Jovem Pan reconhece vitória de Lula e começa “limpa” de radicais

A Jovem Pan está em processo de mudança editorial. Em seu site oficial, a empresa de rádio, TV e internet publicou um texto reconhecendo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva […]

Divulgação/Jovem Pan

A Jovem Pan está em processo de mudança editorial. Em seu site oficial, a empresa de rádio, TV e internet publicou um texto reconhecendo a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e pedindo que Jair Bolsonaro faça o mesmo. Ao mesmo tempo, demitiu alguns de seus funcionários mais radicais, como Augusto Nunes e Caio Coppola, mas também Guga Noblat, um dos mais ponderados – e “esquerdista” perdido em seu elenco – , e há rumores de que outros nomes os seguirão, numa mudança de rumo, após seu canal jornalístico, Jovem Pan News, tornar-se porta-voz da extrema direita no Brasil.

Publicado na noite de domingo (30/10), o texto editorial não cita nominalmente Lula e Bolsonaro, mas reforça uma defesa da democracia e indica que a emissora “não irá se omitir” caso ocorra algum golpe.

“Com a proclamação do presidente que conduzirá o país pelos próximos quatro anos, renovamos nosso compromisso com o Brasil, com a democracia, com a nossa Constituição cidadã e com os Poderes e Instituições que sustentam a nossa República”, diz o trecho principal.

“Os candidatos que disputaram as eleições deste ano devem ter esse compromisso claro e serem os primeiros — tenham vencido ou não — a manifestar a defesa e a confiança na decisão soberana do povo”, segue.

O texto ainda lista uma série de “pedidos” a Lula sobre bandeiras liberais que, na visão da emissora, devem ser defendidas no futuro governo. Pede, por exemplo, por “desestatização”, que não foi feita por Bolsonaro, e que Lula combata as desigualdades sociais “sem assistencialismo barato”, embora Bolsonaro tivesse praticado eleitoralmente o chamado “assistencialismo barato” com o programa Auxílio Brasil. Nada disso faz sentido nem como bandeira bolsonarista nem está alinhado ao plano de governo de Lula.

Por outro lado, a Jovem Pan sinalizou que não pretende ecoar eventuais ataques antidemocráticos de Bolsonaro. “Mais importante: a Jovem Pan não vai se omitir e jamais vai aceitar afrontas ao Estado Democrático de Direito e a destruição de nosso país”.

Há boatos sobre motivos extras para a demissão de Coppola, que podem se tornar notícia mais adiante, mas ele não se manifestou. Já Guga Noblat deu sua própria versão para sua demissão, sugerindo retaliação da emissora: “Acabo de ser comunicado que estou fora da Jovem Pan por não ter defendido a rádio na história da censura. Estava desde a semana passada afastado e agora é definitivo”, disse nas redes sociais.

Noblat não esteve entre os funcionários da Jovem Pan News que acusaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de realizar censura na programação da emissora por exigir que eles parassem de atacar o então candidato Lula com fake news e dessem o mesmo tratamento dispensado ao incumbente, sempre muito elogiado. A legislação eleitoral exige tratamento isonômico entre candidatos em veículos jornalísticos.

De todo modo, a despedida dos dois não gerou a mesma deferência concedida a Augusto Nunes, que foi afastado com direito a comunicado padrão, com a desculpa da saída “em comum acordo”, mas com alerta de “cláusula de confidencialidade”.

“Em comum acordo, O Grupo Jovem Pan e o jornalista Augusto Nunes entenderam por bem pôr fim à parceria de trabalho que estava vigente há mais de cinco anos, através da empresa do Augusto, Lauda Comunicação Ltda, sem qualquer animosidade ou juízo de valor”, diz o texto. “Os termos e detalhes do deslinde não serão objetos de comentários por conta de o contrato de origem estar acobertado e protegido por cláusula de sigilo e confidencialidade. O Grupo Jovem Pan agradece o jornalista Augusto Nunes e deseja sucesso nas novas fronteiras que ele haverá de desbravar.”

Circulam comentários de bastidores que outros nomes da Jovem Pan devem se somar à lista de futuros YouTubers independentes.