A programação de filmes para ver em casa destaca uma comédia completamente diferente de Adam Sandler, em que ele vive o coadjuvante de sua filha numa trama teen. O mais engraçado dessa história é que a crítica internacional considerou o resultado melhor que as comédias habituais do humorista.
Bastante variada, a lista de estreias digitais também traz o filme – inédito nos cinemas brasileiros – que rendeu indicação ao Oscar para a atriz Andrea Risenborough e o maior blockbuster de terror do ano, além de uma divertida animação da DreamWorks que merece mais atenção, após passar praticamente batida no circuito cinematográfico. E, claro, “The Flash” chegou na HBO Max. Confira mais detalhes e dicas no Top 10 abaixo.
VOCÊ NÃO TÁ CONVIDADA PRO MEU BAT MITZVÁ! | NETFLIX
O novo filme de Adam Sandler surpreende por ser uma comédia teen com ponto de vista feminino, algo completamente diferente de todos os lançamentos de sua carreira. Assumindo papel coadjuvante, ele interpreta o pai da verdadeira protagonista da história, uma adolescente judia de 15 anos que, em plena expectativa para seu bar mitzvah, flagra sua melhor amiga beijando seu crush. A crise se instala, levando ao fim da amizade e deixando a festa por um fio.
O detalhe é que a intérprete principal é a filha de verdade do comediante, Sunny Sandler, e o elenco ainda inclui outra filha mais velha, Sadie, como irmã da protagonista do filme, sem esquecer de sua esposa real, Jackie Sandler, como mãe da melhor amiga traíra. Na trama, porém, Adam Sandler é casado com Idina Menzel (“Desencantada”). O elenco feminino ainda destaca Samantha Lorraine (“The Walking Dead: Um Novo Universo”) como a ladra de crush.
As duas filhas de Sandler já aparecem nos filmes do comediante há vários anos, mas sempre em papéis pequenos. “Você Não Tá Convidada pro Meu Bat Mitzvá!” marca suas primeiras atuações de destaque, especialmente da caçula.
Roteirizado por Alison Peck (“Dançarina Imperfeita”), o filme é uma adaptação de um romance de 2005 de Fiona Rosenbloom e chama atenção pela boa combinação de humor juvenil e representação sincera das ansiedades adolescentes, com uma atuação cativante de Sunny Sandler no papel principal. A direção é de Sammi Cohen, que já tinha sido elogiada ao abordar o universo teen na comédia queer adolescente “Crush” (79% de aprovação no Rotten Tomatoes). Sem os vícios das produções anteriores de Sandler, a equipe criativa materializa uma das melhores comédias da carreira do astro.
A SORTE GRANDE | VOD*
O filme que rendeu uma inesperada indicação no Oscar deste ano para Andrea Riseborough (“Matilda: O Musical”) traz a atriz britânica como uma mulher alcoólatra em queda livre, que uma vez foi celebrada por ganhar na loteria em sua pequena cidade no Texas, mas acabou perdendo tudo para o vício. A trama segue Leslie enquanto ela lida com o desmoronamento de sua vida, enfrentando personagens variados que vão desde amigos exasperados a vizinhos zombeteiros. A primeira metade do filme enfatiza sua degradação e sofrimento, culminando em uma última parte poderosa que narra sua jornada de reconstrução com a ajuda de um gerente de motel (Marc Maron). A produção inclui também Owen Teague (“It – A Coisa”) como o filho adulto de Leslie, Allison Janney (“Mom”) e Stephen Root (“Barry”), e marca a estreia em longas do diretor Michael Morris, um veterano de séries de televisão.
A produção independente enfrentou campanhas milionárias de grandes estúdios para emplacar a indicação de Riseborough no Oscar, que apesar de controvertida para alguns, entregou um desempenho consagrador. E foi justamente sua entrega que cativou eleitoras famosas da Academia, como Gwyneth Paltrow, Amy Adams, Jane Fonda, Cate Blanchett e Kate Winslet, a bancarem sua candidatura, numa campanha feita principalmente à base do boca-a-boca. Vale a pena conferir o talento da atriz para comprovar como ela não só merecia a indicação como poderia muito bem vencer o Oscar, que ficou Michelle Yeoh (por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”).
RUBY MARINHO – MONSTRO ADOLESCENTE | VOD*
A nova animação da DreamWorks concebida pelo cineasta Kirk DeMicco (criador de “Os Croods”) segue uma adolescente de 15 anos que descobre que é uma princesa. Mas tem um detalhe: sua família reina no fundo do mar. Ao entrar em contato com a água salgada, ela descobre que faz parte de uma família de Krakens – gigantescos monstros marinhos com tentáculos. Além de lidar com os típicos dilemas adolescentes, Ruby deve agora cumprir seus deveres reais e ajudar na luta contra as terríveis sereias – os verdadeiros monstros da história.
Ainda que a narrativa pareça convencional – uma mistura de “Luca” com “Red: Crescer É uma Fera” – , o filme cativa com bom humor e visuais vibrantes. A crítica americana aprovou, com 71% de críticas positivas no Rotten Tomatoes. Mas boa parte do público perdeu sua exibição no cinema, devido a uma estratégia kamikaze de lançamento junto com “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”.
SOBRENATURAL: A PORTA VERMELHA | VOD*
Maior bilheteria do terror do ano, o quinto filme da franquia marca a estreia do ator Patrick Wilson (“Invocação do Mal”) como diretor. Com sua presença também no elenco, a trama traz o foco de volta à família original, os Lamberts, com Josh (Wilson), Renai (Rose Byrne, de “Vizinhos”) e seu filho já crescido Dalton (Ty Simpkins, visto recentemente em “A Baleia”) enfrentando problemas novos e mais assustadores, 13 anos após os acontecimentos do longa original.
Vale lembrar que, enquanto os dois primeiros filmes traziam os Lamberts como personagens principais, o terceiro e quarto foram centrados na parapsicóloga Elise Rainier (Lin Shaye). Na trama, Josh está entrando na faculdade, quando começa a lembrar vagamente de ter sido assombrado na infância. Conforme as visões ficam mais nítidas, o terror também se torna mais próximo e faz com que a família decida acabar com todos os segredos para enfrentar tudo o que os assombra.
O roteiro é assinado por Scott Teems (“Halloween Kills”), que se baseou numa história desenvolvida por um dos criadores da franquia, o roteirista Leigh Whannell. Whannell também produz o filme, junto com James Wan (diretor do original), Oren Peli (produtor da franquia) e Jason Blum (dono do estúdio Blumhouse).
O MAU EXEMPLO DE CAMERON POST | MUBI
Drama vencedor do Festival de Sundance 2018, o filme traz Chloë Grace Moretz (“Carry, a Estranha”) como uma adolescente lésbica que é pega beijando a rainha do baile de formatura por sua tia ultraconservadora, e é enviada, contra sua vontade, para uma espécie de centro de recuperação para jovens gays.
O livro de Emily M. Danforth, em que a trama se baseia, é ainda mais chocante porque a garota tem apenas 14 anos – enquanto Moretz estava com 21 nas filmagens. A história segue com as amizades que ela faz no “campo de concentração light” disfarçado de centro de reeducação, e sua atitude de desafio contra a repressão daquele lugar.
Dirigido por Desiree Akhavan (“Appropriate Behavior”), o longa também inclui em seu elenco Sasha Lane (“Docinho da América”), Forrest Goodluck (“O Regresso”), Owen Campbell (“Como Você É”), Melanie Ehrlich (série “The OA”) e os adultos Jennifer Ehle (“Cinquenta Tons de Liberdade”) e John Gallagher Jr. (“Rua Cloverfield, 10”) como um ex-gay que virou pastor e dirige o lugar.
“O Mau Exemplo de Cameron Post” é anterior a “Boy Erased”. Mas não é o primeiro filme-denúncia da “cura gay”. “But I’m A Cheerleader” (1999) foi pioneira em desacreditar os centros de conversão cristãos dos Estados Unidos, mas era uma comédia.
O CLUBE DOS LEITORES ASSASSINOS | NETFLIX
O slasher espanhol é uma adaptação do romance homônimo de Carlos Garcia Miranda sobre oito universitários que se reúnem semanalmente em um clube de leitura para compartilhar sua paixão por literatura de terror. Numa noite, resolvem se vingar de um professor que desdenha do gênero, fantasiando-se de palhaços assassinos para assustá-lo. Contudo, a brincadeira de mau gosto culmina em um acidente mortal. Mesmo prometendo nunca mais falar isso, eles começam a receber ameaças anônimas e, conforme a desconfiança cresce, passam a ser perseguidos por um palhaço realmente assassino, desencadeando uma luta pela sobrevivência no campus.
Com referências de “Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado” e “Pânico”, o filme marca a volta do diretor Carlos Alonso Ojea ao terror, dez anos após sua estreia com “Los Inocentes” (2013), e destaca em seu elenco Veki Velilla (“Garcia!”), Iván Pellicer (“Sagrada Família”), Álvaro Mel (“Paraíso”), Priscilla Delgado (“Uma Equipe Muito Especial”), María Cerezuela (“Intimidade”), Ane Rot (“Elite”), Carlos Alcaide (“O Internato: Las Cumbres”) e Hamza Zaidi (“Comando Squad: Reset”).
AMIZADE DE FÉRIAS 2 | STAR+
A continuação da comédia de 2021 mostra nova viagem de férias de John Cena (“Velozes e Furiosos 10”), Lil Rel Howery (“Corra!”) e suas caras-metades. Desta vez, Marcus, o personagem refinado de Howery, consegue uma viagem com todas as despesas pagas para um resort caribenho e leva junta o amigo sem noção e sua esposa. Só que se trata de uma viagem de negócios, onde Marcus pretende encontrar com os proprietários do resort para licitar um contrato de construção de um hotel de sua propriedade em Chicago. Os planos começam a dar errado quando o sogro criminoso de Cena é libertado da prisão e aparece no resort sem avisar no pior momento possível, transformando a viagem de férias em total caos.
Novamente dirigido por Clay Tarver (produtor-roteirista de “Silicon Valley”), filme ainda destaca Meredith Hagner (“Search Party”) e Yvonne Orji (“Insecure”) como as esposas e Steve Buscemi (“Miracle Workers”) como o sogro traficante.
A SINDICALISTA | VOD*
Isabelle Huppert (“Elle”) vive a personagem-título do filme, baseado na história real de Maureen Kearney, uma sindicalista que denunciou acordos secretos e abalou a indústria nuclear francesa. Quando ela é violentamente agredida em casa por conta sua atuação sindical, a investigação a transforma em suspeita de fabricar o próprio ataque, culminando em seu indiciamento e julgamento. A obra se alterna entre thriller de denúncia e drama judicial, expondo a misoginia da polícia e do poder judiciário, enquanto a performance de Huppert fornece profundidade psicológica à dramatização.
A direção é de Jean-Paul Salomé, em sua segunda parceria seguida com Huppert, após filmá-la na comédia “A Dona do Barato” (2020).
| CAMPEÕES | VOD*
Quem lembra do clássico “Nós Somos os Campeões” (1992) sabe o que acontece nessa história. Woody Harrelson (“Triângulo da Tristeza”) vive um ex-treinador de basquete condenado a treinar uma equipe Paraolímpica como parte de um serviço comunitário. Ao longo do filme, Marcus aprende a valorizar seu time, composto por indivíduos intelectualmente deficientes, e se torna menos egoísta, enquanto também aproveita para desenvolver um relacionamento com Kaitlin Olson (“It’s Always Sunny in Philadelphia”), intérprete da irmã de um dos jogadores.
A comédia é o primeiro filme solo de Bobby Farrelly (“Debi e Lóide”) sem a parceria com seu irmão Peter Farrelly (que ficou sério e venceu o Oscar por “Green Book”).
THE FLASH | HBO MAX
Um mês depois de chegar nas locadoras digitais, o grande fracasso recente da DC chega sem custos a mais para os assinantes da HBO Max. Nova incursão ao multiverso dos super-heróis, o filme custou em torno de US$ 300 milhões para a Warner Bros. Discovery, mas rendeu apenas US$ 268 milhões nas bilheterias mundiais. Além disso, foi considerado mediano pela crítica (64% de aprovação no Rotten Tomatoes), após ser propagandeada pelo estúdio e geeks entusiasmados como a melhor adaptação da DC Comics de todos os tempos. Não chegou nem perto do hype plantado, embora o roteiro de Christina Hodson (“Aves de Rapina”) adapte um dos arcos mais famosos dos quadrinhos da editora, o crossover “Ponto de Ignição” (Flashpoint).
No filme, o velocista interpretado por Ezra Miller volta no tempo para impedir o assassinato de sua mãe e, ao fazer isso, acaba alterando a linha temporal do planeta inteiro. Entre os eventos inesperados, ele encontra uma versão mais jovem de si mesmo (também interpretada por Miller) e, ao mesmo tempo, se depara com um mundo em que a Liga da Justiça nunca existiu. Para piorar, como Superman nunca chegou a Terra, não há ninguém capaz de impedir a invasão do General Zod (Michael Shannon, repetindo seu papel de “O Homem de Aço”). Assim, cabe ao Flash do futuro reunir um grupo de heróis para fazer frente a essa ameaça. Com a ajuda de um Batman mais velho (Michael Keaton, que viveu o herói em filmes de 1989 e 1991), ele consegue encontrar e liberar um kryptoniano para auxiliá-los: Kara, uma nova Supergirl morena, vivida por Sasha Calle (“The Young and the Restless”) – que é a primeira intérprete latina da heroína.
A narrativa centrada em viagens no tempo e universos alternativos pode remeter a sucessos como “Vingadores: Ultimato” e “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, mas a trama sofreu horrores com suas inúmeras refilmagens, que acrescentaram e tiraram personagens, salvaram e mataram heróis, porém deixaram o fan service mais rejeitado de todos os tempos, em que o Flash tem visões de diferentes versões dos personagens da DC – inclusive de filmes que nunca saíram do papel, mas não de sua bem-sucedida versão da TV.
O fracasso retumbante de público e crítica só aumenta a tristeza por seus pontos positivos, em especial a descoberta de Sasha Calle como Supergirl, que, infelizmente, não deve ser reaproveitada no futuro da DC planejado pelos novos chefões do estúdio no cinema. Ela é o principal motivo para recomendar o filme do diretor Andy Muschietti (“It – A Coisa”), que após explodir o Snyderverso (dos heróis da Liga de Justiça de Zack Snyder) com essa bomba, foi recompensado com um contrato para dirigir o próximo filme de Batman.
* Os lançamentos em VOD (video on demand) podem ser alugados individualmente em plataformas como Apple TV, Claro TV+, Google Play, Loja Prime, Microsoft Store, Vivo Play e YouTube, entre outras, que funcionam como locadoras digitais sem a necessidade de assinatura mensal.