As estreias de streaming e VOD (locação digital) incluem filmes premiados, candidatos ao Oscar e blockbusters do cinema. O principal destaque é o “Pinóquio” do diretor Guillermo del Toro (“A Forma da Água”), favorito a despontar no Oscar de Melhor Animação de 2023. Mas há produções para todos os gostos, de super-herói e comédia brasileira a filme de arte europeu. Confira abaixo 10 opções novas para assistir em casa no fim de semana.
| PINÓQUIO POR GUILLERMO DEL TORO | NETFLIX
Há mais de uma década em desenvolvimento, a animação em stop-motion do cineasta Guillermo del Toro (vencedor do Oscar por “A Forma da Água”) conta uma versão altamente estilizada da fábula de Carlo Collodi (1826–1890), que abraça o lado mais sombrio da trama clássica, ao se focar na construção da autoestima do boneco/criança.
Concebido com imaginação macabra, o filme surpreende por apresentar de forma inovadora uma história excessivamente conhecida – e que neste mesmo ano ganhou nova e tediosa versão da Disney. Em parceria com Mark Gustafson, animador de “O Fantástico Sr. Raposo” (2009), Del Toro consegue emocionar e inspirar como as melhores lições dos contos de fada. E faz isso com fantoches impressionantes, criados pela produtora Mackinnon and Saunders (“Noiva Cadáver”).
A versão dublada em idioma inglês traz o estreante Gregory Mann como a voz de Pinóquio, Ewan McGregor (“Aves de Rapina”) como o Grilo Falante e David Bradley (“Game of Thrones”) como Gepeto, além de Cate Blanchett (“Carol”), Tilda Swinton (“Suspiria”), Tim Blake Nelson (“Watchmen”), Finn Wolfhard (“Stranger Things”), Ron Perlman (“Hellboy”), Christoph Waltz (“007 Contra Spectre”), John Turturro (“Transformers”) e Burn Gorman (“The Expanse”) em seu elenco grandioso.
| ADÃO NEGRO | HBO Max e VOD*
Dwayne “The Rock” Johnson (“Jumanji: Próxima Fase”) vive o anti-herói do título, cuja dualidade já foi bastante explorada nos quadrinhos. Vilão clássico de Shazam (desde a época do Capitão Marvel), ele passou a ser admitido entre os “mocinhos” apenas recentemente. E este dilema é explorado durante seu confronto com os heróis da trama, a Sociedade da Justiça da América – que estreia em longa-metragem formada por Gavião Negro (Aldis Hodge, de “O Homem Invisível”), Ciclone (Quintessa Swindell, de “Gatunas”), Esmaga-Átomo (Noah Centineo, de “Para Todos os Garotos que Já Amei”) e Sr. Destino (Pierce Brosnan, de “007 Um Novo Dia Para Morrer”).
Este também é o problema do filme. The Rock é o ponto alto da produção, mas seu confronto com outros heróis – metade deles tão obscuros quanto inexpressivos – segue o padrão de várias títulos do gênero, inclusive “Batman vs. Superman”. E quando a poeira baixa e todos ficam amiguinhos (spoiler?), a falta de um vilão proeminente só aponta que a Warner não aprendeu nada após cometer o mesmo equívoco em “Liga de Justiça” e “Esquadrão Suicida”.
Por tudo isso, “Adão Negro” é um filme para fãs de Zack Snyder, o diretor que estabeleceu o tom sombrio e os vilões genéricos de efeitos computadorizados nas adaptações da DC Comics. Atrás das câmeras, Jaume Collet-Serra (“Sem Escalas”) se comporta quase como um clone do cineasta de “Liga da Justiça”, entregando um longo primeiro ato de uma história que só deve ficar boa no próximo filme – caso a cena pós-créditos seja realmente um indício do desenvolvimento da trama.
| EMANCIPATION | APPLE TV+
O filme sobre escravidão estrelado por Will Smith funciona como um thriller de ação intenso, mas é baseado numa história real que outra equipe transformaria num bom drama. A produção é uma cinebiografia do escravo Peter, que ficou famoso no século 19 após fugir de seu “dono” e torturador, engajar-se na Guerra Civil ao lado dos ianques e posar para uma foto expondo as cicatrizes de crueldade nas suas costas – marcas de um chicoteamento que quase o matou.
A foto se tornou conhecida como “Scourged Back” e “viralizou” após ser publicada em uma série de veículos de imprensa em 1863, criando um impacto similar ao do assassinato de George Floyd em sua época. Estudiosos apontam a foto como uma das influências do crescimento do movimento abolicionista, que levou ao fim da escravidão nos EUA.
A cena da reconstituição da foto faz parte da produção, que destaca uma performance frenética de Smith e uma belíssima fotografia em cores tão esmaecidas que parecem preto e branco, além de muitas cenas de perseguição, guerra e até luta contra crocodilo. A direção é assinada por Antoine Fuqua (“Dia de Treinamento”, “O Protetor”).
A produção chegou a ficar no limbo após a controvérsia do tapa de Smith em Chris Rock durante o Oscar deste ano. Embora vários projetos do ator tenham sido cancelados ou adiados, “Emacipation” já estava totalmente filmado quando aconteceu o desastre de relações públicas. A decisão de lançá-lo ainda neste ano foi tomada após uma exibição privada para um grupo de influencers nos EUA ter forte repercussão positiva nas redes sociais. Entretanto, o lançamento do filme em si não refletiu esse estado de espírito, dividindo a crítica.
| THE HOLE IN THE FENCE | MUBI
Com uma fotografia premiada no Festival de Veneza, o filme do diretor mexicano Joaquín del Paso (“Maquinaria Panamericana”) é um retrato desconcertante das instituições de ensino privado. A trama acompanha um grupo de alunos de elite num acampamento religioso de verão, separado da cidade vizinha, habitada por trabalhadores pobres, por uma cerca erguida para deixar claro que eles não devem se misturar.
Apesar do tom religioso do local, os professores não escondem o objetivo de incutir a importância do sistema de classes e o senso natural de superioridade nos meninos, além de alimentar neles o medo do “outro” e o ódio do “diferente”. Isto resulta em bullying contra um aluno bolsista e vários jogos sádicos de poder, que estimulam violência e escancaram a formação venenosa dos privilegiados.
| AS LINHAS TORTAS DE DEUS | NETFLIX
A adaptação do suspense clássico do escritor Torcuato Luca de Tena (1923-1999) chega às telas pelas lentes do espanhol Oriol Paulo (“O Corpo”, “Durante a Tormenta”), um especialista no gênero, que materializa a trama de época de forma altamente estilizada. A história gira em torno de uma mulher que falsifica sua ficha psiquiátrica para dar entrada num hospício, com o objetivo de investigar um crime, mas ao seguir as pistas acaba sendo tratada como louca de verdade. O papel principal é de Bárbara Lennie (“A Garota do Fogo”).
| ARDENTE PACIÊNCIA | NETFLIX
A nova filmagem do livro romântico de Antonio Skármeta, já levado às telas no premiado “O Carteiro e o Poeta” (1994), traz Andrew Bargsted (“Segredos em Família”) como o carteiro apaixonado que tenta seduzir sua amada com poesias, mas comete o erro de plagiar Pablo Neruda, o poeta favorito da moça. Decepcionada ao descobrir a farsa, ela encerra o cortejo. Até que, um dia, o trabalho do carteiro o leva a conhecer o próprio Neruda, a quem tenta convencer a lhe ensinar como ser um poeta de verdade para reconquistar sua musa. A direção é do chileno Rodrigo Sepúlveda (“Aurora”).
| PARADISE – UMA NOVA VIDA | VOD*
A comédia italiana explora a paranoia de um jovem (Vincenzo Nemolato, de “Martin Eden”) enviado a uma cidade isolada nos Alpes suíços pelo serviço de proteção a testemunhas. Ao chegar lá, dá de cara com o assassino da máfia que ele denunciou e que também fez um acordo e foi relocado pela polícia. Temendo pela vida, o protagonista procura se disfarçar e aprender formas de matar o assassino antes de ser morto. Só que é completamente inepto. E tudo que lhe resta é encarar a desconfiança e ver se a solidão e as saudades da Sicília os aproxima.
O que ele não esperava é que os dois desenvolvessem uma amizade inesperada, que rende cenas divertidas no filme, embora a sensação de uma ameaça em potencial continue à espreita, na forma de turistas suspeitos. Dirigido por Davide Del Degan, venceu o Globo de Ouro italiano na categoria de Melhor Filme de Estreia.
| ANOTHER WORLD | MUBI
O novo filme de Stéphane Brizé acompanha um executivo, sua esposa e filho no momento em que as escolhas de carreira estão prestes a mudar suas vidas. O drama francês pondera como as pressões do trabalho podem implodir famílias e o que realmente é importante na vida. Os papéis principais são de Vincent Lindon, ator favorito de Brizé, e Sandrine Kiberlain. Os dois já tinham contracenado em outro filme do diretor, o premiado “Mademoiselle Chambon” (2009).
| BEM-VINDA A QUIXERAMOBIM | VOD*
A nova comédia cearense de Halder Gomes e seu cúmplice Edmilson Filho (ambos de “Cine Holliúdy”) traz Monique Alfradique como uma influencer ricaça que perde tudo quando seu pai milionário é implicado em um esquema de corrupção. De uma hora para outra, ela fica sem teto e precisa se refugiar na última propriedade da família ainda disponível: uma fazenda caindo aos pedaços em Quixeramobim, interior do Ceará. Mas ao chegar lá, encontra Edmilson Filho instalado e dizendo ser o dono do lugar.
A premissa parece uma comédia romântica, o que não deixa de ser, embutida numa Sessão da Tarde divertida, que ainda inclui Falcão, o youtuber Max Petterson e a mineira Chandelly Braz em seu primeiro filme, após muitas novelas.
| AMSTERDAM | STAR+
Os filmes de David O. Russell, indicado ao Oscar por “O Lutador” (2010), “O Lado Bom da Vida” (2012) e “Trapaça” (2013), geralmente contam com elenco grandioso. Esta produção de época passada nos anos 1930 não é diferente.
Christian Bale (“Thor: Amor e Paixão”), John David Washington (“Tenet”) e Margot Robbie (“O Esquadrão Suicida”) protagonizam o longa como dois soldados e uma enfermeira, que criaram laços durante a 1ª Guerra Mundial e se veem incriminados num homicídio. E para provar sua inocência, acabam se envolvendo com uma variedade de personagens, todos vividos por famosos – como Anya Taylor-Joy (“O Gambito da Rainha”), Zoe Saldana (“Vingadores: Ultimato”), Rami Malek (“007 – Sem Tempo Para Morrer”), Chris Rock (“Espiral – O Legado de Jogos Mortais”), Alessandro Nivola (“Os Muitos Santos de Newark”), Andrea Riseborough (“Oblivion”), Matthias Schoenaerts (“The Old Guard”), Michael Shannon (“A Forma da Água”), Mike Myers (“Bohemian Rhapsody”), Timothy Olyphant (“Justified”) e até a cantora Taylor Swift (“Cats”).
Mas não criem grandes expectativas. Apesar do tom de comédia da produção, o roteiro conduz os protagonistas a um mistério de conspiração histórica que faz pouquíssimo sentido. De fato, é um dos piores filmes da carreira de todos os envolvidos, a ponto de amargar apenas 31% de aprovação no Rotten Tomatoes.