A atriz Noémie Merlant, conhecida por seu papel em “Retrato de Uma Jovem em Chamas” (2019), será a nova Emmanuelle do cinema. Ela vai substituir a atriz Léa Seydoux (“Azul É a Cor Mais Quente”), anteriormente escalada para o papel.
Merlant não é estranha a histórias de cunho sexual. Além de “Retrato de Uma Jovem em Chamas”, sobre uma pintora e uma modelo que se apaixonam em uma ilha isolada no final do século 18, ela também estrelou o drama “Curiosa” (2019), uma história sobre liberdade sexual, e “Jumbo” (2019), que mostra uma jovem tímida que trabalha em um parque de diversões e se apaixona por um dos brinquedos – chegando a fazer sexo com a máquina. Mais recentemente, ela foi vista na comédia “L’innocent” (2022) e no drama “Tár” (2022).
“Ela é uma escolha artística pura, óbvia, como foi Anamaria Vartolomei em meu filme anterior”, disse a diretora Audrey Diwan, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza por “O Acontecimento” (2021), um filme sobre aborto passado nos anos 1960.
“Eu amo Léa Seydoux, quero fazer um filme com ela um dia. Mas para mim, ela não era a personagem que eu imaginava. De ‘Retrato de uma Jovem em Chamas’ a ‘Tár’, nunca deixei de me deixar seduzir pela força da atuação de Noémie. Ela abraça a ideia da personagem, capaz de desempenhar ao mesmo tempo a autoridade e a sedução. Noémie redefine a mulher francesa. Sua atitude, seu sorriso, aquela pitada de insolência que sempre vem à tona. Também sou sensível à ideia de encontrar na minha atriz uma parceira intelectual, aquela com quem crio a personagem. O filme requer um enorme envolvimento, confiança mútua. E eu sei que encontrei a pessoa certa”.
Como diretora, Diwan explicou que pretende priorizar o ponto de vista feminino da trama.
“Adoro histórias contadas por meio do corpo”, disse Diwan ao site Deadline. “Com ‘O Acontecimento’, passei os últimos anos explorando a ideia da dor. Então, eu diria que ‘naturalmente’ eu queria explorar o prazer. Gostaria de devolver-lhe as suas cartas de nobreza, gosto de filmar o corpo olhando-o com atenção mas não de forma provocativa. E quero abraçar uma gramática própria da noção de erotismo. O erotismo se baseia tanto no que mostramos quanto no que escondemos. É daí que vem a emoção.”
Além de dirigir, Diwan também escreveu o roteiro da nova versão, ao lado de Rebecca Zlotowski (“A Prima Sofia”).
“Inicialmente, quando escrevo, sempre sinto a necessidade de buscar uma conexão íntima com a história”, disse a diretora. “Então meu filme vai se passar nos dias de hoje, e Emmanuelle é uma mulher que tem quase a minha idade. Quis explorar a busca dela por prazer, o que ela representa quando você já abriu um caminho na vida. Quando não estamos em descoberta, mas em pesquisa. Com minha co-roteirista Rebecca Zlotowski, imaginamos uma mulher que tem poder, que lutou para escapar, escalou sua montanha e também construiu uma armadura para si mesma. Ela se sente sozinha. Mas como sair da solidão? ‘Emmanuelle’ é a história de uma mulher tentando se deixar ir. Todo o filme é sobre traçar um caminho para o outro.”
Em relação à trama, Diwan explicou que a história vai se passar num hotel de luxo em Hong Kong, onde a protagonista trabalha. “Gosto da ideia dos corredores onde meus personagens se tocam, se encontram, se procuram”, contou ela. “Além da questão dos corpos, quero explorar a idea de um mundo que formata qualquer forma de relacionamento, buscar como esse sistema pode dar errado, como nos conectamos com os outros, como tocamos nossa própria vulnerabilidade. O que tecem entre eles laços cada vez mais profundos. Com um estranho em particular, um cliente do hotel. Mas não direi mais por enquanto. Este é o princípio, o que mostramos e o que escondemos.”
Clássico do cinema erótico, o filme original chegou a ser proibido no Brasil pela ditadura militar e só foi liberado no começo da abertura política, seis anos depois de escandalizar o mundo.
A produção de 1974 do diretor Just Jaeckin transformou a holandesa Sylvia Kristel na maior símbolo sexual da década pela quantidade de aventuras que protagonizou, tanto com homens quanto com mulheres, durante férias na Tailândia. O repertório era um verdadeiro manual de sexo, começando pelo seleto “mile high club” (sexo em avião).
Silvia Kristel ficou tão famosa que até trabalhou em novela da Globo (“Espelho Mágico”) no período em que o público estava impedido de ver o filme no país.
A trama, por sua vez, é baseada no livro “Joys of Woman”, escrito por Marayat Rollet-Andriane em 1959 e publicado com o pseudônimo Emmanuelle Arsan em 1967 – e rebatizado de “Emmanuelle” em seu lançamento no Brasil.
Hoje, claro, o filme original perdeu a capacidade de escandalizar, mas suas cenas ainda continuam superando a trilogia “Cinquenta Tons de Cinza”. A expectativa é que a nova versão seja ainda mais picante, além de assumir em linhas mais claras a “subtrama” de empoderamento de Emmanuelle, a esposa entediada que descobre a liberdade sexual.
A nova “Emmanuelle” ainda não tem data para chegar aos cinemas.
Veja abaixo o trailer não explícito do filme original.