A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito policial que investigava se uma piada do humorista Leo Lins era ofensiva e o indiciou por crime de injúria qualificada. Publicada no Instagram em abril, a piada fazia pouco caso da voz de uma criança com paralisia cerebral.
“Eu sei que o certo é surdo e não surdo-mudo, mas se eu tivesse uma voz desse jeito, preferia ser surdo”, disse Lins.
Após manifestações de protesto em seus shows, o humorista compartilhou sons de focas e voltou a fazer piada com pessoas com deficiência. “Pelo menos será um protesto silencioso”, disse.
Irritadas, duas pessoas com deficiência fizeram denúncias na 1ª DPPD (Delegacia de Polícia da Pessoa com Deficiência) de São Paulo.
Um dos denunciantes foi o influenciador digital Ivan Baron, que tem deficiência motora e luta pela inclusão social. Leo Lins acusou Baron de pegar um vídeo antigo com a piada para “lacrar” e causar seu “cancelamento”.
De acordo com o relatório policial, os policiais concluíram que o humorista quis ofender pessoas com deficiência gratuitamente. O inquérito também diz que ele se recusou a dar sua versão quando foi chamado para prestar depoimento.
Leo Lins chegou a ir à delegacia, mas acusou a delegada do local de pedir o seu indiciamento na ação mesmo antes de ele dar sua versão. “Sustenta o depoente que a delegada entrou no local e disse que já tinha resolvido pelo seu indiciamento antes mesmo de sua versão ser dada e que, por isso, não responderia nenhuma pergunta”, diz o documento, que vazou na imprensa.
Ao concluir as investigações, a polícia considerou que Leo Lins cometeu uma série de práticas abusivas. A assessoria da Polícia Civil de São Paulo confirmou o indiciamento, mas não comentou as acusações de Leo Lins.
“O caso foi investigado por meio de inquérito policial instaurado pela 1ª Delegacia da Pessoa com Deficiência, sendo relatado à Justiça em setembro deste ano com o indiciamento do autor por crime de incitar discriminação de pessoa em razão de deficiência”, diz a nota policial.
Agora, cabe ao Ministério Público aceitar a abertura da ação judicial para que ele vire réu.
A discriminação de pessoa em razão de sua deficiência é passível de queixa-crime por injúria qualificada, cuja pena é de um a três anos de reclusão e multa. Mas a pena aumenta em caso de reincidência.
Em agosto, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) condenou Leo Lins a pagar R$ 44 mil de indenização por danos morais a Adriana Cristina da Costa Gonzaga, mãe de um menino autista.
A ação foi movida em 2020, após a publicação de um vídeo no perfil de Aline Mineiro, namorada de Leo Lins. Na ocasião, a ex-“A Fazenda” disse: “Como em todas as festas, ele não fala nada, é um pouco autista.”
Adriana Cristina enviou um pedido a Lins para que Aline não usasse o autismo de forma leviana. “Aconselhe sua namorada a se retratar. Autismo não é adjetivo”, ela escreveu.
Longe de se sensibilizar, Lins respondeu com um texto obsceno.
“Eu já tentei. Juro que falei pra ela responder todas as pessoas que estão indignadas como você. Aconselhei ela a mandar vocês enfiarem uma rola gigantesca no c*. Um pau bem veiúdo, mais vascularizado que seu cérebro (se bem que pra isso não precisa muito). A ideia era socar essa rola até a cabeça sair na boca, empalando o corpo. Depois remover a pir*ca (que aliás, estaria de máscara, pois não quero que pegue Covid), remover cuidadosamente, o que deixaria um buraco cilíndrico, ai jogaria milho para o corpo se tornar um abrigo de pombas brancas da paz. Essa foi minha sugestão, mas ela achou absurdo. Prometo que vou seguir tentando”, escreveu o humorista.
Ele já tinha sido demitido do SBT em julho, onde fazia parte do programa “The Noite”, após fazer piada com o Teleton e uma criança com hidrocefalia durante um show de stand-up.
Sua dispensa aconteceu após a repercussão de um vídeo em que debochava de uma criança com hidrocefalia. “Eu acho muito legal o Teleton, porque eles ajudam crianças com vários tipos de problemas. Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes”, disse como piada.
Leo Lins ainda foi condenado, no ano passado, a pagar uma indenização de R$ 15 mil para uma transexual por ter feito piadas sobre sua mudança de gênero. E precisou indenizar em mais R$ 5 mil a influenciadora Thais Carla ao ironizar um vídeo em que ela demonstrava a dificuldade de pessoas gordas para ter acesso às poltronas de avião – “exalando inequívoca gordofobia”, segundo a sentença.