Criatura de Gyeongseong”), um jovem servidor público, e sua esposa (Park Bo-young, de “Uma Dose Diária de Sol”).

A narrativa não se concentra apenas no drama de sobrevivência, mas também examina questões morais complexas. Young-tak (Lee Byung-hun, de “Round 6”), um homem corajoso, é eleito líder pelos moradores e toma decisões difíceis, incluindo a expulsão violenta dos refugiados que buscam abrigo. E assim, o que começa como um microcosmo funcional e igualitário, logo se transforma rapidamente em um estado fascista, evidenciando tensões sociais e políticas.

A produção é adaptação de um webtoon (quadrinhos online) de Kim Soong-Nyung, que examina a complexidade moral em tempos de crise e desafia o público a refletir sobre a natureza humana e as escolhas feitas em circunstâncias extremas. A direção é de Um Tae-hwa (“Desaparecimento: O Garoto que Retornou”).

 

SEGREDOS DE UM ESCÂNDALO

 

O novo drama de Todd Haynes (“Carol”) é baseado num fato real, mas se apresenta com uma abordagem original e intensa. Estrelado por Natalie Portman (“Thor: Amor e Trovão”) e Julianne Moore (“Kingsman: O Círculo Dourado”), o filme é marcado por personagens moralmente ambíguos, com o objetivo de criar desconforto proposital.

A trama segue uma atriz (Portman) que viaja até a Georgia para estudar a vida de uma mulher da vida real (Moore), que ela vai interpretar em um filme biográfico. A personagem de Moore era uma mulher casada que teve um romance com um adolescente de 13 anos, foi presa e após cumprir a pena judicial se casou com o jovem, vivido por Charles Melton (de “Riverdale”). Mas nem duas décadas de distância e uma vida discreta nos subúrbios fizeram o escândalo ser esquecido. E com sua vida revirada pela estranha em sua casa, questões do casal, até então adormecidas, começam a vir à tona.

Na sua busca para compreender Gracie, Elizabeth ultrapassa os limites entre curiosidade e invasão, enquanto seu objeto de estudo se mostra defensiva e complexa. Nesse jogo, o filme cria uma atmosfera tensa e estranha, salpicada por um humor sutilmente obsceno, que dialoga com seu tema tabu. A tensão é equilibrada por elementos cômicos, tornando possível arrancar risadas pela audácia da trama. Mas não se trata de uma obra fácil, especialmente para quem evita mergulhar em narrativas sobre indivíduos terríveis.

Ousado em sua temática e na construção dos personagens, “Segredos de um Escândalo” traz os atores entregando performances habilidosas e desconcertantes, que resulta numa experiência que pode ser profundamente perturbadora, mas também extasiante para os cinéfilos.

 

O NATAL DO BRUNO ALEIXO

 

Bruno Aleixo é uma mistura de urso de pelúcia e cão, com um toque visual que lembra um Ewok do universo “Star Wars”. Seu um humor peculiar, rabugento e irônico ganhou notoriedade com uma série de vídeos na internet e se popularizou com “O Programa do Aleixo”, lançado na TV portuguesa em 2008. Desde então, Aleixo ganhou vários spin-offs online e participações em outros programas, que fizeram crescer seus coadjuvantes e o tornaram um fenômeno pop em Portugal.

O personagem foi criado por João Moreira, Pedro Santo e João Pombeiro. Os dois primeiros assinam seu segundo longa – depois de “O Filme do Bruno Aleixo” (2019) – que chega ao Brasil fora de época, devido à temática natalina. A produção narra as recordações de Natais passados de Bruno Aleixo após um acidente de carro que o deixa em coma – entre as memórias, destaca-se um Natal passado na casa de sua avó brasileira.

A trama acaba por recontar o tradicional conto de Natal de Charles Dickens de forma original, utilizando diferentes estilos de animação para cada segmento. Essa abordagem criativa oferece ritmos e tonalidades variadas à narrativa. Apesar de ser um pouco ofuscado pelo sucesso de seu antecessor, a produção foi uma das comédias portuguesas mais destacadas de 2022.

 

MAL VIVER

 

O drama do português João Canijo (“Sangue do Meu Sangue”) forma um díptico com “Viver Mal”, ambos ambientados em um hotel. Enquanto a outra obra se foca nos hóspedes, o lançamento atual se concentra na equipe, principalmente nas relações femininas em deterioração. O enredo envolve a gerente do hotel, Piedade (Anabela Moreira), sua mãe Sara (Rita Blanco), dona do estabelecimento, e a filha de Piedade, Salomé (Madalena Almeida), que retorna inesperadamente após a morte de seu pai. Completando o elenco, estão Raquel (Clei Almeida), prima e empregada, em um relacionamento complicado com Angela (Vera Barreto), a fiel governanta e cozinheira.

A trama explora as tensões familiares e profissionais, que se misturam no local visivelmente desgastado e em dificuldades financeiras, criando um efeito trágico, com personagens femininas refletindo sobre suas vidas em meio a um ambiente de hostilidade, tristeza e desafeto. Venceu o Prêmio do Júri do último Festival de Berlim.