O ator americano Frederic Forrest faleceu na sexta-feira (23/6) em sua casa em Santa Mônica, aos 86 anos. Ele era conhecido por filmes clássicos como “Apocalypse Now” (1979), “A Rosa” (1979), “O Fundo do Coração” (1981) e “Hammett – Mistério em Chinatown” (1982). Sua morte foi revelada pela atriz Bette Midler (“Abracadabra 2”), com quem o ator contracenou em “A Rosa”, através de uma publicação nas redes sociais.
“O grande e amado Frederic Forrest faleceu. Agradeço a todos os seus fãs e amigos por todo o apoio nesses últimos meses. Ele foi um ator notável e um ser humano brilhante, e tive a sorte de tê-lo em minha vida. Ele estava em paz”, escreveu Midler no Twitter.
De acordo com o The Hollywood Reporter, seu amigo e ator Barry Primus (“A Amante”) confirmou que ele faleceu após uma longa batalha contra uma doença não revelada. Em setembro do ano passado, haviam criado duas páginas na GoFoundMe, plataforma americana que permite arrecadação de dinheiro pelos usuários, para auxiliar Forrest com as despesas do tratamento.
Ao longo da carreira, o ator ganhou notoriedade por papeis como coadjuvante. Embora raramente tenha sido escalado para o papel principal, ele acumulou elogios da crítica, o que já rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Seu maior reconhecimento veio pelo papel como Huston Dyer, um sargento do exército, em “A Rosa”. Na trama, ele fez par romântico com Bette Midler, com quem construiu uma grande amizade.
Forrest também apareceu em grandes filmes de Francis Ford Coppola como “A Conversação” (1974) e “Tucker: Um Homem e seu Sonho” (1988). Além de outros longas como “Duelo de Gigantes” (1976), “A Volta do Monstro” (1978), “Sonhos Rebeldes” (1983), “O Menino de Pedra” (1984), “A Chave do Enigma” (1990), “Uma Loira em Apuros” (1994), “Lassie” (1994), “Vingança à Queima-Roupa” (1998) e “The Quality of Light” (2003).
Início no teatro com Al Pacino
Frederic Fenimore Forrest Jr. nasceu em 23 de dezembro de 1936, em Waxahachie, no Texas. Sua mãe, Virginia, era dona de casa, e seu pai possuía uma loja de móveis. Na infância, ele jogava futebol americano, praticava atletismo e ia ao cinema. Foi quando assistiu ao ator James Dean em “Vidas Amargas” (1955) que decidiu correr atrás da carreira como ator. Em 1957, ele se mudou para Nova York a procura de papéis no teatro.
Ele estudou na Academia de Artes Dramáticas de Nova York e no HB Studio, antes de se tornar um membro fundador da já extinta companhia de teatro Circle Repertory Company. No início dos anos 1960, apareceu em várias produções teatrais, fazendo sua estreia na Broadway em 1965 com a peça “The Indian Wants the Bronx”, ao lado de Al Pacino (“O Irlandês”).
A produção foi aclamada pela crítica e rendeu indicações para Pacino e Forrest no Tony Award. Com a recepção positiva, o ator começou a fazer participações em filmes e séries. Na década seguinte, ele apareceu em produções maiores como “Quando Morrem as Lendas” (1972) e “A Morte do Chefão” (1973). Foi em 1974 que Forrest começou sua parceria com o renomado diretor Francis Coppola, no longa “A Conversação”.
Em seguida, o ator chamou a atenção na televisão americana no telefilme “Larry”, produzido pelo canal CBS naquele mesmo ano. Na trama, ele interpretou o personagem-título em uma história real sobre um homem com inteligência mediana institucionalizado por ser considerado mentalmente deficiente.
Parceria com Francis Ford Coppola
Após fazer pequenas aparições em seriados e estrelar outras produções, Forrest voltou a trabalhar com Coppola no longa “Apocalypse Now”, um de seus maiores feitos ao longo da carreira. A história da trama era uma crítica do diretor a Guerra do Vietnã, onde Forrest interpretou Jay “Chef” Hicks, um nativo de Nova Orleans despretensioso que vai parar no meio da selva no sudeste asiático, a bordo de um pequeno barco numa missão para acabar com guerrilheiros comandados por um desertor, o terrível Coronel Kurtz (Marlon Brando). É uma jornada rumo ao inferno, com vários encontros e situações desconcertantes ao longo do caminho.
O sucesso de “Apocalypse Now” o levou a protagonizar o romance “A Rosa”, dirigido por Mark Rydell. O ator estrelou o longa ao lado de Bette Midler, que na ocasião fazia sua estreia no cinema como Mary Rose Foster, uma diva do rock viciada em excessos, álcool e drogas – uma personagem inspirada em Janis Joplin.
Na trama, Forrest interpretou Huston Dyer, o motorista de limusine que se apaixona perdidamente pela estrela. Com a estreia do longa, o ator foi aclamado pela crítica, o que rendeu uma indicação ao Globo de Ouro e ao Oscar pelo papel. Isso o encaminhou para seu terceiro trabalho com Coppola, no polêmico musical “O Fundo do Coração”, lançado em 1981.
Desta vez, o ator viveu o protagonista, formando um casal com Teri Garr, que se separa após uma briga em Las Vegas. Os dois passam a buscar companhia de um novo parceiro para passar o feriado de 4 de julho. A nova mulher na vida de Forrest era ninguém menos que a belíssima Nastassja Kinski (recém-saída do sucesso de “Tess”, último filme de Roman Polanski nos EUA), mas ele não conseguia esquecer sua antiga paixão.
O romance foi concebido como um musical com trilha de Tom Waits e vários recursos teatrais da Broadway, o que custou uma fábula. Na tentativa de recriar cenários inteiramente dentro de seu recém-lançado estúdio em São Francisco, o cineasta acabou estourando o orçamento da produção. Diante do alto custo do filme, a Paramount desistiu de apoiar o projeto, o que rendeu um grande prejuízo a Coppola, especialmente quando as baixas bilheterias não justificaram o investimento. Com o tempo, porém, o filme se tornou cultuadíssimo.
Pouco tempo depois, Forrest se envolveu em mais uma produção problemática. Em 1982, ele estrelou o drama noir “Hammett – Mistério em Chinatown”, produzido por Coppola e dirigido por Wim Wenders (“Perfect Days”). Na trama, ele interpretou o lendário escritor Dashiell Hammett, que usava das suas habilidades de detetive para resolver mistérios. Mas assim como aconteceu com “O Fundo do Coração”, os bastidores do filme foram repletos de intrigas com a Warner Bros., o que resultou em refilmagens da maior parte das cenas, sem o aval de Wenders.
Últimos papéis
Os problemas nos filmes que protagonizou impediram Forrest de se tornar uma das grandes estrelas da época. Dessa forma, ele procurou investir mais em produções televisivas, o que resultou em aparições na série “Anjos da Lei” (1987), além de destaque em minisséries como “Quo Vadis?” (1985) e “Die Kinder” (1990).
Nesse meio tempo, o ator fez sua última colaboração com Coppola, no longa “Tucker: Um Homem e seu Sonho” (1988). O longa foi aclamado pela crítica e rendeu indicações no Oscar daquele ano, embora nenhuma tenha sido para Forrest.
Nos anos seguintes, ele participou de longas de qualidades variadas como “O Menino de Pedra” (1984), “A Chave do Enigma” (1990), “Uma Loira em Apuros” (1994), “Lassie” (1994), “Vingança à Queima-Roupa” (1998) e “The Quality of Light” (2003). Sua última aparição nas telas foi no drama político “A Grande Ilusão”, dirigido por Steven Zaillian. A história acompanha a vida do político Willie Stark, interpretado por Sean Penn (“O Franco-Atirador”). Na trama, Forrest deu vida ao personagem de Penn
Mesmo que nunca tenha alcançado um grande estrelato, o ator deixou sua marca na indústria cinematográfica e na televisão pelas suas atuações memoráveis.
Fora das telas, Forrest foi casado três vezes, sempre com atrizes famosas. Sua primeira esposa foi com Marilu Henner (“L.A. Story”), com quem teve dois filhos. Seu segundo casamento foi com Christine Hendricks (“Mad Men”), e seu terceiro casamento foi com Elan Oberon (“Reação Mortal”). Ele também teve um relacionamento de longa data com a atriz Valerie Perrine (“Superman – O Filme”).
The great and beloved Frederic Forrest has died. Thank you to all of his fans and friends for all their support these last few months. He was a remarkable actor, and a brilliant human being, and I was lucky to have him in my life. He was at peace.”
— bettemidler (@BetteMidler) June 24, 2023