Alec Baldwin é indiciado por homicídio involuntário

O ator Alec Baldwin precisará responder acusações criminais pelo seu papel na morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins no set do filme “Rust”. O anúncio foi feito pela promotora distrital do […]

Instagram/Alec Baldwin

O ator Alec Baldwin precisará responder acusações criminais pelo seu papel na morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins no set do filme “Rust”. O anúncio foi feito pela promotora distrital do condado de Santa Fe, Mary Carmack-Altwies, em comunicado nesta quinta-feira (19/1).

“Depois de uma análise minuciosa das evidências e das leis do estado do Novo México, determinei que há evidências suficientes para apresentar acusações criminais contra Alec Baldwin e outros membros da equipe de filmagem de ‘Rust’”, disse Carmack-Altwies. “Sob minha supervisão, ninguém está acima da lei e todos merecem justiça.”

Além de Baldwin, que também é produtor do filme, a armeira Hannah Gutierrez-Reed também foi indiciada por homicídio involuntário.

Além deles, o assistente de direção David Halls assinou um acordo judicial, assumindo culpa pela acusação de uso negligente de uma arma letal. Os termos do seu acordo incluem uma sentença suspensa e seis meses de liberdade condicional.

Halyna Hutchins foi baleada em 21 de outubro de 2021, durante o ensaio de uma cena de “Rust”, quando um revólver antigo empunhado por Baldwin disparou. Ele recebeu a arma de Halls, que lhe disse que não continha munição real. Porém, ao disparar a arma, Baldwin matou Hutchins e feriu o diretor Joel Souza. (Nenhuma acusação foi feita em relação ao ferimento do diretor.)

Luke Nikas, advogado de Baldwin, disse, em comunicado, que seu cliente “confiou nos profissionais com quem trabalhou, que lhe garantiram que a arma não tinha munição real”. Porém, cinco balas de verdade foram encontradas no set, misturadas com balas de festim.

“Esta decisão distorce a trágica morte de Halyna Hutchins e representa um terrível erro judiciário”, disse ele. “O senhor Baldwin não tinha motivos para acreditar que havia uma bala de verdade na arma – ou em qualquer lugar do set de filmagem”.

Jason Bowles, advogado de Gutierrez-Reed, também disse as acusações são o “resultado de uma investigação muito falha e uma compreensão imprecisa de todos os fatos”.

Já o advogado da família de Hutchins celebrou a decisão. Em comunicado, Brian Panish disse que apoia as acusações e cooperará com a promotoria.

“Queremos agradecer ao xerife de Santa Fé e à promotoria pública por concluir sua investigação minuciosa e determinar que as acusações de homicídio involuntário são justificadas pelo assassinato de Halyna Hutchins com desrespeito consciente pela vida humana”, disse ele. “Nossa investigação independente também confirma que as acusações são justificadas.”

Baldwin e Gutierrez-Reed serão “acusados alternativamente” por duas acusações de homicídio culposo. Isso significa que, se um júri considerar qualquer um deles culpado, também determinará sob qual definição de homicídio involuntário eles são culpados, de acordo com o anúncio da promotoria.

Para que o homicídio involuntário seja provado, deve haver prova de negligência. De acordo com a lei do Novo México, homicídio involuntário é um crime de quarto grau e é punível com até 18 meses de prisão e multa de US$ 5 mil. Isso inclui a acusação de uso negligente de uma arma de fogo.

“Se qualquer uma dessas três pessoas – Alec Baldwin, Hannah Gutierrez-Reed ou David Halls – tivesse feito seu trabalho, Halyna Hutchins estaria viva hoje. É simples assim”, disse a promotora especial Andrea Reeb. “As evidências mostram claramente um padrão de desrespeito criminoso pela segurança no set de filmagem de ‘Rust’. No Novo México, não há espaço para sets de filmagem que não levem a sério o compromisso de nosso estado com a segurança de armas e a segurança pública”.

O escritório da promotoria entrará com acusações no Primeiro Tribunal Distrital Judicial do Novo México antes do final do mês. Uma audiência preliminar será marcada em até 60 dias a partir da apresentação das acusações. O anúncio observa que as restrições da pandemia mudaram os protocolos e, durante a audiência, um juiz assumirá o papel do júri. Ele ouvirá a promotoria apresentar seu caso e vai decidir sozinho “se há causa provável para avançar com um julgamento”.

Desde o acidente, Baldwin afirma que não puxou o gatilho. Porém, um relatório forense do FBI determinou que a arma não poderia ter sido disparada sem que o gatilho fosse puxado.

Ainda não está claro como as balas de verdade chegaram ao set. “Alguém é responsável … mas sei que não sou eu”, disse Baldwin à ABC News em em dezembro de 2021.

Em novembro do ano passado, o ator processou vários membros da equipe, incluindo Gutierrez-Reed, Zachry, Halls e Kenney, acusando-os de negligência por dar a ele uma arma de fogo carregada. “Essa tragédia aconteceu porque balas reais foram entregues no set e carregadas na arma”, afirmou a queixa dele. Em dezembro, Halls rebateu Baldwin e outros membros da equipe, argumentando que foi a “negligência ativa e primária” do ator que causou o tiroteio fatal.

A produtora Rust Movie Productions não recebeu nenhuma acusação, apesar de estar envolvida em diversas questões envolvendo a segurança durante as filmagens. A empresa supostamente violou as normas da indústria relacionadas ao uso de armas, cortando custos com o intuito de diminuir o orçamento do filme.

Em abril de 2022, o Departamento de Saúde e Segurança Ocupacional do Departamento de Meio Ambiente do Novo México emitiu a multa máxima permitida pela lei estadual, no valor de US$ 136.793, por inúmeras violações de protocolos de segurança no set de “Rust”, incluindo o uso de munição real e falha no treinamento da equipe em como manusear armas de fogo.

Um relatório da agência revelou que houve dois incidentes anteriores em que armas de fogo foram disparadas acidentalmente. A primeira falha aconteceu em 16 de outubro de 2021, menos de uma semana antes do tiroteio fatal. Na ocasião, Zachry disparou um tiro de festim quando terminava de carregar um revólver calibre 0,45 apontado para o chão. O segundo caso envolveu o dublê de Baldwin, que disse que a arma “simplesmente disparou”.

Ao contestar a multa, a Rust Movie Productions argumentou que não é culpada pelas filmagens no set porque não era uma empregadora na produção e contava com contratados independentes para supervisionar a segurança das armas – ou seja, Gutierrez-Reed.

A produtora disse que a armeira era a única trabalhadora “responsável de forma singular por todas as tarefas associadas ao uso de armas de fogo e munições”, incluindo responsabilidades relacionadas com “garantir que a proibição expressa da RMP sobre a presença de munições reais fosse rigorosamente cumprida, garantindo que apenas balas de festim fossem usados quando solicitados pelo roteiro, e que apenas balas falsas fossem usadas”.

Por isso, Gutierrez-Reed foi o foco central da investigação criminal. Filha de Thell Reed, um antigo armeiro de Hollywood, ela era responsável por supervisionar todas as armas e servia como assistente de adereços do filme, desempenhando uma função dupla. Esta era apenas a segunda vez que ela havia sido contratada como armeira-chefe em um filme.

O fornecedor de munições Seth Kenney, o chefe de adereços Sarah Zachry e o assistente de direção David Halls, que era o coordenador de segurança no set e manuseou a arma antes de entregá-la a Baldwin, também fazem parte da lista de investigação da promotoria.

A Rust Movie Production está se distanciando de todos esses indivíduos. Desde a tragédia, os produtores afirmam que não foram os responsáveis pela supervisão da produção, argumentando que simplesmente financiaram o filme.

Além do processo criminal, Baldwin ainda enfrenta acusações de agressão, imposição intencional de sofrimento emocional e negligência em outra ação movida pela continuísta Mamie Mitchell. O juiz do Tribunal Superior do Condado de Los Angeles, Michael Whitaker, concluiu em novembro de 2022 que houve “conduta extrema e ultrajante por parte de Baldwin”, que “inesperadamente engatilhou e disparou uma arma carregada”, apesar de estar ciente de uma cultura de segurança desastrosa no set de “Rust”.

A advogada da continuísta celebrou a decisão da Justiça do Novo México. “Acreditamos que esta decisão é importante para todos os trabalhadores do cinema que merecem proteção ao realizar seu trabalho e prova que mesmo as estrelas de cinema não estão acima da lei e devem responder por suas ações”, disse Gloria Allred, em comunicado.

As filmagens de “Rust” haviam sido retomadas em janeiro, fora do Novo México, com marido de Hutchins assumindo a função de produtor executivo após um acordo com a produção do filme. Porém, os trabalhos foram suspensos novamente diante da nova decisão no caso.