Autora e diretora defendem série sobre a Boate Kiss: “Esquecer é negar a história”

Os elogios que a série “Todo Dia a Mesma Noite” recebeu do público e da crítica especializada não a poupou de várias críticas e polêmicas. Na produção, a Netflix relata a tragédia […]

Divulgação/Netflix

Os elogios que a série “Todo Dia a Mesma Noite” recebeu do público e da crítica especializada não a poupou de várias críticas e polêmicas.

Na produção, a Netflix relata a tragédia verídica do incêndio na Boate Kiss. O caso aconteceu no Rio Grande do Sul há dez anos e é lembrado até hoje. “Todo Dia a Mesma Noite” é a primeira adaptação do caso para a ficção e, por se tratar de um tema muito delicado, várias pessoas – preocupadas com a saúde mental dos envolvidos na história – manifestaram sua indignação ao ver o caso voltar aos holofotes.

Muitos telespectadores alegam que a Netflix estaria usando a dor alheia dos familiares e vítimas do acontecimento para gerar entretenimento, argumento que foi logo rebatido por Daniela Arbex, jornalista e autora do livro homônimo que inspirou a série.

“Não falar sobre o caso não é uma opção”, disse Daniela ao Splash. E ainda complementou: “Não falar é o que permite que outras tragédias como essa aconteçam no Brasil. Esquecer é negar a história. E que pai e que mãe quer que o seu filho seja esquecido? Pedir superação é uma total falta de empatia com a dor do outro”, defendeu Daniela.

Júlia Rezende, diretora geral do projeto e a mente por trás de sucessos do cinema brasileiro como a comédia “Meu Passado me Condena”, foi uma das vozes que se posicionou a favor da trama: “O audiovisual mundial foi construído a partir de acontecimentos reais. De Titanic ao World Trade Center, a dezenas de filmes sobre a 2ª Guerra Mundial. Muitos filmes brasileiros também já foram feitos a partir de personagens reais ou acontecimentos. Então, eu acho que querer recusar isso, primeiro, é uma bobagem. Depois, é uma forma de silenciamento”.

“O que a gente está fazendo aqui é dar voz a esse acontecimento, não deixar cair no esquecimento. Acho que a gente precisa que as pessoas saibam do que aconteceu ali. Famílias foram processadas pelo Ministério Público. Isso é um acontecimento inacreditável e ninguém sabe”, destaca a diretora.

Anos atrás, quando escreveu o livro que originou a série, Arbex relatou o processo doloroso de entrevistas com famílias e vítimas do incêndio. Hoje, ela enxerga que não deve se colocar na posição de sofrimento, e sim de uma contadora de histórias.

“Nosso papel, enquanto jornalistas e construtores de histórias, enquanto pessoas que trabalham no audiovisual, é exatamente mostrar o quanto é longo o caminho para a Justiça no Brasil. A última opção aqui é não dizer”, concluiu a autora.