O ator e presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, abriu o Festival Internacional de Cinema de Berlim fazendo um apelo para que artistas e instituições culturais “tomem uma posição” na guerra da Ucrânia e apoiem seu país e seu povo em sua “luta contra a agressão russa”.
“A Cultura escolhe um lado quando decide falar contra o mal e toma um lado quando se cala e, de fato, ajuda o mal”, disse o presidente ucraniano na live especialmente transmitida para a cerimônia de abertura do evento alemão.
Em uma demonstração de solidariedade com o povo ucraniano e uma crítica direta ao governo da Rússia, o Festival de Cinema de Berlim tomou uma posição política ao convidar o presidente da Ucrânia para abrir a Berlinale. A platéia se levantou quando Zelensky foi apresentado e aplaudiu o seu discurso o tempo inteiro.
Discursando para um público de cinéfilos, Zelensky escolheu uma metáfora cinematográfica para incrementar seu discurso. Ele citou uma obra famosa do diretor alemão Wim Wenders, “Asas do Desejo” (1987), para afirmar que “Wenders aboliu o Muro de Berlim antes mesmo dele cair”. E hoje, segundo ele, a Rússia “quer construir um muro entre a Ucrânia e a Europa, entre a liberdade e a escravidão, entre a civilização e o terror”.
O cinema, frisou Zelensky, “não pode mudar o mundo”, mas pode “inspirar pessoas que podem”.
A participação do presidente ucraniano coincide com a programação do novo documentário de Sean Penn (“Na Natureza Selvagem”), “Superpower”, filmado em Kiev. Penn viajou para a Ucrânia há um ano para documentar a ameaça de invasão pela Rússia e se deparou com o início da guerra, em 24 de fevereiro, obtendo muitas imagens exclusivas e fortes para seu filme. O longa será exibido na sexta-feira (17/2).
Por sinal, a realização do festival coincide com o aniversário de um ano da guerra decorrente da invasão russa à Ucrânia. Por isso, incluiu vários filmes ucranianos no evento.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro do ano passado, Zelensky tem usado incansavelmente os eventos da mídia para atrair a atenção para a causa de seu país e angariar apoio político e militar. Além de falar no Congresso dos EUA, a Câmara do Parlamento do Reino Unido e o Bundestag da Alemanha, ele fez inúmeras aparições nos principais festivais de cinema, incluindo Cannes e Veneza no ano passado, e até enviou uma mensagem em vídeo para o Grammy.
“É uma honra especial para nós poder receber digitalmente o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na abertura do nosso festival na noite de quinta-feira. A Berlinale, com todos os seus cineastas e participantes, expressa solidariedade com o povo da Ucrânia na luta pela independência e condena veementemente a agressão russa”, disseram os diretores da Berlinale, Mariëtte Rissenbeek e Carlo Chatrian.
Quase metade do gabinete alemão estava presente à abertura. Entre eles, o vice-chanceler alemão Robert Habeck, o ministro da Alimentação e Agricultura Cem Özdemir, a ministra da Família Lisa Paus e a ministra da Cultura Claudia Roth, bem como a prefeita de Berlim, Franziska Giffey. Oleksiy Makeev, embaixador da Ucrânia na Alemanha, também estava lá e ergueu o punho em sinal de resistência.
Eles se misturaram com o elenco e a equipe do filme “She Came to Me”, incluindo Anne Hathaway (“As Trapaceiras”), Marisa Tomei (“Homem-Aranha: Sem Volta pra Casa”) e Peter Dinklage (“Game Of Thrones”), durante a exibição do longa, que deu a largada na maratona cinematográfica alemã.
O Festival de Berlim acontece na capital alemã até o dia 26 de fevereiro.