Conar abre processo contra Volkswagen por propaganda com Elis Regina

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) instaurou um processo ético contra a Volkswagen e a agência de publicidade AlmapBBDO devido à recente campanha publicitária que usou a imagem de Elis Regina, […]

Divulgação/Volkswagen

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) instaurou um processo ético contra a Volkswagen e a agência de publicidade AlmapBBDO devido à recente campanha publicitária que usou a imagem de Elis Regina, falecida em 1982, recriada por meio de Inteligência Artificial (IA). A representação foi aberta após queixas de consumidores que questionaram a ética do uso da IA para reanimar uma pessoa já falecida em cenários fictícios, como ocorreu na campanha.

O processo analisará, entre outros pontos, se os herdeiros podem autorizar o uso da imagem de uma pessoa falecida para uma peça publicitária que cria cenas que a pessoa nunca filmou, com uso de IA. Na peça em questão, Elis Regina aparece dirigindo uma antiga Kombi e fazendo dueto com sua filha, Maria Rita, numa situação completamente fictícia.

 
Implicações éticas

A campanha, que dividiu opiniões entre o público, gerou grande controvérsia ao recriar a figura de Elis Regina, conhecida por combater a ditadura militar no Brasil, para uma marca que, no passado, apoiou o mesmo regime. Essa associação gerou críticas, levando o Conar a examinar o caso à luz do código de autorregulamentação da propaganda no país, focando nos princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade.

Além disso, o Conselho irá considerar a falta de alerta explícito sobre o uso de IA na campanha, fato que pode ter levado parte do público, especialmente o mais jovem, a acreditar que Elis Regina ainda estivesse viva. “Questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes”, diz o órgão. O Conar prevê um prazo de até 45 dias para o julgamento do caso.

Atualmente, não há uma regulamentação clara no Brasil sobre o uso da Inteligência Artificial em contextos como o da campanha. A Volkswagen utilizou a tecnologia deepfake, que mapeia milhares de fotos e vídeos, para recriar a imagem de Elis Regina.

 
Reação dos Herdeiros

João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis Regina, afirmou ter se “emocionado muitíssimo” com o comercial, apesar de entender as críticas. Ele também questionou a possibilidade de restringir empresas que, em algum momento, apoiaram ditaduras.

Bôscoli e seu irmão, Pedro Mariano, deram consentimento para a campanha. “Da minha parte e do meu irmão, eu posso dizer que a gente consentiu a propaganda pensando em primeiro lugar — e eu tenho convicção de que para a Maria Rita também — na exposição que a Elis teria e que seria uma apresentação dela para as novas gerações”, explica.

Além da reação à vinculação da imagem de Elis à Volkswagen, o comercial também foi criticado por banalizar a música “Nossos Pais”, de Belchior, apresentada como evocação de nostalgia, enquanto a intenção original da canção era lamentar o conservadorismo das novas gerações.