Reportagem-bomba demole acusações de Dani Calabresa e outras contra Marcius Melhem

O site da revista Veja publicou uma reportagem bombástica nesta quarta (14/12) desmontando a acusação de assédio sexual que Dani Calabresa e outras funcionárias da Globo moveram contra o ex-diretor de humor […]

Divulgação/Globo

O site da revista Veja publicou uma reportagem bombástica nesta quarta (14/12) desmontando a acusação de assédio sexual que Dani Calabresa e outras funcionárias da Globo moveram contra o ex-diretor de humor da emissora, Marcius Melhem, na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio de Janeiro.

A publicação ocorreu dez dias após o jornalista Ricardo Feltrin afirmar em sua página no YouTube que, após ter acesso às provas contidas nos autos do processo, teve vontade de vomitar, afirmando que Melhem era inocente de tudo.

A Veja cita pela primeira vez os nomes de várias acusadoras – oito mulheres processam Melhem. Seria uma atitude de gravidade ética, caso não fosse a única forma de demonstrar falta de ética das acusadoras, como aponta a reportagem.

Além disso, traz à tona uma testemunha importante, que contraria a principal acusação de Calabresa, divulgada de forma sensacionalista pela revista Piauí, de que a comediante foi violentamente atacada e quase estuprada por Melhem numa festa do elenco de humor da Globo. A publicação pela Piauí de detalhes explícitos gerou repúdio generalizado contra Melhem. Mas omitiu completamente a participação de Maíra Perazzo, revelada pela Veja.

Amiga da atriz, Maíra a acompanhava na balada. Segundo descreve Melhem nas páginas do processo acessadas pela revista semanal, em determinado momento da noite, ele e Dani estavam trocando beijos numa área mais reservada quando a atriz puxou Maíra para junto dos dois, formando um trio. A situação demonstraria que tudo aquilo era consentido e estimulado pela comediante.

Maíra foi chamada pela Justiça para testemunhar sobre o que aconteceu de verdade e, ao depor, teria confirmado que trocou beijos com Melhem na festa e não lembra de ter visto nada de impróprio entre ele e Dani na ocasião. Contou ainda que ficou com a amiga até o final da balada, contrariando o relato da atriz, de que teria sofrido uma crise nervosa após o suposto ataque de Melhem. Ao contrário dessa versão, Maíra disse que ela continuou animada, chegando depois a trocar beijos com um câmera da Globo.

Questionada na Justiça sobre a participação de Maíra na festa, Dani alega que puxou a amiga para perto a fim de tentar se livrar do assédio de Melhem – por esta versão, ela teria atirado a amiga nos braços de um homem que descreveu como predador sexual.

A amiga de Dani, por outro lado, afirmou que ficou com Melhem naquela noite.

Em seu depoimento, Maíra também revelou que, no dia seguinte, teve um papo animado com Dani sobre a festa, sobre com quem elas ficaram, e em nenhum momento a atriz mencionou assédio. No mesmo dia, Dani brincou com Melhem pelo Whatsapp, dizendo que mandaria a amiga embrulhada para ele de presente. Um mês depois, Maíra e Melhem voltaram a ficar juntos.

Segundo a apuração da revista, o primeiro burburinho a respeito da conduta de Melhem teria partido de Barbara Duvivier em meados de 2018. Listada como uma das testemunhas de acusação, Barbara manteve com Melhem um relacionamento amoroso de quase sete anos. Em seu depoimento na delegacia, ela disse que ele não a deixava terminar a relação usando seu poder hierárquico dentro da emissora, oferecendo “proposta de trabalho, de aumento de salário e de promoção de cargo”.

Barbara é enteada de Maria Clara Gueiros, uma das mulheres que teria iniciado o movimento interno na Globo para investigar Melhem. Segundo Dani Calabresa contou à Ouvidoria do Ministério Público, Maria Clara Gueiros passou o ano de 2019 tentando convencê-la a denunciar o ex-diretor global.

A história entre Melhem e Barbara é complexa. Como ambos eram casados com outras pessoas, seu romance foi clandestino. No final de 2017, houve um sobressalto: ela engravida e fica em dúvida sobre a paternidade do filho – dúvida posteriormente descartada. Ainda segundo a Veja, isso bastou para familiares desconfiarem do comportamento dela, incluindo seu marido e a madrasta, Maria Clara Gueiros.

Nos autos, Melhem alega que Barbara espalhou a versão de chefe assediador para evitar o constrangimento de assumir o namoro clandestino. Ele juntou ao processo uma mensagem de julho de 2018, em que ela lhe pede desculpas: “Vivi um turbilhão nessa gravidez e com certeza agi errado com você. E queria te pedir desculpa por isso”.

Melhem não respondeu à mensagem e ela insistiu depois em lhe desejar felicidades e “dizer que te quero todo o bem do mundo”.

Meses mais tarde, em troca de mensagens com Dani Ocampo, assistente de Melhem, Barbara assumiu que havia mentido: “Mas nada planejado maquiavelicamente, foi um redemoinho que eu fui entrando, e quando vi não conseguia sair”.

Outra acusadora foi a atriz Veronica Debom, que, de acordo com a Veja, atuou fortemente nos bastidores para convencer outras mulheres a denunciarem Melhem. Em seu depoimento, ela assumiu ter mantido um relacionamento de mais de um ano com o ex-diretor global, que ela classificou como “abusivo” à Justiça. Ao se referir a uma noite de sexo entre os dois, afirmou ter se sentido “enojada”.

Melhem contrapôs esse depoimento com uma coleção de mensagens apaixonadas da atriz, com declarações de amor e até desejo de casamento, entre compartilhamento de nudes e conversas picantes. Também mostrou que Veronica criou um grupo no Whatsapp para falar de sexo casual, onde declarou que “não tem nenhum desejo meu que não seja legítimo!”.

Ele também anexou no processo conversas pelo aplicativo em que demonstrava disposição para encerrar o affair, enquanto Veronica tentava evitar o fim, de forma insistente. Só depois de um tempo ela se mostra conformada com o desfecho da história. Numa mensagem de setembro de 2019, ela diz: “Eu tomei um pé na bunda. Tô apaixonada por você e tomei um pé na bunda, amor. Risos. Não que eu não ache você não tem razão, acho que você tá coberto de razão”.

Assim que as primeiras denúncias de assédio contra Melhem surgiram, Veronica ainda se colocou do lado dele, prestando solidariedade e dizendo que ele seria vítima de terrorismo. “Você é inocente, amor”, escreveu.

A defesa de Melhem alega que ele foi vítima de um complô. Cita o caso de uma suposta denunciante que disse à Justiça Cível que não sabe por que acabou constando como vítima no inquérito sobre assédio sexual, já que nunca sofreu abuso nenhum.

Os advogados do ex-diretor da Globo também citam o fato de que todas as denunciantes são representadas pela mesma advogada, Mayra Cotta, que disse que “as vítimas não faziam parte de um círculo íntimo de amizades e que só souberam quem eram as demais vítimas em agosto de 2021”.

Essa afirmação é desmentida nos processos por uma série de provas, que mostram que a maior parte das supostas vítimas se conhecia, sim. Antes das denúncias, várias haviam trabalhado juntas. E Dani Calabresa revelou que, no final de 2020, havia até um grupo de WhatsApp de pessoas que teriam sido assediadas por Melhem. Uma das serventias desse grupo seria trocar informações, na época em que as supostas vítimas conversavam com a advogada Mayra Cotta em busca de orientação de como proceder em relação ao episódio.

Os perfis de Instagram das supostas vítimas também reforçam o elo de amizade entre elas. Uma viagem ocorrida em fevereiro de 2021 ao sítio de uma delas, na região serrana do Rio de Janeiro, rendeu muitas fotos compartilhadas por Georgiana Coutinho de Goes, Carol Portes, Veronica Debom e Debora Lamm.

Embora proximidade e amizade não invalidem as denúncias, desmentem a tese da advogada de que elas não eram amigas nem sabiam que todas eram vítimas de Melhem antes de iniciarem o processo.

As denúncias contra Melhem alegam que o assédio dele era insistente. Não raro, segundo as supostas vítimas, ele misturava assuntos profissionais com piadas e insinuações de cunho sexual. O conjunto de provas que constam nos autos, entretanto, mostra que muitas das acusadoras tomavam iniciativa de fazer essa mistura, incluindo conversas picantes e nudes na comunicação cotidiana. Entre as que mais faziam isto estavam Dani Calabresa e Veronica Debom.

No depoimento à Justiça, Dani buscou justificar a cumplicidade erótica com Melhem da seguinte forma: “Deixa ele me cantar. Deixa me chamar de gostosa. Para mim era uma vantagem. Prefiro continuar brincando com meu chefe tarado do que comprar briga com ele”.

A respeito do episódio dos nudes, a atriz conta que, num festa na casa de Mauro Farias, mostrou fotos de seu celular no meio de uma roda de amigos, até que Melhem se aproximou e tomou o celular da mão dela para ver o conteúdo. Ainda segundo a versão de Dani, não satisfeito, na mesma noite, ele a perseguiu até a porta do banheiro tentando forçar um beijo.

Mas Melhem apresenta uma versão totalmente diferente para o episódio. Segundo ele, em um determinado momento da festa, as pessoas conversavam sobre nudes e Calabresa o chamou para um canto do local e exibiu o conteúdo do celular: “Ela me mostrou nudes dela, me mostrou tudo: me mostrou fotos dela totalmente pelada, ela com amigas, ela sozinha, fotos, vídeos, poses, tudo”.

Para completar, há o caso da atriz Debora Lamm, que não sabe porque está no processo. Na transcrição de seu depoimento, o juiz lhe pergunta se é vítima de assédio sexual. E ela responde: “Eu acho… não, não, eu sou testemunha”. O juiz insiste mais uma vez: “Tá, a senhora só é testemunha, a senhora não é vítima?”. Lamm confirma: “É”. Mas a advogada ajuda a esclarecer a situação, lembrando que Lamm é uma das mulheres que constam no processo criminal.

Em sua reportagem, a Veja afirma a atriz reclama, na verdade, de ter perdido espaço profissional na Globo, culminando com a saída dela do programa “Zorra”, em 2018. Ao mesmo tempo, Lamm reconhece que nunca foi maltratada profissionalmente por Melhem e que, no mesmo ano, voltou a trabalhar com ele na peça “O Abacaxi”.

Nem Dani Calabresa conseguiu sustentar a acusação de que Melhem perseguia mulheres que assediava, graças a uma farta coleção de mensagens elogiosas sobre a chefia do ex-diretor da Globo durante o período em que trabalharam juntos.

Essa versão tupiniquim do movimento #MeToo teria levado a Globo a colocar um ponto final, ainda que de forma amigável, ao contrato de Melhem com a emissora, em agosto de 2020. Mas após a contestação inabalável do ex-diretor, Dani teve seu contrato fixo com a emissora encerrado em julho passado e Mayra Cotta, advogada dela e das outras supostas vítimas, foi condenada por comportamento antiético pela OAB, numa pena de censura convertida para advertência.

Antes sequer de existir um caso criminal, Melhem foi atacado em entrevistas da advogada, que só deu início ao processo após ele ir à Justiça.

O caso chama especial atenção por conta desse detalhe.

Não foram as supostas vítimas, mas o acusado que decidiu tirar tudo à limpo, ao fazer, em dezembro de 2020, uma interpelação extrajudicial para que Dani Calabresa confirmasse ou desmentisse o teor da reportagem da revista Piauí, que não cita fontes nem usa declarações entre aspas – um “ouvi falar” cheio de detalhes minuciosos e já comprovadamente imprecisos. Ela se calou.

Em seguida, Melhem anunciou ter entrado com uma ação contra a advogada Mayra Cotta para que ela provasse as denúncias que estava fazendo pela imprensa.

Em janeiro de 2021, ele processou Calabresa, a Piauí e vários colegas que o atacaram nas redes sociais por conta dos boatos amplificados pela reportagem da revista.

Só depois disso a atriz e outras sete mulheres formalizaram a primeira acusação contra Melhem, feita imediatamente na sequência desses fatos.

Calabresa também processou Melhem em março de 2021 por compartilhar suas mensagens privadas em entrevistas, para comprovar sua inocência. Ela perdeu. Em agosto deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo encaminhou o arquivamento da ação.

Melhem ainda foi investigado internamente pela Globo, com o arquivamento definitivo das denúncias em janeiro deste ano. A conclusão indicou falta de capacidade de confirmar qualquer das denúncias de assédio.